Fanfic: << Eu Pego Esse Homem! >> TERMINADA
ANAHÍ DORMIA CONFORTAVELMENTE em sua cama quando foi acordada pelo som da campainha. Era Alfonso que tocava sem parar. Foi surpreendentemente fácil ignorá-lo. Bastou cobrir a cabeça. Voltou a dormir por alguns minutos, mas logo depois foi acordada de novo por um barulho.
Desta vez o som vinha de dentro da casa. Ela saiu de pijama e se dirigiu para o quarto de Ninel, de onde vinha o barulho.
- Bom dia - ela disse, como se acostumara a fazer por mais de quinze anos. A cama estava cheia de sacolas de viagem. No chão, caixas com livros e bugigangas. Anahí notou que algumas eram de Thalia.
- Oi, Alexia - ela falou com a prima de Ninel, que a ajudava a empacotar. Alexia era mais baixa e mais magra que Ninel. Ambas apresentavam o mesmo nariz arrebitado, cabelos fartos e castanhos, sobrancelhas grossas e sapatos plataforma. Alexia acenou com a cabeça para Anahí, porque não falava uma só palavra em inglês.
- Estão indo para algum lugar? - perguntou Anahí.
- Eu sempre disse que um dia voltaria para Moscou. E esse dia é hoje - respondeu Ninel.
Boris zanzava pela cama, tentando se enfiar nas sacolas que Ninel enchia de roupas. A russa arrumava malas com rapidez. Do umbral da porta, Anahí olhava o vaivém das duas mulheres esvaziando gavetas e armários.
- Você tem quinze pares de sapatos plataforma - Anahí observou. - Isso tem a ver com as mulheres russas e a divisão dos sapatos?
- `Vou te dar o par vermelho - disse Ninel. - Assim você se lembra de mim.
Anahí enfiou os pés nas sandálias e se sentiu de imediato desmazelada.
- Adorei, Muito obrigada - ela disse.
- Sputnic gravlax borscht - Alexia comentou. Pelo menos foi assim que soou para Anahí.
Ninel respondeu em russo e em seguida voltou-se para Anahí.
- Quero te mostrar uma coisa - disse ela, entregando uma folha de papel para Anahí.
Um fax, de Moscou. Anahí não conhecia uma só letra do alfabeto russo. Desamparada, piscou os olhos para Ninel, dizendo:
- Não consigo ler isso.
- Eu traduzo: `Querida Ninel, estou morrendo com um câncer no cérebro. Os médicos me deram seis meses. Não posso contar com seus irmãos. Preciso de você. Assinado, Mama`.
- Eu sinto muito! - disse Anahí, e logo acrescentou. - Isso é verdade?
- Eu não ia usar a morte de minha mãe - Ninel retrucou.
- Mas você não havia dito que sua mãe já tinha morrido? Que tinha sido atacada pelos mutantes nucleares de Tchernobyl?
- Essa era outra mãe - disse Ninel. - Era minha madrasta, a esposa do segundo casamento do meu finado pai.
"Oh", Anahí exclamou. "Então, sua partida não tem nada a ver com a fuga de Poncho. Nem com a iminente chegada da policia de Short Hares."
"Como você pôde pensar isso de mim?", Ninel rebateu.
"Mas você notou que ele escapou."
"Na noite passada. Quando encontrei a casa vazia e levei comida para um quarto vazio."
"Você tem dinheiro suficiente para viajar até Moscou?", perguntou Anahí, começando a se sentir triste. O motivo que fazia Ninel sair às pressas não tinha a menor importância. Ela estava partindo.
"Olha só que coincidência", disse Ninel. "O marido de Alexia morreu esta semana. Dormiu no carro ligado dentro da garagem. Uma tragédia. Por isso, ela tem dinheiro para as passagens. A sincronicidade é uma boa merda."
"Minhas condolências", disse Anahí para Alexia.
As duas primas trocaram algumas palavras em russo. E depois Ninel se dirigiu a Anahí.
"Ela lhe agradece pela sua simpatia. E também ficaremos muito agradecidas se você disser que nunca ouviu falar em Alexia se a polícia de Lodi bater aqui à procura dela."
"E eu lá conheço alguma Alexia?!", Anahí rebateu.
"Ótimo. Vou levar o Boris comigo", disse Ninel. "Já tinha te contado que minha família possuía um cão igual a ele. Nós o adorávamos, mas um dia ele foi sugado pelo aspirador de fossa e morreu afogado num mar de merda."
"O que você contou é que o seu cachorro tinha sido esmagado por um tio perneta", Anahí falou.
"Esse era outro cachorro."
Anahí começou a protestar, insistindo para que Boris ficasse. Mas logo se deu conta de que não tinha estabelecido propriamente laços com ele, apesar de sua vontade antiga de ter um bichinho de estimação. Ela considerou que sempre havia procurado um consolo para fugir do sofrimento. Boris era então um outro caso de fuga da realidade. Teria sido bom se fosse de outro modo, ela pensou. E lembrou-se da noite anterior na espreguiçadeira da cabana, da cabeça de Alfonso entre suas pernas, do seu orgasmo inesperado e sublime.
"Boris será muito mais feliz com você", Anahí afirmou. “Mas não se esqueça de mantê-lo afastado de tios e aspiradores de fossa. Vou procurar as coisas dele. A escova Mr. Woofers Grooming, o pacote de tapetinhos para xixi e o shampu Dharma Doggie."
"Já os empacotei", Ninel falou enquanto passava os olhos pelo quarto. Estaria vazio, se não fosse pelas paredes vermelhas. Ela havia retirado a roupa de cama, e Anahí sabia que Thalia é que as tinha comprado.
As três mulheres empilharam as caixas e as bolsas dentro de um carrinho de mão e o manobraram pela escada até a cozinha. De lá era só carregá-lo até uma caminhonete estacionada próximo da cozinha. Assim fizeram e colocaram tudo dentro da caminhonete. Alexia assumiu o volante. Ninel deu um longo abraço em Anahí.
"Você não pode partir sem se despedir da mamãe", disse Anahí.
"Ela não está aqui", Ninel se justificou, "e não posso esperá-la. Tenho muita coisa pra fazer".
"Ela vai ficar magoada."
``A Thalia vai entender", Ninel rebateu. "Só lamento partir sem levar nada que mostre os meus anos na América, exceto os muito pares de sapatos."
Anahí sabia que sua mãe pagava um bom salário para Ninel, e que ainda arcava com diversas despesas.
"Você gastou tudo?", Anahí perguntou sacudindo a cabeça.
"Quando você cresce sem nada, sem privacidade, sem posses, sem dignidade, sem esperança de futuro - quando o dinheiro aparece, você gasta. Todinho. E tão rápido quanto veio. Sei que isso pode parecer vazio pra você."
"Vazio?", disse Anahí. ``Acho que você quer dizer superficial."
"Superficial", Ninel assentiu com a cabeça. "Jantar em restaurantes não são tão superficiais quando se cresce comendo lixo e bebendo água de chuva empoçada. Minha mãezinha nunca terá a chance de viver como uma americana. Eu gostaria de mostrar pra ela um pouco das coisas maravilhosas que vi por aqui. Antes que ela morra. De câncer. No cérebro."
Anahí pegou Ninel pelas mãos e puxou-a até o saguão de entrada.
"Quero que você leve isso", disse a jovem americana, apontando os braços como um apresentador de programas de prêmios para as caixas empilhadas junto à parede.
"Você tem certeza?", perguntou Ninel.
``Agora já não preciso mandá-las de volta", respondeu Anahí.
"Muito obrigada." Ninel abraçou-a chorando, agradecida.
O momento não durou muito. Ninel secou as lágrimas, caminhou até lá fora e assoviou para Alexia, que prontamente manobrou a caminhonete e estacionou-a em frente à escada da entrada principal. Alexia começou a transferir as caixas para dentro do bagageiro sem que ninguém a instruísse, como se já esperasse por aquilo.
Ela levou uma hora e meia para encher a caminhonete de castiçais de cristal, bandejas de prata e porcelana inglesa. Anahí não lamentou por nenhum objeto. Durante toda a vida ela se cercara de coisas superficiais (vazias), e sentia mais prazer em se desfazer delas do que em possuí-las.
"Talvez você encontre um bom moscovita e se case com ele. Mas dessa vez um casamento de verdade", Anahí falou enquanto elas fechavam as portas da caminhonete, trancando-as bem firme.
Ninel sentou-se no banco do passageiro e disse:
"Não consigo amar do seu jeito, Annie. Falta alguma coisa em mim. Não consigo me abrir para os homens. E nem quero tentar. Sua mãe é como eu. Mas notei que ela está mudando nestes últimos dias. Sou má influência para ela. Além disso, ela não precisa mais ele mim. Nem você. Uma mulher de vinte anos é perfeitamente capaz de amarrar os próprios sapatos."
Boris pulou no colo de Ninel. E esticou a cabecinha para fora da janela. Anahí beijou Ninel e o cãozinho pela última vez. Depois, Alexia ligou o carro e levou consigo Ninel, Boris, os presentes de casamento e outros itens para sempre.
Quando a caminhonete chegou lá embaixo, no portão, Ninel colocou a cabeça para fora da janela e gritou:
"Mais uma coisa, Annie! Chamem o dedetizador!"
Autor(a): narynha
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"DEVE HAVER CENTENAS DELES",disse Thalia, em pé ao lado de Anahí na sala de controle. As duas mulheres observavam pelo espelho uma horda de esquilos que zanzavam pelo quarto de brinquedos, comendo os restos da última ceia de Alfonso e roendo a mobília. "Entraram pela clarabóia", disse Anahí. "Do mesmo jeito que Poncho saiu." "Tenho ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 89
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nathmomsenx Postado em 09/06/2013 - 17:19:03
Perfeita a web <3
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kikaherrera Postado em 24/04/2010 - 21:55:47
Final perfeito como todas as outras.
-
rss Postado em 24/04/2010 - 20:29:51
o final foi lindo
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besossssssssssss -
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kikaherrera Postado em 24/04/2010 - 03:17:33
A Annie e a Thalia são loucas.
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