Fanfic: << Eu Pego Esse Homem! >> TERMINADA

Anahí, VINTE ANOS, vestida de branco, parecia mais um fantasma. Em vez do vestido, ela bem que podia ter recortado dois buracos num lençol e jogado sobre a cabeça.

- Estou igual à noiva cadáver -, ela disse olhando sua palidez cadavérica no espelho do toucador. - Assim que a cerimônia terminar eu me dispo.

- Você podia cair fora agora -, Thalia, quarenta anos, mãe de Anahí, sugeriu. - Escapar definitivamente da cerimônia.

Anahí olhou o rosto da mãe refletido no espelho. No vestiário da noiva, sentada num banco coberto por um tecido adamascado, Thalia vestia um traje cinza-pérola acompanhado de um par de sapatos cujos saltos altos desapareciam no tapete felpudo. Ostentava diamantes caros em número cinco vezes maior que o necessário nos braços, no pescoço e nos dedos. Mas em Nova Jersey o excesso era regra, tanto nos cabelos como nas roupas, na decoração, na personalidade, na violência dos crimes, na corrupção do governo ou nos escândalos políticos.

Anahí era uma garota de Nova Jersey. Nascera pertinho do Garden State Parkway. Sinatra era de lá também. Como Frank, seus habitantes faziam as coisas à sua maneira. A canção do estado: “Born to run” (que ironicamente fala de uma fuga de Nova Jersey). O lema do estado: "Veja com seus próprios olhos", já que não se pode confiar no que diz alguém de lá. O modelo do estado: Tony Soprano. Sendo geograficamente um dos menores estados da nação, apresenta a mais densa população. De diversas maneiras.

Alguns nova-jersianos se colocam à parte com decoro, dignidade e discrição, mas Anahí não havia conhecido nenhum deles. Embora ela tivesse deixado bem claro que preferia um casamento modesto, sua mãe não abriu mão do luxuoso salão no Short Hares Plaza. Apesar de não admitir, Thalia gastara setenta e cinco mil dólares para que a filha casasse com um homem que ela desprezava, apenas para impressionar a vizinhança.

- Casa cheia? -, Anahí perguntou enquanto passava blush nas maças do rosto, na tentativa de parecer um ser vivo.

- Entupida -, disse Dulce Maria, vinte anos, a terceira pessoa naquele aposento apertado. Dulce era melhor amiga de Anahí e sua dama de honra. - Duas centenas dos brancos mais elegantes que eu já vi. Por que a senhora mesma não vai ver, madame? Talvez tenha que dar uma palavrinha com a organizadora do casamento. Ou agradecer aos convidados. Ou fazer qualquer coisa que a tire deste quarto.

A dama de honra, uma ruiva, não era nada sutil. Enfiada em um escandaloso vestido magenta decotado nas costas, ela praticamente usava todas as jóias que possuía.

- Seu visual está a sua cara Dulce -, declarou Thalia, referindo-se às sobrancelhas corretamente delineadas ao estilo Garbo. - Eu nunca teria coragem de ser tão chamativa.

- Mas a camada de verniz de amargura que está usando lhe dá um perfeito je ne sais quoi -, disse Dulce com falsa admiração.

- É só uma camadinha- , Thalia retrucou, dando umas palmadinhas em suas bochechas.

- A camadinha é quebradiça? -, Dulce perguntou.

- Estou feliz por finalmente vocês duas terem engatado um papo -, Anahí falou, tentando desfazer a tensão entre a mãe e sua melhor amiga.

- Você já se deu conta de que é a primeira do colégio a se casar? Isso significa que você venceu -, disse Dulce para a amiga.

Quando Dulce emitiu a palavra "casar", Thalia tremeu nas bases.

- Eu venci? Quer dizer que o casamento é um jogo? -, Anahí indagou.

- Você ganha prêmios fabulosos -, Dulce falou apontando a mesa apinhada de presentes, com as pernas trêmulas pelo reconhecimento de cada embalagem da Tiffany`s. - Ganha a viagem dos seus sonhos para o Havaí. Entra no círculo dos vencedores e ainda beija o seu marido adorável enquanto todos aplaudem. É igualzinho à Roda da Fortuna.

- A roda da fortuna gira -, Thalia resmungou entre dentes.

- Mamãe, é melhor você ficar de boca fechada -, disse Anahí.

- Se você detestou tanto o vestido, porque o comprou? -, Thalia perguntou abruptamente.

- O Poncho queria um tradicional -, Anahí respondeu.

- Por causa do Alfonso você gastou quinze mil dólares com uma roupa que detesta! O que mais você vai fazer por causa dele? -, Thalia quis saber. - Que outros compromissos e sacrifícios você vai fazer com o decorrer dos anos? E como estão seus pulsos hoje? E seu maxilar?

Anahí ergueu instintivamente as mãos até o queixo, mas se policiou e rapidamente as redirecionou para ajeitar o véu.

Thalia rosnava, zanzando pelo pequeno aposento. Pelo espelho, Anahí observava a movimentação da mãe. As pernas dela eram iguais às suas. Longas. Firmes. Fisicamente, Anahí era uma versão loira da Thalia morena, tirando vinte anos de amargura. Anahí sempre se perguntava como sua mãe seria se não tivesse uma nuvem negra sobre a cabeça.

- Eu amo o Poncho - disse Anahí serena. - Ele me ama. Nosso relacionamento se baseia na honestidade e no respeito. Nos devotamos um ao outro, hoje e sempre.

- Tá legal, mas pra mim isso soou como um chavão - Dulce replicou.

- Desista! - Thalia suplicou.

- Nunca. – disse Anahí enquanto deslizava o pincel sobre o blush rosa. Ela se virou para encarar a mãe - Abandonar alguém no altar é um ato tão deplorável, tão covarde, tão imperdoável, que merece a morte. É a mais baixa das baixarias. É o oposto de tudo o que sou.

- É o que te torna superior a tudo? - Dulce inquiriu. - Eu gostaria de saber.

- Sacrifício - disse Thalia. - Compromisso.

- Eu vou casar. – Anahí rebateu. - E fim de papo.

Voltou-se de novo para o espelho. A tensão estava acabando com ela. De repente, sua cabeça rodou (latejava um pouco). Mirou-se no espelho e o vidro parecia se encrespar, como as águas de um lago no qual se atira uma pedra.

Uma batida à porta. Claro que era a srta. Wistlestop, a organizadora de casamentos do Short Hares Plaza, para avisá-la de que já era hora de sair. O coração de Anahí disparou. Ela se levantou e começou a ajeitar a saia volumosa e as dez camadas de tule e crinolina.

- É sua deixa - Dulce falou enquanto abria a porta.

Curiosamente, não era a srta. Wistlestop que estava do outro lado da porta.

- Christopher, o que é que você está fazendo aqui? -, perguntou Anahí. - Você devia estar me esperando no altar com Poncho.

Christopher Uckermann mais conhecido como Ucker, vinte e cinco anos, o padrinho de casamento de Alfonso, vestia um fraque de aluguel. A maioria dos homens parece sofisticada quando traja um fraque à James Bond. Mas mesmo vestido como um rei, Ucker ainda pareceria desleixado. Ele bem que podia ter penteado o cabelo no dia do meu casamento, Anahí pensava. Pelo menos podia ter se barbeado.

- Estou com um bilhete -, Ucker falou com uma cara apavorada e tropeçando nas palavras.

- Me dá isso - disse Thalia, arrancando o envelope das mãos de· Ucker.

Enquanto sua mãe abria o envelope timbrado do hotel, Anahí observava com nervosismo e um frio lhe subia pela espinha.

- Eu vou matá-lo! - Thalia declarou depois de ter lido o bilhete.

Dulce tirou o papel de Thalia e entregou-o para Anahí, sem lê-lo.

Anahí pousou os olhos azuis sobre o papel de seda branco leu o bilhete sucinto, econômico, objetivo, que seu amado escrevera.

Querida Annie,

Não posso levar isto adiante.

Desculpe,

Poncho