Fanfic: << Eu Pego Esse Homem! >> TERMINADA
ALFONSO NÃO ESTAVA MORTO, THALIA notou com alívio quando pressionou as costelas dele com o dedo indicador. Só estava inconsciente. Nocauteado. Thalia o preferia dessa maneira, esparramado e calado.
Ela estava pasma porque sua reação fora espontânea. Ou melhor, violenta. Não conseguia se lembrar da última vez - ou de qualquer outra vez - em que seguira um impulso. É verdade que com muita freqüência tinha pensamentos sombrios, mas até dez segundos atrás nunca os colocara em prática.
Thalia se deu conta de que é bom fazer o que se quer, por mais que isso seja ruim.
Mas agora estava num impasse. Ao ver Alfonso imobilizado, ela e perguntava: "O que faço com você?". Com um súbito lampejo de medo, inteirou-se de que os outros convidados - os familiares de Alfonso, por exemplo - também podiam vir à procura do noivo. Thalia precipitou-se porta afora. O corredor estava vazio, com exceção do enorme carrinho da lavanderia (ela teve que sufocar um gritinho de satisfação) que havia tombado pelo caminho. Então, empurrou o carro para dentro do quarto.
Claro que o carrinho é grande o bastante, pensou. Primeiro, ela pôs a mala de Alfonso dentro do carro (não podia deixá-la para trás, senão as pessoas se perguntariam por que ele não a tinha levado). Depois, empurrou o carro, posicionou-o contra a cama e rolou o corpo inerte de Alfonso para dentro dele, em cima da mala. Para ocultar o corpo, usou uma colcha que retirou da cama.
Enquanto ajeitava o penteado e a roupa, Thalia checava outra vez o corredor. Todo vazio. Manobrou o carro para fora do quarto com facilidade. Deu uma olhada para trás e notou que o carro havia deixado rastro sobre o tapete felpudo. Rapidamente, desfez as pistas com o sapato. E com a ponta do lençol esfregou as maçanetas da porta pelo lado de dentro e de fora, fechando-a em seguida.
Thalia empurrou a carga até o fim do corredor, onde ficava o elevador de serviço. Conhecia bem a arquitetura do hotel. Ela o inspecionara por ocasião da escolha das suítes para os convidados.
Alguma coisa dentro dela dizia que havia uma câmera de segurança embutida no painel de controle do elevador. A única maneira de não ser filmada seria agachando-se atrás do carro e impelindo-o para dentro. O próprio carro a ocultaria. Na fita, a impressão que daria é que alguém teria empurrado o carrinho para dentro do elevador e por algum motivo desistira de seguir junto.
Thalia olhou em volta para se assegurar de que não havia testemunhas e se pôs de joelhos atrás do carro. Movendo-se com lentidão (pareceu-lhe uma eternidade), ela engatinhava enquanto empurrava o carro para dentro do elevador.
Já dentro dele, ela se deu conta de que teria que apertar o botão para descer até o estacionamento subterrâneo do hotel. Estava agachada atrás de uma lateral do carro, distante da porta e do painel de controle. Resolveu então girar o carro, esgueirando-se por trás dele. Na fita, a impressão que daria é que o carro teria girado sozinho de forma demoníaca. Quando se viu debaixo do painel, ela apertou o botão "S".
Se havia alguma crise de consciência em Thalia por ter apagado Alfonso (talvez sem sangramento), as deusas que regem o destino estavam claramente do seu lado e a absolveram: o elevador desceu catorze andares até a garagem sem nenhuma parada.
Quando a porta se abriu, Thalia puxou o carrinho, ainda agachada, para fora do elevador. Na frente da porta, avistou uma única câmera de segurança. Conseguiu desativá-la com facilidade e em passos rápidos empurrou o carrinho na direção de sua caminhonete Volvo Cross Country vermelha. Seus saltos altos ecoavam na garagem cavernosa à medida que ela empurrava o carro.
Apesar dos seus quarenta anos, Thalia era alta e muito forte. Tinha tempo de sobra, e gastava a maior parte dele na Academia Equilux, localizada no famoso Short Hares Mall. Anti-social por natureza, ela evitava as concorridas classes de Pilates e optava pela solidão e monotonia das sessões de musculação. Quem olhasse para Thalia, vestida no seu insinuante conjunto cinza e coberta de diamantes, dificilmente imaginaria que ela podia suportar 75 quilos de pressão.
Enquanto abria a porta traseira da caminhonete, Thalia estimava que Alfonso devia pesar uns 85 quilos. O peso batia com sua capacidade de levantamento. A tarefa ficaria muito mais fácil se ela conseguisse encaixar a borda do carrinho no pára-choque da caminhonete, para criar uma alavanca. Encaixou o carrinho e, suspendendo-o do chão, inclinou-o com seu conteúdo para dentro da caminhonete. De cabeça para baixo, o carrinho escondia convenientemente Alfonso, a colcha e a mala.
Thalia se pôs ao volante e saiu em disparada da garagem. Cantando os pneus na rua, dobrou à direita. Preocupada com o excesso de velocidade, diminuiu a marcha. Afinal, estava a poucos minutos de sua mansão em Overlook Lane. Com uma das mãos no volante e a outra no celular, telefonou para casa.
- Residência da sra. Portilla - atendeu Ninel Conde, uma mulher de trinta e cinco anos, nascida e criada na Moscou comunista que trabalhava na casa havia muito tempo como governanta e babá.
- Graças a Deus que você está aí - disse Thalia. - Vou chegar em dois minutos.
- Por que você não está no casamento? - Ninel perguntou.
- E por que você não está lá? - Thalia replicou.
- Não dava pra assistir - disse Ninel.
- Presta atenção: Alfonso pulou fora. Ele mandou um bilhete infame para Annie. Encontrei o desgraçado no quarto dele e... exagerei um pouquinho.
- Estou vendo você chegar.
Cantando pneu, Thalia subiu a toda pela via de entrada e freou bruscamente a caminhonete quando chegou ao topo. Ninel estava parada do lado de fora da porta da cozinha com o celular ainda encostado no rosto, espremida num vestido de festa que realçava suas curvas.
Thalia estacionou e saiu do carro. Depois, levantou a porta traseira e recuou. Oscilando sobre altíssimos saltos, Ninel se juntou à patroa na traseira da caminhonete.
- Já não temos bastante roupa pra lavar e você ainda precisava trazer mais para casa? - Ninel falou ao ver o carrinho da lavanderia dentro da caminhonete.
Thalia puxou o carrinho para fora. Ele desembarcou na vertical. Depois ela retirou a colcha e deixou Alfonso à mostra - uma coisa inerte. Ninel cutucou a perna dele com sua longa e bem-cuidada unha. Ele não reagiu. O que era bem significativo. A unha dela era afiadíssima.
- Será que a gente devia levá-lo ao hospital? - Thalia perguntou.
- Por quê? - disse Ninel. - Ele está doente?
- Só nocauteado.
Lentamente, como se drogado, Alfonso rolou a cabeça para o lado. Suas pálpebras tremiam e ele gemeu.
Ninel deu um grito.
Thalia fez o mesmo. As duas se agarraram em seus trajes de festa. Seus gritos devem ter sido demais para o cérebro avariado de Alfonso. Os olhos dele se fecharam e ele roncou.
- Vamos levá-lo pra dentro - Thalia decidiu.
As duas mulheres colocaram a colcha e a mala de volta no carrinho e rolaram Alfonso para dentro dele. Esse movimento o fez grunhir. A russa era mais musculosa que Thalia, e por isso foi quem mais empurrou durante as manobras do carrinho pela cozinha.
- Lá pra cima - disse Thalia.
Elas empurraram o carrinho através da copa e do grande saguão de entrada da mansão, com um imponente pé direito de mais de dez metros de altura. Entrada com pé direito triplo, como os corretores chamavam, o majestoso saguão causava uma forte impressão nas visitas (não que Thalia recebesse muitas), que não conseguiam conter um "uau!" quando entravam. A perspectiva de alçar o carrinho pela escadaria fez com que o braço de Thalia doesse.
- Você já sabe onde estou pensando em colocá-lo? - ela perguntou para Ninel.
- Como é que vamos levá-lo por três lances de escada? - a russa replicou.
- Um degrau de cada vez - disse Thalia.
E assim fizeram - ambas de salto alto, puxando escada acima um carrinho cujas rodas saltavam e batiam a cada puxão.
- Graças a Deus pela adrenalina! - exclamou Thalia quando elas atingiram o segundo lance de escadas.
- Que merdaaaaaa - Alfonso grunhiu, completamente grogue.
Surpresas pelo som inesperado, as mulheres largaram o carrinho. Ele despencou escada abaixo com Alfonso chacoalhando dentro dele como um brinquedo. E deslizou pelo saguão até se chocar com a porta de entrada.
- Que merda! - Ninel reclamou. - Estragou meu sapato.
De fato, um de seus sapatos tinha perdido o solado de cortiça.
Depois de resgatar o carrinho, elas fizeram tudo outra vez, escada acima; Ninel (com um pé descalço), puxando; Thalia, empurrando.
Na metade do segundo lance, Alfonso Herrera parecia recuperar a consciência.
- Último degrau - disse Ninel ofegante, enquanto elas puxavam o carrinho para o terceiro piso escuro e sujo.
Dentro de sua gaiola, Alfonso apalpava as laterais do carro, numa débil tentativa de sair. Lentamente, ele abriu os olhos, fitou Thalia e gaguejou:
- Eu sei que você está tentando me matar! Você odeia os homens, sua estraga-prazeres miserável.
- Pega aqui - disse Ninel, descalçando o outro pé.
- Muito obrigada - Thalia agradeceu, pegando o sapato e acertando a cabeça de Alfonso.
Alfonso foi mais uma vez nocauteado.
- Fica cada vez mais fácil - Thalia falou.
- Qual porta? - Ninel quis saber.
- A terceira à direita. Mas está trancada, e temos que achar a chave.
- Tem uma chave-mestra lá na cozinha - disse Ninel enquanto descia para buscá-la.
Sozinha com o seu ex-futuro genro, Thalia inclinou-se sobre o carrinho e lembrou-se da última vez em que estivera no quarto de brinquedos, a única parte da casa que planejara demolir depois que Russell foi embora. Mas com todos os eventos tristes que sucederam a partida dele, nunca mais pôs os pés lá dentro. E agora agradecia a si mesma por sua inércia. O quarto de brinquedos era um lugar perfeito para abrigar Alfonso até que... até que ela decidisse o que fazer com ele.
Thalia analisava o rosto do rapaz e não podia deixar de admirar aquelas pestanas compridas, escuras e curvadas. Além de sua boa aparência, Alfonso era de uma família abastada de Nova York. E também era bem-educado, tinha boas maneiras e um ótimo emprego. Mas nada disso importava. Thalia o conhecia muito bem, conhecia a besta que se escondia sob sua pele. Ela suspeitava dele desde o dia em que O conhecera. Quando Anahí sofreu o primeiro "acidente", a suspeita de Thalia virou certeza.
Ninel, que desconfiava de qualquer um e também não confiava em Alfonso, retomou ofegante com a chave-mestra. Thalia introduziu-a na fechadura e destrancou a porta. Empurrou-a para dentro e procurou o interruptor de luz.
- Traga-o pra dentro - ela disse.
Ninel empurrou o carrinho até o meio do quarto.
- Dá uma checada no banheiro e na pia - Thalia falou, apontando para o banheiro sem janelas no final do salão. Enquanto empurrava Alfonso para o lado a fim de pegar a mala, Thalia ouviu um gotejar e depois um correr de água e a descarga.
- Tá funcionando - disse Ninel.
- Me ajuda aqui com a mala - disse Thalia.
Tiraram a mala de dentro do carro e Thalia carregou-a para fora do quarto de brinquedos. Apagou a luz e trancou a porta.
- Tenho que voltar para o hotel - ela disse. - Depois explico tudo, tim-tim por tim-tim. Não o deixe sair. Annie não pode ficar sabendo de nada, tá?
Enquanto falava, Thalia destrancou uma outra porta e empurrou a mala para dentro do aposento.
- Ele merece isso? - disse Ninel.
- E você ainda pergunta?
Thalia desceu as escadas, atravessou correndo o salão, a cozinha e a porta e entrou no Volvo. Olhou o relógio. Só tinham se passado vinte minutos desde que golpeara a cabeça de Alfonso.
Ela diria que o estava procurando, que havia percorrido todo o hotel e que até tinha saído de carro para verificar nos arredores.
Thalia saiu de casa e foi para o Short Hares Plaza. Durante o trajeto, rememorava os fatos da última meia hora.
No primeiro sinal luminoso, ela freou.
- Que droga - disse consigo mesma. - A garrafa!
Autor(a): narynha
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 89
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nathmomsenx Postado em 09/06/2013 - 17:19:03
Perfeita a web <3
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kikaherrera Postado em 24/04/2010 - 21:55:47
Final perfeito como todas as outras.
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rss Postado em 24/04/2010 - 20:29:51
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kikaherrera Postado em 24/04/2010 - 03:17:33
A Annie e a Thalia são loucas.
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