Fanfic: Os Pequenos Prazeres da Vida | Tema: Original
− DOIS −
O Primeiro Dia
Nos primeiros meses da mudança de cidade eu estranhei um pouco e levou um tempo até me acostumar, já que onde eu morava não havia nada a não ser belíssimos arbustos que as senhoras vizinhas gostavam de cultivar e grandes florestas que de noite davam um pouco de medo até no cara mais corajoso da região, não tinham muitas pessoas da minha idade perto de onde eu morava, então era bem difícil de fazer amizades. Tinham apenas dois ou três garotos mais velhos que andavam de bicicleta e comiam goiabas das goiabeiras que ficavam na larga rua asfaltada onde eu morava.
Eu estudava em um lugar um tanto quanto conservador, era o colégio mais rígido de toda região, fiquei mais um ano por lá depois que tudo aconteceu, mas acabei saindo por coisas não muito agradáveis que aconteceram, como bullying e algumas perseguições após a morte de Matheus. Era uma escola onde as regras dominavam. Você recebia detenção por coisas um tanto quanto idiotas, como postura, uniforme e cor dos tênis. Mas tirando tudo isso, era um bom lugar para se aprender - Apenas aprender.
O fim de 2011 foi um tanto quanto triste, eu passei praticamente sozinho em casa enquanto meus pais trabalhavam feito loucos. Segui vendo todos se divertindo e viajando através de redes sociais. Ainda não tínhamos nos mudado, estávamos na fase final de arrumação de todas as coisas e venda da antiga casa.
Passei o natal em casa assistindo a uma maratona de filmes, escutei todos os álbuns de John Mayer e assisti a queima de fogos e as trocas de presente em séries de TV com episódios especiais de natal, enquanto meus pais foram para o baile de natal cafona no centro que costumavam ir todo ano – Não pense que eles eram péssimos pais, eles sempre me chamavam, mas eu estava fechado a qualquer tipo de interação com outras pessoas – Não foi um período fácil. Antes de continuar, você já parou para escutar John Mayer? Se não, por favor, escute. Na verdade, pare de ler, escute John Mayer e depois pode voltar a ler.
No ano novo nos reunimos na casa dos meus avós, fizemos uma grande ceia e comemoramos todos reunidos. A todo instante eu não tirava o pensamento de Matheus, e não via a hora de me mudar e conhecer ares novos.
2012 finalmente chegou, deu tudo certo com a mudança, a casa nova era grande e bonita e na cidade era tudo muito diferente. Eu tinha passado para o 2º ano do colegial, e estava finalmente com quinze anos. Um pouco com medo de entrar em uma escola nova logo no segundo ano, mas eu não tinha opção. Queria que tudo fosse perfeito, minha nova escola era bem diferente, passei várias vezes na entrada dela enquanto estava caminhando e pude entrar uma vez para conhecer quando fui com meus pais fazer a matricula. Era um lugar realmente grande, não via a hora de começar logo e tentar fazer algumas amizades.
No pátio, que dava direto para à saída, havia a direita uma espécie de barranco com árvores gigantescas, e aos pés do barranco tinham mesas de concreto, daquelas iguais às de praça, e mais ao fundo a quadra de esportes. Na verdade, toda a parte direita da escola ficava rodeada por uma espécie de barranco, já que ela ficava em uma curva acentuada que também era uma esquina e uma descida. Confuso? Pois é. Continuando, os muros eram todos cobertos por grafites e alguns até tinham sido feitos pelos próprios alunos. Era um lugar incrível, e eu realmente não via a hora das aulas começarem, na verdade, não aguentava mais ficar em casa.
Na nova escola eu estava decidido a ter uma personalidade diferente. Amigos, professores, e talvez até um estilo novo.
Quando faltavam dois dias para 20 de janeiro, o início das aulas, eu comecei a arrumar as coisas. Meus pais me ajudaram a escolher alguns materiais e me apoiaram o tempo todo durante o processo de mudança de cidade e matricula em uma escola nova.
Na noite anterior ao primeiro dia eu não consegui sequer fechar os olhos, tentei de tudo, eu costumava colocar os fones e deixar as músicas no aleatório até dormir, mas desta vez, nem a música ajudou. Virei para todos os lados da cama possíveis, deitei em todas as posições que existem, nada. Se passou uma hora, duas, três.
Eu acabei dormindo apenas duas horas naquela noite, o despertador tocou e eu acordei ao som de The Head and The Heart, eu me senti muito bem quando levantei, apesar de serem apenas duas horas, acabaram não fazendo diferença já que eu estava extremamente ansioso e animado.
Eu geralmente acordava sozinho porque meus pais saíam para trabalhar muito cedo e chegavam só de madrugada, era praticamente como morar sozinho, mas fazia de tudo para deixar a casa o mais arrumado possível e ver os dois felizes e orgulhosos. Eu gostava de preparar o café da manhã com o som ligado, já que tornava tudo muito mais divertido.
Naquela manhã estava tudo dando certo até então, tudo corria muito bem e o dia tinha tudo para ser produtivo. Na noite anterior eu tinha deixado tudo arrumado, arrumei minha prateleira de livros, deixei a roupa para o primeiro dia arrumada, uma camisa xadrez azul, calças pretas e um tênis surrado, separei um livro para ler durante os intervalos e também deixei o antigo skate de Matheus ao lado da cama.
Eu andava com aquele skate todas as tardes. Ia para lá e para cá, andava pelas ruas asfaltadas e no fim da tarde assistia ao pôr do sol sentado com ele no colo em um banco de madeira no ponto mais alto do parque local, como nós fazíamos quando ele estava vivo. Eu colocava a mesma música toda vez que eu ia até lá - Tugboat - Galaxie 500 – Toda a vez que escutava sentia que podia fazer grandes coisas.
Finalmente eu estava pronto, tranquei toda a casa, coloquei a mochila nas costas e peguei meu livro dos intervalos - Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban - pressionei-o com o braço esquerdo junto a meu peito, atravessei o corredor e a garagem, tranquei o portão e posicionei o skate sobre o asfalto gelado, o vento fazia com que meus cabelos voassem, e gelava meu rosto.
Coloquei meus fones de ouvido e ativei o aleatório - Iron and Wine - Swan and The Swimming – tocou, fazendo com que eu acelerasse cada vez mais.
Segui o caminho até a escola sobre o skate com uma bela trilha sonora. O caminho era lindo, um grande parque com muitas árvores, tinha muitos morros onde o pessoal gostava de estender lenções e deitar, adormecer vendo o formato das nuvens, ficar abraçado com aquela pessoa especial ou simplesmente dar um tempo na hora do almoço no trabalho. Também tinha vários bancos de madeira e senhoras alimentando pássaros.
Apesar de tudo estar indo bem eu tinha muita dificuldade para arrumar amigos, e isso me preocupava mais do que eu gostaria. Ao mesmo tempo que queria, tinha muito medo de criar qualquer tipo de relação com outras pessoas, e isso me fazia sentir um vazio muito grande, e consequentemente me fazia lembrar de Matheus e de todas as aventuras que vivemos juntos, todas as risadas, as partidas de vídeo game e todas as tardes brincando na árvore. Aquelas lembranças ainda mexiam muito comigo.
Naquele dia, cheguei na à escola e vi todas aquelas pessoas se abraçando e pulando nos braços umas das outras, sorrindo e chorando de alegria, dizendo que sentiram saudade. Todas acenando e gritando os nomes umas das outras extremamente felizes, e isso me fez sentir ainda mais sozinho, mas eu estava determinado a criar amizades.
Pensei em me aproximar de alguém, mas não tive coragem, fiquei sentado em uma mesa ao lado de duas arvores grandes, com flores rosa e roxas, apenas lendo meu livro.
Eu mergulhei tanto na história que não percebi quando o sinal para a primeira aula tocou. Se passaram cerca de quinze minutos até minha ficha cair, então arrumei minhas coisas e subi para sala depressa.
Tudo bem, vou tentar descrever a escola por dentro. Após a entrada, existia um grande e largo corredor que dava acesso a entrada do pátio coberto, dos dois lados do corredor tinham diversas plantas e arbustos, que logo se transformavam em um morro alto crescente que possuía várias arvores e dava para ficar sentado ou deitado. Subindo um pouco o morro dava para ficar encostado no muro da escola, o problema era descer depois. Ao fundo ficava a quadra de esportes, e tudo isso era completado por um imenso pátio de concreto que era aberto e possuía algumas mesas, e lá era onde geralmente o pessoal ficava sentado no chão na hora do intervalo. Passando pela porta do pátio coberto, havia a cantina à esquerda e virando à esquerda na cantina, uma escadaria que dava acesso aos outros dois andares. A direita havia um grande espaço onde existiam os banheiros masculino e feminino e várias mesas, ao fim existia outra escada que também dava acesso aos outros andares.
Minha primeira aula era de história, e é uma matéria que eu realmente gosto. Eu adoro ler sobre todas as guerras e acontecimentos históricos e como foram importantes para transformar o planeta no que ele é hoje, mas não foi muito como eu imaginei.
Quando eu entrei pela porta da sala, todos já estavam sentados em seus devidos lugares olhando para mim como se quisessem me devorar, pensei em sorrir mais soaria falso demais, eu estava começando a ficar mais assustado do que empolgado.
O professor era um homem que parecia ter seus trinta e oito anos de idade, de altura mediana e de cabelos castanhos escuros, que era extremamente parecido com o ator Jack Black. Ele se chamava Milton, tinha uma barba espessa e usava uma camisa xadrez marrom, uma calça cinza escura e sapatos caramelo. Assim que o cumprimentei ele apontou um lugar vazio que ficava na fileira da janela, do outro lado da sala e disse para eu me sentar. – Atrasado logo no primeiro dia de aula? Não se preocupe, pode se sentar ali - Na minha frente havia um garoto magro e alto, com mais ou menos 1,70 de altura com cabelos castanho claro encaracolados, olhos castanhos, nariz cumprido e grande e vestia uma camiseta preta dos Beatles. Ele estava tentando puxar conversa com a garota da frente que tinha um cabelo extremamente preto e parecia ser bem simpática, ela tinha cabelos na altura do ombro e usava um bonito óculos cor de vinho de armação quadrada. Parecia ter cerca de 1,60 de altura e olhos muito verdes. Pelo que deu para ouvir da pequena conversa dos dois, o garoto se chamava Adriano, a garota, Natália.
Do meu lado, havia uma garota loira, com olhos grandes e muito azuis. Cabelo que ultrapassava o meio das costas, nariz fino e arrebitado e a boca mais perfeita que eu já vi em toda a minha vida. Parecia ser um pouco mais alta do que eu, o que não é muito difícil já que tenho 1,63 metros. Ela usava uma camiseta branca lisa. Quando o professor fez a chamada, consegui descobrir que o nome dela era Gabriela e eu não conseguia parar de olhar para aquela garota logo no primeiro período da primeira aula do primeiro dia.
Atrás de mim tinha um garoto com cabelos castanho claro e que desciam até a linha do pescoço, bem gorducho, com um capuz que cobria sua cabeça, olhos grandes e saltados e nariz grosseiro e longo. Estava usando uma camiseta preta e não parecia muito afim de fazer qualquer tipo de amizade. Ele não tirava os olhos do celular, só parou de mexer no aparelho quando viu o professor parado em sua frente com uma cara não muito boa – Eu vou ter que pegar o seu brinquedinho no primeiro dia, Nicholas? - O professor sorriu e ele retribuiu – Desculpa, Professor.
Nicholas, apesar da cara fechada parecia um cara bacana.
A aula começou e foi uma clássica aula de apresentação dos alunos. Aquela coisa de “oi, meu nome é tal e eu vim de tal escola” que existe apenas para fazer os alunos passarem vergonha no primeiro dia.
Está querendo saber o que eu disse né? Tudo bem
“Me chamo Lucas, vim de uma cidade do interior, de uma escola no interior e tenho quinze anos. ” – Clássica apresentação.
Acho que deve também estar tentando me imaginar, já que eu não falei muito sobre isso até aqui. Então vamos lá; eu sou mestiço, meu pai é japonês e minha mãe tem traços latinos. Tenho um nariz pequeno e fino, olho levemente puxado e castanho bem escuro, cabelo preto e comprido até os ombros e um projeto de barba em crescimento. Deu para imaginar né? Agora vamos continuar com a história.
Depois de toda aquela palhaçada o professor passou dois textos e uma redação para a próxima aula, e eu acabei terminando a aula com o caderno vazio, já que só consegui prestar a atenção em como Gabriela brincava com os cabelos.
Pelo menos, após as apresentações ficou mais fácil conhecer um pouco mais dos alunos que sentavam a minha volta.
Não arrumei nenhum amigo durante a primeira aula, mas também, eu acabei me isolando no meu lugar e afundei minha cabeça no caderno enquanto direcionava alguns olhares para Gabriela.
A segunda aula, de geografia, passou extremamente devagar. Fiquei tentando desenhar no caderno, que dessa vez não ficou em branco, os pequenos desenhos, tomaram conta das quatro ultimas folhas até que o sinal para o intervalo tocou.
Todos saíram das salas empolgados, mas eu fiquei sentado isolado na mesma mesa perto das arvores floridas da entrada, lendo palavra por palavra do meu livro dos intervalos.
Passei as últimas três aulas com os fones de ouvido escutando alguns álbuns do The Samples.
As duas semanas que se passaram foram muito frustrantes. Fiquei repetindo exatamente a mesma rotina que fiz no primeiro dia, apenas cumprimentando educadamente algumas pessoas da sala e copiando algumas coisas importantes no caderno, que logo eram substituídas por desenhos aleatórios. Até tudo mudar na terceira semana de aula.
Autor(a): teosilva
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).