Fanfic: Filha do Mar | Tema: Percy Jackson
Removendo todos os traços de emoção de sua face, Melanie agachou-se ao lado de seu irmão e estudou sua respiração. Um silêncio solene instalou-se por toda a arena e todos ali presentes prenderam a respiração, a fim de escutar o veredicto da semideusa caloura entre eles.
- Tragam água - ela disse grosseiramente. - Imediatamente.
Por alguns poucos instantes, ninguém moveu um centímetro. Até que um garoto robusto aproximou-se dos irmãos com um balde pesado.
- Aqui está, filha do mar - sua voz não vacilou ou demonstrou sentimentos, surpreendendo a garota. Esta, por sua vez, apenas pegou um pouco da água e jogou delicadamente sobre os olhos de Percy. Assim que eles abriu os olhos, ela se virou para encarar o garoto que havia sido tão corajoso.
Estudando-o por alguns minutos, ela se questionou se seria coragem ou imprudência que o levou até ali. Ela esperava que todos estivessem tímidos demais ou mesmo arrogantes o bastante para apenas ignorá-la como haviam sido a manhã inteira. "Talvez eu tenha me enganado". Ela jamais admitiria, mas o pensamento dava-lhe náuseas, pois, se estivesse errada, significaria que haveria semideuses que poderiam ser recrutados para sua guarda.
Preferindo deixar o pensamento para outro momento, concentrou-se novamente em seu irmão, ajudando-o a levantar-se e estabilizar-se sobre as duas pernas.
- Você precisa ser mais rígido em seu treinamento, Perceu - E com esse último comentário, ela saiu, dirigindo-se à Grande Casa silenciosamente, passando por entre os observadores, que abriam caminho sem hesitar.
- Você está bem? - ouviu o garoto robusto perguntar a Percy, mas não se deu ao trabalho de ficar para escutar a resposta.
Assim que aproximou-se da imponente construção, a semideusa avistou Quíron em sua forma natural observando-a com um ar preocupado.
- Você deveria pegar mais leve com o garoto - disse em sua voz levemente rouca.
- Se eu pegar leve, ele jamais será capaz de cumprir seu destino - ela suspirou, de repente sentindo-se tremendamente exausta e desgastada, da maneira que só se permitia junto ao seu antigo tutor. - Ele precisa perder o orgulho, meu amigo. Preciso que ele entenda.
- Não questionarei seus métodos, minha cara. Apenas quero que reflita se é mesmo necessário - ele a encarou, procurando algum sinal de entendimento, mas só o que encontrou foi uma expressão vazia e um olhar saudoso. Ele sabia que as eternas lutas internas que a garota à sua frente tinha diariamente se mostravam desafio suficiente para que ela perdesse a humanidade. Sabia que ela ainda tinha muito a sofrer pelo caminho, mas não havia nada que pudesse fazer para ajudá-la. Em vez de questioná-la mais, portanto, resolveu apenas mudar de assunto, deixando este para mais tarde. Só esperava que não tarde demais. - Já começou os preparativos para a Guarda?
- Eles estarão aqui em breve. Espero que não haja atrasos, eles não me veem há duas luas... Digo, dois meses - ela observou o horizonte antes de continuar. - Assim que chegarem, preciso que me conceda um tempo com eles na Grande Casa, sem interrupções - ela fitou o centauro, deixando claro que não fora um pedido.
- Ora, ora... Olha só o que temos aqui! - disse uma voz vinda do interior da casa. - Malenie resolveu se juntar a nós para o café da manhã?
- Dionísio, por favor, eu realmente adoraria ter tempo para deliciar-me com sua companhia - respondeu com a voz carregada de sarcasmo. - Mas tenho coisas mais urgentes. Com sua licença - ela fez uma breve reverência enquanto o Deus tomava-lhe a mão e depositava um beijo suave. Então, retirou-se em direção à enfermaria, com esperanças de encontrar seu irmão por ali.
O dia estava agitado no Acampamento Meio-Sangue. Todos os semideuses estavam agitados com seus afazeres e a preparação para o caça bandeira que ocorreria à noite. Em uma época diferente, Melanie também aguardaria ansiosa pelo jogo, sem grandes preocupações ou responsabilidades.
- Mas esse tempo se foi para sempre - A garota se assustou com a voz e com o que ela dizia. Observou o lugar, mas não havia ninguém ali. Balançou a cabeça, imaginando que fora apenas impressão, mas duvidando disso em cada célula do corpo.
Continuou andando, dessa vez com mais atenção, esperando ouvir algo novamente, mas ninguém veio ou falou.
- O que faz aqui? - perguntou o garoto robusto que a observava da porta da enfermaria.
- Não devo explicações a você, semideus - Melanie o fuzilou com o olhar, esperando que bastasse para que ele saísse de seu caminho.
- Pode até ser. Mas deve ao Percy.
- Olha, eu não tenho tempo pra isso. Saia da minha frente imediatamente.
O garoto ameaçou expulsá-la, quando uma voz interveio.
- Está tudo bem, Scott. Pode ir, eu cuido disso.
Com um último olhar raivoso e desconfiado, o garoto foi em direção aos chalés contrariado.
- Nico... - a voz de Melanie falhava, assim como sua capacidade de respirar. - Eu...
- Não diga nada, Mel - ele a encarou tentando decifrar o que estava em seu olhar e encontrou um brilho de nostalgia oculto por um máscara de seriedade. - Venha comigo, quero te mostrar algo.
Relutante, ela o seguiu em direção aos chalés, perdida em devaneios de tempos perdidos, nem notando quando entraram no chalé 3, chalé das crias de Poseidon.
- Encontrei isso há algum tempo. Demorei pra reconhecer os detalhes entalhados, mas depois de analisar, encontrei seu trabalho - Nico apontava para uma espetacular fonte a um canto no chalé.
Melanie observou seu próprio trabalho, perguntando-se como teria parado aqui.
- Eu... Tinha cinco anos quando fiz isso. Foi logo depois... - havia um nó em sua garganta e lágrimas ameaçavam cair. - Foi logo depois que cheguei ao Submundo. Seu pai achou que seria bom eu fazer um presente pro Perceu.
Nico balançou a cabeça em concordância, observando os detalhes mais uma vez.
- Você poderia não ser tão cruel com ele, sabe? Não custa tentar...
- Você não entende, Nico - ela o cortou. - Eu preciso que ele seja forte, ou não sobreviverá! Você pode sentir, eu sei que pode. Uma aura de mor... - então ela não aguentou a começou a chorar. Nico a abraçou, ajudando-a a sentar no chão.
- Está tudo bem, Mel. Está tudo bem chorar. Você não precisa ser durona o tempo todo - sussurrou ao ouvido da garota, acariciando o topo de sua cabeça de maneira fraternal.
Um som estridente de metal contra rocha preencheu o recinto, sobressaltando ambos os jovens. Eles olharam para porta e avistaram um espantado Percy. Ele os encarava, tentando entender a cena que via à sua frente, afinal nunca havia visto o garoto di Angelo interagir com alguém daquela forma. Surpreendia-o e chegava a doer o fato de ter sido com sua própria irmã que o encontrou, a criatura mais perversa e misteriosa que já vira. Em seu íntimo, algo delicado se partiu e amargura preencheu seu semblante.
- Percy! - exclamou Nico, levantando com cuidado.
- Não, Nico. Quero... - ele os olhou e não pôde mais encarar aquilo. Saiu sem dizer mais nada, deixando Melanie furiosa.
- Viu só? Ele não passa de uma criança, Nico!
- Eu vou falar com ele - indagou o garoto cautelosamente.
- Não. É minha obrigação cuidar dele agora e colocar um pouco de juízo em sua mente. Com sua licença - Melanie saiu correndo, esquecendo completamente seu momento de fraqueza, substituindo-o por raiva e dever. Não havia nada que desejasse mais do que ser uma garota comum, cujas maiores preocupações seriam seu próximo visual ou sua maquiagem por fazer. Ela não queria ter que cuidar de seu irmão mais velho e não queria mais estar ali. Os anos de treinamento rígido arrancaram sua paciência com as pessoas e tornaram-na rude.
- Onde pensa que vai? - vociferou ao avistar Perceu. - Eu não lhe dei permissão para se retirar!
- Eu não preciso da sua permissão para o que quer que seja, Melanie! - Percy gritou de volta no mesmo tom de voz.
- Como ousa? Seu...
- Como EU ouso? Como VOCÊ ousa vir aqui e bagunçar minha vida? Agir como se eu não fosse nada depois de me dizer que é minha irmã?! - berrou perdendo todo o fôlego. - Como VOCÊ ousa agir como se estivesse acima de mim?! EU participei de batalhas! EU ajudei a manter o Olimpo em pé! EU cuidei da nossa mãe! EU estive aqui para outros como nós! - ele a encarou seriamente. - Onde VOCÊ esteve esse tempo todo que não estava aqui? Onde VOCÊ estava quando quase fui MORTO? Onde VOCÊ estava quando tantas crianças morreram esperando ajuda de pessoas como nós? - ele cuspiu as palavras com raiva descomunal, mas se arrependeu logo em seguida. Seus olhos ficaram marejados e o tapa que Melanie deu em seu rosto passou quase despercebido.
- Você não sabe NADA sobre mim. NADA, cria de Poseidon - Melanie urrou em tom cortante e pôde ver os sentimentos em frangalhos que banhavam os olhos de seu irmão. Mas sua fúria não poderia ser contida, ele passara dos limites. Ela poderia não dizer quem era, mas estava na hora de mostrar. Portanto, retirou-se para o refeitório e não voltou a olhar para o seu irmão. "Está na hora" sussurrou em pensamento para seus leais guerreiros.
Autor(a): beupaodequeijo
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Melanie percorreu o perímetro do Acampamento Meio Sangue sentindo a suave brisa noturna em seu rosto, ruborizando suas bochechas ainda quentes por causa da discussão. Ela não entendia por que Percy continuava a ser tão teimoso e tão... - Jovem - disse Nico aproximando-se com cautela - Ele é jovem, Mel. Assim como todos eles. - Eu s ...
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