Fanfic: Filha do Mar | Tema: Percy Jackson

Melanie percorreu o perímetro do Acampamento Meio Sangue sentindo a suave brisa noturna em seu rosto, ruborizando suas bochechas ainda quentes por causa da discussão. Ela não entendia por que Percy continuava a ser tão teimoso e tão...

- Jovem - disse Nico aproximando-se com cautela - Ele é jovem, Mel. Assim como todos eles.

- Eu sei, mas mesmo assim...

- Eu entendo que queira ser dura para ensinar uma valiosa lição. Mas há outros caminhos mais fáceis e toleráveis.

- Não posso perdoá-lo, di Angelo - cortou-o bruscamente.

O garoto observou-a, estudando suas feições e sondando sua aura. Ela lhe inspirava e, por muitos anos, foi como uma irmã. Ao seu olhar, a semideusa estava radiante, mesmo com os resquícios de raiva em suas feições. Seus olhos verdes eram tão penetrantes que quase o sufocavam. Ele mal conseguia esconder isso, quem dirá controlar seu coração quando a ouvia falar. Para ele, sua voz soava sempre angelical e apaixonada. Admirava sua agressividade, porque isso a distanciava da perfeição. Nico estava cansado de todas essas divindades excêntricas que o cercavam. Estava apenas cansado de tudo e um pouco de normalidade, se é que isso existia, era tudo que ele queria.

- Engula seu orgulho, Guardiã. Você precisa fazê-lo, ou isto será sua ruína - com este último comentário, Nico deixou-a sozinha com seus pensamentos turbulentos, secretamente desejando que ela fosse à sua procura para um abrigo durante a noite.

Melanie encarou o vazio e se viu indo em direção à praia. Estava farta da imensidão azul, mas algo a atraía para as ondas agitadas daquele santuário. Avistou um vulto negro sentado na areia logo que chegou e temeu que fosse mais um inimigo. Mas o vulto era-lhe tão familiar, que, quando a areia foi deslocada por sob seus All Stars, já não importava mais.

- Olá, pai - disse ela secamente.

- Pensei que tinha dado-lhe melhores maneiras.

- Tanto faz. O que quer? - ela não queria mais companhia divina, não queria mais ver ninguém. Apenas desejava que o peso dos séculos a consumissem e a permitissem enfim descansar eternamente. Mas isto seria impossível.

O deus sondou-a, procurando brechas na armadura resistente que a garota havia criado, mas não encontrou nada.

- Vim dizer que eles receberam sua mensagem. Seus Guardiões estão prontos - ele a fitou com pesar nos olhos. - Melanie, não desejo seu mal, apenas seu bem.

- Eu... - ela tentou dizer, mas ele se foi com a maresia.

Inconsolada, a garota caminhou pela praia, sentindo as lágrimas silenciosas e quentes escorrendo em suas bochechas. Ela desejava mais que tudo ser uma pessoa normal. Subitamente, reconheceu em si o discurso de alguém que estimava e respeitava. De fato, quando recomeçou a andar em direção aos chalés, tinha a intenção de bater à porta do chalé 13, mas surpreendeu a si mesma entrando em seu próprio canto e de sua família.

- O que está fazendo aqui? - perguntou rispidamente Percy.

Antes de cair no sono, ela respondeu vagamente:

- É minha casa também, irmão.

***

O dia nasceu agitado no Acampamento. Mal o Sol havia nascido, e os filhos de Hefesto e Ares se preparavam para um ataque. Eles avistaram muitos pégasos vindos do norte e concluíram que eram uma ameaça iminente.

- Clarisse! - gritou Quíron. - O que significa tudo isso?

- Temos ameaças vindas do norte, velhote... Digo, Quíron - respondeu de má vontade uma garota alta, rechonchuda e musculosa.

- Quem foi que confirmou? - respondeu o centauro no mesmo tom utilizado pela garota.

- Ora... - ela o encarou incrédula. - Eu.

- Trate de desarmar o que quer que tenha armado. Eles são convidados e não permitirei que manche a hospitalidade deste local, senhorita La Rue - ele fitou-a com severidade.

- Mas é claro - ela fez uma reverência carregada de sarcasmo. - Como quiser, mentor - cuspindo no chão, ela berrou ordens para que todos os preparativos fossem cancelados e reorganizados.

Melanie, que observava toda a confusão, divertidamente, de seu chalé, voltou-se para a cama de seu adormecido irmão e sentou-se ao seu lado. Ela observou o modo como o cabelo caía em seus olhos cerrados, e o leve subir e descer de seu peito. Mirou atentamente cada traço que os tornava semelhantes e concluiu que estava velha demais para continuar em frente. "Se eu ao menos pudesse ter a chance de dividir preocupações como as suas para vivermos como iguais, sem coisas maiores que o apocalipse..."

Com um suspiro, sacudiu Percy e disse o mais suave que pôde:

- Vamos. Algo grande está para acontecer e não quero que perca isso - ela se retirou do chalé e se encaminhou para o centro da comoção, informando mentalmente seus companheiros o local, aquele local, que deveriam pousar.

Quíron não demorou a se juntar a ela, bem como todos os outros semideuses do Acampamento. Em poucos instantes vinte pégasos aterrisaram, carregando consigo semideuses fortemente armados. Todos possuíam semblantes joviais e sábios simultaneamente, fazendo com que a maioria dos campistas recuassem.

Logo que pousaram Melanie aproximou-se deles, os quais rapidamente desceram de suas montarias e ajoelharam-se todos ao mesmo tempo. A semideusa encarou-os obstinada, mirando cada um solenemente. Ergueu seus braços com um sorriso frio em seus lábios:

- Sejam bem vindos, Guardiões! - depois, voltando-se aos campistas com um olhar severo - Semideuses, eu, Melanie Saphyra Pérola Jackson, líder dos Guardiões, gostaria de apresentar-lhes meus subordinados e companheiros. Que fique claro que são convidados e não ameaças - ela direcionou seu olhar para Clarisse na última frase.

- Líder! - disse uma semideusa de pele amendoada, que estava junto aos Guardiões. Ela carregava inúmeros símbolos pela pele e seu sorriso lembrava as náiades que afogavam pescadores descuidados. 

A garota se aproximou de Melanie, fez uma breve reverência e depositou um beijo na sua mão. Ela sorriu e olhou para os outros que os observavam.

- Olá, Nath - respondeu bondosamente Melanie. - É bom vê-los todos bem.

- Senhora - disse outra semideusa de cabelos branco-azulados. - Sinto em informar, mas existem potenciais aqui que não devem ser ignorados.

- Sei disso, Andrômeda. Não se preocupe - voltou-se para Quíron e sorriu como se pedisse desculpas a seu velho mentor por errar a lição. - Seria possível todos irmos para a fogueira, meu amigo?

- Acredito que sim. Vou encaminhar os campistas para lá. Você cuida dos seus, peixinha - ele ergueu a mão para bagunçar o cabelo dela, mas desisteu no instante em decidiu fazê-lo. Quíron já não conhecia mais sua aluna favorita, aquela que criou e educou inúmeras vezes como se fosse sua própria filha.

Ela sorriu e assentiu, sem nem mesmo notar o movimento.

- Guardiões, comigo! - ela seguiu em direção à arena para que pudessem acender a fogueira. - vocês têm notícias?

- Não, milady - respondeu Andrômeda. - Os deuses se fecharam para nós após sua partida.

- Para vocês, talvez, mas para mim, nunquinha! - suspirou uma garota loira que exibia o máximo possível do seu corpo para quem quisesse ver.

- Katie, contenha-se - riu outro garoto loiro, em igual tom de voz.

- O que há com vocês? - rasgou Melanie. - Será que se tornaram crianças? Não aprenderam nada?

- Ah, relaxa, Melzinha - disse Katie, fazendo biquinho. - Nós só gostamos de nos divertir um pouquinho. Não há perigo.

- O quê... - Melanie ficou pálida com a possibilidade que surgiu. Passou a fitar o ventre de Katarina com cuidado e atenção. - Katarina, você... - ela se aproximou e colocou a mão sobre a barriga da companheira.

- O que houve, senhora? - Katie a olhou confusa e buscou ajuda com os outros, fitando-os.

- Ah, sim. Também vejo - aproximou-se uma Guardiã com um véu roxo claro cobrindo sua face. - Ela carrega uma cria de Ares.

Katie olhou para a guerreira sem fôlego algum. Seu mundo passou a rodar e, de repente, se sentiu absolutamente enjoada. Para ela, isso não seria possível. Ela não achava que era fértil ainda, depois de tantos anos de vida.

- A imortalidade que nos é concedida, minha cara - sussurrou Melanie. - É dada pela natureza. Ela nos dá vida, não nos tira vida. Dessa forma, podemos procriar - Ela suspirou e olhou a garota nos olhos. - Não acho que você deva ficar aqui. Isso... Jamais havia acontecido antes. Você deve se retirar e ficar com Caos. Não sei quanto tempo essa gestação deve durar. É mais seguro para você e a criança nos domínios mais longínquos.

- Estou sendo expulsa? - Katarina estava quase sem voz e nada mais importava. Se ela tivesse que matar a criança para permanecer em seu posto, estava disposta a pagar esse preço.

- Não. É claro que não, Katie - a voz de Melanie era suave como veludo e envolvia a semideusa como seda. - Você poderá voltar quando se certificar de que a criança está bem. Mandarei Camila com você. Uma sacerdotisa treinada por mim será mais que de grande ajuda, não acha? Agora, pegue seus pégasus e vão. Não há mais tempo a ser desperdiçado - Com uma última análise, ela se virou para o garoto loiro. - Vá junto, André. Sua irmã precisará de você.

***

Todos estavam entusiasmados quando chegaram à fogueira que fora acessa pelos guerreiros. Melanie sentia essas emoções como ondas a acertar seu corpo em todas as partes. Não achava nada divertido ter que rebanhar mais crianças inocentes apenas porque deuses não sabem se cuidar sozinhos. Sentia a responsabilidade pela gravidez de Katarina, a qual criou, como se fosse do seu sangue, durante milênios.

- Antes de qualquer pergunta, para se unir à nós, - Começou - vocês devem falar com seu parente, pai ou mãe, divino. Somente com a permissão deles poderão entrar para esta ordem - Tentou a todo custo manter sua voz neutra, livre de emoções. - Contudo, saber da nossa existência é mais do que alguns terão, porque eu devo aprovar aqueles que conseguirem a permissão divida. Estamos aqui para ajudá-los na batalha que está por vir. Acreditem, não será uma tarefa fácil. Precisamos nos manter unidos até o fim.