Fanfic: Filha do Mar | Tema: Percy Jackson

Antes que todos pudessem iniciar uma bagunça enorme, Quíron pronunciou-se:

- Sejam bem vindos ao Acampamento Meio Sangue - ele sorriu. - Nós todos faremos o possível para que se sintam confortáveis. Cada um de vocês poderá ficar no chalé de seu parente divino e ajudar como todos nós - ele olhou para os semideuses pelos quais era responsável. - E vocês podem voltar às suas atividades.

Todos voltaram resmungando mal-humorados aos seus afazeres, enquanto Quíron cumprimentava cada um dos guardiões. Ele gostava de sentir que estava em casa e era essa a sensação que o dominava naquele instante. Ver tantos rostos conhecidos e queridos por seu coração enchia-o de esperança e conforto. Estava saudoso de tempos que jamais voltariam, mas que sempre estariam guardados em sua memória e em sua essência.

- Perdoe-me, senhora - um garoto moreno de estatura média postou-se ao lado de Melanie, fazendo uma breve reverência. - Acredito que seja necessário nos reunirmos imediatamente. Sei que mandou três dos nossos em uma missão, mas eles ainda não partiram. Temos assuntos importantes a tratar.

Melanie o observou, avaliando-o como a um oponente. Era imprescindível que ela assim o fizesse, pois anos e mais anos de traição fecharam seu coração para confiança mesmo em seu melhor escudeiro.

- É claro, Murilo - voltando-se aos outros, aumentou o tom de voz, deixando-o mais rígido. - Guardiões, quero todos na Casa Grande em dez minutos, enquanto isso - Voltou-se ao Murilo. -, acompanhe-me ao chalé três.

- O nosso chalé? - indagou Percy, quase entediado, encarando-a com insolência.

- Algum problema, Perceu? - Melanie respondeu rispidamente, mas escondeu um sorriso ao vê-lo encolher-se à menção de seu nome. - Você participará da reunião, como herdeiro de Poseidon e meu parente mais próximo.

- Parente? - perguntou o semideus moreno com os olhos amendoados curiosos. - Quem é este, capitã?

- Logo saberá, agora, vamos - ela começou a caminhar em direção ao seu chalé, sem mesmo se importar se a seguiriam, pois esta era a maior certeza de sua vida: seus Guardiões sempre a seguiriam, não importava as condições.

Ao entrar no chalé, Melanie suspirou profundamente e sentou-se em sua cama.

- O que houve, Mel? - indagou Murilo.

- Bom, não importa agora. Preciso que me faça um favor - Ela o encarou ao escutar seu irmão entrar no chalé. - Este é Perceu, meu irmão gêmeo. Preciso que procure Héstia e interroge-a sobre o futuro dele. Pode fazer isso para mim?

O semideus encarou-a, analisando o pedido que sua líder fizera. Há éons um pedido assim fora feito e aceito por ele. Contudo, o fim fora catastrófico para todas as partes. Morte e destruição era o que acompanhava este presságio agourento.

Mesmo assim, ainda era uma ordem direta disfarçada de pedido. Recusá-la seria o mesmo que traição. Isto ele não poderia jamais, pois esta mulher a sua frente já o salvara tantas vezes, que milênios completariam-se antes de quitar sua dívida. Por esta razão e pelo respeito que ele tinha por ela, o rapaz acenou com a cabeça em confirmação.

- Preciso de mais um favor seu, se não for pedir demais - com um impulso, ela se levantou e encaminhou-se à fonte no canto do recinto. - Examine-a depois da reunião. Não podemos correr riscos - Sua voz possuía um som hostil e distante que causou calafrios em ambos os garotos.

- O que tem de errado com a minha fonte? - Indagou Percy, com desafio.

- Não é assunto seu. Apenas vamos para a Grande Casa sem mais atrasos - Ela se afastou dos garotos e foi na frente.

Percy fez menção de alcançá-la, mas Murilo o deteve.

- Dê um tempo a ela. Ela já passou por bastante coisas.

- Você fala isso porque ela não age rudemente com você - retorquiu com o orgulho ferido.

- Você nem imagina como ela já me tratou duramente - Murilo encarou-o penetrantemente. - Se soubesse, ficaria aliviado. Ela é uma guerreira; uma comandante. Não importa o que ela sinta, sempre será fria. Seu coração congelou-se há muito tempo. Não fique bravo porque ela não lhe dá colo, sinta-se orgulhoso por ela se dar ao trabalho de dirigir-lhe a palavra depois que a insulta tão imprudentemente. Vamos, os Guardiões não toleram atrasos.

***

- Qual foi seu sonho? - indagou uma garota de cabelos louros.

Melanie encarou cada um dos seus Guardiões, por fração de segundos mergulhando em pensamentos que, mais tarde, tirariam-lhe o sono.

- Meus irmãos, temos trabalho a fazer - disse ela sombriamente. - Semideuses têm desaparecido deste Acampamento. Aparentemente, eles se recusam por alguém lhes dá uma opção mais... Fácil - ela empregou toda sua repulsa nesta palavra.

- Mas isso significa... - Sussurrou Murilo. - Seria possível, líder, que...

- Eu não sei, Murilo. Hoje falarei com a garota, Rachel, que resguarda o Oráculo de Delfos.

- Isso lhe preocupa? - questionou a semideusa grávida.

Melanie encarou-a fraternalmente. Esta era uma de suas melhores guerreiras. Ela odiava deuses folgosos que se aproveitavam de semideusas sem miolos como ela.

- Claro que me preocupa, Katie. Temos que solucionar isso quanto antes.

- Entendido.

- Quero aproveitar essa chance para apresentar-lhes meu irmão gêmeo, Perseu Jackson - Todos prenderam a respiração com esta declaração. Um clima de preocupação e inquietação instalou-se entre todos.

- Irmão gêmeo? - indagou a garota loura.

- Exatamente, Izzy - Melanie encarou a garota. Com apenas um olhar a todos, os Guardiões saudaram Percy respeitosamente e se retiraram para seus respectivos chalés.

- Boas vindas calorosas - comentou Percy depois que todos partiram.

- Eles não precisam de calor. Confiamos um nos outros e nada mais importa - A garota parecia misteriosa e pensativa ao sol das onze horas. Percy compreendia-a cada vez menos, ao passo que também a odiava cada vez menos. Algo em seu íntimo dizia-lhe que eram parecidos ao seu modo.

- Precisa conhecer a Rachel, certo?

- Desculpe?

- Você falou para os seus... irmãos que visitaria o Oráculo. Eu posso... Te levar lá, se quiser - ele corou e baixou os olhos envergonhados. Isso não passou despercebido por Melanie, cuja resposta foi segurar o queixo dele e erguê-lo até que seus olhos se encontrassem.

- Jamais envergonhe-se de ser você mesmo. Jamais, me ouviu? - Ele balançou a cabeça em concordância. - Então vamos. Guie-me até lá.

Caminharam juntos até o topo da Colina Meio-Sangue, onde encontrava-se um pinheiro enorme e milenar, cujos galhos e toda sua extensão irradiava magia e proteção. Na base de seu tronco havia buraco natural, no qual entraram silenciosos.

- Rachel? - chamou Percy. Uma garota de cabelos ruivos e olhos castanhos respondeu:

- Percy? Ah, você deve ser a... - e de repente ela ficou envolta por uma fumaça verde e o ar começou a ficar gelado, como se eles estivessem numa fenda mágica. - Diga-me por que veio e te darei seu caminho. Conte-me a verdade e terá carinho. Vaga sempre sozinha, que busca perdida. Não ouse esquecer da dama na janela estendida. Por favor, busque-me, querida. Por favor, jamais me esqueça, pequena sabida.

Melanie encontrou-se hipnotizada por estas palavras que lhe eram tão familiares. Seus pensamentos passaram a vaguear em suas vidas antigas, trazendo à tona uma conexão com o mundo divino mais forte do que qualquer outra.

"Estava escuro, mal conseguia notar Zeus, Poseidon e Atena nesta caverna. Não havia ruídos e o tempo parecia congelado.

Forcei-me a olhar para o lado e encontrei Nico chorando ao lado do... Percy. Eles estavam com a Annabeth ensanguentada. Eu sabia o que deveria ser feito. Mas eu não comandava meu corpo.

- Você sangrará até a morte, filha da traidora! - Eu falei de repente.

- Annabeth, por que fez isso? - perguntava o Percy.

- Muito bem, pequena - disse uma voz conhecida.

E de repente pude falar de novo.

- Gaia - cuspi. Agora intencionalmente.

- Você é minha bisneta favorita!

- E você minha bisavó mais detestável.

- Elogie o quanto quiser. Eu lhe dei minha bênção, não dei?

- Deu. Mas eu não pedi nada. Gostaria que simplesmente esquecesse da minha existência!

- Vim lhe fazer um favor - A risada dela fez com que toda a caverna vibrasse.

- Qual?

- Seu irmão e os amigos dele não me aniquilaram totalmente. Eu ainda estou viva. Estou indo em direção ao seu santuário mais antigo. Esteja lá com ou sem eles. Seja minha aliada. Juntas, seremos imbatíveis.

- Não tenho nada do que reclamar dos deuses - dei de ombros.

- É mesmo? Não odeia o fato do seu irmão poder ter tido uma vida normal, na medida do possível?

- Olha, eu até lhe explicaria, Gaia, mas você não é a Gaia que eu costumava conhecer nas minhas vidas passadas. E sim. Me lembro de todas elas - respirei fundo - Contudo, não ficarei perdendo tempo com uma psicopata como você.

- Ela era ingênua. Eu não sou mais... - A vibração de sua risada intensificava-se cada vez mais. - Antes de ir, lhe mostrarei o que acontecerá quando eu não a encontrar no local combinado dentro de um mês.

Então eu vi destruição, caos, medo... Vi meu irmão chorando de dor. Sua perna estava fraturada, Quíron estava morto, Zeus e Poseidon feridos seriamente. Todos com quem me importei algum dia, mortos ou agonizando. Quando olhei para mim, vi que estava bem. Maldita seja esta maldição!

Todos podiam ser normais, viver sem saber se terão ou não outra vida. Eu não. Sei que viverei eternamente. Morrendo e revivendo. Tendo que ver aqueles que me importo morrerem dolorosamente. Não aguento mais isso. Sou incapaz de qualquer ato para salvá-los."