Fanfic: Uma Rainha Para Nadezhda - Vondy | Tema: Adaptada

Dois meses e quinze dias.

Dois meses e quinze dias para arranjar uma esposa.

Nesse momento, eu gostaria de ser qualquer outra pessoa no mundo, ou ter nascido em outra família, ou em outro país, ou qualquer cenário que me permitisse não ter que arranjar uma esposa em menos de três meses.

Sei que, para muitos, eu posso parecer louco, afinal, vejo a quantidade de filmes que Hollywood faz com a temática real, mas a realidade raramente é tão bonita quanto a ficção.

Sim, sou um príncipe, herdeiro do trono e cresci comendo em bandejas de prata. Literalmente.

A questão não é a quantidade de oportunidades que eu tive na vida, que foram proporcionadas por eu ser filho de um rei, ou ter sido filho de um rei, já que meu pai morreu há pouco mais de nove meses.

Eu sei que cresci com mais privilégios do que noventa por cento da população mundial. Estudei nas melhores escolas, frequentei Universidades renomadas e viajei mais do que a maioria das pessoas.

Nasci em Nadezhda, um país extremamente pequeno, que fica no leste europeu. Como príncipe, fui criado no palácio real e tive todas as oportunidades de aprendizado que eu pude desejar, mas também cresci com grandes expectativas sendo colocadas sobre mim.

Eu sempre soube que teria que me casar para assumir o trono, mas não esperava que isso fosse acontecer tão repentinamente. Meu pai já era rei quando eu nasci e seu casamento com a minha mãe foi exatamente pela mesma razão que me faz precisar de uma esposa até o dia vinte e seis de dezembro.

“A posse à coroa realizar-se-á, em caso de abdicação do trono ou falecimento do regente, no dia vinte e sete de dezembro do mesmo ano cristão, salvo o caso em que a abdicação ou falecimento ocorra entre os dias vinte e sete e trinta e um de dezembro daquele ano. Nesse caso, a posse à coroa far-se-á no dia vinte e sete de dezembro do ano seguinte. Ademais, o futuro rei ou rainha a ser coroado deve ser um nobre legalmente casado e a sua cerimônia de casamento apenas será válida se for realizada na Catedral Real de Nadezhda até o dia vinte e seis de dezembro do ano de ascensão ao Trono”.

Para quem não entende de burocracia, pode ser que os termos relatados acima não tenham ficado claros, mas o básico disso tudo é que eu preciso estar casado para poder suceder meu pai. Não somente isso, mas meu casamento precisa ser realizado até o dia vinte e seis de dezembro do ano em que eu tomarei a posse. Se eu não me casar, não importa se sou filho do falecido rei, eu não poderei reinar.

Por isso eu preciso arranjar uma esposa em dois meses e quinze dias.

Meu país tem muitas coisas boas, mas, em alguns pontos, parece que ficamos parados no tempo.

Nossa monarquia é constitucional e o rei é o chefe de estado. Para suceder ao trono, não é necessário ser um homem, mas o fato é que eu sou o filho mais velho, com trinta e três anos.

Eu gostaria de poder deixar o cargo para o próximo na linha de sucessão, mas eu não confiaria ao meu tio nem mesmo os cuidados da minha casa. Que dirá do meu país. Então eu não tenho outra opção que não seja assumir o cargo que foi do meu pai e governar Nadezhda.

Na teoria, a minha irmã mais nova deveria vir depois de mim na linha de sucessão, mas outra lei que possuímos é que, para assumir a coroa, a pessoa deve ser maior de dezoito anos e ela tem apenas sete.

Sim, eu sei que há uma grande diferença entre a minha idade e a da minha irmã, mas a questão é que ela é fruto do segundo casamento do meu pai.

Como eu disse, ele se casou com a minha mãe exatamente para poder assumir o trono quando meu avô morreu por causa de uma pneumonia. O Príncipe Ivan tinha apenas vinte anos na época e teve que se casar e assumir o trono em menos de seis meses, enquanto ainda estava de luto.

Pode-se dizer que eu tive mais “sorte” que ele, já que o meu pai morreu no dia vinte e oito de dezembro. Eu tive mais tempo para viver meu luto e, claro, para tentar contornar essa regra idiota de que eu tenho que ser casado.

Passei os últimos oito meses procurando alguma forma de reverter essa situação, mas não tenho mais para onde fugir. Ou eu me caso até o dia vinte e seis de dezembro e tomo posse no dia vinte e sete, ou o irmão mais novo do meu pai fará isso no meu lugar.

Passei anos vendo meus pais infelizes por não se amarem. Tenho plena consciência de que ambos tinham amantes e só vi o rei Ivan realmente radiar felicidade quando ele conheceu a Irina, minha madrasta.

Minha mãe morreu aos quarenta anos, por causa de um câncer de mama que só foi descoberto quando já tinha ido para o pulmão. Apesar de nunca terem se amado, a morte dela fez com que ele proporcionasse campanhas de prevenção e impulsionasse as pesquisas médicas nessa área no nosso país, o que o levou a conhecer a Irina.

Irina era médica pesquisadora e, aos trinta e um anos, fazia parte do departamento de pesquisas contra o câncer de mama. Ela conheceu meu pai e, em menos de dois meses, os dois se apaixonaram profundamente.

Depois de ver a diferença no meu pai, jurei a mim mesmo que eu não me casaria se não fosse, de fato, por um desejo no fundo da minha alma de passar o resto da minha vida com alguém, já que divórcios não são permitidos aqui.

Infelizmente, não poderei cumprir com a minha promessa, então pretendo ao menos encontrar uma parceira de quem eu possa ser amigo, e que me dê tesão. Eu sei que meus pais sequer possuíam isso e as suas traições se deram simplesmente para saciar os desejos carnais, já que meu pai nunca mais traiu depois de se apaixonar.

Como não sei se me sentiria confortável traindo meus votos de casamento e sei bem que não aguentaria passar o resto da minha vida sem transar, ou pior, transando com alguém por quem não me sinto atraído, contratei uma especialista.

Hulda é, segundo o meu conselheiro e braço direito, a melhor especialista em casamentos reais que existe. A questão é que já estamos sentados no meu escritório há mais de meia hora, apenas analisando as possibilidades que ela trouxe e eu já estou de saco cheio, então é uma excelente distração quando minha irmã entra, sem bater, e anuncia:

– Ucker, a gente precisa de um feriado de Dia das Crianças!