Fanfic: Uma Rainha Para Nadezhda - Vondy | Tema: Adaptada

  Vai ser uma ótima oportunidade, eles disseram.

Não é qualquer um que pode ter uma experiência dessas no currículo, eles disseram. Você vai poder viajar e conhecer lugares novos, eles disseram.

O que não disseram foi que eu teria que lidar com uma princesa que age como qualquer coisa, menos como uma dama. Até eu sou mais polida do que essa menina.

Ou pelo menos eu costumo ser, quando não estou correndo pelo castelo, com meus saltos na mão e o cabelo saindo do penteado.

Tá bom que eu sabia que daria aulas para uma criança e eu amo crianças, mas quando pensei na princesa, imaginei uma menininha quietinha, comportada, que só usa vestidos e senta com os tornozelos cruzados.

A Lara me pegou de surpresa. Ela é extremamente determinada – pra não dizer cabeça dura – não gosta de vestidos, só senta de pernas cruzadas – tipo índio – e me desafia o tempo inteiro.

Eu já trabalho com crianças desde meus dezessete anos, ou seja, tem nove anos que eu lido com crianças, mas eu ainda não sei como lidar com essa. Talvez, se ela não fosse uma princesa – é, nem eu acredito que sou professora de uma princesa – eu soubesse como agir, mas não é o caso.

Meu lado racional fala que ela é só mais uma criança e que, como a maioria delas, vai começar a me respeitar mais quando tivermos uma relação mais bem estabelecida e que, até lá, eu tenho que ser mais firme. Meu lado plebeu e completamente fora da zona de conforto fala que ela é a porcaria da princesa do país em que eu estou trabalhando e que, se ela quiser me mandar pra masmorra, ela pode.

Não que exista uma masmorra aqui no castelo. Ou talvez exista e eu ainda não descobri, já que estou aqui há três meses e meio. O fato é que eu não deveria ter citado que, no Brasil, o Dia das Crianças é um feriado. Eu deveria saber que essa menina faria alguma coisa a respeito, já que a data é amanhã. E ela nem me deixou terminar de explicar que o feriado não é por causa do Dia das Crianças, e sim por causa de uma santa.

Ela simplesmente saiu correndo da sala. E eu fiz o quê? Corri atrás. Uns três corredores depois de começar a perseguição nos meus saltos Scarpin, abandonei o mês de aulas de etiqueta que eu tive quando cheguei em Nadezhda e tirei os sapatos pra ser mais rápida, mas essa menina é um projeto de Usain Bolt!

Quando finalmente a alcanço, estou ofegante, sem dúvidas vermelha e descabelada, sem falar no fato de que estou descalça, e reparo que a princesa entrou no cômodo em que está ninguém menos que o príncipe. A porcaria do futuro rei!

Eu mal tenho dois segundos antes de registrar a cena e abaixar meus olhos, como manda a porcaria da etiqueta.

– Ucker, a gente precisa de um feriado de Dia das Crianças! – Ela fala, indo até ele, mas eu me retenho no limite da porta e começo a me desculpar, ainda olhando para o chão.

– Desculpe, Vossa Alteza, eu não sabia–

– Tudo bem. – Ele me corta, então calo minha boca em menos de um segundo. – Diga, Triz, de onde você tirou essa ideia? – Sua voz é grossa e aveludada e eu tenho que me esforçar para manter os olhos no chão e não investigar seu rosto para saber se está tão cheio de afeto quanto sua fala fez parecer.

– A Srta. Dulcr falou que amanhã é feriado de Dia das Crianças no Brasil.

O esforço que eu faço para me manter quieta é absurdo, mas as aulas de etiqueta que eu tive me ensinaram que eu não me dirijo à Vossa Alteza Real sem ele estar falando diretamente comigo. Então eu devo permanecer calada, mesmo que a menina esteja embolando as informações que eu dei.

– É mesmo, Srta. Dulce? Eu achava que o feriado era de Nossa Senhora Aparecida. – A voz dele está repleta de humor, o que me alivia um pouco, mas minha voz ainda treme quando respondo:

– De fato, a Vossa Alteza está correta. O feriado é por causa de Nossa Senhora Aparecida, mas o Dia das Crianças é celebrado na mesma data. – Me forço a permanecer olhando em seus olhos, já que ele está falando comigo, mas tudo o que eu queria era me esconder.

É claro que eu já tinha visto fotos do príncipe e eu sabia que ele tinha cabelos castanhos e que seus olhos eram azuis, mas eu não esperava que meu primeiro contato com ele fosse nessa situação. Eu imaginei que eu teria tempo para me preparar antes de dar de cara com o futuro rei.

E, mesmo assim, não tinha ideia que eu ficaria tão impactada com seu olhar. É mais que só o fato dele ser um príncipe. É o ar que ele emana que está me deixando desconfortável.

– Ucker, é a mesma coisa. A gente precisa desse feriado! – A princesa fala, se sentando em seu colo.

Não sei o que me espanta mais, se é o fato da princesa estar ignorando solenemente a presença da bela loira que também está ocupando a sala ou se é o fato de o príncipe não a estar recriminando.

– Quem é essa? – Lara pergunta, pegando um dos papéis que estava estendido na mesa, em frente ao irmão.

– Uma das candidatas a se tornar minha futura esposa. O que você acha? – Ele responde olhando para a irmã com um sorriso no rosto, o que me faz sentir coisas extremamente inapropriadas na parte de baixo do meu ventre.

– Acho que ela não parece legal. – Lara faz uma careta e vira a foto para mim. – Você não acha que ela não parece legal, Srta. Dulce?

– Eu, hã… – Sinto meu rosto esquentar e estou tentando buscar na memória alguma das regras de etiqueta que me ajude a saber como agir nessa situação quando a loira se pronuncia pela primeira vez.

– Vossa Alteza, sei que não cabe a mim opinar, mas–

– Não, Hulda, por favor, – ele a corta e fala segurando meu olhar: – eu gostaria de outras opiniões que não a minha. Então, Srta. Dulce, o que acha?

Ele está sorrindo para mim, parecendo com a irmã sapeca, o que me faz acreditar que ele está se divertindo com a situação. Sendo assim, desisto de tentar seguir as regras de etiqueta e dou minha opinião verdadeira.

– Ela é bonita, mas realmente falta empatia em seu olhar.

– Falta empatia… – Ele está sorrindo, mas agora olha para a foto. – Acho que ela vai ser meu primeiro encontro, Hulda.

– Seu primeiro encontro?! Eu acabei de falar que ela não parece legal e a Srta. Dulce concordou comigo! – a Lara parece tão confusa quanto eu com a fala dele, mas, sorrindo, ele completa olhando para a mulher:

– De preferência em uma das nossas casas de apoio. Quero colocar à prova a opinião da minha irmã e da Srta. Dulce.