Fanfic: Garotos ao sul do Mason Dixon - Vondy(finalizada/adaptada) | Tema: Vondy, HOT

CHRISTOPHER UCKERMANN

Bray está dirigindo. Não me lembrava muito de entrar na caminhonete. Eu ouvi os paramédicos dizendo que seu coração tinha parado e que eles não sabiam o por que. Isso era tudo o que sabia. Nada mais. Então eles foram embora, deixando-me apenas com o nome do hospital para o qual eles a levaram.

Isso não pareceu real. Era como se eu estivesse preso em um pesadelo incapaz de acordar. O horror e o medo nos rostos dos pais dela diziam o que eu precisava saber.

Eu tinha que chegar a esse hospital. Ela não iria me deixar. Ela era muito jovem. Meninas saudáveis de dezoito anos não precisavam de helicóptero. Eles resolveriam isso. Ela ficaria bem. Ela tinha que estar bem.

— Respire, Ucker, Respire, — Brent disse enquanto sua mão tocava minhas costas. Inspirei bruscamente e meus pulmões queimaram. Semelhante ao que eles fizeram quando éramos crianças e competimos um contra o outro para ver quem poderia prender a respiração por mais tempo debaixo da água. Eu nem tinha percebido que eu tinha parado de respirar. Essa foi a segunda vez que Brent teve que me lembrar.

— Não vai demorar muito mais, — Bray disse olhando para mim através do espelho retrovisor. Não consegui responder. Falar exigia muito. Eu estava fazendo tudo o que podia para me manter são. Minhas bochechas estavam úmidas de lágrimas silenciosas. Medo, descrença, dor, tudo misturado dentro de mim, me lembrando que não poderia viver sem Dulce.

Meus irmãos também não falavam. De qualquer forma, não muito. Dulce era especial para todos nós. Ela havia vivido em nossas vidas pelo tempo que podíamos nos lembrar. Mamãe também estava a caminho. Dallas estava levando ela. Ela estava fazendo com que as pessoas nas igrejas locais orassem e ela também embalou algumas coisas pra mim porque ela sabia que eu ficaria lá com Dulce. Eu não iria embora até que ela pudesse. E Dulce voltaria. Ela voltaria para casa comigo.

— Acha que eles nos diriam algo se ligássemos para o hospital? — perguntou Steel.

— Duvido. Apenas família, — disse Brent.

Eu apenas olhei pela janela. Tínhamos que chegar lá. Ela precisava de mim lá.

— O paramédico disse algo mais, Bray? — perguntou Brent. Bray tinha falado com eles mais do que qualquer um de nós. Eu estava pirando. Eu ainda estava. Eu não estaria bem até eu a vir. Falar com ela.

— Não, — ele disse, voltando a olhar no espelho retrovisor com um olhar preocupado. Ele sabia mais, ele simplesmente não nos dizia.

— Se você sabe de alguma coisa, então eu quero saber, — falei, falando pela primeira vez.

Bray não me olhou desta vez. Ele permaneceu em silêncio.

— Você sabe alguma coisa... — comecei e Steel olhou para mim.

— Não. Nenhum de nós sabe de nada. Qual é. 

Ele estava certo. Eu precisava de fatos.

Havia um helicóptero. Um maldito helicóptero. Eu só vi um depois de um acidente de carro. Quando alguém quase morreu por lesões. Não na casa de alguém. E não para buscar uma menina de dezoito anos de idade.

— Vão, — Bray disse, parando na frente de um prédio. Um grande sinal vermelho na nossa frente dizia Emergência. Nós chegamos. — Vou estacionar e encontrar vocês lá dentro. 

Não esperei. Eu estava fora do carro e dentro do prédio em segundos. Corri para a mulher na recepção. — Dulce Espinoza. Ela foi trazida pelo helicóptero. Você tem informações sobre ela?

A mulher olhou casualmente seu computador, digitando como se eu não tivesse acabado de dizer a palavra helicóptero. Isso não era grande para ela. Ela tinha sido dessensibilizada pelos pesadelos de outras pessoas.

— Ela não está na sala de emergência, — disse a mulher franzindo o cenho. — Ela deu entrada, no entanto. Ela está na Unidade de Cuidados Cardíacos Intensivos. 

Eu não tinha ideia do que isso significava além de que estava viva. Por agora era suficiente. — Onde fica isso?

— Vá para a esquerda e, em seguida, pegue os elevadores à sua direita para o quinto andar. Vire à esquerda e siga em frente até ver a sala de espera.

Bray tinha entrado agora. Nós quatro nos dirigimos na direção em que nos disseram. Eu sempre fui o único que os manteve juntos, sempre estive com eles, pronto para enfrentar qualquer coisa e qualquer um. Me certificava de que todos eram atendidos. Agora não. Agora, eles estavam de pé comigo. Do meu lado. Porque todos sabiam que se algo acontecesse com ela, eu me desmoronaria. Ela era meu mundo.

Caminhando em direção à sala de espera, pude ver Luke se aproximando. Ele passou a mão por sua cabeça careca e as linhas tensas de seu rosto eram óbvias mesmo de longe. Charlotte nos viu primeiro. Ela se levantou e caminhou em minha direção, puxando-me para um abraço. — Ela está viva, — ela sussurrou em alívio e desespero. Porque isso não significava que ela estava bem.

— O que aconteceu?

— Ela só... Desabou. O coração dela parou. O médico chegou. — ela disse me deixando ir, correndo para Luke, que já estava lá na frente do homem vestido de branco.

— Vocês gostariam de ir a algum lugar privado? — perguntou o médico.

Luke olhou de volta para nós, comigo parado ali. — Não. Esta é a família dela, — disse ele.

O médico acenou com a cabeça. — Dulce tem uma condição cardíaca congênita rara chamada Síndrome de QT Longo. Muitas pessoas não têm sinais ou sintomas até o momento em que seu coração para, acabando assim com a vida. Quase sempre não é detectado até que seja tarde demais. Dulce teve sorte. Sua mãe estava lá com ela e você manteve o coração dela bombeando até que os paramédicos pudessem revivê-la. A maioria não tem sorte. Eu quero que vocês entendam a gravidade do que ela passou e que ela ainda não está bem. Nós a colocamos em um coma induzido por drogas e embalamos ela em gelo para baixar a temperatura dela. Em dois dias, vamos aquecê-la e tirá-la para fora do coma. Ela ficará nisso por cerca de quatro dias no total. Eu fiz isso antes e foi bem sucedido. E eu fiz isso e não foi. Mas nós faremos o nosso melhor para fazê-la superar isso. Ela é uma lutadora. Uma vez que ela for tirada do coma, nós a colocaremos um desfibrilador cardioversor implantável que irá regular seus batimentos cardíacos. 

O coração dela parou. Querido Deus, ela poderia ter morrido. Hoje. Eu nunca teria conseguido abraçá-la novamente. Nós não envelheceríamos juntos. Ela nunca envelheceria. A ideia disso me balançou. Abaixei-me na cadeira mais próxima e enterrei minha cabeça nas minhas mãos. Ela não morreu. Ela estava viva. O coma que a colocaram me deixou mal. Ela tinha que abrir os olhos e olhar para mim. Ela tinha que me deixar dizer a ela que éramos para sempre. Ela tinha que me deixar dar a ela tudo o que sempre quis, tudo o que ela merecia. Ainda não terminou. Ainda tínhamos uma vida para viver primeiro.