Fanfic: Mala Intención | Tema: Original
Capítulo I
Hoje é um dos melhores dias da minha vida. Quer dizer, eu acho. Tenho esperado por essa viagem há dois anos, desde quando entrei na faculdade aos 19. Hoje, com 22, eu não poderia me sentir mais feliz e realizada de forma pessoal e profissional. Não estou só feliz porque estou indo fazer trabalho voluntário com resgate de animais marinhos em uma ONG no Uruguay, mas também porque eu mesma trabalhei e fiz estágio de forma incansável para juntar dinheiro a todo custo e conseguir custear a estadia e passagem de ônibus. Tudo isso ainda na metade do curso de Biologia. Hoje estou indo de viagem para finalmente fazer meu primeiro trabalho oficial como profissional de forma importante e relevante, e cruzando a fronteira do Brasil, para um novo horizonte que significa pra mim a resposta de todas as dúvidas que um dia tive sobre continuar ou não com a Biologia. A verdade é que sempre foi meu sonho ser bióloga marinha, mas ninguém nunca é. Ou são botânicos, ou professores… ou isso, ou aquilo. Mas a Bio Marinha sempre me pareceu distante. Estar indo exercer um sonho de pelo menos por uns dias trabalhar com animais marinhos me enche de alegria. Ainda mais que tantas vezes ouvi minha mãe dizer: “Helena, minha filha..esquece isso e vai ser professora.” E eu vou. Mas não posso fazer os dois?
Não poderia também deixar citar que estou indo com ele. Ele, aquele homem que me deixa desconcertada só de olhar. Mas depois de tantos anos, eu já me acostumei com sua mirada, silêncio e distância. Diego e eu somos apenas amigos, quer dizer, ele diz que sim, mas não acredito em suas palavras. Talvez porque Diego não se abre, não é sincero e sempre prefere se fechar pra mim quando tento me aproximar. É o jeito dele, fazer o quê? Apesar disso, estamos indo viajar juntos como colegas, eu como bióloga indo obter experiência no ramo (aproveitando para fazer uma coisa que sempre sonhei; salvar animais), e ele como voluntário, apenas. Uma amiga minha muito querida, Monique, está vindo conosco e traz sua namorada meio estranha, Júlia, que a gente chama de Julinha. Ela odeia.
Eu fui o princípio dessa viagem. Tudo começou quando no facebook me deparei com uma página de resgate de animais marinhos no Uruguay, Punta del Este, Maldonado. É uma ONG que possui alguns doadores e apenas duas pessoas administram sozinhas. Me compadeci na hora com as fotos e vídeos de filhotes de leões-marinhos, pinguins, gaivotas e até mesmo alguns delfins. Me compadeci mais ainda das imagens de animais mortos que surgem na praia trazidos pela corrente fria que os leva até aquela praia. Os donos da ONG tratam dos animais sozinhos e contam com ajuda voluntária de alguns veterinários. Decidi que algum dia iria, pois como não posso ajudar financeiramente, pelo menos poderei estar sendo voluntária por alguns dias. Pensei e pensei, e alguns meses depois perguntei a todos do meu facebook se alguém gostaria de me acompanhar nessa jornada, porque uma garota sozinha de ônibus saindo do Rio de Janeiro e descendo sozinha em Punta del Este não seria muito inteligente e tampouco muito seguro.
Monique de prontidão respondeu e desde então tem também juntado dinheiro. A verdade é que ela sempre foi uma amiga ótima, a melhor. Sempre topou minhas doideiras e se eu dissesse que matei uma pessoa, ela me ajudaria a enterrar. Incapaz de me julgar, mas às vezes fala umas verdades na minha cara. Incontáveis vezes discutimos, e incontáveis vezes voltamos a nos falar. Fez o ensino médio comigo e é estudante de matemática. Ela tem cabelos pretos e compridos, olhos castanhos grandes, e uma pele bronzeada natural, pois é de descendência indígena e herdou os traços. Júlia, sua namorada, é morena de cabelo raspado. Também possui traços indígenas e eu acho que elas mais do que namoradas parecem ser irmãs. A Júlia é estudante de história, é meio caladona, e é mais velha que nós. Monique e eu temos 22, e Júlia tem 24. Nem me pergunte como elas se conheceram, porque nenhuma nunca se animou a contar. Deve ter sido uma situação vergonhosa, ou polêmica. Prefiro não insistir em descobrir mas sei que um dia irei saber.
Já o Diego me chamou de maluca e de primeira não topou. Mas ele e sua namorada, Carla, decidiram viajar sozinhos pela primeira vez em 4 anos de relacionamento. Ele sempre quis conhecer o Uruguay, e dois meses atrás me procurou pra dizer que queria vir fazer o trabalho voluntário conosco. Ele disse que a Carla ia viajar com amigos, e ele pra não viajar sozinho, quis tentar de alguma forma ser útil pra humanidade e de quebra tirar férias num lindo lugar de essência latina.
Como começar falando dele? Diego é 5 anos mais velho que eu. Eu tenho 22 e ele 27. Nos conhecemos quando eu tinha 19 e ele 24. Ele era estagiário de química lá da escola, e eu estava no último ano. Sempre achei ele lindo, mais do que lindo. Sua beleza, voz e personalidade me fascinaram desde a primeira vez que o vi. Não sou apaixonada por ele, apenas tenho uma pequena quedinha e ponto fraco e seco por este homem. Ele é negro de pele clara, tem olhos castanhos claros quase méis e possui um black volumoso, mas quando o conheci tinha cabelo raspado. Não vou nem comentar de seu físico, que é impecável, mas sim de sua personalidade.
Antes que vocês me julguem por me sentir atraída por um amigo comprometido, ele e Carla possuem um relacionamento aberto. Que eu saiba, abriram recentemente. E eu jamais faria NADA com ele. Um tempo depois de nos conhecermos começamos a conversar por Instagram, ele sempre respondia e reagia aos meus stories como qualquer homem hétero que não sabe flertar. E eu, bobinha, respondia às suas atiradas. Marcamos de sair, de ir ao motel, logo após eu concluir o Ensino médio e entrar na faculdade. Mas antes desse encontro acontecer, descobri que ele tinha namorada. Fiquei muito chateada, e ia reclamar com ele. Mas quando mandei “Oi” para iniciar a conversa, ele não respondeu mais. Passou um dia do suposto date que eu não iria, e ele não deu sinal de vida. Passaram dois dias. Passaram três dias. Logo, passou uma semana e quando fui ver tinha passado quase um mês.
Quer dizer, e se eu tivesse ido? E se eu pretendesse ir? Ele não sabia que eu sabia que ele era comprometido, não sabia que eu não ia ao nosso encontro. Ele simplesmente sumiu. Errou duas vezes, ao tentar trair sua namorada, e ao sumir sem me dar satisfações. E olha que eu cheguei a lhe procurar pra desmarcar, mas nem isso ele respondeu. Nem julgo, deve ter se sentido culpado.
Após as três semanas ele apareceu como se nada tivesse acontecido, respondendo um stories meu. Nem visualizei. Depois disso, em dois meses nos esbarramos num ônibus qualquer. Conversamos e ele me pediu desculpas e se explicou, eu disse que estava tudo bem e que entendia. Desde então conversamos como amigos, mas a verdade é que nunca tivemos a intimidade de verdadeiros amigos, cuja eu adoraria que tivéssemos, e seria o mínimo esperado porque nos conhecemos já faz 3 anos. Durante esse meio tempo, rolou um clima algumas vezes durante os altos e baixos de seu relacionamento com a Carla. Saímos, ficamos, nos divertimos. Mas cansei de ser uma brincadeira, um mero objeto para seu ego.
Eu não sou tão boazinha assim, ok? Já comemorei em diversos de seus términos, porque a Carla não trata ele como deveria, e eu sempre quis uma chance com ele. Mas a única chance que ele me dava era de foder. Então preferi me aproximar como amiga, e não como lanchinho da madrugada.
A grande realidade é que eu adoraria que Diego fosse verdadeiramente meu amigo, como sou da Monique. Gostaria que ele me visse como pessoa, e não como objeto. Nós somos amigos, mas sinto que ele não me vê com verdade e fraternidade. Gosto dele de forma fraternal, apesar de também me sentir muito atraída. Mas ele é assim, meio doidinho e misterioso. Confuso, e acha que pode brincar com todos. Acho que talvez ele seja assim porque diversas vezes rolou clima entre a gente, e talvez porque ele não consiga agir naturalmente, ou sei lá porquê... Mas, eu gosto dele, e passei a gostar mais quando ele me procurou para pedir permissão para ir comigo ao Uruguay fazer esse trabalho voluntário, que é tão importante pra mim. É um homem de várias facetas, e sempre me surpreendeu. Agora espero que a gente possa se aproximar de verdade, e esquecer os obstáculos do passado.
*flashback*
Estava na aula de química, veementemente anotando as recomendações da professora para a realização do relatório da aula prática sobre equilíbrio químico. Aplicada como nem sempre fui, queria fazer esse relatório de forma perfeita, assim eu não precisaria estudar tanto para a prova, visto que o relatório valeria ponto extra. E sem estudar pra prova, teria mais tempo pra estudar para o vestibular. Ainda anotando o que escrever em cada tópico, ouvi uma voz grossa vindo da porta.
-Bom dia, professora! Desculpa o atraso. Posso entrar?
Quando levantei meus olhos, me deparei com talvez o homem mais bonito que já havia visto na minha vida. Acompanhei com o olhar seu caminho até a carteira, e ele sentou-se logo atrás de mim. Percebi, então, que fui sem noção e desviei o olhar, envergonhada não apenas porque olhei demais e perdi a noção do bom senso, mas também porque estava completamente desleixada e porque ele nem sequer olhou pra mim. Que vergonha. Soltei o cabelo pra tentar disfarçar a cara lavada de 8 horas da manhã, e soltei as longas ondas castanhas acobreadas de propósito em cima da mesa que ele estava.
Não tardou muito para o fim da aula, e praticamente me esqueci do homem mais bonito que vi na vida. Levantei, guardei meu material, e fui embora com a Monique.
-Amiga, você viu aquele estagiário?- falei sem tardar muito.
-Garota, você quase quebrou o pescoço! - disse ela rindo. Na hora fiquei assustada.
-Meu deus, você acha que ele percebeu?
-Não, relaxa, nem olhou pra você kkk - ela falou e eu fiquei pior ainda. Sincera desgraçada.
Assistimos as próximas aulas e fui direto pra casa. Encontro meu pai no sofá dormindo com o jornal na mão. Rio com amor e vou para o meu quarto estudar para a prova da minha vida. Cara, se eu não passar nesse vestibular eu me mato! Preciso entrar em dia com a matéria atrasada. Honestamente, estou exausta de estudar, mas eu preciso sim ou sim fazer isso, caso contrário seria beeem pior depois.
Tirei a roupa, ficando só de calcinha e sutiã e sem nem tomar banho liguei o computador. Abri a caixa de email da turma pra ver se tinha algum informe importante e me deparei com um novo email da professora de química.
“Olá, queridos! Amanhã iremos ter a tão falada aula prática e espero que vocês tenham anotado as recomendações que fiz hoje!”
Ri, porque eu sabia que fui uma das poucas pessoas que tinha anotado.
“Acho que vocês perceberam o novo estagiário, ele irá nos auxiliar até o fim do ano em todas as aulas de química, sejam teóricas ou práticas. Vocês também podem tirar dúvidas com ele, porque ele está em formação de profissional da educação, e nós da equipe também vamos avaliar esse quesito! Seu nome é Diego Gahan Migral. Até a próxima aula amores, beijos!”
Então esse é o nome dele… Diego. Bonito nome, pra um bonito homem… Essa professora é perfeita! Além de ser amorosa, ela também me passou o nome completo desse gato. Anjo. Nunca critiquei.
Não perdi tempo e fui logo pesquisar seu nome no instagram e facebook. Muito profissional no facebook, foto de perfil, perfil fechado e privado. Estudante de química. Sem dados pessoais; idade, relacionamento, instituição de estudo nem nada disso. Depois, fui ao Instagram. Aí sim! Me deparei com um perfil aberto comercial, onde na bio estava escrito sua faculdade e idade. Uau, mais velho. Adoro homens experientes! Mas nem é pra tanto, ele é só 5 anos mais velho que eu. Fotos na praia sem camisa, fotos com atlética.. O perfeito hétero top. Confesso que caiu um pouco no meu conceito, deve ser muito metido, pois de 5 fotos 3 são sem camisa.
Voltei a realidade após tanto tempo stalkeando esse homem, e logo abri a video aula de adivinhem o quê? Química. Ele me inspirou.
*fim do flashback*
Continua no próximo capítulo.....
Autor(a): macarenah
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
A vista da janela do ônibus era inexplicavelmente linda. Era possível ver o pôr do sol no horizonte fazendo contraste com os grandes latifúndios ociosos repletos de pasto com alguns míseros gados espalhados estrategicamente pelos terrenos, para evitar intervenção nas terras inúteis de grandes poderosos. Olho para o lado, ...
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