Fanfics Brasil - Capítulo Final - Redenção Um Dia de Fé - A História de Um Paladino

Fanfic: Um Dia de Fé - A História de Um Paladino | Tema: Fantasia


Capítulo: Capítulo Final - Redenção

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Sephar abriu os olhos.


O céu azul com poucas nuvens se fazia sobre ele. Percebeu que estava deitado em algo tão macio que parecia ser uma das melhores camas que já viu.


Então, lembrou que estava em uma luta contra um demônio. Subitamente se pôs de pé, mas percebeu que estava em um lugar completamente diferente. Era um campo florido multicolorido, onde sua extensão era até onde seus olhos conseguiam enxergar — e com certeza ia além disto, constatou. Também havia uma colossal porta em sua frente, de proporções impossíveis de ser verdadeira... ou pelo menos, por ter sido forjada por mãos humanas. Nela, havia incontáveis marcas rúnicas, que cintilavam em cores diferenciadas, e também diversos entalhes representando almas, em sua maioria demostrando sofrimento. Porém, houve algo que chamou ainda mais sua atenção: uma mulher.


Esta mulher de pele morena detinha cabelos negros, longos e levemente cacheados. Seus olhos eram castanhos claros, quase que cintilantes. Estava vestida com um longo vestido azul, pouco transparente, e em sua cabeça havia uma tiara de flores. Era simplista, mas de uma beleza incomparável. Sephar não conseguia desviar seus olhos e parecia que sua garganta se fechava em nós.


Ela se aproximou lentamente.


— Obrigada por escutar meu chamado, meu nobre guerreiro — disse.


De imediato, o joelho do paladino tocou o chão e ele abaixou a cabeça, em uma profunda demonstração de respeito.


— Fauce... minha deusa... Alegra-me vê-la. — Ele ergueu a cabeça. — Se estou aqui... significa que pereci?


— Não, Sephar. Busquei você para me ajudar a expurgar aquele demônio de vosso mundo, porém você também clamou por mim. Portanto, desloquei sua consciência para este mundo para lhe oferecer dois caminhos. — Fauce ergueu a mão direita, que pulsou uma poderosa magia branca, cintilando tão forte que dragava a luz ao redor. — Posso lhe conceber este poder, que seria o suficiente para expurgar Kruulgenmolith. Porém, seu corpo talvez não suporte tanto poder, e a luz pode consumir sua vida. — Ela ergueu a mão esquerda. — Ou... liberte-se de sua carne. Irei ficar com sua alma, e poderemos caminhar juntos pelo portal dos mortos. Uma morte sem dor. Pense com o coração e escolha com destreza, meu amado filho.


Sephar manteve seus olhos fixos nos de sua deusa quando respondeu:


— Enquanto existir a possibilidade de expurgar mesmo que um demônio em teu nome, assim eu farei. Não me importo com o preço que irei arcar no processo ou depois.


— Pois bem. Aproxime-se, meu campeão. — Com a aproximação do humano, Fauce continuou: — Eu, como a deusa da Bondade e mãe de meus filhos, abençoo você, Sephar, com este poder, ascendendo-o em um Alto Paladino.


— Carregarei este fardo com honra e bondade, minha Deusa Fauce.


Dito isso, Fauce trespassou o peito de seu seguidor com a luz.


 


 


Sephar abriu os olhos, fintando o destino rochoso de sua queda.


Ora, uma queimação dominou seu peito e, subitamente, a magia irrompeu por todo seu corpo de maneira espalhafatosa e exagerada. Em seguida, a luz branca começou a se concentrar, tomando a forma do corpo de seu portador, revestindo-o por completo. Uma armadura começou a ser forjada sobre a luz, sendo ela lisa e de um brilho prateado invejável. Em sua mão direita, a luz branca se esticou e começou a tomar forma de uma poderosa espada, onde seu prateado também era belíssimo.


Eis! No momento em que o Alto Paladino sentiu que sua ascensão estava completa, agitou suas asas etéreas e voou de volta para o templo, destruindo o teto e pousando no centro do salão.


Kruulgenmolith hesitou. Ele observou a forma do humano por um instante: sua carne estava completamente tomado pela luz branca e agora estava protegido por uma armadura mágica.


Ora, ora... não imaginava que Fauce invocaria um campeão. Muito menos que você seria capaz para tal.


— Não duvide de minha fé, demônio.


Agora está todo audacioso... só porque conseguiu recuperar o braço esquerdo. — O demônio riu e ergueu a espada. Seguidamente, as chamas começaram a escorrer pelos seus olhos macabros, tomando conta de seu corpo e da lâmina. — Vamos, humano... finalmente se tornou algo digno de minha preocupação.


Ambos avançaram em um salto. As lâminas se encontraram um impacto poderoso, espalhando chamas e luz e fazendo o templo estremecer. Os dois disputaram força bruta pressionando as espadas uma contra a outra, emanando ruído, calor e magia. A pressão do confronto fez o solo sob eles começar a fissurar. Ora, inesperadamente as lâminas deslizaram sobre a outra, finalizando a disputa de força. Entretanto, o demônio e o paladino rapidamente se recuperaram, confrontando as espadas novamente, porém elas se repeliram. Kruulgenmolith e Sephar começaram a trocar golpes pesados com suas respectivas lâminas, um após o outro, sem nem mesmo moverem seus pés um centímetro sequer. Em um dos golpes, as chamas e a luz se entrelaçaram de maneira nociva, resultando em uma explosão que afastou ambos por alguns metros. Sephar deixou seu braço esquerdo envolvido pela magia e disparou uma torrente de luz em direção ao demônio, atingindo-o.


Kruulgenmolith só parou do lado de fora do templo. Como ele havia cruzado os braços para se proteger do ataque direito, a carne havia queimado, sobrando apenas os ossos dos antebraços. Após um resmungo de desagrado, voltou a sua postura.


Ainda dentro do templo, Sephar fez a luz se intensificar em sua lâmina. Com a espada, começou a fazer diversos cortes no ar, assim disparando múltiplos feixes cintilantes. Como resposta, o demônio envolveu sua espada com as chamas e disparou cortes ígneos. A luz e o fogo se confrontaram em pequenas explosões, desta forma anulando uma a outra. O cintilar laranja e o branco dominavam a montanha por completo.


Surgindo em meio ao confronto de poderes, o Alto Paladino desceu rasgando o ar com a ponta de sua espada, que incrustou no solo e o destroçou com a magia branca, pois o demônio não mais ali estava. Kruulgenmolith flanqueou o humano pelo lado direito, acertando-o com uma estocada flamejante. Sephar não conseguiu desviar, portando o impacto o arremessou para longe, deixando um rastro de fogo no ar. Não fora o suficiente para penetrar sua armadura, mas sentiu fortes dores.


Kruulgenmolith prosseguiu desferindo golpes seguidos com a lâmina, enquanto o humano desviava movendo seu corpo de um lado para o outro, bloqueando com a espada de vez em quando. Repentinamente, Sephar agitou suas asas e subiu em direção aos céus. Não obstante, o demônio fez asas de fogo brotarem em suas costas e rapidamente começou a voar ao encalço do humano.


Em meio as nuvens, o Alto Paladino abruptamente começou a descer, e a criatura do abismo continuou a subir. As espadas se confrontaram novamente, espalhando chamas e luz em meio ao céu. Ambos afastaram as lâminas a mesmo tempo e pegaram impulso para um segundo impacto, ainda mais poderoso. Houve um terceiro, quarto e quinto impacto, cada um mais desolador que o outro. O som do aço chocando-se contra aço parecia ser trovões, enquanto os lampejos de magia assemelhavam-se aos raios.


O confronto de golpes pesados fora substituído por ataques rápidos e incessantes, onde ambos se moviam pelos céus a todo instante. Os encontros velozes das lâminas resultavam em estalos que ecoavam e vibrações que faziam os braços de seus respectivos portadores tremerem. Ora Kruulgenmolith conseguia ferir o humano, mesmo tendo o corpo revestido com luz, ora era Sephar que perfurava a carne do corpo que o demônio possuía. O embate finalizou com um forte golpe usando o punho esquerdo do paladino, arremessando o demônio direto para o chão. Seguidamente, Sephar apontou com a lâmina para o céu, envolvendo-a em raios brancos e, movendo-a para baixo, fez uma torrente de magia branca ser disparada contra o demônio. Ao atingir o alvo, o solo ao redor se estilhaçou, lançando detritos em meio aos raios que estalavam de maneira ensurdecedora.


Ora, em questão de ínfimos segundos, Kruulgenmolith havia se revestido com suas chamas do Abismo, o que impediu do ataque de ser fatal, porém sofreu danos graves ainda assim. Vendo ali a oportunidade de finalizar o demônio, o Alto Paladino rapidamente mergulhou em direção a ele, descendo como um raio.


Invocutus, litriak on’nnareth lì’ttos, inffêrnatüs! — berrou a criatura do abismo.


De imediato, runas e pentagramas começaram a ser desenhados com sangue no solo. Portais foram abertos e cães demoníacos sugiram deles, rosnando e ladrando com os dentes afiados a mostra. Um destes cães saltou em direção ao paladino, desviando sua queda e fazendo errar o alvo. Enquanto rolava pelo chão, as criaturas do abismo atiravam-se sobre ele, amontoando-se e tentando arrancar pedaços.


Sobre um lindo cintilar, a magia branca pulsou por entre os cães, queimando-os mais que o próprio fogo. Liberto da aglomeração, Sephar se viu ante de muitas outras bestas e logo começou a mover sua espada sem cerimônia. Cabeças foram degoladas, membros foram decepados, e os demônios foram caindo aos montes, voltando para as profundezas do inferno sobre a mortal lâmina do Alto Paladino. Dada a atual força de Sephar, não demorou para que a horda de demônio fosse reduzida a nada sem que cansasse. Se não fosse pela intensidade do calor da luz que rodeava seu corpo, estaria banhado em sangue.


Quando decidiu redirecionar sua atenção de volta a Kruulgenmolith, marcações feitas em sangue rodearam Sephar, e de lá brotaram correntes negras que o envolveu, impedindo sua movimentação. As correntes anularam a magia onde tocavam, drenando-a e deixando seu corpo exposto. O demônio, com o corpo no qual possuía praticamente destruído pelo toque da luz, mancava em sua direção.


Você tem sorte, paladino, por eu estar nesta carne fraca e podre. Pois, se estivesse em meu mundo ou com o meu corpo, você já teria sido reduzido a pó há tempos.


— E você tem azar, demônio, pois estou em meu corpo mortal e você está em mundo que pertence a minha deusa.


A luz começou a se intensificar no Alto Paladino. Imediatamente, Kruulgenmolith entorpeceu-se em chamas e correu com ímpeto em direção ao paladino, temendo sua libertação — e com razão.


Sem resistir por muito tempo, os elos das correntes se estilhaçaram em estalos, e assim Sephar se libertou. O demônio estava no ar, fazendo uma estocada em sua direção. Estava muito longe, muito... lento. O Alto Paladino concentrou a magia branca em sua espada, encobrindo-a por completo, em seguida atirou-a contra a criatura das trevas. A lâmina seguiu ressoando, cintilando e rasgando o ar até penetrar na altura do peito do demônio. Kruulgenmolith não conseguiu resistir a poderosa lâmina, tendo seu corpo projetado violentamente pelo ar, deixando um rastro de luz até se incrustar na parede do templo. O demônio berrou macabramente, pois o fulgor da magia divina queimava intensamente suas entranhas, sua alma suja corrompida. Ele tentou se livrar, mas, quando suas mãos se aproximaram da espada, elas se tornaram cinzas.


— Volte rastejando para a imundice do abismo, Kruulgenmolith — dizia Sephar. — E conte a todos os seus irmãos que fora um seguidor de Fauce que expurgou sua existência deste mundo.


Hawerd Van’Crath! — proferiu o demônio de maneira gutural. — Sempre saberei seu nome, pecador! Não importa se esconde com o nome de Sephar, ou por trás de uma divindade! Irei encontrar você por gerações, humano! Devorarei sua alma! Assim como as de seus filhos e netos!


— Promessas vazias de um demônio em seu desespero não me atormentam em nada — retrucou Hawerd Van’Crath, que agora é conhecido como Sephar, o Alto Paladino cujo qual libertou o templo de Onorin de sua terrível sina. — Em nome da deusa da bondade, Fauce, você está banido deste mundo. Oh, minha deusa, este demônio ofereço a ti, em prova de minha íntegra devoção.


Então, o Alto Paladino fechou os dedos sobre o punho da espada e, com destreza, dividiu o corpo do demônio em dois.


Ele se afastou para trás a passos cambaleantes. Sua armadura prateada começou a dissolver em luz branca, e a luz branca começou a deixar seu corpo com uma brisa. Sentiu a fraqueza dominar e imediatamente caiu de joelhos, vomitando sangue — que borbulhava de tanto fervor. Regiões de sua pele estavam queimadas, assim como sentia que alguns órgãos internos também estavam. Mais um pouco imbuído naquela magia e talvez realmente tivesse sido consumido por ela, como Fauce havia dito que seria.


Subitamente, a montanha começou a tremer e fissuras se rasgaram pelo solo. Destas frestas, uma espécie de energia negra passou a exalar como fumaça. Almas penadas emergiram, contorcendo-se e gritando de maneira horrenda em direção ao nada. O chão afundou e o templo desmoronou sobre si.


— Este lugar todo vai ao chão.


Sabendo que não iria dar tempo de descer toda aquela montanha caminhando, Sephar só encontrou um meio para talvez escapar com vida e não ser soterrado por toneladas de rochas. Quase que se arrastando, foi até o precipício e encarou a longa queda até chegar ao fim.


— Que Fauce me proteja! — disse, e, sem mais delongas, saltou para seu destino duvidoso e fechou os olhos.


 


 


Seus olhos se abriram, fitando o amontado de destruição rodeado por poeira que outrora era uma montanha. Percebeu, então, que estava sendo arrastado pelo chão, sendo que alguém o puxava. Viu os braços finos de pele morena o segurando, de relance percebeu o tecido azul da vestimenta. Quando ergueu a cabeça para encarar o rosto, sentiu os cachos negros roçarem em sua bochecha e encarou os olhos castanhos cintilantes.


— Fauce...? — proferiu em um sussurro.


Teve apenas um sorriso como resposta antes de perder a consciência.


 


 


Desta vez, Sephar acordou com Trói, seu cavalo, lambendo seu rosto. Como reflexo, ele rapidamente se ergueu, e ficou surpreso por conseguir fazer isto e não sentir dor alguma. Sentindo-se revigorado,  olhou para si, constatando que estava completamente curado de todos os ferimentos, com exceção seu braço, e preferia que fosse assim.


— Obrigado por sua proteção, deusa da Bondade.


Sephar ficou admirado ao ver que, por entre as ruínas da antiga montanha e templo, nascia uma singela árvore, que já se sobressaia dos escombros. Ali, ele teve certeza de que seria a maior árvore de todas, e que faria proteção da floresta. Sim, floresta e não pântano, pois, com o céu livre da escuridão, a luz do sol tocou todas as árvores e deram vida novamente a elas, assim como a própria água. Não só isto, mas como também animais começaram a circular por entre a nova flora.


O Alto Paladino aspirou com força e montou em seu corcel, atiçando-o em direção ao templo sobre os cuidados de Ethelsan. Queria contá-lo que Kruulgenmolith caiu e o templo de Onorin fora expurgado de uma vez por todas depois de muitos anos.


Sephar voltava para casa com a devoção intensificada, fé inabalada e redenção alcançada.


F I M



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Autor(a): TioArcanjo

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