Fanfic: Omnitranil | Tema: Ben 10

Sete dias atrás.

A essa hora da noite não se ouvia uma só alma viva na estação de energia de Bellwood. Ou pelo menos não deveria se ouvir. A estação estava fechada e os únicos presentes optaram pela invasão sorrateira para entrar. O carro de Kevin ficou estacionado no lado de fora aguardando Ben, Gwen e seu dono resolverem seus assuntos. Já o vilão optou por chegar voando mesmo. 

O silêncio só foi completamente rompido quando Kevin se chocou no muro a oeste da estação ecoando um som surdo por toda a região. A sorte dele é que sua pele nesse momento era composta do mais puro ferro pois, se não, pelo menos duas costelas teriam se partido com o impacto.

― Desista, Albedo, você não vai conseguir ― disse Ben. ― Na verdade, você nunca conseguiu. Já era pra ter aprendido.

― Sou um cientista, Ben Tenysson, falhas fazem parte do processo de criação ― respondeu Albedo na forma espelhada do Enormossauro.

― Ah, é? ― disse Kevin, levantando de dentro do buraco que se abriu no muro e caminhando em direção a Albedo ― Então espera aí que eu vou te dar muitos dados para analisar quando eu quebrar essa sua cara!

Kevin salta e com os braços levantados por sobre a cabeça e as mãos cerradas mira um golpe no topo da cabeça de Albedo. Este, por sua vez, gira o corpo com uma velocidade impressionante para seu tamanho e com sua cauda rebate Kevin ainda no ar que novamente é arremessado, dessa vez, em direção a uma torre de energia.

― Kevin! ― Grita Gwen que move suas mãos e lança um feixe ao redor da cintura dele e o segura centímetros antes de se chocar com a torre. 

― Valeu, Gwen! ― agradeceu enquanto era colocado de volta ao chão. 

Ben reveste-se de um brilho verde e em instantes surge na forma de Friagem, voando e cortando o céu noturno.

Albedo vira-se para fugir e, de repente, sente como se algo frio atravessasse o meio de seu peito, seguida da visão de uma figura azul de asas materializar-se em sua frente. 

― Mas já vai? ― disse Ben, ― está cedo.

Albedo range os dentes e então percebe um frio se espalhar pelo corpo a partir do tórax. Uma camada de gelo espesso começava a se formar e a se espalhar pelo seu corpo. 

Ben voa ao redor do Vaxauriano e sopra um jato congelante nas pernas de Albedo, prendendo o vilão no piso da estação sob uma grossa camada de gelo.

Albedo move-se com dificuldade e consegue partir o gelo apenas de sua perna esquerda, quase caindo ao tentar apoiar a perna livre. No entanto, ao tentar soltar a outra perna, percebe que novamente se encontrava com as duas pernas presas em gelo. 

― O que foi? Não consegue sair? ― Ben voava ao redor dele soprando jatos e mais jatos de puro inferno antártico. ― Posso fazer isso a noite toda.

Albedo move seu braço e segura Friagem pelo tronco com apenas uma mão. Aproxima seu rosto do dele e diz:

― Não se eu acabar com você antes.

― Quero ver você tentar ― respondeu Ben enquanto se tornava intangível e atravessava a mão de Albedo, não apenas escapando mas revelando atrás de si um Kevin que se aproximava voando pronto para dar um gancho de direita no vilão. 

Um som metálico foi ouvido no instante que a mão de Kevin chocou-se com a mandíbula de Albedo, jogando seu enorme corpo para trás, partindo o gelo e fazendo-o cair de costas inconsciente. 

― Analisa isso, seu otário! ― disse Kevin com desprezo enquanto se afastava do corpo caído.

Gwen e Ben se aproximam de Kevin. Friagem fecha suas asas e cobre-se com o capuz típico dos Necrofriggianos feito de asas.

― E agora, o que fazemos com ele? ― perguntou Kevin. 

― Devemos avisar Azmuth ― respondeu Gwen. ― Ele deve ter alguma forma de desligar o relógio dele e mantê-lo preso.

― Ou podemos mandá-lo pra zona fantasma ― Kevin propôs.

― A ideia não é ruim ― disse Ben.

― E seria mais rápido também ― continuou Kevin.

― Azmuth já disse que qualquer coisa relacionada ao Omnitrix deveria ser passada pra ele.

― Eu sei, Gwen ― disse Ben

― E tecnicamente o que o Albedo está usando é uma cópia tosca do Omnitrix então...

― Eu sei disso ― disse Ben. ― Mas pensa bem, seria mais rápido, e nós voltaríamos pra casa pr-

― Ben, cuidado! ― gritou Gwen enquanto fazia no último instante um escudo atrás de Ben, protegendo-o do golpe de Albedo.

Albedo mudou de forma. Agora como um Appoplexiano, ele socava o escudo de Gwen com uma raiva nunca vista antes. Ben percebeu que o escudo começava a trincar e reparou também que haviam certas diferenças entre a atual forma appoplexiana de Albedo e a que ele conhecia. Sua musculatura estava mais definida e exagerada, fazendo-o praticamente se curvar para frente; sua pelagem estava mais longa principalmente em rosto; além de duas garras, ao invés de uma, saindo do dorso de cada mão combinavam numa forma atípica da espécie.

O escudo se partiu e Kevin jogou-se em direção a Gwen para tirá-la da frente dos golpes de Albedo. Ben levantou voo novamente e partiu em direção ao vilão que se desviou no último segundo como se sentisse ele se aproximando mesmo Ben estando invisível. 

Kevin e Gwen partem para cima do vilão mas qualquer plano que antes funcionou, tornou-se obsoleto frente a nova forma de Albedo. O Appoplexiano desviou-se de cada tentativa de golpe e lançou cada um para um lado da estação que caíram inconscientes. 

Ben observou tudo sem acreditar e então disparou um enorme jato gélido em direção ao vilão. 

Albedo defende-se com os braços e a medida que uma camada de gelo começava a se formar em seus braços ele a jogava para trás. Ele então avança, seguindo em direção a Ben jogando cada camada de gelo que se forma como se estivesse destrinchando um caminho de neve. 

Ben vê Albedo se aproximando e olha para os amigos que ainda se encontravam inconscientes. 

Gwen, Kevin ― pensou ele, ― vamos pessoal, acorda!

Ao voltar o olhar para Albedo, ele se depara com a gigantesca pata do appoplexiano vindo em sua direção e segurando sua cabeça. 

Não deu tempo de ficar intangível. 

Segurando Friagem pela cabeça, Albedo chocou o corpo de Ben três vezes no chão, abrindo uma pequena cratera no chão da estação. Era uma raiva selvagem e impiedosa, até mesmo para um Appoplexiano. 

Ele então ergueu o corpo semi-desacordado de Ben, ainda segurando-o pela cabeça, como um troféu de vitória. 

― Ben Tenysson ― a fala de Albedo era grossa quase como a um rugido e seu olhar emanava uma sede de sangue. ― Humano patético e nojento, há tempos eu sonho com esse momento.

Ben tentava manter o mínimo de consciência para não desmaiar, mas todo seu corpo doía e pesava.

Albedo levou uma das mãos até o símbolo do Omnitrix no centro do tórax de Friagem e continuou a falar:

― Sua arrogância me irrita pois sei que se não fosse o Omnitrix, você seria apenas mais um ser repugnante de intelecto inferior a sujar esse planeta asqueroso… ― Albedo cravou as suas unhas ao redor do símbolo de tal forma que pequenas faíscas verdes começavam a sair do dispositivo. ― E simplesmente arrancá-lo de você já não me satisfaria…

Ben começava a sentir dor. O Omnitrix, estando ligado não apenas a seu sistema nervoso mas a todas as suas moléculas, emitia sinais de perigo.

― Talvez… ― Albedo cravava ainda mais as garras na superfície do disco que apitava e lançava longos raios verdes para os arredores. ― Destruir ele ainda preso em você me garantiria o nível de sofrimento que eu sonho lhe causar! ― A ira presente no rosto do appoplexiano beirava ao demoníaco. ― Espera…

Albedo parou a si mesmo. Havia algo de errado. Destruir o Omnitrix não era a coisa racional a se fazer, pensou ele. O appoplexiano jogou o corpo de friagem como quem descarta uma bolinha de papel e voltou sua atenção para si.

O corpo de friagem chocou-se com o solo e desfez a transformação, fazendo Ben ainda rolar alguns metros antes de parar de rosto no chão. O jovem ainda se encontrava confuso e dolorido. Sentia seu corpo vibrar e latejar.

Gwen foi a primeira a acordar e correu em direção a Ben.

― Ben, você está legal? ― perguntou Gwen.

― Ai… ― Ben tentava se levantar. ― Eu já estive pior… E você, está bem? Cadê o Kevin?

Albedo levou as mãos a cabeça e de olhar fixo no chão tentava encontrar sanidade.

Eu nunca perdi o controle antes com o Omnitrix ― pensava Albedo ― Talvez o Suprematrix demande ainda mais de meu cére― SANGUE, DESTRUIÇÃO -bro. Eu preciso ajustá-lo, consertá-lo, DESTRUÍ-LO. Preciso arrumar uma forma de estabilizar a transformação…

― Galera! ― gritou Kevin do outro extremo do local. ― Ele vai fugir!

O appoplexiano então salta e se lança a vários metros no céu, pousando a centenas de metros da estação e segue correndo numa velocidade impressionante.

― Gwen, Kevin, vão para o carro ― disse Ben, ― eu vou atrás dele voando.

― Tem certeza, Ben? ― disse Kevin. ― Você não me parece muito bem ainda não…

― Eu tô sim ― respondeu enquanto sentia a vibração dolorosa ainda percorrer todo seu corpo. ― Ele é perigoso demais para deixarmos escapar.

― Você que sabe ― respondeu Kevin.

Gwen e Kevin viraram em direção ao muro da estação em que o carro estava estacionado atrás. Ben, por sua vez, preparava-se para ativar o Omnitrix. Ele percebeu que as marcas das garras de Albedo ainda permaneciam na superfície do disco e pequenas faíscas ainda saíam de dentro delas.

― Você já esteve muito pior também, Omnitrix ― disse Ben enquanto tocava o disco do relógio, fazendo o holograma aparecer. ― Fogo fátuo, Cromático, Artrópode, Arraia-a-Jato. Isso, vamos de Arraia-a-Jato! ― E pressionou o disco.

E então começou a transformação.

O Omnitrix afunda abaixo da superfície da pele de Ben como um parasita que invade um corpo, rasgando o tecido da pele e a obrigando a se regenerar por cima da estrutura do relógio que agora invade o corpo de Ben. Ao sentir uma dor absurda em seu braço, ele percebeu que havia algo de errado. Ele então sentiu no meio de seu tórax um abaulamento rasgar e atravessar a pele dando espaço ao símbolo do Omnitrix no meio de seu esterno. 

Ben começou a sentir uma dor lancinante percorrer sua coluna vertebral e sentir cada vértebra se deformar e se multiplicar, de tal forma que uma cauda sem pele começava a surgir ao fim de sua coluna vertebral. Ben gritava como nunca havia gritado antes.

Seu rosto começa a repuxar, como se as musculatura de seu rosto caminhassem e mudassem de posição para novas funções. Seu nariz começou a amolecer e ser puxado pela epiderme e então ele se viu em mais um desespero: não era mais capaz de respirar. O jovem tentava puxar o ar mas suas vias aéreas alteravam sua anatomia e o deixavam sufocar. Abaixo de suas costelas ele então sentiu a pele novamente se rasgar. Cada abertura para as gelgas pretas era seguida de um novo grito de dor. As lágrimas percorriam o rosto deformado de Ben. 

Suas mãos começaram então a alterar sua forma, fundindo os ossos entre os dedos e formando uma estrutura de três dedos apenas. Cada fusão era como se cada osso fosse estraçalhado e remodelado a nova estrutura. Ben desesperadamente lutava com as múltiplas deformidades, fraturas e remodelagens em seus ossos, músculos e tecidos, e procurava uma forma de interromper a transformação. Seus gritos eram de um sofrimento digno da mais profunda tortura.  

Com sua mão semi-deformada e bate no símbolo no centro de seu peito e interrompe a transformação. O processo começa a se reverter e Ben urra de dor e agonia ao sentir cada centímetro de seu corpo novamente passando pela mudança para voltar a seu corpo humano normal.

E então o brilho verde se apaga. Ben, de pé, vê Gwen e Kevin voltando desesperados ao encontro dele.

S-socorro…