Fanfic: Coração puro | Tema: A maldição do tigre
>Nicole<
Sentada no micro-ônibus, eu olhava pela janela, parte minha decorava o trajeto, a outra ouvia a história que minha melhor amiga e colega de turma, Ana, contava. Pelo o que entendi, as tias dela estavam indignadas, as velhas queriam que Ana cursasse alguma Engenharia com o intuito de ganhar mais dinheiro, entretanto minha amiga optou por veterinária, assim como eu. Não que veterinária fosse nossa verdadeira ambição. Nós duas queríamos ser biólogas. Ana tinha uma paixão por aves e eu por felinos, mas a questão é que vivemos em uma cidade pequena, não há por perto uma Universidade com o curso de biologia. Então cá estamos nós, dentro desse micro-ônibus amarelo, indo até o zoológico mais próximo onde cada aluno vai passar o dia analisando um animal específico. A ideia era no mínimo interessante, só que a maioria, são animais nascidos em cativeiro, não há muito o que analisar no comportamento de um animal preso.
O micro-ônibus parou com um solavanco na frente de uma grande estrutura baixa e arborizada, onde uma placa gigantesca dizia: Zoológico Vida Selvagem.
Puxei o capuz e segui o professor, me mantendo ao lado de minha amiga loira. Ela não havia nodado, mas do outro lado da turma, Marcos devorava ela com os olhos. A cutuquei discretamente e sussurrei em seu ouvido:
– O tigre esta te olhando. – aquela era um brincadeira nossa, desde que Marcos dissera a irmã, e nossa melhor amiga, que Ana era uma carne deliciosa e ele um tigre faminto. Sim, Marcos é um poço de romantismos.
Eu sinceramente considero isso uma ofensa aos tigres, animais tão inteligentes e honrados.
Marcos era de longe o garoto mais lindo da sala, alto, forte e moreno, apesar de não fazer muito o meu estilo, entretanto ele tem namorada, uma garota linda e tímida, e ele parece ser o único que não se lembra desse fato.
Ana jogou o cabelo loiro para o lado, escondendo o rosto ruborizado. Minha melhor amiga era linda, talvez eu ache isso pelo meu fascínio por loiros, principalmente em garotos. Sempre achei o cabelo loiro, a pele pálida e os olhos claros um ponto chave de beleza, não que os outros tipos não fossem bonitos, sendo esperto e educado considero qualquer um, uma opção.
Senti uma mão forte passar na minha bunda. Me virei pronta pra socar a cara de alguém, mas o rosto que me sorria me fez abaixar o punho.
– Vadia! – meu primo sorriu, me abraçando antes de depositar um beijo no canto da minha boca.
– Peter! Seu filho de uma... – comecei, por um instante lembrando de algo no passado. Minhas bochechas coraram.
– Oi – Ana chamou timidamente, fazendo meu primo perder completamente o interesse em mim e se voltar para a loira com o maior dos sorrisos.
Revirei os olhos. Aquilo não era novidade, todos os garotos perdiam o interesse em mim quando Ana estava por perto, não que isso me incomodasse, isso era quase um alivio.
Do outro lado, vi Marcos fuzilar meu primo com os olhos. Aquilo por outro lado, me incomodava. O moreno era um garoto teimoso, sempre conseguiu o que queria, e seus olhos maliciosos me irritavam cada vez mais.
Thiago, nosso professor, conseguiu acalmar a turma e nos levou para dentro da estrutura feia e grande. Primeiro passemos pelos pássaros. Ana sorria abobalhada enquanto cochichava sobre seus favoritos. Notei que Peter se aproveitou do momento pra se aproximar mais dela, sorrindo e concordando com tudo o que ela dizia. Idiota.
Com forme passávamos pelas jaulas, o professor ia indicando uma espécie para cada aluno. Eu sabia que espécie queria, e o professor também.
Finalmente cheguemos a uma parte da ala felina, onde três grandes jaulas ocupavam o complexo separado dos outros animais.
Respirei fundo vendo a maestria daqueles três grandes felinos, um deles se levantou ao nos ver, espiando com seus olhos esverdeados pela grade de ferro.
– Nicole? – o professor chamou – O que me diz? O maior felino de todos.
Dei um passo para frente, todos sabiam sobre meu fascínio por tigres, e principalmente os grandes tigres siberianos. Sorri olhando os três tigres alaranjados, esticando-se preguiçosamente.
Eu considerava aquilo uma maldade, submeter animais acostumados com o clima frio Russo, ao clima quente do litoral brasileiro.
– Tenho algo que acredito que você vai achar curioso – o professor comentou com um sorriso estranho nos lábios – Você se lembra o que me questionou na aula de terça?
Puxei pela memoria, eu não falava muito nas aulas.
– Melanina? – fiz uma careta arriscando – Perguntei sobre genética, sobre animais raros com albinismo e melanina. Como o tigre branco, que é uma variação albina do tigre-de-bengala, ou como a melanina mais conhecida que é das onças pretas.
– Venham – ele nos chamou. Houve um arfar coletivo quando a turma viu o animal na jaula ao lado dos tigres siberianos.
O felino negro não era tão grande quanto os siberianos, tinha o tamanho de um tigre-de-bengala, porém listras pretas e grosas cruzavam sua pelagem escura, ele estava inquieto, rosnando e grunhindo, as presa brancas e grandes como punhas expostas enquanto ele arranhava a barra de ferro da jaula.
– Um tigre negro?! – Ana exclamou ao meu lado.
– Sim, curioso não é? – o professor sorria satisfeito – Foi capturado há dois dias, próximo a usina hidrelétrica. Não sabemos de onde ele venho, nem como foi parar lá. Ele ainda esta em processo de adaptação e acredito que não vai ficar aqui. Há vários biólogos que querem estuda-lo e esse zoológico não possui o espaço nem os equipamentos necessários. Aproveitem, possivelmente nunca mais verão um tigre negro legitimo.
Analisei o animal que havia parado de arranhar a grade para nos encarar, passando de rosto em rosto com seus olhos dourados, que possuía um tom tão raro quanto o de sua pelagem.
– Você vai ficar com ele, Nicole – o professor anunciou.
– O que?! – me sobressaltei – Mas e os siberianos?
– Os siberianos vão ficar com Peter e os leões que estão logo ali atrás – ele apontou para uma gaiola enorme onde estavam três leoas e um leão – vão ficar com Ana.
– Mas... – tentei olhando os felinos alaranjados. Eu já tinha meu trabalho inteiro sobre eles feito na minha cabeça, era só passar para o papel. Era como se eu tivesse levado um tiro no pé de uma arma que eu mesma carregara.
– Você falou bonito em nossa última aula, sobre melanina e albinismo. Até citou fatos curiosos sobre tigres negros, como relatos de sua existência. Nenhum outro aluno tem qualquer conhecimento sobre o assunto. Você só precisa passar para o papel o que falou na última aula, some isso a sua paixão por tigres, acredito que fará um trabalho apresentável.
Suspirei e concordei com a cabeça.
O professor foi para a ala seguinte, falando sobre linces, onças-pintadas e jaguatiricas. Ouvi a porta se fechar quando o último aluno seguiu o professor.
Fiquei sozinha, encarando o tigre negro. Ele também me encarava, com seus raros olhos dourados, se um olhar falasse, o dele não estava nem um pouco feliz.
– Tigre idiota! – suspirei quebrando o contado visual.
Droga! Eu estava fascinada por aquele tigre.
Autor(a): alaisis
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