Fanfics Brasil - Nostalgia e esperança Pokemon Story: Good Omens

Fanfic: Pokemon Story: Good Omens | Tema: Pokemon


Capítulo: Nostalgia e esperança

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Se você é um dos habitantes da ilha Sevii, chances são de que nada muito impressionante está reservado para seu futuro. Sejamos honestos, nenhum líder de ginásio, campeão da liga, herói, milionário ou seja lá o que for que valha a pena jamais saiu dessas humildes ilhas ao sul do platô índigo.


 


Pior ainda se você fizer parte da etnia dos moradores originais da ilha. Sem entrar em mérito de motivo, mas o fato era que estatisticamente o povo Alph cuidava de boa parte dos trabalhos manuais e simples do país e nada mais. O que não é problema algum se você aspira em ser um bom carpinteiro, mineiro ou qualquer outro tipo de porcaria dessas. 


 


Se você tem outros planos porém, a matemática está total e completamente contra você. Esses são os fatos: nus, crus e baseados apenas em ciência pura e simples.


 


Kaleo nunca gostou de estatística e tampouco prestou muita atenção nas aulas da escola pública que frequentava, então nada dessas verdades matemáticas interessavam muito a ele. Okay, ele podia até ser claramente um Alph - Qualquer um reconheceria a primeira vista: alto, pele ligeiramente mais morena e queimada de sol, cabelo bem escuro cortado curto e olhos ligeiramente apertados - varrendo o chão de uma lojinha mixuruca de suvenirs e recebendo mal por isso, mas nada tirava sua esperança no futuro nem sua paciência e sorriso no rosto.


 


- Caralh444! Que saco!!! - Gritou drasticamente para o céu arremessando a vassoura no armário de móveis.


 


Ou alguma coisa do tipo...


 


Kaleo já tinha varrido e espanado a loja no mínimo umas quatro vezes só na parte da tarde. O tédio era tão grande que já tinha até organizado os bonequinhos cabeçudos de madeira em ordem alfabética e triangular em cada prateleira. Ele não tinha certeza se preferia essa calmaria modorrenta ou a loucura de atender um amontoado de turistas um atrás do outro, mas logo não teria opção, por que com o começo oficial do festival Lunar em apenas uma semana, a lojinha estaria infestada de mil idiotas fazendo perguntas ofensivas sobre os costumes de seu povo.


 


Para falar a verdade, o festival Lunar já tinha começado, mas os turistas só estavam interessados no dia da super lua, quando a ilha estaria totalmente enfeitada, com milhões de barracas de comidas típicas e os rituais formais sendo feitos. Agora, na parte religiosa e menos visual do festival, eles estavam pouco se lixando. Provavelmente estavam nesse momento gastando dinheiro em passeios de lanchas, festinhas em iates e mergulhos absurdamente inflacionados em corais antigos.


 


Não interessava muito, por que se seus planos dessem certo, não precisaria continuar trabalhando por tanto tempo. E exatamente com esse pensamento que decidiu já ter trabalhado o suficiente. Botou a cabeça pra fora da porta aberta para checar se o dono ou algum cliente estava perto - só por segurança - e correu até sua mochila para continuar jogando em seu Gameboy.


 


O jogo que acendeu na tela quando ligou o aparelho já tinha sido jogado, zerado e  rejogado milhões de vezes, mas Kaleo nunca se cansava.  Não gostava tanto do jogo por uma questão mecânica ou de gameplay, - até por que tinham versões novas que poderia comprar - mas sim por que faziam-no libertar a imaginação e sonhar como seria seu futuro. Tratava-se de um rpg simulando a vida de treinador profissional da academia A.C.E, e era tudo Kaleo conseguia pensar desde que era criança.


 


Dessa vez tinha se desafiado a vencer o jogo de uma maneira mais difícil e estava prestes a conseguir. Revisou seu time mais uma vez, composto por um delicado equilíbrio entre  pokemons que gostava e que fossem taticamente úteis. Um sentimento de "nostalgia" invadiu seus pensamentos, porque sabia que essa talvez fosse a ultima vez que teria que se contentar somente com a brincadeira.


 


- Última run, amigos... - Falou para a tela do videogame e apertou furiosamente os botões para seguir em frente.


Antes que as falas enormes do rpg acabasse, o familiar som do sino avisando que alguém entrara na loja ressoou. Kaleo ergueu o rosto no susto e tentou desajeitadamente esconder o Gameboy sem sucesso.


 


- É pra isso que te pagam? -  Um garoto baixinho, cabelos castanhos bagunçados, usando um suspensório de oficina, óculos pendurados na gola e com a cara meio suja de fuligem entrou na loja sorrindo.


 


 - porr#, tomei mó susto velho! - Retrucou.


- É só trabalhar direito que tu não se assusta assim. - Respondeu alargando o sorriso irônico.


- Ah moleque, cala a boca. - Brincou e guardou o gameboy da mochila. - Fala logo, se conseguiu a parada ou não?!


- Você não deveria estar na escola? Não era hoje o último dia das aulas de verão?


- Deveria, mas cinquentinha na mão do professor resolveu. - Respondeu. Kaleo deu uma última olhada para a rua pela vitrine da loja e decidiu que já podia tirar seu avental.


- Sério?


- O professor nem via nossos trabalhos, cara.


- Mas se alguém descobrir e…


 


Antes que o visitante pudesse terminar a frase, foi interrompido por um soco no braço repentino e um brado "para de enrolar e fala logo, porr#!" de Kaleo.


 


Os dois garotos já se conheciam a muito tempo, e desde sempre tiveram o mesmo jeito peculiar de se comunicar e brincar um com o outro. Já na época do primário, quando o Avô de Oliver se mudou para a ilha e matriculou o neto na mesma escola pública de Kaleo, os dois já tinham montado mil planos mirabolantes e outras merd3s juntos. A ansiedade era normal quando um deles cumpria parte desses planos, principalmente quando o outro insistia na mania irritante de fazer suspense. Os dois faziam e os dois detestavam. 


 


Por isso, e dada a circunstância mais do que especial do plano de hoje, a agressão de Kaleo no braço de Oliver seria considerada justa e até leve para qualquer um dos sistemas de leis da zueira que os dois tratavam entre si.


- Ai! Ta bom, ta bom! - Oliver massageou o braço alvejado rindo e tentando se defender de um possível novo soco.


O menino de suspensório caçou na pequena sacola de ferramentas por alguns poucos segundos - que pareceram demorar eras - enquanto Kaleo esperava de boca aberta. De lá, tirou uma esfera metalizada, mais ou menos do tamanho de sua mão, vermelha em cima e branca em baixo, já semi enferrujada e com um botão sem cor projetado no centro.


 


- Eu honestamente duvidei que conseguiria restaurar essa sucata e muito menos capturar o ratata com o seu plano, mas descobri que sou mais brabo do que pensava. - Declarou extremamente orgulhoso, segurando a pokebola como se fosse uma maçã de Idun.


 


Claro, era uma pokebola restaurada a partir dos restos e sucatas do avô de Oliver, não era registrada para nenhum dos dois por que ambos não tinham licenças de treinador ainda, nem continha algum tipo de pokemon impressionante dentro... Mas era uma pokebola, com um pokemon real capturado  graças a engenhosidade combinada da dupla. 


 


Oliver provavelmente notou o pasmar do amigo, por que depositou sorrindo a esfera em suas mãos semi abertas.


A empolgação de Kaleo era tanta que esqueceu de respirar pelo nariz. Sentiu com os dedos sua textura metálica e o botão no centro que libertaria o pokemon dentro. A pokebola era gelada ao toque e ligeiramente mais pesada do que ele imaginou.


 


- Como faço encolher?


 


- Um clique pra encolher e dois pra liberar, mas eu não consegui restaurar essa função. 


Tudo bem, ainda era incrível de qualquer forma. - Mandou muito moleque! - Disse animado bagunçando o cabelo do amigo.


 


E por um tempinho os dois só ficaram ali sorrindo atoa deixando a imaginação fluir nas viagens que já tinham discutido mil vezes.


 


Até que Oliver os fez voltar pra terra. - E aí, vamos lá treinar ele?


 


Ao que Kaleo respondeu do jeito mais empolgado que poderia. - Agora!


 


________________________________


 


Bastou alguns segundos de arrumação apressada conjunta e a loja já estava devidamente fechada, trancada e com o costumeiro aviso de que abriria as nove da manhã no dia seguinte. Mais rápido ainda foi a prontidão com que pegaram as bikes e dispararam em direção ao seu point secreto. 


 


Kaleo ainda não tinha terminado seu turno quando saíram da loja, pois ainda era fim de tarde, mas isso pouco importava. Nenhum cliente viria e muito menos o dono da loja, que a essa hora provavelmente ainda estava voltando da sua pequena viagem de compras. Sinceramente, mesmo em um cenário onde possivelmente seria descoberto, teria largado os serviço mais cedo de qualquer jeito. Já tinha esperado tempo suficiente para ser um treinador.


 


A dupla tinha planejado minuciosamente cada passo para começarem suas vidas de treinador, desde as finanças, até equipamentos e conseguir esse primeiro pokemon como forma de treino. Isso daria tempo de se habituarem a lidar com um pokemon medíocre antes de conseguirem coisas melhores, além de possibilitar capturas fáceis se dessem sorte.


 


Mesmo assim, o plano demorou bem mais do que previsto e foi muito mais difícil do que imaginaram.


 


Em primeiro lugar, conseguir surrupiar uma pokebola quebrada inteira o suficiente para ser consertada sem que o avô notasse tomou semanas de Oliver. O velho parecia sempre saber onde estava tudo que usava no trabalho. A não ser, é claro, se estivesse - por um total e completo acaso do universo - bêbado.


 


Depois, capturar o insistente ratata que tentava comer as plantas do jardim de Oliver se provou ser extremamente difícil. O bicho fugia ao menor barulhinho que eles fizessem. A solução foi uma engenhosa armadilha - a qual Kaleo se gabou por muito tempo - feita com um cesto de roupas sujas apoiado num graveto e uma isca de nozes no meio.


 


- E mano, nós nem pensamos em como encostar a pokebola nele depois que ficasse preso no cesto.


 


 - Real! E como você fez? - Kaleo respondeu dando um tapa na testa ao perceber a falha óbvia em seu plano.



 


- Ele viu que estava preso e começou a se debater loucamente e tentar se soltar. Eu tive que correr pra cima e jogar meu peso no cesto pra não virar. - Fez uma pausa por que pedalar tão rápido estava tirando seu fôlego.


 


- Ai eu me toquei que não poderia sair dali até ele conseguir roer o plástico. Quando ele abriu o buraco, taquei a pokebola nele... Easy.


 


- E quanto tempo você teve que ficar sentado?


 


- Papo de umas duas horas.


 


Kaleo deu uma sonora gargalhada. Eles eram os gênios mais burros que já tinha visto.


 


Os dois já tinham se acostumado desde sempre a ter que improvisar ou criar as próprias soluções no decorrer da vida. Kaleo nunca conheceu seus pais e os bicos que arranjava nunca pagavam bem; Oliver por sua vez, ajudava o avô no ofício da família e mal gerava dinheiro para se sustentar. As crianças mais abastadas podiam ter seus mimos e babaquices, pouco importava quando os dois tinham criatividade.


 


E o destino da dupla já tinha visto incontáveis demonstrações frustradas ou bem sucedidas dessa criatividade e astúcia. Este era uma clareira no começo dos bosques da parte norte da ilha, de difícil acesso se alguém tentasse penetrar a mata pela parte da frente, mas muito simples de chegar dando uma volta maior e descendo a encosta. Era o local perfeito, pois além de ser um ótimo espaço para fazer o que quisessem, ainda era bem do lado de uma das quedas d'água do grande rio que cortava a ilha. E ninguém sabia de lá, claro.


 


A área estava visivelmente afetada pelos anos acumulados de brincadeiras e maluquices da dupla. Algumas das árvores que cercavam a clareira já tinham sido estrategicamente preparadas com tábuas de madeiras, cordas e cestos, assim como o meio era uma espécie de altar, com um círculo de pedras pontudas e um ensaio de espantalho super mal feito tentando imitar o dono da loja que Kaleo trabalhava.


 


O protocolo treta foi ativado e já chegaram correndo de um lado para o outro ajeitando o que devia ser ajeitado. Tiraram as camisas e depositaram em um dos cestos presos nas árvores, encheram um dos baldes de água caso precisassem apagar algum incêndio, checaram se a escada construída em uma das árvores para rota de fuga estava firme e por último organizaram o altar de pedras para abrir espaço em volta do espantalho. Pela primeira vez desde sua construção, "Mc hammer" iria cumprir seu propósito.


 


Os meninos terminaram a arrumação extremamente rápido, mas honestamente estavam meio sem jeito do que exatamente tinham que fazer.


 


- Então, como vai ser? - Disse Kaleo, espanando as mãos cheias de poeira na bermuda.


 


- Hmm... Pensei em tentar ensinar ele algo simples? - Oliver respondeu com as mãos na cintura avaliando as precauções que tinham tomado. - talvez usar um ataque bem básico no Mc?


 


- Justo. Mas que tipo de ataque ele já deve saber?


 


Os dois olharam instintivamente para o espantalho, como se alguma resposta fosse vir dali.


 


- Tackle provavelmente? Também tem aquela finta com o rabo que geralmente ratata do mato faz, mas esqueci o nome…


 


- Também esqueci, mas não importa. Vamos de tackle então?


 


Os dois menearam a cabeça concordando silenciosamente com essa decisão, mas continuaram parados meio que sem saber o que fazer. Novamente aguardaram que uma inspiração divina viesse da figura cômica no meio da clareira.


 


- Não é melhor...?


- Se a gente continuar enrolando não vamos fazer nada. - Kaleo disse. - Libera ele logo e a gente vê.


 


Oliver concordou com a cabeça e respirou fundo. - É, melhor mesmo. - Tirou a pokebola do bolso do suspensório, pareceu hesitar por alguns breves segundos e disse: - Quer fazer as honras?


 


- Sério?


- Sim. 


- Mas você que capturou.


- Por isso mesmo. Sua vez de lidar com ele agora. - E riu.


 


Kaleo hesitou brevemente antes de levantar a mão sinalizando que Oliver deveria arremessar a pokebola. Sabia que era um gesto de gentileza do amigo e estava muito empolgado para ficar considerando a justiça daquilo.


 


- Então vamos. - E ao falar isso, se posicionou de modo que Oliver não ficasse entre ele e o alvo. Seu coração bateu forte e se atrapalhou um pouco para ficar numa posição confortável para jogar a pokebola. Um flash de um desenho bem antigo e bobo passou na sua cabeça, onde o protagonista sempre fazia poses extravagantes e gritava muito antes de invocar seus pokemons. Se sentiu meio idiota, mas ignorou. - Como eu libero ele mesmo?


 


- Dois cliques para liberar. 


 


- Certo, certo… - Kaleo já sabia disso, mas o nervosismo o fez esquecer. Sentiu que a mão estava tremendo quando moveu o dedo para pressionar o botão.


Silêncio total. Só o som da água corrente próxima, do vento e da respiração tensa dos dois garotos.


 


- Vai, ratata!


 


Kaleo acabou gritando mais alto do que esperava, mas o barulho da pokebola se abrindo que se seguiu o abafou. A esfera voou alguns metros pra frente e explodiu seu jorro de luz vermelha em direção ao chão. O ricochete foi tão violento que o garoto só conseguiu pular pro lado por instinto para não ser atingido. A criatura tomou forma tão rápido quanto o movimento do mecanismo. Era quadrúpede, com uma coloração roxa clara inconfundível, dois grandes dentes um pouco amarelados, uma cauda semi enrolada e uma das orelhas faltando um pedaço, provavelmente de alguma briga bem antiga.


 


Mas o ratata não parecia estar normal. Assim que se solidificou, começou a sacudir a cabeça de um lado para o outro e cambalear como um bêbado.


 


- Que isso? - Kaleo apontou com as sobrancelhas franzidas.


     


- Eu... Eu não tenho certeza. - Oliver abriu um sorriso amarelo. - Talvez ele só não esteja acostumado ao processo?


 


Os dois ficaram variando o olhar entre o ratata confuso, entre eles e o espantalho que nada tinha a ver com a história. Até parecia para Kaleo que o bicho só estava tonto iria melhorar logo, ou pelo menos era isso que ele queria acreditar. Existia a possibilidade de eles terem feito alguma merd$ e debilitado o pokemon permanentemente, mas não queria trazer isso à tona agora. Independente da alternativa, não sabia o que fazer.


 


Oliver se agitou no lugar e mexeu os lábios, depois colocou a mão no queixo novamente.


     


- Fala. 


     


- Não... É que eu tava pensando aqui...


 


Às vezes Oliver demorava um pouco pra explicar o que estava pensando, então Kaleo, que já estava acostumado, continuou reparando no ratata enquanto esperava o amigo se organizar. A criatura tinha parado de cambalear e agora se limitava a sacudir só as orelhas. O que parecia um bom sinal.


 


- Acho que tem algum curto na placa cinética, por isso que a pokebola voou tão longe.


     


- Faz sentido. - Concordou sem prestar tanta atenção assim. A informação parecia irrelevante no momento.


 


O bicho finalmente parecia ter se estabilizado. Apertou as pequenas patas no chão e ficou parado.


 


- Talvez se trocar o fusível por um novo...


     - Aham. - Concordou de qualquer jeito ainda prestando atenção no comportamento do animal.


 


Agora o ratata parecia ter percebido que estava em algum lugar novo. Começou a cheirar o ambiente freneticamente e arquear as orelhas como se estivesse alerta. 


     


- Oliver? 


     - Eu deveria ter testado isso antes


  


O pokemon identificou algum cheiro específico e começou a girar no lugar procurando a direção. Até que parou na direção de Oliver, paralisou no lugar e arrepiou os pelos.


  


     - Cara...


      - Talvez esse curto tenha feito ele ficar tonto também... Fui muito burro.


  


Começou a chiar baixo.


 


- Cara...


     - Eu vou consertar hoje e…


 


Se tencionou e mostrou os dentes.


 


- Cara!


     - O que?!


 


A pergunta foi respondida com um chiado agudo altíssimo e um borrão roxo disparando na direção de Oliver. Foi tão rápido que ele só conseguiu colocar as mãos na frente do rosto e tropeçar para trás. Felizmente o tropeço fez com que o ratata não atingisse seu tronco. A besta furiosa aterrissou perto da sua perna e imediatamente mordeu com vontade.


 


- Aaaah! Aaaah! Aaaaaaah! Ele vai me matar! Ele vai me matar!


A princípio tudo aconteceu muito rápido e Kaleo só pode ficar em choque. Teve certeza que viu sangue espirrando e um pedaço da perna de Oliver preso na boca do pokemon. No segundo seguinte, quando o surto de adrenalina bateu e ele se preparou para reagir, conseguiu ver a cena direito. O ratata só tinha conseguido morder o jeans do suspensório de seu amigo e agora estava preso. Tentava fazer força para trás e puxar o menino junto, mas mal estava conseguindo se segurar no lugar enquanto Oliver se debatia e choramingava.


 


Soltou um muxoxo de risada involuntária, não sabia se por nervosismo ou pelo ridículo, e se permitiu respirar para se recuperar o susto antes de fazer qualquer coisa. Era melhor resolver isso logo antes que piorasse, então virou-se de costas para procurar a pokebola, e quando achou, deu uma ligeira corrida para pegá-la.


 


     - Como eu faço ele voltar mesmo?!


      - Minhaaaaa pernaaaa!!!


     - Oliver! Me diz como eu chamo ele de volta!


     - Aaaaaah!


 


Kaleo deu um tapa na própria testa e se aproximou de seu amigo desesperado. Sacudiu ele pelo suspensório para chamar sua atenção. - Me diz como eu retorno ele, porr#!


  


- Aperta o botão até o final e aponta pra ele, seu arromb#d@!!!


 


Dito e feito. Um laser vermelho saiu em linha reta até o ratata. Quando tocou sua pele, puxou o braço de Kaleo até que o ângulo ficasse reto, quase como uma espécie de magnetismo. O monstro devorador de pernas se desfez em luz num barulho abafado.


 


Oliver teve a decência de se acalmar e passar as mangas da camisa no rosto antes de levantar reclamando.


  


- Que bicho filho da put#, cara! Por que ele me atacou desse jeito? - Xingou enquanto espanava a sujeira da roupa.


 


Kaleo fez força para evitar o riso, porque percebeu que o amigo estava puto de verdade. - Também não entendi nada, cara... Ele não deveria estar mais manso?


 


     - Deveria! Beleza que a placa cinética está com defeito, mas a programação comportamental não, eu chequei! - Tirou o óculos do bolso, verificou que estava inteiro e foi guardá-lo numa das cestas. - Essa merd# de bicho deve ser problemático!


     


- Cara... Eu acho que não, por que ele ficou agressivo especificamente quando te viu.


      - Sério?


      - Sim. Vai ver ele só não gostou da sua cara mesmo?


 


Ao ouvir essas palavras Oliver fez sua famosa cara de bunda quando percebia que tinha feito alguma lerdeza. 


 


      - O que?


      - Eu sou um idiota. 


      - É sim, mas o que você fez? 


      


- "Minha cara"... - mas a declaração não surtiu o efeito esclarecedor esperado. - A programação da pokebola funciona a partir do ID do treinador...


      


- Putz velho... Óbvio. Como que a gente esqueceu disso?


      - Pois é...


      - E é claro que ele ta puto com você, a última lembrança dele é ser preso na cesta.


 


Pela terceira vez, os dois olharam para o espantalho e esperaram alguma contribuição sobrenatural para o dilema.


 


      - Bom, vou ter ver a pokebola de novo e a gente tenta outro dia né... - Oliver deu de ombros.


      - Que?! Não, claro que não! Não esperei quase um mês pra gente capturar essa coisa e desistir assim.


      - Mas cara, não dá pra fazer nada.


      - A gente pensa numa solução.


     - Mas é perigoso tentar treinar ele assim. Minha pern...


      - Ou! Relaxa! - Rosnou. - Ele nem mordeu sua pele, só conseguiu pegar o jeans. Para de chorar atoa!


 


Oliver se calou e fez um ligeira expressão de ressentido, mas acenou positivamente com a cabeça aceitando a idéia. Os dois sentaram no chão e ficaram encarando direções opostas, tentando pensar em alguma coisa e não se irritar mais um com o outro.


 


Por que tudo tem que ser tão complicado? Só uma vez o universo não podia facilitar as coisas e fazer elas funcionarem de primeira? Sempre tem que ter uma treta e um problema em sua vida. Pegou a pokebola e ficou jogando no ar tentando pensar em algum coisa, mas o único resultado foi uma raiva imensa em seu estômago e a garganta queimando. Por algum motivo tinha um “quê” muito desesperador o primeiro passo da vida de treinador já começar cheio de problemas. A imagem mental da loja em que trabalhava invadiu sua mente e sentiu os olhos arderem.


 


Mas chorar não resolve nada nem nunca resolveu, então passou agressivamente o antebraço nos olhos. O que eles precisavam é pensar direito no problema. Olhou para Oliver checando se o amigo já tinha tido alguma idéia. Achou a mesma cara de bunda de alguns minutos antes.


 


      - Nada?


      - É. Eu não sei se tem jeito agora…


 


Esse tipo de atitude irritava Kaleo de um jeito inacreditável, mas estava disposto a resolver em vez de discutir.


  


- Ta, se a gente só ficar esperando a solução aparecer não vamos conseguir nunca. Precisamos quebrar o problema em partes.


 


      - Como assim?


      - Em vez de ficar pensando tudo junto, uma coisa de cada vez ué. - Pegou um graveto próximo para riscar o chão. - Primeiro, qual é o problema que estamos enfrentando?


     


- Hmm, um ratata maluco.


  


     - Isso. E por que?


  


     - Por que a pokebola não consegue condicionar o programa básico de comportamento sem ID's de referencia.


 


- Ótimo. - Riscou alguns símbolos ininteligíveis na terra que obviamente só faziam sentido para si mesmo. - E como é esse negócio de programa básico?


 


     - É a parte da programação que faz ele ficar mais manso…


- Ta, mas como? O que ela faz exatamente?


      


- Ah, é tipo... Sei lá, como se fossem uns "sonhos" induzidos sabe?.


      - Que tipo de sonho? 


  


- Ah, umas coisas bobas sabe... Tipo o treinador fazendo carinho nele ou protegendo e sei lá mais o que.


 


Por dois longos segundos a informação entrou por seus ouvidos e não fez efeito, ficou só ciscando o desenho mal feito no chão com o graveto. E aí, o momento genial aconteceu: os olhos de Kaleo dilataram, deu outro tapa em sua testa tão alvejada e levantou as mãos para o alto.  - Bom então é isso né?! É só a gente fazer manualmente.


 


- Como vamos fazer ele sonhar manualmente?


     - Não, arromb#do. Vamos criar alguma situação dessas!


 


- Olha... - Oliver arqueou as sobrancelhas com tanta força que quase foram parar no cabelo. - Pode ser hein…


- Tem que acreditar, mané! - Levantou empolgado e deu um tapa na mão do espantalho. - Meu cérebro é uma máquina de resolução de merd#!


 


Os dois riram com a palhaçada e ficaram com caras de idiota empolgados olhando um para o outro como se tivessem acabado de inventar alguma coisa fantástica.


 


- Hmm, mas o que exatamente? - Disse Oliver.


 


E aí a empolgação sumiu e os risos foram substituídos por sorrisos amarelos.


 


- Eu... Não sei... - Soltou um muxoxo de desânimo, coçou o cabelo com as duas mãos e se largou no chão barroso. - Que inferno!


 


Novamente a clareira ficou em silêncio e ambos olhando para o nada tentando pensar em alguma coisa. Kaleo ficou riscando o chão com seu graveto a esmo e viajando nos seus pensamentos, esperando que alguma solução viesse, mas nada apareceu. Já estava pensando que talvez hoje não iriam conseguir nada.


 


- Tu trouxe alguma fruta?  - Perguntou a Oliver, que prontamente alcanço sua bolsa e tirou um saco de nozes de lá e varejou em sua direção. - Pelo menos não penso de barriga vazia.


 


Essas palavras aparentemente “bugaram” Oliver, por que ele arregalou os olhos e apontou as duas mãos na direção do amigo.


      


- O que?


- É isso!!!


- Ahn?


 


Oliver se aproximou quase pulando, tirou o saco plástico das mãos de Kaleo e exibiu no ar como se estivesse num programa de auditório.


 


Então a ficha caiu. - VOCÊ É UM GÊNIO!!!



 


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Bastou algumas corridas para cá e para lá e o projeto domador de feras 2.0 estava pronto. O circulo de pedras que antes abrigava o espantalho estava todo remendado com tábuas, galhos, corda e fita adesiva, formando uma espécie de cercado baixo. Lá dentro, uma única e singela noz fora colocada mais ou menos no meio


  


- Pronto?


- Pronto.


 


Os dois estavam segurando a pokebola juntos de um jeito meio atrapalhado para evitar que ela saísse voando ou algum outro acidente. Kaleo começou a pressionar o botão e Oliver tentou esboçar um “perai”, mas não conseguiu a tempo. Outro Estalo forte ressoou pela clareira e o jorro de luz invocou a criatura no meio do cercado improvisado. A força desregulada da pokebola fez com que o braço dos dois  meninos recuassem e Oliver tomasse praticamente um soco no peito.


 


- Ai!


      - Shhhh! Silêncio! - O ratata saiu da pokebola do mesmo jeito. Enquanto ele se recuperava, os dois se agacharam para ficar numa posição estratégica onde o pokemon poderia vê-los.


 


O processo foi quase o mesmo, primeiro ele parou de se sacudir, depois percebeu que estava num lugar novo e imediatamente começou a cheirar o ambiente. Dessa vez identificou o cheiro da noz primeiro e depois o cheiro de Oliver. Olhou os dois meninos com desconfiança, arqueou as orelhas e mostrou os dentes, mas não se mexeu.


 


- Vamos nos afastar um pouco. - Kaleo sussurrou e foi puxando o amigo ligeiramente para trás.


 


O roedor ainda ficou desconfiado mesmo com a distancia, mas provavelmente sua fome falou mais alto, por que não demorou muito para surrupiar a noz com as patas dianteiras e levar a boca.


 


Oliver fez um duplo hang-loose e abriu um sorriso de orelha a orelha. Kaleo resistiu a empolgação e respondeu fazendo com a mão para que esperasse. O plano ainda não tinha dado certo. - Vamos, ao mesmo tempo. - Sussurrou.


 


Os dois se aproximaram do cercado, o que fez o ratata ficar tenso de novo. 


 


- Calma meu bom, não vamos te fazer nada. - Kaleo sussurrou e esticou sua mão mostrando mais nozes.


 


A princípio nada aconteceu, o pokemon só continuou desconfiado, mas sua mão continuou flutuando no ar esperando. Os dois meninos tentavam segurar suas respirações nervosas e se manterem frios, mas era impossível não ter um pouco de receio do bicho simplesmente se enfezar de novo e atacar.


Até que finalmente o milagre aconteceu. O ratata deu o primeiro passo para frente, cheirou o ar, hesitou ainda por um breve momento e logo depois surrupiou as nozes.


 


- Sucesso! - Oliver falou alto e jogou as mãos pro ar, o que fez o ratata chiar.


- Calma, calma! - Kaleo censurou, mas rindo também.


 


O processo foi repetido várias vezes, com bastante paciência, até que os meninos se deram por satisfeitos e chamaram de volta seu primeiro pokemon para a pokebola. Os dois ficaram com as mãos na cintura com sorrisos bestas no rosto, orgulhosos de terem resolvido o problema que o mundo jogou neles e se sentindo os mais hábeis domadores de pokemon que já viveram. Fala sério? É ou não é uma coisa digna dos gênios domar um roedor de uns vinte centímetros sem precisar de ajuda da programação da pokebola e quase sem nenhum incidente?


 


Não interessava, por que era exatamente assim que Kaleo estava se sentindo.



 


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Agora a clareira estava arrumada para aproveitarem o resto do dia ouvindo seu programa de rádio favorito até o começo da noite. Duas cadeiras de praia velha estavam dispostas próximas ao círculo de pedras que marcava o centro do lugar, que agora estava sem espantalho, sem cercado mal feito e com uma tábua de madeira colocada em cima para improvisar uma mesa. O rádio estava posicionado em cima dessa mesa improvisada, assim como duas garrafas de cerveja barata.


 


Oliver recentemente tinha completado dezoito anos, e apesar de Kaleo ainda ter só dezessete, aproveitaram o máximo o fato de que agora podiam beber sem ter que pedir que alguém comprasse.


Oliver não pensou duas vezes. Assim que terminaram de arrumar o espaço, tirou o suspensório e varejou de qualquer jeito em uma das cestas penduradas nas arvores. 


 


- Vou no rio de leve! Bora? - Anunciou.


- Hoje não. To suave.


- Bota o som alto pra eu ir ouvindo também. - E disparou em direção ao rio.


 


Kaleo se esticou para frente e ajeitou a estação de rádio e o volume.


 


Os dois estavam especialmente atentos ao rádio por que um evento histórico estava por vir. Não era todo dia que um Elite dos quatro era desafiado por sua posição, muito menos nas circunstâncias inusitadas desse desafio em particular. Devoraram tudo que podiam sobre a luta para ver se aprendiam alguma coisa útil.


 


"(...)D... fato a comp...sição da de...afiante é muito boa contra o tipo de luta que nós sabemos que Will busca, então sinceramente eu me pergunto se essa diferença berrante nas apostas é puro bairrismo(...)" A voz familiar da comentarista favorita de Kaleo foi exalando tremida do rádio e preencheu a clareira.


 


Já era costume sempre ouvir o “Elite Índigo”, mesmo quando não tinha nada interessante rolando. Kaleo achava essa análise sobre o cenário competitivo bem diferente das outras, mas não sabia exatamente o por que. Talvez um pouco pelo fator descontraído e às vezes cômico os quais os assuntos eram discutidos, mas ele tinha impressão que era mais que isso.


 


“Vou até arriscar, espectador que em partes sim… Mas acho que o principal é que ninguém realmente conhece a desafiante… Quer dizer, fala sério?! Alguém já viu essa mulher atuando? Alguém com menos de quarenta anos? O que claro, não é o meu caso, mas a maioria das pessoas só sabe que ela é uma dessas sacerdotisas de Ecruteak que dançam e vestem esse quimono esquisito em qualquer lugar.”


 


Kaleo riu sozinho, por que sabia que Mary estava claramente fazendo um piada sobre sua idade. Mary era uma lenda do rádio e já apresentava shows desde de quando o Professor Carvalho era vivo.


 


- Ela é fod@, né?! - Oliver gritou lá do rio.


 


Kaleo concordou mentalmente e um pensamento feliz invadiu sua mente. E se um dia fosse entrevistado pela Mary sobre seu desafio a elite dos quatro? Seria incrível. Era reconfortante pensar que o que planejaram estava começando a dar certo e bastava seguir os próximos passos que logo estariam longe dessa ilha, vivendo outras vidas, muito melhores e menos injustas. 


 


“Mas ouvinte, antes que eu continue fofocando sobre a partida, presta atenção aqui em mim por que eu tenho um aviso muito especial, principalmente se você tem de dezesseis a dezoito anos!”


 


- Que? Aumenta isso aí! - Oliver gritou do rio ao ouvir isso e começou a nadar para sair de lá.


- Provavelmente é só alguma propaganda lek… - Kaleo retrucou, mas aumentou um pouco mais o rádio mesmo assim.


 


Mary continuou. “Como todos sabem, semana passada o período de seleção da academia A.C.E começou oficialmen…”


 


Kaleo soltou um muxoxo de impaciência ao ouvir isso. - Viu cara, é só propaganda da academia A.C.E. Não interessa.


 


A academia A.C.E era a maior e melhor instituição preparatória para treinadores do mundo. Era chefiada e dirigida pela própria lenda viva e campeão atual da elite dos quatro, Gold Hibiki. Kaleo sonhou a vida toda em ser convidado para lá ou passar em algum tipo de seleção, mas a verdade era que não tinha a menor chance. Apesar da academia ser localizada em uma das ilhas Sevii, só pessoas influentes eram convidadas, e nenhuma seleção comunitária jamais fora feita com os colégios das ilhas Sevii. Iria se contentar pelo resto da vida de ter vivido isso em seu jogo de gameboy mesmo.


 


“Mas a novidade esse ano, meu nobre ouvinte, é que pela primeira vez na história da seleção, alguns locais que nunca participaram antes irão participar...”


O coração de Kaleo deu um salto.


 


- Caralh#, é isso mesmo?! - Oliver veio correndo.


 


“É isso mesmo que você ouviu! Você que é habitante da zona de proteção Safari Beta, das aldeias silver, das ruínas cinnabar, das zonas de proteção alpha e das ilhas Sevii, pela primeira vez vão ter a oportunidade de disputar uma vaga comunitária na melhor escola de treinadores do mundo…”


 


E simples assim, os planos de Kaleo e Oliver viraram de cabeça para baixo.


 



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Autor(a): tshaman

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Comentários do Capítulo:

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  • thaysteixeira22 Postado em 06/06/2020 - 14:03:11

    também tenho excelentíssima história de Pokémon


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