Fanfics Brasil - I'm always about to leave Back to 505

Fanfic: Back to 505 | Tema: 505, música do artic monkeys


Capítulo: I'm always about to leave

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A dúvida permeava sobre minha mente enquanto eu terminava de arrumar as malas. Como sempre, eu deixava as coisas importantes para o último minuto. Eu estava voltando para 505 e não sabia se iria de avião ou de carro. 
Ao olhar pela janela do pequeno apartamento onde vivia, tentei lembrar mais uma vez porque havia partido. As luzes brilhantes dos prédios lá fora, que antes pareciam me seduzir como o canto de uma sereia clamava um marinheiro, não mais me encantavam. Talvez nunca soubesse realmente o porquê. Talvez fosse somente minha intrínseca carência de ir embora, que me puxava de tudo que me fazia bem. Eu não sabia lidar com a brandura. 
Lembro do desejo maluco que, desde os 13 anos me rondava. Sair do interior, da mesmice da cidade pequena e de todos os defeitos que eu enxergava nela. A ausência de originalidade, de novidade, do diferente.  Queria sair, conhecer a cidade grande, me tornar cosmopolita, abandonar as raízes e esquecer do passado. Acho que no fundo, essa era minha maior necessidade: a de abandonar tudo.  Me sentia preso num casulo, do qual eu precisava constantemente partir, me libertar, e começar de novo. Mas meus começos raramente encontravam um ponto final. 
Decidi ir de carro - era só uma viagem de quarenta e cinco minutos. Enquanto dirigia, me perguntava se Dorothy ainda morava lá. Ela era o amor da minha vida, e minha única nostalgia. Imaginei que talvez ela estivesse deitada, com as mãos entre as coxas, sorrindo como sempre fazia. Ela era minha zona de conforto, mas eu era tenso como um fio elétrico, sempre ao ponto de se romper. 
Eu amava aventuras, gostava da adrenalina que percorria meu corpo toda vez que tinha uma nova ideia, um novo desejo, um novo caminho. Morar no mesmo lugar não me permitia isso. Depois de um tempo, toda rua é a mesma rua pela qual já havia passado ontem, e anteontem, e no dia anterior a este. Eu precisava de mais. 
E então, com dezessete anos fui embora, somente com meu conjunto de jaquetas de couro e meu maço de cigarros, deixando para trás o passado e Dorothy. Não acho que ela tenha me perdoado, mas eu não merecia seu amor, muito menos seu perdão. Nosso amor era uma xícara de chá fumegante, e eu era um copo de vodka pura. 
Ela chorou quando eu parti, e foi a única vez que chorei também. Eu desmoronava ao vê-la chorar. Eu estava acostumado a ir embora, e ela sabia disso. Se acostumara a  me dizer adeus. 
Quando cheguei na cidade, algo se revirou dentro do meu âmago. As casas e os pequenos sobrados eram os mesmos. O céu de lá era diferente da cidade; cheio de estrelas, e profundamente escuro, engolindo tudo como um buraco negro. A única coisa do lugar com a qual eu me identificava. 
Estacionei o carro em um espaço qualquer e acendi um cigarro. A estranha emoção se revirava dentro de mim. Não achava que teria coragem de voltar. Como eu era hipócrita. Reclamava da imobilidade, e voltava como o mesmo Alex que partira: quebrado, vestido de preto, com um cigarro entre os dedos. Por mais que eu tentasse arrancar minhas raízes com as unhas e jogá-las o mais longe possível, elas são como árvores dentro da alma, e não importa a força com que o vento que sopre, elas sempre permanecem em nós. 
O silêncio dominava o local, e era estranho aos meus ouvidos. Na cidade grande, o barulho era constante; eu não era obrigado a escutar meus próprios pensamentos. Não precisava ficar preso no ensurdecedor som da minha mente. Outro vício meu além do cigarro: viver em negação. 
Depois de terminar o cigarro, caminhei pelas ruas vazias, as mãos postas nos bolsos.
- Alex - disse ela. O som de sua voz congelou meus batimentos cardíacos, e eu me senti com dezessete anos novamente, dizendo-lhe que precisava partir e não sabia explicar meus motivos. Nunca fora bom com as palavras. Somente as sentia e as deixava passar, um trem bala sob os trilhos. 
Quando me virei, percebi o que já sabia. Dorothy continuava a mesma, com os cabelos marrons sobre os ombros, os olhos sorridentes nos quais eu desejava morar, apesar de tão pouco tempo passado neles. De repente senti saudade de seus braços ao redor do meu pescoço, sentindo nos lábios a única razão que precisava para ficar. 



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Autor(a): giuliamonteiro

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