Fanfics Brasil - Capítulo 3 Ouro e Prata - Símbolo de uma Promessa

Fanfic: Ouro e Prata - Símbolo de uma Promessa | Tema: Original


Capítulo: Capítulo 3

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GABRIELLE


Uma nova semana começou sem muita diferença. A nova médica Dra. Karina irá fazer uma cirurgia hoje à tarde e eu seria sua residente. Ela sempre parecia muito interessada em mim, sempre me fazendo perguntas. Eu evitava ao máximo falar da minha vida pessoal.


- Bom dia, senhora Ana. - Falei com a paciente ao entrar seu quarto. - Esta é a Dra. Karine Dias, ela é quem vai realizar a sua cirurgia.


Eu já conhecia a paciente. A doutora conversou sobre os procedimentos e seus riscos. Saímos do quarto quando ela terminou.


- Vamos comer? - Karine me convidava.


Aceitei um pouco a contragosto.


Karine falava no celular enquanto comia. O que para mim era ótimo, sem mais perguntas inconvenientes.


- Oi, posso me juntar a vocês? - Era Beatriz.


- Sim - respondeu Karine guardando telefone.


- Faz alguns dias que não nos encontramos, Gabrielle. - Beatriz me encarava.


- Verdade.


- Vocês são amigas? - Karine parecia curiosa.


É óbvio que ela ficaria curiosa, estávamos trabalhando juntas há um tempo e ela só me viu conversando com a Michele. Só falava o necessário com o restante do pessoal.


- Sim. - Beatriz respondeu e se virou para mim. - Estava te procurando, queria te fazer um convite. Vai ter uma festinha lá em casa, para comemorar aniversário do meu irmão. Vi no quadro que vai estar de folga.


Como eu ia me livrar dessa agora?


- Sinto muito em estragar seus planos, mas eu pedi a Dra. Silver para me ajudar neste sábado com um paciente.


- Ah, entendi. Que pena. Fica para a próxima então.


- Sinto muito. - Me desculpei, mas estava me sentindo aliviada.


Tentei terminar meu almoço o mais rápido possível porque Beatriz começou a me jogar indiretas, mesmo com a Karine ainda ali. 


Ao terminar de comer, Karine e eu fomos para a sala de cirurgia.


- Aquela moça parece estar afim de você - ela parecia se divertir.


- Acho que sim. - Me sentia desconfortável. - Obrigada pela ajuda aquela hora.


- Então você não gosta dela?


- Não. Mas não sei como dizer a ela sem a magoar.


- Mas em algum momento você vai ter que falar. Só escolha as palavras certas. - Karine pausou por um momento. - Você já gosta de outra pessoa?


- Isso não é da sua conta. - Senti os olhos dela me encarando com desaprovação, mas não me desculpei. Estava irritada.


A conversa acabou ali. Ficamos 6 horas na cirurgia. Não trocamos uma palavra que não fosse sobre a paciente. Mas sentia ela me encarando às vezes.


Nos dias que se seguiram, só conversamos sobre trabalho.


 


**********


 


- Acho que eu fui grossa com a nova médica. - Falei para Crystal enquanto a ajudava a fazer o jantar.


- Pede desculpas.


- Mas ela estava fazendo perguntas muito pessoais. Não quero que ela comece de novo.


- Ta arrasando os corações, hein? - Ela se divertia.


- Do que vocês estão rindo? Também quero participar! - Amabelle chegou na cozinha.


- Gabi fisgou coração da nova doutora.


- Para com isso, a Dra. Dias é casada.


- Espera, Dra. Dias? - Crystal me olhava com os olhos arregalados.


- Sim. Por quê?


- Você só tinha falado o primeiro nome dela até agora. - Ela parecia ter desvendado um grande mistério. - Ela é a esposa da delegada então.


- O quê? - Amabelle e eu perguntamos em uníssono.


- A nova delegada se chama Ester Dias. Ela falou que era casada com uma médica. Caramba! Nossas chefes são casadas? Quais as chances?


- Parabéns, desvendou o caso! - Debochei. - Mas ainda não resolveu meu problema. Maldita hora que Beatriz foi lá se jogar em cima de mim na frente dela.


- Fala logo pra essa menina que você não tá afim dela. - Amabelle me aconselhou.


- Vou fazer isso. E vou pensar em um jeito de me desculpar com a doutora.


- Ou você podia dar uma chance para essa Beatriz. Ela é bonita? Você pode encontrar outro amor. - Crystal fazia gesto para ela parar de falar.


- Meu único objetivo é me tornar uma cirurgiã reconhecida.


- Me desculpe. - Amabelle percebeu que havia tocado em assunto delicado.


- Está tudo bem.


Aquele assunto acabou ali. Crystal começou falar sobre outras coisas.


- Aquele idiota do Marcos, que está substituindo meu parceiro, ficou me cantando o dia todo.


Amabelle fez cara de quem não gostou.


- Quem ele pensa que é para dar em cima da minha mulher? - Perguntou brava.


Elas não brigavam por ciúmes. Mas se alguém flertar com a Crystal, Amabelle virava uma leoa. Era praticamente uma sentença de morte.


- Ele só é um idiota amor. Você sabe que eu sou só sua. 


Crystal acalmava Amabelle dando um beijinho em sua bochecha. 


Ela também me protegia muito. Uma vez um de seus funcionários espalhou um boato na loja que ela estava sendo traída. Ele havia me visto com a Crystal e supôs que eu era amante dela. No dia que fui na loja uma das funcionárias me cercou perguntando se não tinha vergonha de estar ali. Eu fiquei sem reação, não entendi que tinha acontecido. Amabelle viu e fez a menina explicar o que estava acontecendo. Ela virou uma fera, chamou todo mundo para esclarecer. Deu uma bronca tão grande no rapaz que ele quase chorou.


Tinha pena do policial se ela fosse na delegacia.


 


**********


 


Naquele dia teria uma cirurgia com a Dra. Dias. Já vinha pensando em como me desculpar com ela. Ela evitou conversar comigo nos últimos dias. Meu plano era puxar assunto com ela durante cirurgia, mas foi impossível. O paciente teve quatro paradas cardíacas e na última não conseguimos trazer ele de volta.


- Hora do óbito: 16h 23 min. - Ela falou decepcionada consigo mesma.


Perder paciente era algo normal para nós médicos, mas nunca iremos nos acostumar com isso. Todos nos sentimos derrotados. Me troquei e sai.


Quando cheguei na entrada do hospital, vi Dra. Karine parada observando a chuva forte que caía. Ela já estava com roupas normais, o que significa que estava pronta para ir embora. Era a minha chance.


- Dra. Karine.


- Sim, Silver.


- Já vai embora?


- Estou tentando. - Ela riu. - Minha esposa está ocupada e ninguém atende o telefone em casa. Vou de uber quando conseguir chamar, meu celular ta fechando aplicativo sozinho. Tenho que trocar logo.


- Te dou uma carona se quiser.


- Acho que não vou recusar - sorriu.


Entramos no carro correndo da chuva.


- Qual o endereço?


Ela me falou o bairro, era próximo ao meu. Me guiou até pararmos em frente a uma casa grande. Parecia estar acontecendo alguma coisa ali, tinha um bom número de pessoas na varanda.


- Doutora, - a chamei. - Queria me desculpar por aquele dia.


- Você foi um pouco grossa mesmo, mas tenho minha parcela de culpa também. Eu sou muito curiosa. Vamos deixar isso pra lá. E não precisa me chamar de doutora, não estamos no hospital - ela sorriu.


- Tudo bem.


- Pensando bem acho que não vou te desculpar não.


Fiquei olhando ela sem entender.


- Mas vou te dar uma chance de ganhar meu perdão. - Me olhou maliciosa. - Só vou lhe perdoar se você entrar um pouco. Garanto que não vai se arrepender.


- O quê? Eu não conheço ninguém.


- Conhece sim. Minha mãe e eu. Então nada de desculpas.


Me senti sem escolha e acabei cedendo. Uma moça jovem veio até o carro com dois guarda-chuvas.


- Obrigada Jeane. Essa é uma das minhas sobrinhas. - me apresentou. - Ela é uma das médicas que me ajuda no hospital - falou para a menina que me encarava curiosa.


- Você é amiga da minha tia? Você sabia que ela é casada? Você também é casada? Seu cabelo é legal. Seus olhos são de verdade? - Ela falava tudo muito rápido.


Olhei para Karine pedindo socorro ela sorriu me mandou entrar.


- Ignora - me falou baixinho.


Eu ri e fiz isso. Jeane ficou me olhando emburrada.


Entrei na varanda onde todos estavam reunidos. Tinha umas dez pessoas ali. O cheiro de era convidativo.


Me senti desconfortável, com todos os olhares curiosos. Uma senhora se aproximou.


- Olá, querida!


Era a senhora Karme.


- Olá, tudo bem com a senhora? - Cumprimentei.


- Fique a vontade, sinta-se em casa. Vou trazer meu marido para você conhecê-lo. - Ela falou toda sorridente.


Eu agradeci a hospitalidade. Me sentir em casa era impossível, tudo que queria era entrar no meu carro e ir embora. “Logo hoje que tinha churrasco fui oferecer carona”, pensei comigo.


O senhor Tarcísio veio me cumprimentar. Ele ficou muito surpreso quando falei seu nome.


- Estou fascinado com sua memória. - Falou todo empolgado.


- Eu tenho memória fotográfica.


Ele ficou ainda mais impressionado. Outros vieram. Uma mulher de meia idade e seu marido. Ela se chamava Katia e seu marido João Paulo. Seus filhos Allan e Téo vieram falar comigo a pedido da mãe. Ambos se entreolharam e fizeram sinal de aprovação, que entendi muito bem. A menina Jeane voltou a falar comigo trazendo seus irmãos: Mateus que não para quieto, e Lucas, que era bem menor e segurava uma chupeta. Ele tentava se esconder atrás da irmã. Mais um casal também veio, eles eram Marcelo e Celina. Ficaram algum tempo elogiando meus olhos e minha beleza. Por fim, dona Karme trouxe seu marido, e Tarcísio sua esposa, que também falou do meu olhos.


Parecia que tinha acabado, fiquei feliz. Mas não durou muito. Dois rapazes com mais ou menos a minha idade apareceram.


- Cadê a garota gata que tão falando? - Ouvi um deles perguntando.


Ele era mais alto e atlético. Se apresentou todo sorridente e dava para perceber que ele se achava um galã. Seu nome era Marcos. O outro era seu irmão mais novo, Bruno, que parecia ser muito mais simpático.


Eu prefiro trabalhar no pior dos caos da emergência do que ter de lidar com tudo aquilo. Procurei por Karine para poder ir embora. Ela roubara minha chaves do carro. Mas já estava cogitando ir a pé.


Mais alguns minutos ela apareceu com 3 garotas. “Não para mais de parecer gente nesse lugar?”, pensei.


Duas das garotas eu já vira antes.


- Olivia - se apresentou uma delas, essa eu ainda não conhecia.


- Sou Janaína - falou a mais baixa.


Ela olhava para a terceira.


- Eu me chamo Ali-ne - ela gaguejou nervosa. 


As duas garotas do lado não seguraram o riso. Ela que já tava vermelha ficou ainda mais. Eu lembro dela, era a menina que ficou me encarando. Antes que pudesse retribuir seu comprimento ouvi alguém atrás de mim falar meu nome. Era Jeane chamado minha atenção.


- Ahá! Eu já sei! - Falou alto bastante para todos na varanda escutar. - Você é a médica que a Aline gosta.


Janaína a puxou para longe e Olivia saiu de fininho. Todo mundo olhava para nós. Aline não sabia o que fazer. Ela já parecia um pimentão. Para acabar com clima péssimo que se fez estendi minha mão a ela.


- Me chamo Gabrielle, mas meus amigos me chamam de Gabi. Fique a vontade para simplificá-lo. - Sorri para ela tentando acabar com clima chato.


A garota era muito bonita. Seu cabelo era castanhos cortado na altura dos ombros, sua pele morena destacava seus olhos azuis. Ela usava short, que me permitia ver suas pernas definidas. Provavelmente fazia algum esporte. Ela segurou minha mão e me deu sorriso de canto. As pessoas ao redor já não nos olhava mais. Marcos veio até nós.


- Então ela é a tal médica? - Perguntou me olhando como se eu fosse um pedaço de carne. - Você é mais gostosa do que pensei.


Antes de responder Aline lhe deu um empurrão.


- Qual é? - Olhou irritado para ela. - Não aguenta concorrência não? Peixes estão no mar para ser pescado!


Senti meu sangue esquentar.


- Cai fora Marcos - ela lhe deu outro empurrão


- Se você acha que com essa sua varinha aí vai pescar alguma coisa, tá muito enganado - falei perdendo a paciência. - A propósito sou uma cirurgiã. Corta partes do corpo é minha especialidade, se continuar com essa gracinha posso dar um jeito que você nunca mais vai conseguir pescar. 


Todos ao redor incluindo Aline que já parecia mais brava do que nervosa começaram a rir. Ele me olhou com raiva e antes de falar alguma coisa, Karine o repreendeu.


- Desculpa por ele - falou a menina envergonhada.


- Tudo bem. Você não tem culpa por ele ser um idiota.


- Vem. Eu vou pegar algo pra você comer. - Aline ofereceu.


Eu a segui pela casa até a cozinha. Ela parecia mais tranquila, seu rosto ainda estava pouco vermelho mas sua pele morena disfarçava bastante.


- Aqui. - Ela me entregou prato com arroz, linguiça e carne. - Tem refrigerante, qual você gosta mais? - Me mostrou dois.


- Na verdade, nenhum. - Olhei para ela como se pedisse desculpa. - Eu não gosto de bebidas gasosas.


- Vou fazer suco para você então.


Tentei dizer que não precisava, mas ela insistiu. Aline me fez companhia enquanto comia. E poucas pessoas vieram na cozinha enquanto estávamos ali, e ninguém falou nada. Puxei conversa para quebrar clima. Ela se empolgou, falou da faculdade, dos jogos de Handebol, ela era artilheira do seu time. Parecia mais tranquila na minha presença.


Normalmente eu me sentia desconfortável perto de pessoas que eu sabia que tinham algum sentimento por mim. Mas com ela não. Ela era divertida.


- To vendo que se deram bem. - Era Karine. - Aqui suas chaves, mocinha.


Ela me entregou. Aline olhava curiosa. Já fazia quase 2 horas que estava ali. Aline me contou seus parentesco com todos. Me assustei quando olhei relógio, não havia percebido a hora passar.


- Vou indo. Obrigada pela comida e pela companhia. - Agradeci.


Fui me despedindo de todos enquanto ia até a saída. Aline me acompanhou até o carro. Estendi a mão me despedindo. Ela apertou cuidadosa, e me olhou no olhos. Achei que ia falar deles.


- Seus tênis. Você corre?


Eu fiquei surpresa. Ela era segunda pessoa a perceber isso.


- Sim. Gosto bastante.


Ela percebeu minha supresa.


- Eu também corro. Tive um igual ao seu. Será que a gente podia sair para correr algum dia? - Falou toda desajeitada voltando a ficar vermelha.


Normalmente falaria que sim só para não ser chata. Mas ela foi gentil comigo e tinha gostado da sua companhia.


- Sim. Mas só se você conseguir me acompanhar.


Sorriu. Aline ficava ainda mais bonita sorrindo.


- Vou te fazer comer poeira. - Ela falou com ar competitivo.


- Me empresta seu celular.


Ela pareceu não entender. Mas retirou seu celular do bolso, desbloqueou e me entregou. Fui nos contatos salvei meu número coloquei para chamar. Quando o meu tocou, desliguei e lhe entreguei. Ela olhou curiosa.


- Este é meu número. E eu também tenho o seu. - Guardei o meu no bolso. - Te aviso quando estiver de folga. Combinado?


- Sim. Vou esperar ansiosa. - Disse sorrindo.


Entrei no carro, dei partida e saí. Antes de virar a esquina olhei o retrovisor. Aline continuava no mesmo lugar.


 


**********


 


Domingo, estava de folga. Mas já tinha compromisso com Crystal, iríamos treinar um pouco. Amabelle tinha ido visitar alguns parentes distantes. No caminho, contei para Crystal o que tinha acontecido, ela riu muito. Quando contei da Aline ela pareceu surpresa. Não era pra menos, eu tinha me tornado uma pessoa muito fechada. Ela só pediu para ver a foto do seu contato.


- Caramba, ela é bonita.


- Deixa Amabelle te pegar achando outra garota bonita.


- Ela sabe que eu só quero ela. E já falei pra ela várias vezes que você é gata. - Nós rimos.


- Mas eu não conto, né. Sou praticamente sua irmã. E também não sou tão bonita.


- Pode parar com isso, você é muito bonita. Quantas garotas você já dispensou?


- Não faço ideia.


Eu realmente recebia muitos olhares. Apesar de não desejar.


- Muitas. - Ela mesma respondeu.


Chegamos na academia e paramos aquela conversa ali.


- Bom dia, garotas. - Cumprimentou Goretti, nossa treinadora. - Vão se vestir.


Fomos ao vestiário colocar o top de treino e short. Fazíamos Kickboxing. Como nossos horário eram loucos, ela nos dava aula particular. Depois de três horas de treino, tomamos banho na academia mesmo e saímos exaustas.


- Bora almoçar no centro? - Crystal olhava as horas, parecia animada.


Fomos em um restaurante já conhecido. Comemos e fomos para casa.


- Ai, comi demais. - Ela falou com mão na barriga.


- Você é magra de ruindade.


- Você também! - Nós rimos juntas.


Ela ficou na minha casa. Sempre que uma delas saía a outra ficava comigo. Chegamos e fomos dormir. Algumas horas depois acordei com ela me chamando.


- Vamos no parque um pouco. - Me convidou.


Senti que tinha acontecido alguma coisa. Então só a acompanhei. Demos algumas voltas ela ainda falara nada.


- O que houve? - Perguntei.


- A vizinha dos meus pais me ligou. Falou que ontem cedo foi uma ambulância lá e até agora ninguém voltou. Já liguei pra eles, mas ninguém atende. Eu não sei mais o que fazer. Desculpa se te acordei.


- Não precisa se desculpar. Eu ia ficar chateada se não me chamasse. Liga de novo para ela e pergunta se ela sabe qual hospital sua mãe está. Se não souber ligamos em todos os hospitais da cidade, até achar.


- To com medo deles não me quererem perto.


- Uma coisa de cada vez. Primeiro vamos descobrir em qual hospital ela está.


Chegando em meu apartamento ligamos para a vizinha. Ela não sabia. Começamos a ligar nos hospitais. Encontramos na segunda tentativa. A atendente chamou o pai de Crystal.


Passei telefone para ela, que colocou no viva voz.


 - Alô, pai?


- Crystal! Como soube que estávamos aqui?


- A vizinha falou que viu ambulância saindo ontem da casa. Ligamos nos hospitais até achar.


- Sua mãe sofreu acidente. Mas os médicos falaram que está fora de perigo.


- Entendo. 


- Está tudo bem eu resolvo tudo.


Ele desligou sem deixar ela falar mais nada. Aquele jeito grosso dele nunca muda.


- Ele é um idiota! - Falou irritada.


- Não mais que os meus. Está mais calma?


- Sim obrigada. Mas vou ligar amanhã. Espero que ele me atenda.


- Vai sim. Que importa é que ela está bem - tentei acalmá-la.


 


**********


 


No dia seguinte, tudo ocorreu bem. A mãe de Crystal já tinha acordado e estava bem melhor. A notícia alegrou meu dia. No final do expediente Karine veio falar comigo.


- Não te vi hoje. Senti sua falta na cirurgia.


- Foi você que chamou outro residente.


- Ciúmes?


Ela ria. Não falei nada, era exatamente isso.


- Tenho que dar oportunidade para os outros. Acho que vou inflar muito seu ego. Mas você está muito acima dos outros, na minha opinião. Então tenho que ajudar os outros a te alcançarem. - Ela ria.


- Não é justo. Eu dei duro pra ser a melhor. Agora tenho que fazer menos cirurgias porque eles não conseguem me acompanhar.


Ela começou a gargalhar.


- Você não é nada convencida. - Disse ironicamente.


Ela tava de pegadinha comigo? Fiquei irritada.


Como Karine não me chamava mais acabei trabalhando com a Dra. Zilda. Ela me torturava. Nada estava bom, reclamava de tudo. Fazia tempo que não trabalhava com ela. Ela gostava de torturar os mais novos principalmente os do segundo ano. E para piorar sua cirurgia foi adiada. Fiquei de babá do seus pós e pré operatório. Que ódio.


Era umas 16h quando Amabelle me ligou para confirmar tudo. Ela estava montando uma festa surpresa para Crystal. Era para eu distrair ela até as 20h. Íamos jogar boliche. Era nossa tradição fazer isso todo aniversário dela. Ela gostava de me dar uma surra para elevar seu ego. Ela viria me buscar no serviço.


Eram 5h20min quando consegui escapar da velha ranzinza. Ela me esperava na entrada conversando com Michele.


- Ufa, até que enfim. Achei que ia me dar bolo. - Ela fazia biquinho falando.


- Até parece. Eu tardo mas não falho.


Crystal pulou no meu pescoço. E ficou pendurada em mim.


- Minha mãe teve alta hoje. Ela me ligou, está melhor. Mas ainda não resolveram seu mau humor.


- Tava esperando o que? Filha, é medicina, não milagre.


Começamos a rir.


- Alguém tá te fuzilando Gabi - Mi apontou para o balcão.


Olhei para onde ela apontava. Beatriz olhava com cara de pouco amigos. Ela não conhecia Crystal.


- Eita ela não pisca. - Crystal a olhava. - E tá vindo pra cá.


Crystal soltou meu pescoço, colocou seu braço em minha cintura. Chegando o mais perto possível.


- Olá meninas, já estão indo?- Ela encarava Crystal.


- Estamos saindo. - Mi falou piscando pra mim. - Até mais, se cuidem.


- Desculpe te incomodar. Eu não sabia que você tinha alguém.


Recebi um leve toque. Sabia o que era.


- Nós não estamos juntas assim. Ela é minha amiga.


- Isso, somos amigas. Olha sou casada. - Crystal mostrava a aliança. - Te espero no carro Gabi.


- Nossa é só eu chegar que todo mundo corre. Eu tomei banho hoje, tá?


- Eu quero conversar com você. Por isso elas foram.


Fomos em lugar mais reservado. 


- Eu gosto de você! - Ela falou tão rápido que assustei.


Segurei suas mãos entre as minhas. Seus olhos eram esperançosos.


- Obrigada pelos seus sentimentos. Mas eu não posso aceitar. Eu não sinto o mesmo.


Ela estava quase chorando. Eu a puxei para um abraço.


- Alguém muito melhor vai aparecer. E vai te corresponder com todo amor que você merece.


- Você é muito gentil. - Ela se afastou. - Uma enfermeira me falou que eu não devia ter esperança. Todas as outras também foram rejeitadas. Eu meio que sabia. Mas sou teimosa e ignorei minha intuição. 


- Eu sou o problema, não você ou elas. Talvez eu não seja mais capaz de amar.


- Não fala assim. Você só não encontrou o seu alguém. Com esses olhos lindos, esse corpo maravilhoso e seu rostinho de boneca. Qualquer garota ficaria ao seus pés.


- Acredita em alma gêmea?


- Claro que sim. Mas temos várias, na verdade. Existe muita gente no mundo uma só seria muita sacanagem. Então moça muito gata, acredite um pouco, em algum momento sua alma gêmea vai cruzar seu caminho.


- Espero que ainda possa ser sua amiga?


- Sim. - Beatriz respirou fundo. - Mas da tempinho pra mim. Eu preciso superar esse amor platônico.


Dei uma pequena risada e nos abraçamos por algum tempo.


- Gabi, eu sinto muito.


- Pelo quê?


- Não sei. Seus olhos são lindos, mas são tristes. Se algum dia quiser conversar. Eu tô aqui.


Ela foi embora. Fiquei alguns segundos ali segurando meu colar.


- Demorou. - Disse Crystal impaciente enquanto eu entrava no carro. - O que rolou lá?


- Nada de mais. Estamos atrasadas.


No boliche fui derrotada sem piedade para alegria dela.


- Já chega de inflar seu ego. Desisto.


- Desiste? Você estava jogando? - Ela me provocava.


- Vem cá sua exibida. Aqui seu presente. - Tirei uma caixa da minha bolsa e entreguei.


- Você é muito fofa. - Ela me abraçou. - Agora vamos porque quero bolo. To sabendo da tal festa, mas não queria deixar Amabelle triste.


- Então vamos porque eu quero me acabar nos brigadeiros.


Quando chegamos a festa começou. Comi demais. Ficamos ouvindo as histórias loucas da polícia. Foi uma noite maravilhosa, dei tanta risada que meu rosto tava doendo. Fui uma das últimas a sair. Eu ia trabalhar só na próxima noite. Fiquei ajudando a limpar.


- Agora vamos para a parte mais importante. - Amabelle me olhou.


- Já estou indo. Pode desfrutar da sua mulher a vontade. - Falei rindo.


- Não é isso. Quer dizer eu vou. Mas agora eu quero você.


Me levou de volta para dentro. Crystal anunciou que ia tomar banho.


- Me conte tudo sobre esse churrasco e principalmente da Aline.


Sabia que não ia conseguir fugir dessa conversa, então contei.


- Temos uma candidata então. - Seus olhos brilhavam. - Sabe eu brinco com você sobre isso, mas eu só quero te ver feliz. Eu também te amo. Seja lá o que você optar fazer, eu vou te apoiar em tudo. Somos uma família.


- Obrigada por cuidar de mim.


Eu não sei que seria de mim sem essas duas.


- Agora vou indo. Cuida bem da aniversariante.


- Pode deixar. - respondeu rindo.


A noite era o horário mais parado do hospital, com poucas cirurgias e menos correrias. Minhas próximas noites seriam assim: lentas e demoradas.


Talvez mandasse mensagem marcando uma corrida com Aline quando as noites lentas acabasse. Queria ver se ela era tudo que falava. Me virei na cama sentindo Miguel ao meu lado. Me arrumei entre as cobertas e adormeci.



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Autor(a): GolDKler

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