Fanfic: Ouro e Prata - Símbolo de uma Promessa | Tema: Original
Flashback Gabrielle
- O que achou? - Meu pai me perguntou abrindo a porta do apartamento.
- Ótimo. - Respondi olhando a pequena sala do meu novo lar.
Em 8 dias minhas aulas na faculdade se iniciarão. Começaria a trilhar o longo caminho para realizar meu sonho ser médica. Em uma cidade nova, longe de todos os problemas que vinha tendo nos último anos. Andei por todo o lugar muito feliz. Mesmo sendo bem pequeno com móveis de segunda mão, ia ser meu lar e qualquer coisa longe do Leonardo, meu padrasto, era perfeito.
- Que bom que gostou, é perto da faculdade. Menos de 10 minutos de caminhada. - Ele olhava o relógio constantemente. - Não vai gastar com transporte.
- Melhor impossível, então. - O abracei agradecendo por tudo.
- Tenho que ir. Não quero dirigir a noite.
Olhei o relógio, 13h43min. Óbvio que era mentira, Cruzeiro ficava a menos de 4 horas de viagem.
- Manda um abraço para a Samanta. - Falei irônica.
- Pode deixar. - Ele me olhou sério. - Dá uma chance pra ela, Samanta é uma ótima pessoa.
- Você devia falar isso pra ela!
Samanta era minha madrasta, e nossa relação não era das melhores. Ela tinha um ciúmes doentio do meu pai. Nas poucas vezes que fui passar o final de semana com eles, ela fez questão de deixar sua antipatia por mim bem clara. O que me fez afastar ainda mais do meu pai.
- Não entendo o por quê dessa atitude sua, filha. Você já é uma mulher, devia parar com esse ciúmes dela. Você nem foi conhecer seu irmão ainda.
- Eu com ciúmes pai? - Respirei fundo, não queria outra discussão - Esquece. Desculpa. Toma cuidado na volta e muito obrigada por tudo.
Ele sorriu me deu um beijo na testa. Apesar de tudo, ainda nos dávamos bem. Assim que ele foi embora comecei a arrumar tudo.
Minha relação com meus pais eram boas, mas vínhamos tendo muitas brigas por causa de seus novos companheiros. Com minha mãe não era diferente. Leonardo, meu padrasto, brigava por qualquer coisa.
Quando fazia as malas ontem, Leonardo me repreendeu dizendo que eu só devia levar minhas roupa. O restante das coisas era para deixar, que eu não merecia nada além disso. Tudo que era meu agora seria dele. Apesar de estar com muita raiva, não respondi e nem briguei. Mas quando minha mãe chegou, pedi a ela que estivesse em casa quando meu pai chegasse para me buscar, queria me despedir dela e evitar mais problemas com Leonardo. Para minha surpresa ela pediu folga, e acabou ficando em casa. Já tinha terminado de pegar minhas coisas quando ela me mandou levar também a televisão, que foi um presente dado por eles. Ele ficou com uma expressão de puro ódio enquanto eu a levava para o carro, e me fuzilava com olhos. Mas não falou nada. Perto da minha mãe ele era um filhotinho. Na despedida acenei para ele sorrindo, agradecendo por me deixar levar o aparelho, só para irritá-lo um pouco mais.
Terminei de ajeitar minhas coisas e saí para conhecer o bairro. Susana era uma cidade muito grande e recebia muitas pessoas de fora que vinha tentar a sorte ali. Logo encontrei um mercado, onde comprei tudo que precisava para cozinha nos próximos dias. Saí de lá andando com dificuldade, tinha esquecido que iria embora a pé e comprei coisas demais. Levei o dobro do tempo para voltar. Me sentia livre, finalmente podia chegar em casa hora que quisesse sem broncas.
Os dias que se seguiram foram tranquilos, meus pais ligaram para saber como eu estava apenas nos dois primeiros dias, e depois não ligaram mais. Explorei bem mais o bairro, sabia onde tinha tudo que precisava. A faculdade era mesmo bem perto e como cursaria de manhã, seria bem tranquilo ir e voltar a pé.
A única pessoa que ligava todo dia, era Crystal. Como senti sua falta. Ela estava enfrentando muitos problemas em casa, seus pais não queriam que ela fizesse prova para a polícia e implicavam com seu jeito meio moleque. Eles eram bem conservadores.
No primeiro dia de faculdade fui muito animada. Realmente não se comparava com a escola. Mesmo no primeiro dia sabia que teria de me esforçar ainda mais, e isso me empolgava muito. Adoro um desafio.
**********
Os dias passaram muito rápido. Fazia três semanas que as aulas haviam começado e Crystal ainda era única que me ligava. As brigas em sua casa pioraram desde que seus pais souberam sobre sua sexualidade. Estava muito preocupada com ela, mas não sabia como podia ajudar.
Me sentei no refeitório, respondendo suas mensagens. Guardei o celular, voltando minha atenção a Samira, minha colega de sala. Alguns momentos depois uma garota roubou minha atenção. Era bonita demais para ser real. Ela estava acompanhada de algumas colegas. Seus cabelos na altura do ombro era preto e liso, olhos escuros. Usava uma blusa branca com jaqueta azul e uma calça preta. Normalmente eu não reparava nas pessoas, mas ela não tinha como não olhar.
- Terra chamando Gabi, responda! - Samira chamou minha atenção estalando os dedos.
Me assustei pouco e acabei ficando envergonhada. Mas ela não percebeu quem eu olhava.
- Desculpe tava com o pensamento longe.
- Percebi. Você ficou com cara de boba. - Ela ria.
Ri um pouco nervosa. Cara de boba era tão ruim assim?
Nos dias seguinte continuei observando a garota. Ela sempre estava acompanhada por várias meninas. Onde passava atraia olhares, tanto dos rapazes como de algumas garotas. Qual era minha chance? Abaixo de zero com certeza. Também nem sabia se ela se envolvia com mulheres.
Minha experiência em relacionamentos era pequena. Havia tido um único relacionamento, e foi com uma mulher mais velha que durou cerca de quatro meses. Era muito difícil alguém chamar minha atenção, mas quando acontecia eu não tinha coragem de chegar na pessoa. Minha auto estima era inexistente, não me achava legal ou atraente.
Em uma terça-feira muito sem graça, estava no intervalo indo para refeitório com Samira.
- Gabi! - Ela me chamou. - Vou ajudar a Melissa e o Otávio com a matéria da próxima aula. Você vem comigo?
- Tudo bem se eu não for? - Não era muito fã do Otávio.
- Sem problemas. - Ela me deu um sorriso compreendendo o porquê, e foi se sentar com eles.
Depois de comer sentei na grama a sombra de uma árvore, meu lugar favorito. Fazia alguns minutos que já estava entretida lendo quando alguém falou ao meu lado.
- Esse livro é ótimo. - Meu coração saltou no peito ao ver quem era.
A menina que vinha observando estava ali do meu lado sorrindo. Ela era mais bonita ainda de perto. Congelei.
- Qual página você está? - Ela perguntou.
- É… cent-... 128. - respondi gaguejando.
- Hmm... - Ela ficou me encarando. - Me empresta um pouco. - Entreguei sem pensar.
No tempo que ela folheava o livro, eu tentava sem sucesso me acalmar.
- 181. - Ela falou após folhear o livro.
- O que tem nessa página? - Peguei o livro de volta.
- Bem, para mim é a melhor parte da história, mas não vou te dar spoiler. - Ela sorria ficando ainda mais bonita. - Consegue ler até amanhã?
- Sim!
- Então amanhã você me conta o que achou. Combinado?
- Alexis! Vamos logo! - Uma das suas amigas a chamou impaciente.
- Combinado. - Confirmei no automático.
Ela sorriu, se levantou deu alguns passos e se virou de volta para mim.
- Desculpe pela grosseria, não me apresentei. Me chamo Alexis.
- Gabrielle. - Respondi retribuindo seu sorriso.
Ela foi embora com sua amiga. É um sonho, me belisquei algumas vezes para ter certeza.
Aquela tarde deixei de estudar para terminar de ler. Minha surpresa foi grande, o que acontecia no livro era que a personagem principal rejeitava um homem rico por ter se apaixonado por uma mulher. Será que isso significava que ela também gostava de mulher? Era um sinal que também estava interessada em mim? Ou será que percebeu que eu a olhava e quis brincar comigo e eu só estava imaginando coisas?
Pensei em ligar para Crystal, ela era minha melhor amiga. Mas ela provavelmente já iria ficar imaginando a gente casada. Ela era assim, muito positiva, exatamente o meu oposto. Acabei não ligando. Não queria criar expectativas para não me decepcionar. Mas quem consegue mandar no coração?
Confesso que dormi muito mal aquela noite. No dia seguinte a esperei no mesmo lugar. Mas ela não apareceu. Mesmo tentando não criar expectativa, fiquei bastante chateada. Fui muito idiota mesmo em acreditar que alguém como ela se interessaria por mim. Quando terminou a aula juntei minhas coisas e fui para biblioteca recuperar o tempo perdido lendo aquele livro.
Fazia mais ou menos meia hora quando senti alguém colocando a mão em meu ombro. Me virei achando que era Samira, e dei de cara com última pessoa que esperava ver.
- Oi. - Falou Alexis. Congelei de novo. Por algum motivo, ela era a única pessoa que me causava essa reação.
Ela puxou a cadeira na minha frente e se sentou me observando.
- E aí, o que achou? Gostou ou não? - Perguntou curiosa.
- Eu gostei. - Respondi a observando. - Na verdade, foi a melhor parte até agora.
- Sério? - Ela parecia muito feliz com a resposta.
- Não vi você no intervalo.
- Tive que sair. - Respirou fundo e continuou. - Ligaram da escola da minha irmã, ela se machucou na aula de educação física. Como meus pais estão viajando, eu fui levá-la para o hospital. Perdi meio período. - Acrescentou parecendo triste. - Vim só pra te encontrar.
Meu coração tava tão acelerado que achei teria um infarto ao ouvir suas últimas palavras.
- Ela está bem?
- Sim, foi só um susto. - Ela me olhava curiosa.
- Quem bom. - Sentia meu rosto queimando, provavelmente estava parecendo pimentão.
- Vou indo. Minha irmã está sozinha em casa. - Se levantou e colocou a cadeira no lugar.
Juntei todas as forças que tinha e a chamei.
- Alexis, você vai vir amanhã?
- Sim. - Ela parecia surpresa.
- Vamos comer juntas? - Falei pouco mais alto que normal.
Minha sorte é que não tinha ninguém por perto.
- Combinado - Sua resposta veio acompanhada de um grande sorriso. Percebi que suas bochechas ficaram um pouco coradas. Nos despedimos e ela foi embora.
Sai logo depois, me concentrar era impossível depois de tudo.
Naquele dia liguei para Crystal contando tudo, ela ficou surpresa com a minha atitude, mas não mais que eu mesma. Eu nunca tinha tomado iniciativa com ninguém, ela tinha despertado sentimentos em mim que ainda desconhecia. E como já imaginava, Crystal nos imaginava namorando. O bom é que ela parecia feliz com a notícia. Nos últimos dias ela estava muito para baixo por causa das brigas em sua casa.
**********
As horas pareciam demorar mais para passar aquele dia, levou uma eternidade pra chegar o intervalo. Chegando no refeitório, vi ela sorrindo e acenando para mim. Aquilo era melhor que um sonho. Nos dávamos muito bem. Aos poucos fui me soltando e ganhando confiança. Passamos a comer juntas todos os dias. Parecia que já nos conhecíamos há anos, mesmo fazendo apenas duas semanas que tínhamos começado a nos falar.
Estava na biblioteca estudando com alguns colegas da minha turma depois da aula quando ouvi uma voz conhecida.
- Posso me juntar a vocês? - Era Alexis me dando um grande sorriso.
- Sim, por favor. - Otávio respondeu antes de mim.
Puxei a cadeira ao meu lado para ela sentar.
- Obrigada. - Me deu uma piscadinha, fazendo meu coração acelerar.
Todos ficaram em silêncio concentrados. Algum tempo depois percebi que Otávio ficava olhando para Alexis. Fiquei incomodada com aquilo, mas voltei minha atenção para as minhas anotações.
- Chega por hoje. - Disse Alexis depois de uma hora enquanto se esticava.
Agora Otávio olhava seu decote. Um ódio sem explicação tomou conta de meu corpo
- Também acabei, vamos embora. - Levantei e a convidei vir comigo.
Ela concordou e pegou suas coisas.
- Que isso meninas não me deixem só.
- Você está de sacanagem? Não consegue ver o Hugo e a Samira do seu lado? - Falei com raiva. - Seu pervertido.
Senti meu rosto queimar ao perceber vários olhares minha direção. Olhares de desaprovação.
- Vamos embora. - Alexis pegou minha mão me puxando dali.
Já estávamos fora da faculdade quando ela me soltou e começou a rir.
- O que houve? - Ela perguntou.
- Otávio. Ele estava olhando seu decote.
Ao terminar a frase senti meu rosto queimar de novo, e muito mais forte agora. Alexis me encarava.
- Tem ótima sorveteria aqui perto. Vamos?
Fiz um gesto com a cabeça confirmando. Ela não falou nada, só me observava. Nós sentamos em uma mesa mais afastada depois de escolhermos nossos sorvetes.
- Está mais calma?
- Sim. Desculpa.
- Não peça desculpa. Você me defendeu. Por que acha que estaria chateada? Sem contar que você é muito fofa brava.
Eu quase engasguei com o sorvete.
- Sorte dele que olhou pra mim. Se tivesse olhado pra você eu tinha quebrado a cara dele. - Agora ela também ficou um pouco vermelha.
- Não se preocupe, ninguém olha pra mim. Não sou tão bonita como você.
- Claro que é, eu te acho muito bonita. Amo seus olhos. - Falou segurando minha mão.
Meu coração acelerou quando ouvi isso. Ficamos em silêncio, mas ainda de mão dadas. Saímos da sorveteria e nos despedimos. Antes de ir ela me deu forte abraço e um beijo na bochecha me agradecendo por defendê-la.
**********
Estava chegando na faculdade ainda sonolenta, quando Alexis me surpreende pegando minha mão.
- Bom dia, tenho um convite e não aceito não como resposta. - Falou fingindo estar séria. - Neste sábado é aniversário da minha irmã e meus pais vão fazer um pequena comemoração para ela. E você está intimada a ir.
Concordei. Eu não tinha como recusar nem queria. Apesar de ficar muito nervosa com a ideia de conhecer sua família.
No sábado do aniversário, saí de casa às 3h45min, sua casa não era tão longe. E a festa começava às 5h. Ela falou que eu devia chegar uma hora antes para ajudá-la a arrumar umas coisas. Parei de frente ao portão. Chequei o endereço, era ali mesmo. A casa era muito grande. Apertei interfone que logo fui atendida por uma voz feminina.
- Quem é?
- Me chamo Gabrielle. Sou amiga da Alexis.
- Ah, sim. Pode entrar.
O portão começou a abrir sozinho, era de controle remoto. Me senti estranha de ir entrando assim. O quintal era grande e a garagem também, com dois carros que pareciam ser caros. Mais a frente era a área de churrasco e a piscina.
- Olá. - Um senhor saiu de dentro da casa me comprimentando. - Sou Alberto, pai da Alexis.
- Boa tarde. - Respondi o comprimentando.
- Boa tarde, entre por favor, a Alexis já vai descer.
Quase no mesmo instante ela surgiu nas escadas. Vestia roupas totalmente diferentes, um short um pouco curto e largo, e uma camiseta preta regata. Ela ficava linda com qualquer roupa.
- Vem. - Me fez sinal para acompanhá-la ainda nos degraus da escada.
Pedi licença ao seu pai e a segui até seu quarto. Entrei e ela fechou a porta.
- Achei que teria uma festa. - Falei meio curiosa. Não vi nada relacionado a comemoração de aniversário.
- Vai ter, mas não será aqui. Vai ser em um salão aqui perto. Vamos sair às 6h.
Fiquei pouco confusa. Ela percebeu e completou pouco envergonhada.
- Queria um tempo com você.
Meu coração não aguentaria muito dessas surpresas. Ela foi até uma estante procurando alguma coisa. Aproveitei para olhar seu quarto. Este era grande, tinha uma cama de casal onde me sentei. Dei mais uma olhada em volta e reparei vários troféus de diferentes tipos sobre uma estante onde ela procurava algo entre os livros. Seria tudo dela?
- Achei. - Minha atenção foi direto para ela que se sentou ao meu lado. Colocou dois livros sobre minhas mãos. - Esses são parecidos com aquele que você tava lendo.
- Sério? - Falei animada.
- Te empresto eles. - Ela parecia muito feliz.
- Aqueles troféus são todos seus? - Apontei para eles curiosa.
- Sim. - Levantou e foi até eles, me mostrando um. - Este é o que eu tenho mais orgulho. Ganhei em uma competição de xadrez.
Deixei os livros sobre a cama e fui até ela.
- É o mais legal.
- Sim, e este foi o último. - Me mostrou outro.
- Corrida? Você corre?
- Corria. - Ela me olhou de lado. - Agora só corro para manter o corpinho. Mas você também corre, não é?
- Sim. Como você sabe? - Fiquei muito curiosa.
- Eu andei te observando. E teve um dia que você foi com um tênis mais leve. Foi mais um palpite mesmo, nem todos que usam tênis de corrida corre.
Senti meu rosto esquentar.
- Eu fui com ele antes de você vir falar comigo.
- Sim, eu meio que estava esperando uma oportunidade pra puxar conversa contigo a algum tempo. Aí te vi lá sozinha, e ainda lendo um livro que gosto. Foi a oportunidade perfeita. - Ela parecia pouco nervosa, mas feliz. Ela se virou para mim me olhando nos olhos. - Aquele dia na sorveteria pensei em te dizer algo, mas não era o melhor lugar. - Alexis ficou levemente vermelha. - Gabi eu gosto de você.
Meu coração quase saiu pela boca. Ela pegou minha mão e se aproximou. Sabia que ela queria o mesmo que eu. Fui ao seu encontro e nos beijamos. Um beijo gentil, demonstrando todo nosso sentimento uma pela outra. Quando nos afastamos ambas estavam com maior sorriso. Um segundo beijo veio logo em seguida, dessa vez mais intenso. Eu a abracei. Gostava de sentir ela no meus braços. Seu cheiro era tão bom. Aquele beijo foi totalmente diferente dos anteriores, estava completamente apaixonada por ela.
- Estou apaixonada por você. - Colocou a mão carinhosamente em meu rosto. - Desde a primeira vez que te vi, não consegui mais esquecer seu rosto. Acho que estou parecendo uma adolescente apaixonada.
- Então eu também sou uma adolescente, pois sinto o mesmo por você.
- Caramba, eu to muito feliz. To quase saindo correndo e gritando. - Rimos juntas.
Ficamos nos curtindo ali por mais algum tempo.
- Sei que não é grande coisa, mas quero te dar isso. - Alexis falou saindo do meu abraço e me deixando curiosa.
Ela retirou um anel que sempre usava e me entregou.
- Você aceita? Sei que é feio mas prometo que vou te dar outro.
- Adorei, obrigada!
Dei-lhe um abraço apertado após colocar ele em meu dedo, eu me sentia muito feliz. O abraço se desfez e eu a puxei para um novo beijo, tinha minhas dúvidas se não era um sonho, e se fosse eu aproveitaria pouco mais. Mas um batida na porta me fez dar um salto de susto. Alexis sorriu me acalmando e abriu a porta. Uma menina muito bonita estava ali, cabelos longos e olhos cor de mel. Ela parecia muito com a Alexis, o que me fez perceber que só podia ser a sua irmã.
- Nati, essa é Gabrielle. - Alexis me apresentou.
- Oi, me chamo Natália, mas pode me chamar de Nati. - Me estendeu sua mão em cumprimento.
- Pode me chamar de Gabi se preferir.
Ficamos conversando por algum tempo, acabamos nos damos muito bem.
Aquele foi o melhor dia que já tive. Antes da festa ela me apresentou a sua mãe sem me dar título. A festa foi muito boa apesar de ter ficado com muita vergonha, aproveitei bastante. Alexis não saiu do meu lado em momento algum. Demos algumas fugidas para roubar uns beijos uma da outra. Minha preocupação era seus pais, mas ela falou que eles sabiam dela e a apoiavam muito. Talvez por isso não falaram nada de ficarmos de mãos dadas.
Os dias que se seguiram foram incríveis, apesar das provas difíceis que tive. Alexis estava cada vez mais fofa, nós estávamos passando ainda mais tempo juntas.
Em uma tarde ela estava em meu apartamento para estudar. Fui até a cozinha pegar um suco, e quando voltei encontrei ela em pé segurando uma rosa vermelha. Alexis veio em minha direção, tirou os copos da minha mão e a segurou. Antes que eu pudesse falar algo ela começou.
- Dra. Silver, - falou toda eufórica. - Aceita ser minha namorada?
A minha surpresa foi tanta que paralisei. Levei alguns segundos para voltar a mim, ela me olhava ansiosa pela resposta. Aos poucos seu sorriso ia dando lugar a uma expressão de preocupação.
- É claro que aceito. - Respondi a puxando para um beijo.
Ela sorriu aliviada, tirou uma caixinha do bolso a abrindo, deixando a mostra duas alianças prateadas. Segurou minha mão retirando o anel que tinha me dado antes e colocando a aliança. Coloquei a outra aliança em seu dedo. Demos outro beijo apaixonado.
- Eu queria te pedir em namoro no dia do nosso primeiro beijo, mas achei que seria muito rápido e te assustaria.
- Devia ter pedido, eu aceitaria sem nem pensar. - Ela abriu um grande sorriso.
- Sabia que devia ter seguido meus instintos. - Rimos juntas do seu comentário.
- O que importa é que estamos juntas.
- Verdade.
Ficamos o restante da tarde trocando carinhos.
Contei para Crystal toda eufórica no dia seguinte, ela me dava os parabéns. Tudo parecia um conto de fadas, meu medo era acordar e ter sido um sonho.
Algumas semanas depois, Crystal veio morar comigo. Alexis achou ótimo. Nosso relacionamento estava muito bem. E nos finais de semanas passamos mais tempo juntas. Nem todos porque os estudos exigiam muito de nós, principalmente da Alexis que estava no quarto ano.
Já passava dos três meses desde o início do namoro. Nos encontramos no refeitório como sempre.
- Tenho um convite e você não pode recusar. - Ela sempre falava assim.
- O que é? - Fiquei curiosa.
- Meus pais vão viajar esse final de semana. Eu vou ficar sozinha com a minha irmã. - Ela me olhava toda pidona. - Vem passar final de semana comigo, não passamos o último juntas mesmo.
Concordei para alegria dela. Chegando em casa contei para Crystal.
- Uhh, vai ter então. - Ela me olhou maliciosa. - Prepare o corpinho ai.
Fiquei igual um pimentão.
- Para como isso.
- To falando a verdade. Eu não cheguei nessa fase ainda, então isso é tudo que posso dizer para te ajudar.
Crystal percebeu que me deixou nervosa e tentou me acalmar.
- Olha vocês tem boa comunicação, conversa com ela sobre isso. Sei que é um pouco constrangedor, mas vocês são namoradas.
Ela estava certa. Um dia antes de ir para casa da Alexis eu a chamei para vir na minha para conversarmos. Crystal estava trabalhando.
- Então amor, o que queres de mim? - Ela brincava.
- É algo bem... Não sei como falar. Na verdade eu tô é com vergonha. - Confessei sem saber como começar.
- Sexo? - Ela perguntou com toda a naturalidade do mundo.
Pela minha expressão ela entendeu que sim.
- Olha, não precisa se preocupar sobre isso. Não vou lhe apressar. - Ela falava segurando minha mão me passando confiança.
- Eu nunca fiz com ninguém, não sei o que devo fazer. - Falei envergonhada.
- Está tudo bem. - Ela colocou as mãos nos meus ombros. - Se quiser perguntar alguma coisa, pode perguntar. O que eu não puder te ajudar, a gente pesquisa.
- Você já?
- Sim. - Hesitou um pouco. Talvez pensou que eu ficaria magoada. - Minha primeira vez foi com um homem.
Eu não esperava por isso. Mas não muda nada.
- Você sabe como é a sociedade. Nos faz achar que o certo são casais heteros. Foi apenas uma vez, e quando rolou eu percebi que não era aquilo que queria. - Ela me olhava preocupada esperando uma reação minha.
- Está tudo bem. - Foi minha vez de segurar suas mãos.
- Também namorei uma mulher por uns 7 meses. Foi com ela que tive minha primeira experiência com uma mulher, e a única também. Fazia quase dois anos que não ficava com alguém, quando te conheci.
- Eu só fiquei com uma moça, bem rolou só alguns beijos e o primeiro beijo foi com garoto em um jogo idiota de verdade e desafio.
Ela riu eu a acompanhei deixando clima mais leve. Nós conversamos mais depois. Me senti mais à vontade com ela.
No sábado fui para sua casa como combinamos. Cheguei lá e seus pais já tinham saído.
- Oi. - Natália me cumprimentou. Nos dávamos bem apesar de nos vermos muito pouco.
Ela fazia cursos de língua estrangeira e natação. Era difícil estar em casa.
- Escolhe um. - Ela me mostrava alguns filmes no seu notebook.
- Votação! - Alexis gritou na cozinha.
- Seja mais legal com a sua namorada. - Natalia a provocava.
- Eu sou. - Afirmou vindo da cozinha equilibrando três grandes potes de pipoca nos braços. Fui ao seu socorro.
- Obrigada, amor. - Me deu beijo de agradecimento. - Pega nossas bebidas, Nati.
- Tô indo.
Foi uma tarde divertida, demos muita risada. A noite chegou e fomos para a cozinha fazer o jantar. Natália insistia em pedir pizza com medo de colocarmos fogo na casa. Por fim ela cedeu e foi ajudar. A noite foi ainda mais divertida.
- Fui! - Disse Natália indo para o quarto dormir. - E juízo meninas! - Ela lançou um olhar malicioso.
Alexis arrumou a cama para gente no quarto dela. Deitei e fiquei a observando enquanto ela procurava outra coberta em seu guarda roupa. Depois de uma procura rápida, ela achou.
- Seus pais sabem que eu viria?
- Sim. - Ela deitou do meu lado. - Eles são tranquilos, não se preocupe.
Nós ficamos um tempo em silêncio. Apesar da conversa de antes, ainda estava pouco nervosa de estar tão próxima assim dela. Mas também sabia que eu ditaria as regras e ela me respeitaria. Alexis se levantou apoiando sobre um dos braços, começou a fazer carinho em meu rosto. Me virei para ela admirando cada detalhe em sua face, apesar da pouca claridade ainda conseguia ver seu grande sorriso.
- Alexis, eu te amo muito.
Antes que ela retribuísse minha palavras a puxei para um beijo leve e gentilmente. O beijo foi se intensificando aos poucos. Senti meu coração acelerar e meu corpo esquentar quando ela levou a mão em minha barriga e subindo um pouco minha blusa. Estava quase perdendo o fôlego quando nossos lábios se separaram. Nos olhamos por alguns segundos. Eu a desejava muito. Queria me sentir amada e amá-la por completo.
- Você quer continuar? - Sua voz estava rouca.
- Sim.
- Se quiser parar em algum momento, é só me falar, ok?
Confirmei e ela voltou a me beijar. Com todo carinho ela me amou. E eu retribui todo seu carinho. Aquela noite demoramos a pegar no sono.
**********
Acordei com umas batidas na porta.
- Não vão levantar não? - Era Natália.
- Não sei! - Alexis respondeu irritada.
Ouvi som de passos diminuindo. Natália havia ido embora.
- Bom dia, meu amor. - Falou gentilmente.
- Bom dia, amor. - Respondi ainda sonolenta.
Ela me deu um selinho e se levantou pegando as roupas espalhadas pelo quarto. Me entregou as minhas e foi em direção ao banheiro. Eu fiquei admirando até ela sair da minha visão. Ela voltou toda vestida. Deitou do meu lado me abraçando.
- Eu quero acordar todo dia assim. Do seu lado.
- Eu também quero dormi ao seu lado todas as noites. Amo você. - A beijei carinhosamente.
A cada dia que passava ao seu lado era especial, e me apaixonava cada vez mais por ela. Nunca pensei que podia ser tão feliz.
**********
No ano seguinte, Crystal passou na prova da polícia. Natália foi para outra cidade fazer faculdade. O que deixou Alexis um pouco para baixo, ela dizia que a casa ficou mais vazia. Acabei passando mais tempo com ela. Passava mais tempo em sua casa que na minha, o que me fez ficar mais próxima também de seus pais, eles eram uns amores comigo. Nosso relacionamento estava perfeito. Melhor só se morássemos juntas, o que provavelmente não demoraria a acontecer se dependesse de mim.
**********
O tempo passou muito rápido, pelo menos para mim foi assim. Talvez porque tivesse vivendo quase um conto de fadas com o meu amor. Até minhas férias passei com sua família em uma viagem que me levaram, foi maravilhosa. Alexis foi para especialização. Ela seria cirurgiã como eu. Nós tínhamos o mesmo sonho de ser cirurgiãs reconhecidas. Eu já sonhava em um dia dividir a sala de operação com ela. Alexis terminou a faculdade com as melhores notas de sua turma. Me motivando a fazer melhor. No começo foi difícil não ver mais ela na faculdade todos os dias. Alguns meses depois seu pai lhe deu um apartamento. Eu fui morar junto com ela e levei Crystal.
Nós nos divertíamos muito. E o tempo voava talvez por estar tão perfeito. Acordar ao lado da Alexis todos os dias era melhor do que qualquer sonho.
Crystal nos surpreendeu um dia trazendo sua namorada, Amabelle, para conhecermos.
Nos demos muito bem e viajávamos todas juntas sempre que podíamos. Aproveitamos cada minuto.
As avaliações da Alexis se aproximavam. Suas notas influenciaram muito em qual hospital iria fazer sua residência. Havia dois na cidade e nosso plano era ir para o mesmo. Não queríamos no separar mais. Ela arrasou em tudo e entrou no hospital que queria. Agora faltava eu conseguir o mesmo.
Ela estava três anos na minha frente. No meu último ano na faculdade, fiz como ela e fui a melhor da minha turma. No ano seguinte fui fazer a especialização.
Ela já trabalhava como médica interna no hospital Álvaro Fontes. O que me fazia ter um pouco de inveja. Também foi a pior época para nós, seus horários eram malucos. Ela chegava exausta sempre.
Naquele ano, Natália se casou. E para nossa surpresa, Crystal e Amabelle também anunciaram que se casariam alguns meses depois.
Depois do casamento, Crystal foi morar no apartamento de Amabelle. Era estranho a casa sem ela, levei algum tempo para acostumar.
Alexis chegava sempre cansada. Eu já deixava suas roupas arrumadas para o banho e comida pronta. Ela não parava de dizer que eu era amor da sua vida.
Decidimos que íamos nos casar quando eu terminasse o primeiro ano como interna. Não tinha porque ter pressa, já éramos um casal. Era apenas para oficializar.
Então chegou meus exames finais. Fiquei com medo de não conseguir passar na seleção de um dos hospitais da cidade, não queria me mudar e deixar Alexis sozinha.
Quando recebi aprovação do hospital Álvaro Fontes comecei a chorar de felicidade. Alexis me abraçava chorando também.
Meu primeiro ano como interna foi o mais difícil de todos. E como a Alexis eu chegava em casa detonada. Ela já era residente do quarto ano. Nossos horários eram loucos e ficar em casa juntas era muito difícil. Mas sabíamos que no final seríamos recompensadas.
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Aquele ano foi muito cansativo, mas passou rápido. Logo as provas do internato chegaram e passei sem muita dificuldade.
Dias depois do resultado sair, não tínhamos tocado assunto de casamento. Nosso plano era marcar o casamento depois das provas, mas agora que elas acabaram, ainda não tínhamos conversado sobre o assunto. Moramos juntas a um bom tempo. Por isso não me preocupava muito. Além do mais, a Alexis tinha dito que queria fazer algo especial sobre isso. Eu estava muito curiosa, mas não perguntava sobre.
Saí do hospital à noite exausta, depois de um longo dia. Fui para casa torcendo para Alexis ter feito o jantar, já que estava de folga naquele dia. Além do cansaço a fome era gigante.
Abri a porta encontrando tudo escuro. Achei estranho que Alexis já tivesse ido dormir. Ainda era cedo e ela trabalharia a tarde no dia seguinte. Quando cheguei na cozinha percebi que a luz do quarto estava acesa. Me aproximei do quarto abrindo a porta lentamente. Assim que vi seu interior, meu coração parou. A cama se encontrava coberta de pétalas de rosas vermelhas. Nesse momento fui abraçada pelas costas e recebi um beijo no pescoço.
- Boa noite, meu amor. - Falou Alexis em meu ouvido.
- Boa noite. - Me virei de frente para ela. - O que é isso? - Ela segurava um buquê de rosas em uma das mãos.
- Meu pedido de casamento. - Me entregou as flores e se ajoelhou. -Dra. Gabrielle, aceita ser minha esposa? - Abriu uma caixinha onde se encontrava duas alianças.
Já estávamos juntas a mais de 7 anos e ela ainda conseguia me deixar sem fôlego.
- Me deixa pensar se aceito. - Falei brincando com ela.
- Não faz isso com meu coração. - Alexis falou ainda ajoelhada.
- Eu te amo, e é claro que quero ser sua esposa.
Um imenso sorriso se fez no rosto da Alexis. Ainda de joelhos ela colocou uma aliança em minha mão, deu um beijo nos meus dedos e se levantou.
Como ela, me ajoelhei e coloquei a outra aliança em sua mão, a imitando.
- Você é tudo para mim. Sua felicidade é a minha, estar ao teu lado é o maior presente que a vida podia me oferecer. Estes anos ao seu lado foram os melhores que tive. Eu te amo, Gabrielle.
As lágrimas começaram a cair em meu rosto.
- Eu também te amo muito, Alexis. - Tentei segurar as lágrimas sem sucesso. - Você é o meu mundo. Esses anos ao seu lado foram incríveis.
No final estávamos as duas chorando. Foi uma noite inesquecível. Um jantar maravilhoso feito por ela e uma noite cheia de amor e carinho.
**********
Faltava menos de um mês para o casamento. Estava totalmente empolgada. Tudo estava perfeito. Crystal e Amabelle nos ajudava, porque tempo era algo raro para nós. Durante esses anos nossa amizade só aumentava.
Natália era mais empolgada com o casamento.
- Ufa, até que enfim. - Ela irritava a irmã. - Vocês duas foram as primeiras a começarem a namorar e vai ser a últimas a se casarem. Sete anos enrolando a coitada, irmã.
Alexis fazia careta para ela e todos riam.
Conseguimos 20 dias de folga. Iríamos sair dois dias antes e depois aproveitar a lua de mel em Buenos Aires, que foi um presente dos meus sogros maravilhosos. Eles me consideravam da família, Alexis dizia que eu já era mais amada que ela na sua casa.
Quanto mais chegava perto da data, mais nervosa eu ficava. Tentava me concentrar no serviço, ele ajudava um pouco.
**********
Faltava uma semana, para tão esperada data.
- Essa semana vai ser longa, hein? - Mi falava sorrindo pra mim. - Muito ansiosa?
- Bastante. - Respondi.
Estávamos de plantão aquela noite. Alexis foi para casa. Eu saí e deixei tudo arrumado para ela chegar, tomar um banho, comer e dormir.
Ela estaria de folga no próximo dia, então ia aproveitar para ficar o máximo que podia com ela. Já que nossos horários não iriam bater mais até o casamento. Fui embora quando sol já tinha nascido. Cheguei em casa e fui direto para o banho. Saí enrolada na toalha e fui para o quarto me vestir. Abri a porta e Alexis dormia profundamente. Me vesti e me sentei ao seu lado. Fiquei ali a observando por algum tempo. Por fim me deitei ao seu lado e dormi também.
- Acorda, amor. - Alexis me chamava gentilmente. - Fiz almoço. Vamos comer?
Me levantei sonolenta.
- Já vou. - Fui ao banheiro fazer minha higiene pessoal.
Cheguei na cozinha e o cheiro bom me despertou de vez. Eu estava com muita fome.
Depois que comemos, deitamos no sofá da sala para ver um filme. Ficamos ali até de tarde. Era um dia agradável, fazia um pouco de frio. O que para mim era mais que perfeito. Me virei no sofá e abracei Alexis, que parecia um pouco entediada com o novo filme que passava. Beijei seu rosto chamando sua atenção.
- Já te falaram que você é muito gata? - Falei provocando um sorriso em seu rosto.
- Hmm, que eu me lembre, hoje não. - Tentou fazer uma expressão séria.
- Então eu digo: você é mulher mais gata do mundo! - A beijei intensamente.
- Amor, eu quero você. - Ela cochichou em meu ouvido maliciosa.
Nem respondi fomos direto para o quarto.
Quando olhei o relógio, me surpreendi com o horário.
- Nossa já são quase 23h. - Falei surpresa.
- Sério? Vamos pedir uma pizza?
Concordei e 40 minutos depois ja estávamos comendo na cama mesmo.
Dormimos abraçadas depois de nos amarmos novamente.
**********
Fomos juntas para o hospital no dia seguinte. Era um dia normal como outro qualquer. Acompanhei uma cirurgia assim que cheguei. Tava empolgada, amava ver os doutores mostrando suas habilidades.
- Gabrielle. - Ouvi a voz da minha noiva.
Me virei e vi ela vindo em minha direção esboçando um grande sorriso de felicidade.
- Me pediram para buscar um coração. - Ela falava toda empolgada. - Sozinha. E depois vou participar do transplante, então vou chegar tarde.
- Tudo bem. Vou deixar um pouquinho de comida para você. - Rimos juntas.
- Te vejo a noite. Amo você.
- Também te amo. Arrasa!
Ela saiu feliz. Eu a olhei até ela virar o corredor.
O restante do dia foi tranquilo. Fui embora em meu horário. Chegaria em casa e já começaria a fazer o jantar para Alexis.
Deixei a comida pronta. Sentei no sofá olhando o celular. Alexis ainda não havia lido minha última mensagem, provavelmente seu celular descarregou. Acabei pegando no sono e só acordei quando o celular tocou.
- Alô.
- Dra Silver. Quem fala é o Eduardo, chefe de cirurgia. Você poderia vir ao hospital agora?
- Sim, senhor.
Olhei o relógio, era mais de meia noite. Não era normal nos chamar essas horas, deve ser alguma emergência. Na correria para sair, esqueci meu celular. Mas Alexis devia estar lá no hospital, então não voltei para pegar.
Cheguei no hospital e encontrei o chefe me esperando.
- Me acompanhe até minha sala, Silver.
O que aconteceu? Iria me despedir? Mas eu havia passado na prova. Meu coração ficou apertado. Não queria ficar longe da Alexis.
- O que eu fiz? - Perguntei quando ele fechou a porta do escritório.
- Nada, Silver.
- Então o senhor não vai me demitir? - Perguntei confusa.
- Não vou. - Ele tinha uma expressão triste. Uma onda fria horrível tomou meu corpo.
- O que aconteceu? - Minha voz saiu trêmula.
- Sente-se, por favor. - Ele me apontou a cadeira.
O desespero já havia tomado conta, algo ruim tinha acontecido. Pelo seu olhar, sabia que iria me falar algo terrível.
- Vou direto ao ponto. Eu sinto muito em lhe informar que o avião que levava a Dra. Alexis Garcia sofreu um acidente no caminho. Infelizmente não houve sobreviventes.
Suas últimas palavras foram ficando longe. Não era possível. Não podia estar acontecendo.
Não consegui ouvir mais nada e sai da sala quase correndo. Sentia minha garganta fechando enquanto um desespero enorme me tomava. Saí sem rumo. Quando percebi estava do lado de fora do hospital. Me sentei em um banco que havia ali, meu estômago revirava. Perdi a noção do tempo, voltei a mim quando ouvi alguém gritando meu nome.
- Gabrielle! Gabi! - Era Michele ela tinha os olhos cheio de lágrimas.
Me abraçou com força sem falar nada e se sentou do meu lado.
- Quer que eu ligue para Crystal? - Falou um bom tempo depois.
- Não sei.
- Quando você quiser me fala. - Concordei sem olhar para ela momento algum.
O dia estava clareando. Tinha ficado ali a noite toda. Olhei para o lado e Michele quase dormia ao meu lado, ela não quis me deixar sozinha.
- Quero ir pra casa. Pode me levar, por favor?
Concordou de imediato, ela estava exausta.
- Vou ligar para Crystal, não quero te deixar sozinha. - Disse quando chegamos. Ela ia descer do carro, mas eu a impedi.
- Não precisa, você está cansada. - Ela fez menção de falar algo, mas interrompi de novo. - Assim que você ligar para a Crystal, vai levar 10 minutos para ela chegar. E você tem que dormir.
Ela me observou um pouco e por fim aceitou.
Fui pelas escadas não queria ver ninguém.Ao entrar em meu apartamento uma onda de desespero foi tomando conta do meu corpo. Aquilo tudo tinha que ser mentira. Peguei meu celular e olhei para mensagem que havia enviado para Alexis. Ela não havia recebido ainda. E nunca a receberia.
Meu amor havia me deixado. Aquele sorriso era minha última lembrança dela. As últimas palavras dela, “Amo você”. Fiquei ali olhando sua foto me sentido como se estivesse sendo rasgada por dentro.
Ouvi alguém batendo na porta, mas me faltava forças para levantar e ir abrir. Antes de conseguir me levantar para atender Crystal entrou correndo.
- Eu soube. - Falou chorando e me abraçou.
- Quero sair daqui. - Falei depois de alguns minutos.
Não conseguia ficar mais ali. Cada detalhe naquele apartamento me lembrava ela.
Crystal me levou para seu apartamento. Me preparou um chá que não consegui tomar, parecia que algo estava entalado em minha garganta. Ela chorava o tempo todo.
Apesar da dor horrível que senti não consegui chorar, eu ainda não havia derramado uma lágrima. Sentia como se estivesse me afogando aos poucos no desespero que sentia. Talvez essa dor não me deixasse chorar.
Crystal deitou no sofá ao meu lado me puxando com ela, me fazendo deitar em seus braços. Ficamos assim por algum tempo. Ouvi alguém na porta. Era Amabelle que havia chegado.
- Amor. - Ela falou animada. - Comprei aqueles doces que você gosta.
Ela parou de falar quando nos viu no sofá.
- O que aconteceu? - Sua expressão era de surpresa. Outra pessoa poderia tirar outras conclusões, mas Amabelle não era assim. Crystal não conseguia falar, cada vez que tentava as lágrimas a impediam.
- Alexis morreu. - Respondi e ao mesmo tempo que falei senti meu estômago se revirar.
Ela me encarou. Talvez esperando ser pegadinha. Mas vendo choro da sua esposa e meu desespero ela teve sua confirmação.
- Como isso aconteceu? - Ela tava paralisada no mesmo lugar.
- Acidente de avião. - Sua esposa respondeu.
Assim que ouviu a resposta, ela começou a chorar. Me abraçou agitando a cabeça desejando que fosse mentira.
Algum tempo depois ouvi meu telefone tocar. Era do hospital. Seu corpo havia sido resgatado. Eu sabia o procedimento. Alguém tinha que ir reconhecer o corpo.
- Você não vai. - Crystal implorava.
- Tenho que ir. Não posso deixar que mãe dela a veja assim.
- Mas você também não devia. - Ela rebateu.
- Eu vou ficar bem. Cuide da Amabelle. - Ela soluçava de tanto chorar. - Vou pedir para Michele me levar. - Saí antes que ela pudesse falar mais alguma coisa.
Desci as escadas com uma mão apertando meu peito que parecia que ia explodir. Esperei Michele chegar na rua.
Assim como Crystal, ela também insistiu para eu não ir, mas sabia que tinha que fazer isso. Por mais doloroso que fosse ver o corpo da pessoa que eu amava sem vida, e provavelmente muito machucado.
Quando entrei na sala de espera, vi o pai da Alexis. Naquele momento eu lembrava da primeira vez que o vi, na festa de aniversário da Natália. Como tempo podia passar tão rápido. E agora tudo tinha acabado. Nossos planos, sonhos, tudo. Respirei fundo e fui ao seu encontro. Ele não conseguia falar estava muito arrasado.
- Gabrielle. - Natália me chamou. - Minha mãe desmaiou e levaram ela para o quarto. Falaram que alguém tem que ir reconhecer o corp...
Ela não conseguiu terminar. Tentava conter o choro sem sucesso.
- Eu vou. - Falei a abraçando. - Eu fui a última de nós que esteve com ela.
Ela tentou me falar algo, mas desistiu.
Um senhor do necrotério me levou até onde estavam os corpos.
- Tem certeza que quer fazer isso sozinha, doutora?
Confirmei que sim ele não insistiu. Assim que saco preto foi aberto tudo começou a ficar embaçado. Meu mundo acabou ali.
- É a Dra. Alexis Garcia. - Confirmei ao ver rosto muito ferido mas ainda reconhecível da mulher que amava.
Era a última vez que eu a olhava. Nada mais me fazia sentido. Comecei a ficar tonta. Me sentaram em uma cadeira, mas tudo girava. Eu nunca mais ouviria sua voz de novo. Não era justo, fechei meus olhos tentando me lembrar dela, meu estômago doía. Senti tudo a minha volta desaparecer.
Acordei em uma cama do hospital. Estava tomando soro. Amabelle estava sentada meu lado.
- Oi você está melhor? Falaram que sua pressão caiu muito, e você desmaiou.
- Estou sim. - Tentei acalmá-la.
Depois de liberada, fui para casa dela. O enterro seria no dia seguinte às dez horas da manhã. Eu pedi que fosse enterrada com o vestido de noiva e as dua aliança que eram minhas e fiquei com as suas.
Aquela noite também não consegui dormir. Crystal e Amabelle foram ao velório comigo. Eu não conseguia falar. Vi o caixão sendo abaixado e senti como se estivesse enterrando uma parte minha junto. Fomos embora. Crystal era quem dirigia. Eu ficaria com elas por enquanto, não tinha mais forças para entrar no meu apartamento.
O caminho todo de volta eu fui me lembrando da primeira vez que a gente se falou. Lembrei também do nosso primeiro beijo do pedido de namoro. Tudo estava tão vivo dentro de mim. Cada detalhe, cada cor era como se tudo tivesse acontecido um dia antes. Eu sentia algo me corroendo por dentro.
Quando chegamos, Amabelle foi fazer algo para nós comermos. Eu fui tomar um banho.
Entrei no banheiro encostei a porta e fiquei me olhando no espelho. Tava com olheiras e cara de doente. Ela ia brigar comigo por não me cuidar.
- Eu te amo muito. Sinto sua falta, meu amor. Como vou viver sem você agora?
Falei para minha imagem no espelho e as lágrimas começara a cair. Eu não consegui mais conter o choro. Sentei com as costas na parede e chorei tudo o que não tinha chorado ainda. Crystal entrou se sentou ao meu lado me abraçando.
- Pode chorar, irmã. Coloque tudo para fora. Eu vou ficar aqui com você.
Levei semanas para voltar a comer direito. Minha família não veio para o velório. Só me ligaram para saber se eu estava bem. Os pais da Alexis me deram o apartamento dela, mesmo eu não querendo. Mas era impossível para mim voltar a morar naquele lugar.
Eu o vendi e comprei outro no mesmo prédio da Crystal. Seus pais também pediram para legalizar nosso casamento, sendo assim recebi seu sobrenome e ela o meu.
Tudo havia desmoronado, foi como reaprender a viver depois de tudo. Mas aos poucos fui voltando a minha rotina. Levei 3 meses para volta a trabalhar no hospital.
O vazio que sentia era gigante. Acordava toda manhã olhando para o lado da cama vazio, a saudade me corroía.
A mãe da Alexis, Roseli me falou algo que mexeu muito comigo.
"Eu como mãe, posso dizer que em toda sua vida, os anos dela ao seu lado foram os mais felizes. Obrigada por ter feito minha Alexis feliz até o último dia."
Suas palavras tiveram grande peso para mim. Me ajudou muito a seguir em frente, mas ainda senti que uma parte minha havia morrido com ela. As alianças dela estavam em meu peito. Aquele colar me lembrava todos os dias de como ela tinha me feito feliz. E que devia seguir em frente por nós duas. Realizaria seu sonho e o meu, me tornaria uma cirurgiã famosa. Era o sonho que compartilhamos.
Autor(a): GolDKler
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Nota da autora: Chegamos ao último capítulo. Espero que esteja bom. Eu odeio chegar no fim de alguma história, mas também não gosto que elas não tenha fim. Vai entender. Uma ótima leitura ^^ _______________________________________________________________ Karine Era quase 17 horas quando Dr. Everton saiu da cirurgi ...
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