Fanfic: A Criada Francesa | Tema: Sherlock Holmes

- Eu ainda morava com os Armstrongs quando tudo aconteceu. – começou Corine Bennet. –Todos fomos acordados por batidas na porta durante aquela madrugada. O Sr. Armstrong foi ver quem era, mas não conhecia aquele homem estranho que carregava um bebê e tinha as roupas sujas de sangue. Quando me aproximei e vi de quem se tratava, fiquei surpresa e disse que era um conhecido meu, mas o dono da casa não permitiu que ele entrasse.

“O Sr. Armstrong não era bobo e obviamente percebeu que havia algo errado, mas não quis se envolver. Ele sabia que a mera visão daquele sangue poderia significar ser obrigado a ter uma conversa com a polícia futuramente e isso ele não queria de modo algum. Preferia não chamar a atenção para o seu estabelecimento.”

“Ele ordenou que as outras moças voltassem para seus quartos enquanto eu saí para falar com o Sr. Vincent na calçada. Foi só aí que vi que o bebezinho estava envolto em uma blusa, que reconheci como sendo de Juliette e fiquei preocupada.”

“O Sr. Vincent estava muito assustado e não dizia coisa com coisa. Eu nunca o havia visto tão transtornado. Sem saber o que fazer, tomei o bebê em meus braços e tentei fazê-lo parar de chorar. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas entendi que se aquele era mesmo o bebê da minha amiga, significava que algo ruim havia acontecido naquela noite. Contudo, sequer pude fazer perguntas, porque quando me dei conta, Vincent já havia desaparecido.”

“Quando voltei para dentro, expliquei que o bebê era filho de uma amiga e que eu precisaria ficar com ele por algum tempo. Os Armstrongs não se incomodaram, afinal havia outras crianças na casa e aquela seria apenas mais uma. Não haveria problemas se eu continuasse trabalhando como sempre tinha feito e arcasse com todas as despesas. Então, depois de limpar o bebê, eu o enrolei em uma manta e vim até a Mansão Hyde, mas ninguém me atendeu. Voltei para a casa com a criança e esperei que o dia amanhecesse. Retornei à mansão, e dessa vez me disseram que Juliette tinha ido embora durante a madrugada, sem se despedir de ninguém, e que tinha levado o jardineiro junto, mas eu sabia que não era verdade.”

“Ela era minha melhor amiga e confidente e eu sabia que o filho era do Sr. Hyde, mas também sabia que ela estava tendo dificuldades com a família e que o próprio Sr. Hyde não pretendia assumir o filho. Depois disso eu fiquei com medo, porque se Juliette tinha pedido ao Sr. Vincent que me entregasse o bebê naquelas circunstâncias era porque, por algum motivo, ela não poderia fazer isso, e esse motivo deveria ser muito sério. E o mais estranho de tudo é que, na mansão, pareciam não estar dando muita importância para o assunto.”

“Pensei que ela viria para buscá-lo, mas os dias foram passando e ela não veio. Então eu tive certeza de que algo ruim realmente tinha acontecido, mas jamais conseguiria provar. Qual o poder de uma prostituta contra uma das famílias mais influentes do país?”

“Eu fiquei muito triste pela minha amiga, mas naquele momento eu tinha algo mais imediato para me preocupar, que era o bebê. Ele era bastante pequeno e frágil, porque tinha nascido prematuro, mas logo percebi que tinha muita vontade de viver. Apesar das dificuldades, com o tempo ele foi ganhando peso e crescendo, e eu fui me afeiçoando cada vez mais a ele. Eu era uma pessoa sozinha, e o Jules veio para me fazer companhia e me incentivar a dar um jeito na minha vida e conseguir sair daquele lugar de uma vez por todas, assim como Juliette havia feito.”

- E porque você não disse a verdade, quando a Sra. Renard foi procurá-la? – perguntei.

- Por medo... e por egoísmo. – respondeu, envergonhada. – Primeiro por medo de que ela fosse esmagada por aquela família se soubesse da verdade e tentasse expor ao mundo que seu neto era o herdeiro legítimo da fortuna dos Hydes e depois, por medo de que ela me tirasse o bebê que eu já amava como se tivesse nascido de meu ventre. Hoje eu me arrependo de não ter dito a verdade, e não ter dado a oportunidade para que ela segurasse o neto no colo. Eu não tenho mais como me redimir com a Sra. Renard, mas peço perdão ao senhor, Sr. Renard. Peço que me perdoe por ter escondido tudo o que eu sabia quando vocês vieram procurar pela Juliette. Espero que um dia possa me perdoar pela minha covardia.

Ao revelar a verdade, Corine Bennet não conseguiu conter as lágrimas e chorou. Ela se levantou na intenção de se ajoelhar perante Gilbert Renard, mas o rapaz foi mais rápido e a impediu que fizesse aquilo.

- Não há nada que perdoá-la, ao contrário, eu preciso agradecê-la. – disse o rapaz, bastante emocionado. – Agradeço à senhorita e ao Sr. Vincent, porque é graças a vocês, que uma parte da minha irmã, que sofreu tanto nessa vida, ainda está aqui conosco. Só de olhar para ele, eu tenho certeza de que o Jules teve uma boa vida até aqui graças a você. Uma vida muito melhor do que a minha mãe poderia ter dado naquela época. Ao nosso lado ele só teria enfrentado pobreza e sofrimento. Merci infiniment.

Ao dizer isso, Gilbert Renard a abraçou e a confortou, fazendo com que as lágrimas de Corine, que antes eram de vergonha, se transformassem em lágrimas de alegria e alívio. Ela certamente, devia ter passado todos aqueles anos pensando que seria odiada quando a verdade viesse à tona, mas estava enganada. As lágrimas que rolaram molharam o ombro do irmão de sua amiga, e quando o abraço finalmente se desfez, Gilbert Renard voltou-se para o garoto, que ainda parecia não compreender muita coisa do que estava acontecendo naquela casa.

- Eu posso te dar um abraço também? – perguntou o rapaz ao menino.

- Vai lá, filho. Ele é o seu tio Gilbert. – encorajou, a mulher.

O menino, ainda tímido, se levantou e foi na direção do tio, que se ajoelhou e lhe deu um abraço bem apertado e demorado. Dessa vez foi o francês quem não conseguiu conter a emoção ao abraçar o sobrinho.

Ethan Hyde observava tudo em um silêncio envergonhado, até que finalmente tomou coragem para falar.

- Embora eu saiba que não mereça, eu também preciso pedir perdão, Sr. Renard.

Ao ouvi-lo, Gilbert Renard soltou o sobrinho, que voltou para junto da mãe. O rapaz se pôs de pé novamente e olhou para Ethan Hyde, mas não disse nada. Quem continuou falando, foi o empresário.

- Eu também fui um covarde e por minha covardia, a única mulher que eu realmente amei em minha vida está morta e só estou conhecendo meu filho agora. Peço perdão por tudo o que o senhor e a sua mãe tiveram que passar durante todos esses anos sem saber o que havia acontecido dentro dessa casa. Nada do que eu disser ou fizer vai apagar o passado ou trazer Juliette de volta, mas eu prometo que a partir de hoje, farei o que for preciso ao menos para tentar remediar parte do meu erro.

Gilbert Renard deu um suspiro triste e longo antes de começar a falar.

- Quem mais sofreu em toda essa história não fui eu ou a minha mãe, e sim a Juliette. Era a ela a quem o senhor deveria pedir desculpas, mas agora já é tarde demais. – falou o rapaz, duramente. – De minha parte, não posso dizer que o perdoo, porque não sou uma pessoa tão boa assim. O que posso dizer é que foram muitas revelações na noite de hoje e eu ainda preciso de algum tempo para assimilar tudo. No entanto, também não posso dizer que o odeio, porque também é graças a você que hoje eu descobri que ainda possuo uma família. O senhor não pode ser responsabilizado pelas atitudes da sua mãe, e depois de conhecê-la, acho que nem ela mesma pode, pois para mim, ela me parece ser uma pessoa completamente desequilibrada mentalmente. Embora o senhor não tenha tido forças para enfrentá-la, não ficou de braços cruzados durante todo esse tempo, como eu imaginei que tivesse ficado, apenas não contratou a pessoa certa para ajudá-lo.

- É verdade. Se tivesse contratado o Sr. Holmes, como eu queria de início, certamente teríamos sido poupados de alguns anos de sofrimento. – concordou o empresário, com um leve sorriso. – Mas a Detetive Clifford fez um ótimo trabalho e foi quem conseguiu encontrar o Sr. Vincent no Bethlem. Infelizmente não há como mudar o passado, mas eu prometo que, de hoje em diante, não haverá mais segredos na mansão Hyde. A Flora Cosmetics certamente sofrerá um baque muito forte, mas o mundo saberá de tudo o que aconteceu aqui.

- Para mim isso já é um começo. – respondeu Gilbert Renard, estendendo a mão para àquele que, se a situação tivesse sido diferente, teria sido o seu cunhado.

Confesso que fiquei feliz, e até mesmo emocionado, ao presenciar aquela cena. Apesar de Juliette não estar conosco, uma parte dela havia sobrevivido e aqueles dois homens finalmente haviam encontrado alguma paz, que era algo que já buscavam há tanto tempo.

- Mas esperem um pouco. – disse Gregson, cortando todo o clima emotivo do momento. – De quais outros assassinatos você estava falando, Holmes?