Fanfic: À Prova de Som (Portinon) AyD | Tema: Portinon

16 anos de idade

Pouco tempo havia se passado depois do pequeno encontro entre elas e Christopher. Além do mais, apesar de serem vizinhas, as duas meninas não conseguiam se ver muito. Anahí estava envolvido no clube Glee, que por incrível que pareça, conseguiu reunir um número suficiente de participantes para competir nas regionais. Dulce por sua parte, havia se inscrito em um programa da escola para ajudar seus companheiros que tinham dificuldades para aprender inglês e também entrou em aulas extras de artes. Tudo para ter um bom histórico acadêmico. Queria entrar em uma boa universidade, de preferência em New York, onde sabia que sua melhor amiga queria estar.

Eram poucos os momentos que estavam juntas, mas sem dúvida, eram tão incríveis como sempre. A familiaridade que encontravam uma na outra era tranquilizadora em tempos difíceis. E elas só queriam conversar ou balançar-se no balanço de Anahí e até mesmo caminhar pelo centro comercial, sem Christopher, óbvio.

Mas agora já tinha passado três semanas desde a última vez que haviam conversado e Anahí sentia muita falta de Dulce.

Chegou em casa no final da tarde particularmente cansada, bateu na porta dos Espinozas, sendo recebida por Dulce, que misteriosamente tinha “escutado” a porta.

Atrás dela estava Blanca, com as unhas recém feitas, tentando desvendar o mistério. Anahí sorriu e abraçou Dulce, um daqueles abraços que fazem com que seu corpo relaxe completamente contra o da outra pessoa. Sem entrar em casa, sabendo que se ela entrasse não seria capaz de sair, e realmente tinha muito o que fazer.

- Anahí carinho... Porque não entra?

- Hoje não tia Blanca... Só vim cumprimentar e receber um abraço.

- Muito ocupada com a escola? Dulce me falou do seu grupo de música.

- Sim, temos as regionais nesta quinta. - Disse traduzindo para Dulce ao mesmo tempo.

- Oh! Tenho certeza de que será genial querida!- Falou antes de desaparecer pela grande casa, deixando as meninas sozinhas.

- Tão rápido?- Perguntou Dulce, ela sabia que a amiga ia participar, só não sabia que seria tão rápido e muito menos que seria em um dia de semana em que a maioria das pessoas trabalham ou estudam. Seus olhos procuraram com carinho as feições da loirinha. - Nervosa?

Anahí mordeu um pouco o lábio inferior e assentiu.

- No... Dulce começou a fazer sinais, mas a loirinha deteve suas mãos.

- Sei que tem o programa de inglês nas quintas à tarde, mas me encantaria que estivesse lá para mim. - Dulce olhou profundamente em seus olhos, mas Anahí sabia que também prestava atenção em suas mãos. - Haverá um grupo de surdos competindo com a gente.

- Hoverbrook?- A colônia tinha duas escolas para surdos, H. Keller onde Dulce estudava e Heverbrook.

- Sim...

- Bom, é claro que vocês vão ganhar, então... seu grupo teria que ser realmente horrível para perder para um grupo de meninos surdos...

- Dulce!- Anahi gritou golpeando seu ombro suavemente, incapaz de conter uma gargalhada. - Não seja má! - Falava enquanto traduzia com as mãos.

- Mas é verdade!

...

Quinta feira, dia das regionais

Horas e horas de ensaio para nada! Pensou Anahí, rasgou a programação e arremessou violentamente no lixo, bufando quando o papel em pedacinhos não caiu na lixeira. As canções que haviam preparado com tanto cuidado haviam sido roubadas pelos seus rivais e não podia estar mais frustrada.

- Ok Angel, tem alguma outra balada em teu repertório?- Perguntou tratando de manter a calma.

- Não. - Respondeu Angel do sofá. - O acordo era que ia cantar e estou te dizendo...

- Sim, mas na verdade...

- A verdade, Anahí.- Pablo à interrompeu seguro do que ia dizer. – É que você é a nossa melhor cantora.

- Mas...

- Vamos  Anahí, eu sei que tem uma música perfeita debaixo da manga... - Se intrometeu Tony que estava de pé ao seu lado com os braços cruzados.

Anahí sorriu contra sua vontade.

- Bom, tem algo que tenho trabalhado desde que tinha 6 anos...

- Muito bem! Assim que já temos um solo. Agora só temos que encontrar um número grupal. – Eddy juntou as mãos tratando de soar confiante.

- Acredito que tenho uma solução! - Disse Alfonso entrando na sala com uma pilha de partituras nas mãos.

- E tu onde estava? - Perguntou Cecília que nem sequer havia percebido a ausência do amigo.

- Entrei na sala dos juízes para imprimir isso...- Sorriu charmosamente para seus amigos, especialmente para Anahí, colocando as folhas na mesa. - Podemos ganhar com isso!

E o fizeram.

Anahí cantou como nunca antes, colocou toda sua alma na canção. Sua impecável atuação e mais a espontaneidade do número grupal os fizeram ganhadores do primeiro lugar com facilidade. Receberam o troféu e trocaram abraços no palco debaixo de uma chuva de pequenos pedaços de papel dourado. Foi bom ganha, quase mágico!

O grupo se dividiu para trocar de roupa depois da apresentação e combinaram de que se encontrariam no ônibus em uma hora. Anahí se vestiu sem pressa, abotoando seu vestido e pensando em ir a casa de Dulce para contar a novidade quando chegasse a Colônia.

Colocou seu casaco num braço e a bolsa no outro, deixando o camarim e topando com a pessoa que estava em seus pensamentos.

- Dulce!- Respirava com surpresa, sua amiga estava apoiada contra a parede em frente a porta do camarim. Estava linda como sempre, com o cabelo preso em um rabo de cavalo e um vestido azul com detalhes em dourado que brilhavam a pouca luz. - Você veio! Não te vi na plateia... – Fazendo sinais para logo em seguida fundir-se em um abraço termo com ela.

- Mas é claro que viria, é seu dia especial e você é especial para mim... - Sorriu e Anahí a abraçou de novo, incapaz de conter sua necessidade de contato.

- Obrigada!

- Na realidade eu só vim para ver o coro de surdos. - Fazendo os sinais de sarcasmo e Anahí deu língua em sua direção.

Caminharam lentamente até a porta de cristal. - Então, o que achou?

- Foi muito interessante.- Dulce caminhou de lado para vê-la melhor. - Estava tão linda! Só não gostei da seleção da canção.

- Porque não?- Anahí perguntou em voz alta enquanto traduzia. Dulce não respondeu, só levantou uma sobrancelha e os olhos da loirinha se abriram, dando se conta da ironia da declaração. Dulce sempre fazia piadas de surdos e Anahí sempre caía nelas, já que era muito difícil reconhecer o sarcasmo quando não há uma variação de voz para ajudar. As vezes Anahí esquecia que sua amiga não podia ouvir.

- Tem algo que quero te perguntar... - Disse Dulce um pouco ansiosa.

Anahí assentiu com um olhar curioso.

- Esse garoto alto e moreno é seu namorado?

- Alfonso?- Anahí riu em voz baixa. - Não! Mas acho que ele gostaria de ser.

- E você gostaria?

A loirinha pensou em ter visto uma sombra cruzar os olhos chocolates de sua amiga, mas provavelmente era sua imaginação. Se deteve a pensar se gostava ou não de Alfonso, era um bom amigo entre outras coisas. Já haviam saído juntos, mas não sentiu nada. Ao menos o que pensava que sentiria quando beijasse o amor de sua vida pela primeira vez.

Por alguma razão, não conseguiu contar para Dulce sobre tudo isso. - Todas as meninas querem estar com ele. É popular, bonito e muito simpático...

Dulce estava começando a fazer sinais para fazer outra pergunta. Porque realmente Anahí não havia respondido nada com sua resposta. Quando literalmente o tema da conversa chegou e quebrou sua linha de raciocínio.

- Olá Anahí! Pensei que já estivesse no ônibus.

- Ainda não... Essa é minha amiga Dulce. - Ela à apresentou e Alfonso se virou em direção a Dulce, vendo-a pela primeira vez e oferecendo um sorriso encantador antes de virar-se novamente para Anahí.

- Escuta, estava pensando... Aquele dia do boliche foi tão legal, e eu queria... Quer ir de novo esta noite? - Ele perguntou sorrindo.

A loirinha examinou seu rosto antes de dar uma olhada para Dulce que estava ao seu lado, tinha um olhar tão frio que a fez tremer. Como pode ele não ter se dado conta do poder do olhar de Dulce que para ela era um mistério?

- Sinto muito Alfonso, mas já tenho planos com Dulce para esta noite. - Mentiu sem saber o porque. Estava muito feliz porque sua amiga tinha cruzado a cidade só para ver sua apresentação, e realmente gostava da ideia de passar o final do dia com ela, ainda que não tivesse planejado.

- Oh...- Deixou cair os ombros e coçou a nuca. - Então talvez em uma outra ocasião?

- Veremos Alfonso.- Ela lhe sorriu sem muito entusiasmo e ele assentiu tristemente antes de sair.

Dulce o seguiu com o olhar. - Idiota!- Falando em voz baixa, pegando Anahí de surpresa e fazendo-a gargalhar com o comentário. Dulce se uniu a ela na risada e Anahí suspirou em felicidade. Era encantada com esse som.

Voltaram a caminhar.

- E então, o que ele queria?

- Me convidar para sair.

A menina piscou algumas vezes e olhou para baixo.

- Desculpa se te atrapalhei.

- Não atrapalhou. Eu não queria sair com ele pra começar.

- Ahh...- O som escapou dos lábios de Dulce, que não pode evitar de sorrir. Não gostava desse garoto...

- Como chegou até aqui?

A menina apontou para seu novo carro, presente de aniversário de seus pais, estacionado a poucos metros de onde estavam.

- E você?

- Ônibus.

A menina mordeu um pouco seu lábio inferior. - Quer uma carona até em casa?

- Adoraria!- Respondeu Anahí sem pensar duas vezes.

Anahí com alegria pegou a mão de Dulce e entrelaçou seus dedos.

- Vamos?

...

A viagem de volta a Colônia foi tranquila, já que Dulce não podia usar as mãos para falar porque estava dirigindo. Mas para Anahí não importava o silêncio, ainda estava muito feliz por sua melhor amiga ter ido vê-la e por ter ganhado o primeiro lugar.

Seguiram de novo com a conversa na casa dos Espinozas, sentadas no sofá da sala.

- Como se sente em estar cantando para o público em cima de um palco?

- Foi... Não sei... Acho que não consigo colocar em palavras o que sinto. - Anahí se ajeitou no sofá. - Me senti como se nada mais existisse, só eu e a música com o calor das luzes do palco. Como se meu corpo não existisse e que só fosse a música.

Dulce ficou encantada de ver como Anahí falava de música, sempre era muito apaixonada e ela sentiu como se por um momento pudesse entender e compartilhar dos sentimentos que a música provocava a aqueles que realmente podiam ouvir.

- Você contava Don’t rain on my parade?

- Como sabe?- Anahí levantou as sobrancelhas.

- Eu estava te escutando... - Dulce piscou um olho e sorriu. É a sua canção favorita, já te vi cantando um milhão de vezes... E sempre tem o mesmo olhar quando canta essa canção.- Explicou.

Anahí sorriu.

- Pode traduzir ela para mim?

A loirinha assentiu.

- You can’t always get what you want de Rolling Stones.

- Rolling Stones?- Dulce franziu a testa. - Não entendo... Porque alguém nomearia uma banda de “Rolling Stones”?

Anahí abriu a boca para responder quando se deu conta de que não tinha uma resposta para isso.

- É uma boa pergunta!- Murmurou mais para si mesma qua para Dulce que parecia ler seus lábios.

- Canta para mim- Pediu fazendo sinais e sentando mais perto da loirinha, dúvida do por um momento antes de colocar a mão suavemente na bochecha de Anahí, como fazia sempre que queria sentir as vibrações de sua voz.

- Anahí sorriu e começou a cantar em voz baixa enquanto traduzia as palavras a Dulce.

A menina tinha um sorriso diferente em seus rosto, mas expressivo de que o habitual, inclusive pensou que Anahí não podia traduzir exatamente o que expressava , os olhos castanhos a olhavam com tanta intensidade que não estava certa se deixou de traduzir a Dulce sem nem se dar conta.

E isso foi o que ela fez, suas mãos deixaram de mover no refrão da música e sua voz tremeu, calando um pouco depois. Ela piscou um par de vezes e umedeceu os lábios, sentindo a boca seca de repente. Logo, sem sequer dar conta do que estava fazendo, se inclinou um pouco. Um brilho intenso atravessou os olhos de Dulce que moveu o polegar contra a bochecha de Anahí, inclinando-se e fechando o espaço ente elas com um beijo suave.

Anahí não respondeu a princípio, estava muito surpreendida para controlar seu próprio corpo. Os lábios de Dulce eram tão suaves e doces que se encontrou completamente atordoada até que Dulce começou a se afastar e logo acordou do seu transe. Anahí levou a mão ao pescoço de Dulce soltando seu cabelo a fim de sentir a suavidade de seus fios contra seus dedos, prolongando o beijo e fazendo com que Dulce gemesse com o que havia feito.

O corpo de Anahí tremeu ao sentir a carícia da língua de Dulce, e um baixo gemido escapou de sua garganta. Dulce sorriu contra seus lábios e Anahí estava segura de que Dulce havia se dado conta do gemido.

Se separaram, ambas ofegantes em busca de ar depois de uns minutos e Dulce encostou sua testa na da Anahí.

- Anahí...- Dulce sussurrou, fazendo o coração da loirinha parar de bater. Dulce nunca antes havia dito seu nome em voz alta. Ela sabia que Dulce tinha uma voz, mas também sabia que ela não gostava de usar porque tinha problemas para controlar o volume e a intensidade de sua voz. De qualquer maneira, a voz de Dulce nunca tinha soado tão linda.

Compartiram outro beijo, mais profundo e também muito carinhoso, Anahí sentiu um nó na garganta ao se dar conta de que a muito tempo queria sentir exatamente isso: as borboletas no estômago, a pele arrepiada e as explosões de seu coração e o de Dulce contra seu peito.

Nunca havia se dado conta de quão forte eram seus sentimentos por Dulce até esse momento. O único que queria fazer era beijá-la e abraçá-la e nunca deixá-la ir...