Fanfic: Enquanto Ela Desaparece - Vondy (finalizada/adaptada) | Tema: Vondy, drama, romance

Um mês. Hoje foi o aniversário de um mês do acidente de carro que transformou nossa noite de formatura em um pesadelo. Eu sentei na sala de espera, agora mais familiar para mim do que meu próprio quarto, e olhei para as paredes brancas. O cheiro de café velho não dominou o ambiente estéril. Essas coisas não importavam, no entanto. Nada além de Crawford abrindo os olhos importava.

Seria a minha vez de ler para Crawford em breve. Eu vivi para esta hora do dia. Para vê-lo e rezar, ele ouviria minha voz e abriria os olhos. Que estaríamos juntos novamente. Que todos os nossos sonhos ainda estavam lá, esperando do lado de fora deste lugar solitário e frio.

O médico havia dito aos pais na manhã seguinte ao acidente que ele acreditava que pacientes em coma podem ouvir. Se ele nos ouvisse conversando com ele, lutaria para voltar. Acordar.

Estremeci ao lembrar daquelas palavras. Em coma. Eu odiava isso. Crawford estava tão cheio de vida e energia. Vê-lo assim era tão difícil.

O médico acreditava que precisava ouvir várias vozes que conhecia e amava. Então, a mãe de Crawford nos colocou em uma programação no começo, mas depois deixar eu entrar o quanto antes. Mas com o passar dos dias, sua agenda começou a mudar à medida que sua saúde piorou. Ver seu único filho como esse dia após dia estava pesando nela.

"Ainda aqui?" Uma voz masculina perguntou. Eu não reconheci o orador. Normalmente, era um dos meus irmãos mais velhos vindo me checar. Knox, meu irmão mais novo, era mais próximo de Crawford e eu, e também veio a ler. Nem todo dia como eu, mas quando ele podia. Eu esperava que ele viesse hoje. Ele não estava há alguns dias e eu sabia que Crawford gostaria de ouvi-lo.

Eu levantei minha cabeça para encontrar um par de olhos escuros delineados por grossas pestanas negras, olhos bonitos para um cara. Eu já vi aqueles olhos antes. Assim como eu vi o cara a quem eles pertenciam. Mas nunca havíamos conversado.

"Você está sempre aqui." Disse ele. "Não houve um dia nas últimas duas semanas que eu não vi você."

Sua voz era suave, mas havia um tom mais grosso em seu sotaque do que a maioria dos caras em Franklin. Ele quase parecia de Alabama. Ele estava me estudando ou estava esperando que eu falasse? Provavelmente o último. Eu estava sendo rude por não responder.

"Em nenhum outro lugar para estar." Eu disse honestamente. Porque sem Crawford eu estava perdida.

Ele levantou o canto dos lábios carnudos e parecia muito um sorriso. Por que ele estaria sorrindo para algo assim?

"Eu posso pensar em muitos lugares que eu preferiria estar. Mas o tio D é onde está minha lealdade. Então aqui estou."

Eu não tinha certeza se ele pretendia ser profundo e sincero, mas não parecia assim. Eu me perguntei se ele estava chateado por seu tio estar aqui. Não que isso fosse da minha conta. O cara tinha um ar sobre ele que me esfregou no caminho errado. Ele gostava de si mesmo. Muito. Ele sabia que era bonito e gostava da atenção que isso lhe dava. Eu já tinha visto bastante dele. Eu não era fã.

"Sua falta de egoísmo me humilha." Eu respondi com uma pitada de sarcasmo. A maneira como seus olhos brilharam com diversão me fez não gostar mais dele do que eu já tinha decidido.

Quando ele cruzou os braços sobre o peito largo, não pude deixar de notar a maneira como os bíceps dele se flexionavam e a tatuagem espreitando pela manga. Seu longo cabelo escuro estava um pouco bagunçado e escondido atrás das orelhas. Eu imaginei que completaria seu visual de pirata se ele o tivesse puxado para trás em um rabo de cavalo.

"Não me confunda por fingir ser altruísta. Essa nunca foi minha intenção. Estou aqui para ver meu tio. Nada mais profundo do que isso. Mas então, não me sento como um mártir nesta sala de espera dia após dia e fico olhando para a parede. Altruísmo é sua coisa. Não a minha."

Por que ele ainda estava falando comigo? Onde estava Knox? Ele deveria ter aparecido com um almoço tardio da minha mãe agora. E era sua vez de sentar com Crawford antes do meu horário marcado em três horas. Knox precisava chegar aqui e esse cara precisava seguir em frente.

"Jesus, você está tensa." Ele murmurou, e eu empurrei meu olhar de volta para ele. Mais uma vez com aquele sorriso divertido.

"Você não está aqui para ver seu tio?" Eu perguntei, esperando me livrar dele.

Ele riu desta vez. O tipo real. Foi agradável. Talvez mais do que agradável. Até que eu lembrei que ele estava rindo daquele jeito atraente por minha causa. Então isso me irritou.

"Eu estou. Apenas pensei em tentar lhe dar algo para fazer além de olhar para a parede. Fico triste quando vejo você aqui sozinha. Meu erro. Você está obviamente sozinho porque gosta dessa maneira.”

Eu não subiria à isca. Ele queria que eu mordesse de volta, mas eu não faria isso. Ele não valia minha raiva ou a energia necessária para ficar com raiva.

“Christopher, o que você está fazendo aqui? Seu tio estava apenas perguntando sobre você.” A jovem enfermeira estava golpeando seriamente os cílios e estendendo o peito enquanto falava com... Christopher, aparentemente esse era o nome dele.

Ele virou o olhar para encontrar o dela e eu tinha quase certeza de que ele piscou. Suas bochechas começaram a brilhar e seus olhos ficaram abafados. Jesus. Eu já tinha visto o suficiente disso. Se eu quisesse assistir uma novela, ligava a televisão no canto.

"Diga ao velho que eu vou." Disse ele.

Ela riu assim, foi hilária e me deu uma breve olhada antes de virar para ir embora. O balanço em seus quadris era exagerado, qualquer garota que realmente andasse assim precisaria ajustá-los no quiroprático semanalmente.

"Você se divirta, senhorita..." Ele parou, como se estivesse esperando por mim para lhe dar meu nome. Ele estaria esperando para sempre.

"Seu fã-clube precisa de você." Respondi com um tom de nojo, e voltei a encarar a parede. Assim como eu fazia todos os dias. Pensando. Sobre a vida e meu futuro, nosso futuro. Minas e Crawford.

"Sim ele precisa." Ele riu. Pelo canto do olho, eu o vi balançar a cabeça antes de virar e ir embora. Não era realmente uma caminhada. Mais um passeio. Se os caras realmente passearem. Talvez uma arrogância?

Oh, quem se importava? Ele se foi.

Enfiei a mão na minha sacola de lona e peguei meu telefone. Havia cinco textos e duas ligações da minha mãe, um texto de cada um dos meus quatro irmãos, dois da esposa do meu irmão mais velho e os três últimos do meu pai. Eles faziam isso todos os dias. Me checando, me pedindo para ir jantar, um filme, fazer compras, jogar basquete... Qualquer coisa para tentar me tirar deste hospital.

Nenhum deles entendeu. Crawford estava em coma.

Isso era tudo o que importava. Eu não podia continuar vivendo como se ele não estivesse deitado naquela cama, imóvel. Eu tinha que estar aqui quando ele acordasse. Porque ele iria acorda. Ele tem que acordar. Tínhamos um futuro que planejávamos desde a infância.

Abri minhas mensagens de texto e fiz o que qualquer boa garota faria: comecei a responder a elas. A oferta da minha mãe de me levar para comprar uma roupa de banho nova, como se eu fosse à praia em breve. Então sua tentativa de me culpar em um jantar em família. Minhas sobrinhas sentiram minha falta. Eu me senti um pouco culpado por Maddy e Malyn, as gêmeas do meu irmão mais velho. Elas tinha apenas dois, e tia Dulce não estar por perto provavelmente os confundiu.

Antes do acidente, eu tomava conta delas todas as terças e quintas à noite, enquanto Anahí, minha cunhada, trabalhava no turno da tarde na casa de repouso. Minha mãe os manteve agora. Eu não saía do hospital todos os dias até precisar. Quando a mãe de Crawford voltava às sete todas as noites, eu me despedia, beijava sua bochecha e chorei o caminho todo para casa. Quando eu acordava às sete da manhã, me vestia, arrumava minha bolsa com livros e lanches e fui para o hospital. Era a minha rotina. Era tudo o que me restava.

Meus irmãos estavam se reunindo hoje à noite após o jantar em família para jogar basquete em casa. Jonah estava no serviço militar e atualmente em missão. Então eu era o número par quatro. Eles realmente não precisavam de mim. Meu pai estaria lá para preencher. Mas cada um deles agiu como se não pudesse jogar sem mim.

Eu era o bebê dos cinco e a única garota. Dito isto, eu também estava superprotegida e preocupada demais. Todos pensaram que era o trabalho deles garantir que eu estivesse bem. Porque eu os amava por isso, e porque Jonah me mandou uma mensagem enquanto estava servindo nosso país, respondi a todos que estariam no jogo de basquete se esperassem até às sete e meia. Não era o que eu queria fazer quando chegasse em casa. Mas era o que eles precisavam que eu fizesse.

Então eu faria.