Fanfic: As Crônicas de Ametiel - Jornada pelo Tempo | Tema: Personagens Originais, Arcanjos, Batalhas, Romance, Amizade, Aventura, Mistério, Suspense, Drama, Aç

Era sexta feira de manhã quando eu já aguardava Rin em nosso tradicional ponto de encontro. Me encontrava no alto de uma árvore quando a vi surgir lá na frente. Eu fiquei muito feliz ao vê-la chegar, ainda podia sentir o perfume que havia se apegado à minha mão depois das felicitações do dia em que nos conhecemos. Aquele doce e suave aroma de pétalas de flor que sempre sentia ao vê-la se aproximar, aquele era o seu cheiro. Poderia encontrá-la no meio de uma multidão:

― Olá? Ametiel? Você está aí? – ela me procurava.

― Estou aqui, Rin! – disse saindo do meio das árvores – Que bom que você veio hoje! Como está? – eu sorri.

― Eu estou bem, um pouco cansada apenas. – ela sorriu – Me desculpe não ter aparecido tanto nos últimos dias, tem sido um pouco difícil sair de casa.

― Tudo bem, não há problemas! O que importa é que você veio hoje! – sorri infantilmente enquanto a ajudava com algumas coisas que havia trago.

― Me sinto no dever de me desculpar, sei que você sempre fica me esperando. Eu realmente sinto muito, tenho recebido muitas visitas de meu noivo e isso tem dificultado minhas saídas...

― Por quê? Isso não faz sentido...

― É meio complicado, porque bem... digamos que ninguém saiba desses meus passeios. E ele também não gosta que eu saia de casa. Pelo menos, não sem a companhia dele...

― E desde quando você é serva dele para que o obedeça? Quem ele pensa que é para lhe ditar regras? Isso não está correto! – me indignei – Gostaria muito de lhe dizer uma coisa ou duas...

― Por favor, não faça e nem diga nada! Se descobrirem sobre minhas saídas nunca mais poderemos nos ver ou nos falar! – ela me pediu com veemência segurando minhas mãos com firmeza.

Meu coração apertou, eu pude sentir o desespero dela naquele pedido. Eu a acalmei dizendo que não faria nada, e continuamos nosso diálogo. Ela me dizia o que vinha passando nos últimos dias. Rin era uma artista nata que queria seguir o seu sonho de aperfeiçoar a sua técnica e se tornar conhecida por todo o Japão, mas desde cedo já havia sido prometida em casamento a seu noivo que a meu parecer era um dos seres mais desprezíveis da Terra. Por ele a garota não vivia, devia ser sempre obediente a ele e suas vontades, não podia sequer escolher suas próprias roupas. Pelo menos não as que ele não aprovasse. Rin não podia sequer sair para acompanhar a mãe onde quer que fosse, e quando saía acompanhada do desgraçado, devia usar um véu porque ele não queria que ninguém olhasse para “Sua” noiva. O desprezo e a repulsa por ele foram instantâneos, maldito Otsuki! Naquele dia não ficamos apenas naquele belo e adorável pomar selvagem, Rin e eu fomos dar um passeio pouco mais longe...um tanto a contra gosto dela (sempre preocupada com as horas) mas ela não pôde resistir à mim, segurando sua mão gentilmente eu saí correndo enquanto a puxava comigo. Ela merecia da vida bem mais do que aquilo que tinha; e foi pensando nisso que a levei num lugar que eu sabia que encheria seus olhos, um dos lagos mais lindos que alguém poderia ver. Ela olhou ao redor e decidiu que aquela paisagem sim seria digna de um quadro. Quis olhar mais de cima para ter uma visão mais ampla dali, e se aventurando a ir mais alto ela começou a subir num pequeno monte ali perto. Nós havíamos chegado num ponto íngreme quando um de seus pés vacilou e ela tombou para trás num grito desesperado. Num reflexo impensado eu a segurei com uma das mãos erguendo-a pelo antebraço, ela me olhou um tanto assustada. Algo me dizia que em breve ela descobriria um pouco mais sobre mim e minhas habilidades incomuns:

― Ametiel?! – ela me disse segurando o pulso com um passo para trás.

― Desculpe, eu te machuquei? – me aproximei.

― Não, não, mas... Como foi que você...? Mas de onde você...? – ela disse com mais um passo pra trás.

―Tirei essa força? Eu não sei. Sempre fui assim, desde o orfanato...Mas olha, não precisa ter medo. Eu não vou machucar você.

Naquele momento eu tive medo. Medo de perder a única pessoa com quem eu realmente tive contato e criei algum vínculo desde a minha fuga do orfanato. Desde Satoshi e Akemi. Vê-la me olhando daquela forma espantada me fez sentir o pior dos monstros, agora quem dava um passo para trás era eu:

― Me desculpe, eu não quis assustar você, e vou entender caso ache melhor se afastar... – disse me virando para sair.

― Não! É claro que não! – ela me segurou pela mão – Como eu poderia deixar você? Como eu poderia deixar a pessoa que acabou de salvar minha vida? Aliás, não foi a primeira vez...

― O quê? – disse sem entender – Não me lembro de ter lhe feito nada alguma vez...

― Não, eu não me refiro a algo desse tipo, me refiro a você ter me salvado da solidão entediante da minha vida. Eu não tinha muitos motivos apra me sentir feliz ou animada por algo, mas depois que nos encontramos isso mudou. Então eu jamais poderia deixar alguém que fez tudo isso por mim.

Senti meu rosto esquentar naquele momento. Provavelmente minhas bochechas estariam coradas, me abaixei a altura de seus olhos, era maior que ela:

― Podemos declarar empate então?

Foi a vez dela corar. Não dissemos mais nada, apenas nos sentamos e ficamos observando toda a beleza e imensidão daquela paisagem. Acabamos esquecendo do tempo, o que nos fez voltar correndo para nosso ponto de encontro:

―  Sinto muito não poder ficar mais, foi realmente muito bom estar com você! Me desculpe sair assim, mas não posso me demorar mais. Você sabe, meu noivo...

― Sim, eu sei. Mas não se preocupe, qualquer dia desses eu vou te sequestrar e te salvar de tudo isso...

― Eu adoraria! – ela disse sorrindo.

― Então isso é uma promessa. – sorri de volta.