Fanfic: A Love To Remember | Tema: Naruto
Quando Kushina apareceu no quarto para nos acordar, eu já estava completamente desperta. Nas ultimas noites, mal havia fechado os olhos, me revirando na cama, sem conseguir dormir. E, pelos barulhos vindos do outro lado do quarto, percebi que eu não era a única com problemas para cair no sono. Levantei da cama com um certo esforço. Agora que havia saído dela, parecia extremamente convidativa para um cochilo.
Fala sério, pensei.
Caminhei a passos curtos para o banheiro e joguei uma água no rosto. Tirei o pijama e coloquei uma roupa confortável.
Quando voltei ao quarto, quase fui nocauteada pela luz forte do sol que entrava pelas persianas abertas. Kushina já tinha saído, mas um certo alguém ainda dormia pesadamente, agarrado com um travesseiro. A posição nada natural do seu corpo provavelmente faria com que tivesse sérios problemas na coluna futuramente. Enquanto eu forrava minha cama, ele não se moveu nem uma vez, de tão ferrado no sono. Apesar da posição cômica, ele mantinha a testa levemente vincada e a boca entreaberta, lhe dando uma aparência travessa. A claridade vinda da janela fazia com que seu cabelo loiro cintilasse como fios de ouro sob o sol.
De repente, ele mudou de posição tão rápido que duvidei que fosse fisicamente possível. Virei o rosto para o outro lado, rezando para que não tivesse me pego observando-o. Espera, ‘’observando-o’’? Ah, não, não, não! Eu não estava observando esse idiota.
Mas, para minha sorte, ele ainda dormia como se não houvesse amanhã.
- Naruto, levanta logo.
Ele resmungou algumas sílabas desconexas antes de voltar a roncar.
Agarrei seus ombros e os sacudi com força.
- É melhor você sair antes que Kushina volte e te arranque daí aos pontapés.
Nada.
- Francamente, você pretende mesmo fazer isso do jeito difícil?
Nenhum movimento.
- Tudo bem, como quiser.
Peguei um travesseiro sobre a minha cama atirei-o na cabeça do loiro com toda força que tinha.
O susto levado por ele foi tamanho, que bateu a cabeça na cabeceira da cama, antes de se desequilibrar e ir direto para o chão, caindo de costas com um baque.
- Ai, isso parece ter doído. - Falei, casualmente.
Ele se virou para mim, com pequenas lágrimas nos cantos dos olhos.
- Sabia que existem maneiras mais delicadas de se acordar alguém?
Passou uma das mãos na cabeça, alisando-a.
- É mesmo? Meu Kami, eu tinha certeza que estava fazendo algo errado!
- Minha nossa, estou rindo tanto que meu corpo inteiro dói. Não, não, espera. Isso é porque eu caí da minha cama, graças a você.
- Ah, você resmunga demais.
- Já que eu não tenho mais esperanças de voltar a dormir, será que a senhorita poderia me ajudar a levantar?
Inocentemente, estendeu o braço para que eu pudesse puxá-lo para cima. Para o meu azar, não vi o sorriso malicioso que ele esboçou quando me aproximei. Quando nossas mãos se tocaram, o idiota me puxou contra si, fazendo com que me desequilibrasse que caísse sobre ele. Mal havia me recuperado do choque quando fui atacada por uma investida de cócegas.
- O que você... não, não! P-Para com isso...! – Eu nem conseguia respirar, de tanto rir.
- Só quando pedir desculpas e disser que eu sou o melhor amigo que alguém pode querer.
- O-O que...? Mas eu... nem sonhando que... – Ele ensaiou um movimento em direção aos meus pés: meu ponto fraco. - Tudo bem, tudo bem, eu falo! M-Me desculpe por te derrubar da sua cama...
- E...?
- E você é o melhor amigo do mundo inteiro. - Abaixei o tom de voz até virar um sussurro. - O mais idiota também.
- Desculpe, o que você disse no final? Não ouvi direito.
- Eu disse que você é muito divertido.
- Ah, muito obrigado.
- Satisfeito, Uzumaki?
- Com certeza. Agora vamos descer, toda essa emoção me deixou faminto.
- Ah, Naruto, em qual dia você não está faminto?
Minha última semana têm sido assim. Daqui a poucos dias, terei que viajar para a outra ponta do continente para estudar e, devo admitir, estou super apreensiva e ansiosa. É isso que vem tirando o meu sono nas últimas semanas. Isso e ele. Ultimamente, tenho achado cada vez mais difícil tirá-lo dos meus pensamentos.
Nós fomos criados como irmãos e passamos praticamente toda a nossa vida juntos. Em treze anos, esta seria a primeira vez que nós nos separaríamos por um tempo considerável. Era por esse motivo que eu vinha pensando tanto nele, ou, pelo menos, era o que eu tentava convencer a mim mesma.
Quando nós recebemos a notícia de que eu tinha ganho a tão cobiçada viagem de intercâmbio por cinco anos, ele ficou feliz por mim, apesar de eu ter percebido que seu entusiasmo fora um pouco forçado. Talvez seja porque não nos veremos durante muito tempo.
E infelizmente, a expressão entristecida e carrancuda que ele vinha fazendo nos últimos dias não facilitava em nada nossa separação. Mesmo contra a vontade da minha mãe - e um apoio crucial do meu pai --, eu estava passando essa semana inteira antes da viagem na casa dele, para compensar todos os meses (não gostava de falar em anos, como se pudesse impedir que o tempo passasse) que ficaríamos afastados. Diferente do que eu pensava, isso não ajudou a melhorar o humor do Uzumaki.
Em alguns momentos, ele ficava sempre ao meu lado, me fazendo rir, conversando e aproveitando ao máximo minha presença. Em outros, resmungava tanto que chegava a ser insuportável. E em algumas vezes, ainda, ficava tão cabisbaixo e pensativo que eu me sentia completamente desorientada. Somente um abraço ou um soco bem dado apaziguavam este conflito incessante.
O comportamento estranho já começava a fazer com que me preocupasse com a sanidade do meu amigo.
E hoje, no meu último dia na cidade, o temperamento dele estava um tanto confuso: me provocava a cada segundo, mas não parava de me olhar de esguelha e corar sem nenhum sentido aparente, murmurando para si mesmo palavras que eu não conseguia ouvir. Como o meu voo estava marcado para o dia seguinte pela manhã, tinha o dia inteiro para fazer companhia a ele. Depois de um café matinal recheado e muitas insinuações de Kushina e Minato, decidimos passear pelo centro da cidade.
Passamos em casa para almoçar e fomos à praia, onde ficamos boa parte da tarde.
Quando finalmente nos cansamos de jogar água um no outro e correr pela areia -- e quando digo correr, quer dizer empurrá-lo na água e depois sair em disparada com ele me perseguindo --, resolvemos caminhar um pouco para nos secar mais rápido e não chegar em casa encharcados, coisa que faria tia Kushina ter um ataque cardíaco. Um ataque cardíaco e um derrame.
O sol já estava se pondo quando nos sentamos num píer da praia com os pés na água, exaustos. A maioria das pessoas já recolhia seus pertences ou chamava as crianças para voltar para casa. Tons dourados e azulados manchavam o céu, marcando o início da noite.
Enquanto eu contemplava o céu, notei que ele me observava. Porém, quando virei o rosto na direção dele, este desviou os olhos depressa e enrubesceu levemente. Preocupada, me inclinei sobre ele, colocando a mão sobre sua testa, para ver se estava com febre ou algo parecido. Talvez eu tenha sido repentina demais, porque ele deu um pulo tão grande que acabou se desequilibrando e quase caiu de cara na água gelada. O que o salvou foi se agarrar no meu ombro, o que me custou um doloroso arranhão no pescoço.
- Caramba, não precisava disso! - Falei, fazendo uma careta.
O sal presente em minha pele fazia com que ardesse ainda mais.
- Você me assustou, me desculpa!
- Que maravilha, agora só falta um raio cair na minha cabeça para...
- Para você ser a rainha do azar. Acertei?
- Idiota.
Ele se aproximou para avaliar meu pescoço de perto.
Fiquei parada, o coração acelerado. Por que diabos eu estou tão nervosa com a proximidade dele?
Ele também não falou nada, o que achei estranho. Apesar da leve sensação de ardência, não era possível que uma simples unha tenha arrancado minha pele. Virei o rosto na direção dele, e dessa vez ele não desviou os olhos. Nem sequer piscou. Uma determinação firme era a única coisa que consegui captar em sua íris. Nossos rostos estavam a centímetros de distância, os narizes quase se encostando...
Involuntariamente, levei a mão ao meu colar, uma espécie de amuleto que eu tinha desde que nasci. Era minha proteção em situações delicadas e, com toda certeza, essa era uma situação delicada. O problema é que meus dedos não encontraram a superfície morna do metal.
- Merda!
Me levantei com um salto, ainda tateando o pescoço, em busca do colar.
- Ah, não, não, não, não! Isso não, isso não!
- O quê...?
Percebi que a determinação sumira dos seus olhos. Agora eles pareciam infinitamente magoados.
- Meu colar, ele sumiu! Por favor, isso não pode estar acontecendo...
Ele também se levantou.
- Calma, nós vamos encontrar. Vamos refazer o caminho por onde viemos, assim...
Olhando para a própria mão, parou de falar.
- O que foi? Você o encontrou?
- Não, não é nada. Eu me ralei, só isso. Venha, se olharmos bem, talvez encontremos ele.
- Não adianta, é como tentar encontrar uma agulha num palheiro. Ou pior, tentar encontrar uma agulha em um agulheiro. Com certeza eu devo ter perdido enquanto mergulhava ou te enterrava na areia.
- Se ficar se lamentando não vai achar.
Ele estendeu a mão para mim.
- Vamos procurar essa agulha.
Meus dedos formigaram levemente ao toque dos dele.
*************
Como eu havia imaginado, nós não encontramos o bendito colar. Procuramos por todos os lugares que visitamos em busca dele, mas nada. Quando já passava das 20:00, decidimos parar e voltar para casa, Kushina deveria estar soltando fogo pelas narinas atrás da gente.
Após mais uma noite mal dormida - essa com certeza foi a pior de todas --, estava mais apreensiva com a viagem que faria. Todos os pensamentos que me afligiram antes voltaram a me atormentar. O que eu estava pensado? Como uma garota de treze anos poderia se adaptar num país desconhecido, e ainda completamente sozinha? Como iria me virar? E se não conseguisse fazer amigos? Ou aprender as matérias?
- Vai dar tudo certo.
Olhei para ele, surpresa. Pela primeira vez na história, conseguira acordar sem que alguém o gritasse ou jogasse algo sobre ele. Também era a primeira vez que não tentava me desmotivar a partir, embora fosse visível que queria que eu ficasse.
- Mesmo contra minha vontade, quero o melhor para você. E se isso significa que tem que se separar de mim, tudo bem. Eu vou te esperar pelo tempo que for preciso.
Ele saiu do quarto, me deixando sozinha. Apesar de ser difícil admitir, ele tinha razão. Não poderia desistir de algo sem nem tentar. Pode não parecer, mas estas simples frases serviram para renovar minhas energias e espantar as dúvidas que pairavam sobre minha cabeça.
Tive um café da manhã bem animado com os Uzumaki e, antes das 07:30, já estava do lado de fora, esperando um taxi. Agora era o último momento para me despedir deles. A família que eu pude escolher. Enquanto Minato levava minhas malas para fora e Kushina preparava um sanduíche para que eu levasse na viagem, me sentei na calçada ao lado de Naruto. Com um graveto, ele desenhava linhas sem sentido no asfalto, que nem sequer apareciam. Estava cabisbaixo como há alguns dias atrás, apesar de tentar não demonstrar.
-Você não irá se esquecer de mim, não é?
-Claro que não. A sua cara feia é bem fácil de se lembrar.
-Sua chata. Vou ignorar esse seu último comentário. Eu quero que aprenda muito nessa viagem à New York. Também quero que saiba que eu estou torcendo para que sua professora piore a cada dia e...
Ele mal terminou de falar e eu mirei um soco em sua cabeça, um pouco mais forte do pretendia.
-AAAIIIII SAKURA-CHAN! - Ele gritou angustiado - ISSO DOÍ MUITO! EU SÓ ESTAVA BRINCANDO COM VOCÊ!
Ele fazia uma careta e eu não pude me impedir de sorrir. Kushina escolheu este momento para sair de dentro da casa e olhou para nós dois de um jeito muito estranho, e decidi que era melhor ignorá-la. Acho que ela pensa que algum dia eu vou me casar com esse idiota. Nem sonhando.
-Para você aprender a não brincar com coisa séria. - Falei, fingindo indignação. - Acho que vou sentir saudade de bater em você, Naruto.
O loiro arregalou os olhos e me olhou preocupado, buscando indícios de raiva.
- Calma, é brincadeirinha. Eu sentirei sua falta, mesmo sendo tão idiota e irritante o tempo inteiro.
Nos levantamos e nos envolvemos em um abraço apertado.
-Boa viagem, Saky-Chan. Você sempre será a minha melhor e mais linda amiga.
Ele me apertou mais forte ainda no abraço.
Senti meu rosto esquentar e me afastei dele, sem jeito.
-Não se preocupe, Naruto. Eu voltarei ainda mais linda e inteligente dessa viagem.
-Oh, não. Esqueça o que eu disse. Você se acha demais para receber um elogio.
-Seu idiota.
-Não ligue para ele, Saky. Só está com inveja de você.
-O quê?! Isso não é verdade!
Ela apenas sorriu para mim, ignorando o comentário do filho.
Os pais dele estavam até mais felizes do que eu mesma, principalmente tia Kushina. Eles estavam orgulhosos por eu ter conseguido aquele cobiçado prêmio. Mas também, passei noites e mais noites em claro, apenas estudando. Eles eram como tios para mim, afinal, nossos pais sempre foram melhores amigos e parceiros de empresa.
-Saky-chan, eu estou tão orgulhosa de você. - Falou tia Kushina, pela enésima vez.
Ela me deu um beijo na testa e lançou um olhar mortal para Naruto, que levou um susto instantaneamente. Eu sabia o que aquele olhar significava. A única vez que eu fui vítima daqueles olhos, tinha quebrado o vaso preferido de Kushina, numa brincadeira de pique-esconde com Naruto. Nunca mais eu cheguei perto de alguma coisa que pudesse se quebrar na casa dos Uzumaki. Ela se virou para ele, os cabelos flutuando ao seu redor de forma assustadora.
- Se você fosse tão inteligente como a Sakura-Chan, também estaria indo para o aeroporto junto com ela, a caminho de New York. Assim não precisaria invejar sua amiga.
E, sem aviso, mirou um soco ainda mais forte que o meu na cabeça do loiro, que se encolheu e caiu no chão, ainda sem entender o que se passava.
Eu e tia Kushina desatamos a rir, a cara que Naruto fazia era muito engraçada. Minato ajudou o filho a se levantar, com uma expressão de alívio no rosto. Sabia a força que Kushina colocava nos seus socos. Certeza que essas pequenas brincadeiras entre nós iriam fazer falta para mim.
- Boa sorte, querida, vamos sentir saudades. - Disse Minato, com a voz serena.
O seu jeito era totalmente o oposto de Kushina: ele era calmo, tranquilo e sem violência. Já ela, escandalosa, explosiva, medonha e botava qualquer um para correr. Mas eu amo e respeito essa família, como se fosse minha.
- Queremos que saiba que nossa casa sempre estará aberta para você. Então, assim que voltar, a primeira coisa que tem que fazer é nos visitar. - Kushina disse com os olhos marejados.
- Pode deixar, tia.
Ela era tão emotiva que demorou uns 5 minutos para me soltar do abraço. Se não fosse tio Minato, eu ficaria presa naqueles braços fortes dela e perderia o voo.
- Kushina, deixe-a ir, ela vai acabar se atrasando.
- Minato, vou sentir saudades, deixe-me apertá-la mais.
Ela me soltou e se afastou, para que eu pudesse conversar a sós com Naruto. Eu precisava fazer uma pergunta que havia tirado o meu sono durante a noite, e, para ser sincera, sou tão curiosa que não poderia viajar sem saber a resposta.
- Naruto, eu gostaria de saber o que você iria fazer ontem.
- Ontem? Quando?
- Não se faça de desentendido, sabe muito bem do que estou falando.
Ele enfiou as mãos no bolso, corando levemente.
- Isso não importa mais.
- Importa para mim. E muito. O que era?
- O que você acha, Sakura?
- Eu...
Fui interrompida por um barulho alto. Uma buzina de carro. Meu taxi havia chegado e, pelo olhar do motorista, percebi que devia fazer alguns minutos que ele estava ali.
- É melhor você se apressar, ou ele pode querer nos atropelar.
- Você está mudando de assunto.
- Estou mesmo. Vá, antes que eu decida se te sequestrar é ou não uma boa ideia.
Sorri, ofertando a ele meu melhor abraço. Depois foi a vez de Minato e, por fim, Kushina, que me apertou tanto que perdi o folego.
Com a ajuda de Minato, o motorista colocou minhas malas no carro. Eu já estava com a mão na maçaneta do banco de trás quando a voz de Naruto soou nos meus ouvidos.
-BOA SORTE NA VIAGEM! - Gritou, mesmo sabendo que eu estava somente a alguns passos de distância.
Dei meia volta e parei em frente a ele. Ele me encarou e abriu um sorriso idiota. Levada por um impulso que surgiu sabe-se lá de onde, o beijei na bochecha. De repente, uma sensação quente bloqueou momentaneamente meus outros sentidos quando encostei os lábios em seu rosto. Foi algo tão forte que cheguei a ficar tonta. Podia até ouvir meu coração martelando contra as costelas. O que foi isso?
Pelo olhar surpreso e confuso dele, era óbvio que também sentira.
Ele encostou a mão no lugar em que eu o beijara, parecendo intrigado, como se não tivesse muita certeza do que estava acontecendo. O local até estava levemente avermelhado, apesar de eu não estar usando batom nem brilho labial.
Abri a boca para dizer algo, mas não saiu nada. Com o canto dos olhos, notei que Minato olhou para a esposa com um brilho cúmplice nos olhos. Queria compreender o que havia acabado de acontecer, só que não tinha a menor ideia de como faria isso. Naruto parecia estar em choque, e, notando outra vez o olhar carrancudo do taxista, percebi que era melhor entrar no carro agora. Além disso, acabaria perdendo o voo se ficasse aqui por muito tempo.
-Até, minha querida. - Kushina falou.
Lágrimas mais espessas apareciam em seus olhos. Era melhor eu me apressar antes que ela decidisse me agarrar de novo.
Sorri com a ideia na cabeça.
-Até mais!
Eu entrei no táxi.
Eles acenaram até o carro virar numa esquina. Limpei as lágrimas dos olhos. Sentiria falta disso.
**********
Como o esperado, meus pais já me esperavam no saguão principal do aeroporto. Kurenai, que era a professora me acompanharia na viagem, conversava com eles e sorriu alegremente quando me viu. Ao seu lado, um garoto mais ou menos da minha idade a esperava. Eu não o conhecia, mas sabia que ele também ganhara o mesmo concurso que eu, porque eu havia trocado algumas palavras com ele durante a cerimônia de premiação. Hoje, ele estava completamente irreconhecível: usava um moletom enorme puxado para cima, de modo que não se via nada do nariz para baixo. Como se não fosse suficiente, usava uns óculos escuros que teriam ficado grandes no meu pai. Não vi a família dele por perto. Presumi que já tivessem ido embora.
Mamãe foi a primeira me agarrar.
- Meu deus, como senti a sua falta! Aquela casa fica tão vazia sem você!
- Mãe, foi só uma semana. A senhora tem que se acostumar, porque dessa vez, são quatro anos.
- Alguém já te disse que você é péssima para consolar as pessoas?
- Talvez eu tenha ouvido algo parecido, sim.
Deixei que ela me apertasse mais, retribuindo o abraço com intensidade. Apesar do jeito protetor dela me sufocar às vezes, eu a amava incondicionalmente.
Assim que ela me soltou, foi a vez do meu pai sorrir para mim com melancolia.
Juntos, nos dirigimos ao balcão de informações para realizar toda a burocracia necessária para que eu pudesse embarcar.
Depois de tudo pronto, só nos faltava esperar a chamada nos alto-falantes.
-Vou sentir saudades suas, Cereja.
Cereja era um apelido que só o meu pai usava. Era algo entre a gente, um apelido que simbolizava a nossa conexão especial. Eu amava os dois muitíssimo, mas é claro que como filha, eu tinha um preferido. E, sem sombra de dúvidas, meu pai tinha o lugar de favorito.
Ele me pegou pela mão e me rodopiou numa valsa silenciosa.
- É tão difícil acreditar que você cresceu tão rápido. Onde está aquela garotinha travessa que tinha medo do escuro?
- Ainda estou aqui, papai. A única diferença é que não tenho mais medo do desconhecido.
- É assim que se fala, meu amor! Saiba que estaremos sempre com você, não importa aonde for ou em qual caminho decidir escolher. E... Espere, onde está seu colar?
- Eu... Eu o perdi. Me desculpe, pai. Ontem eu fui à praia com Naruto e devo ter deixado ele cair. Me sinto insegura sem ele.
- Filha, preste atenção. Não é um colar de pérola que te fornece a confiança que você precisa.
- Mas ele sempre esteve comigo, sempre me deu forças...
Ele riu, divertido.
- O que te dá forças não é um simples metal forjado. Na verdade, toda a sua coragem vem de você e das pessoas que te amam: seus amigos, sua família. Por isso, não se prenda às coisas materiais. Prende-se às pessoas que você ama, ouviu?
Acenei com a cabeça, concordando.
- Também não se esqueça do que eu sempre digo.
- Tenha coragem e seja gentil. - Dissemos os dois ao mesmo tempo.
- Muito bem, Cereja.
- E não se esqueça de ligar todos dias, está bem?
- Talvez não todos os dias. Haja crédito para isso. - Papai estremeceu levemente.
- Pelo menos algumas vezes na semana, pode ser, senhor Haruno?
- Vou pensar no caso.
Eu os abracei com uma dor no peito.
- Vou sentir tanta falta daqui. De vocês, dos meus amigos, de tudo.
- Não se preocupe, Cereja. Nós não vamos sair do planeta quando você embarcar nesse avião. Estaremos sempre aqui, te esperando.
- Sempre que precisar de ajuda, não hesite em ligar para nós. E quando estiver com muitas saudades, é só avisar que compramos uma passagem para você, e assim poderá nos visitar.
- Acho que vocês não poderão pagar por quatro passagens numa só semana.
Papai tossiu com força, provavelmente se engasgando com o próprio ar.
- Tudo bem, talvez algumas vez por mês seja suficiente. - Disse eu, sorrindo.
- Atenção, senhores passageiros. Última chamada para o voo 12578. Hora da decolagem às 08:10, saída da cidade de Vitória, Espírito Santo, Brasil, com destino à cidade de New York, New York, Estados Unidos. Passageiros, por favor, dirijam-se à plataforma de número 7 com documentos em mãos para o embarque imediato.
A chamada foi repetida mais uma vez em português, inglês, espanhol e outras línguas que não consegui identificar.
- Parece que chegou a hora de partir. - Falou Kurenai, se apressando para tirar os próprios documentos da bolsa.
- Estamos tão orgulhosos de você, filha. Este é o primeiro passo de muitos outros. Portanto, vá devagar. Ouviu?
- Pode deixar, mamãe.
- Eu já falei que detesto despedidas? - Disse meu pai.
- Eu os amo muito. Não se esqueçam, tudo bem?
Eles assentiram, me apertando mais uma vez.
- Até mãe, até pai.
Com um último beijo, passei pelo portão de embarque. Kurenai e o garoto me acompanharam.
Eu estava prontíssima para nova aventura que enfrentaria.
Autor(a): alyndrye
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
No segundo em que atravessei os portões da plataforma de embarque e desembarque, soltei o maior grito que os meus pulmões me permitiram liberar. Senti os rostos de todas as pessoas num raio de 10 metros se virarem para mim, assustadas. Ok, pensei, na próxima vez, é melhor fazer uma promessa menos chamativa. Após realizar tod ...
Próximo Capítulo