Fanfics Brasil - Reencontro A Love To Remember

Fanfic: A Love To Remember | Tema: Naruto


Capítulo: Reencontro

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- Praia, Kizashi? Tem alguma ideia do que está fazendo?


- Tenho sim, Mebuki. Estou apenas comemorando o retorno da minha filha com um passeio tranquilo à beira-mar. A empresa não vai desmoronar se ficarmos fora por alguns dias. Kushina e Minato podem muito bem cuidar de tudo sozinhos.


- Eu não estou preocupada com a administração da empresa, e sim com a Sakura. Um passeio desse tipo só vai levantar suspeitas!


- ''Levantar suspeitas''? Ainda continua com essa ideia ridícula de que ela não pode saber de nada? Qual é a sua desculpa dessa vez? ''Ela é muito jovem para compreender'' ou ''não podemos estragar a felicidade da garota''? Não aja como se nossa filha ainda fosse aquela garotinha impulsiva de uma década atrás. Ela amadureceu e a prova está aí, na sua frente, e mesmo assim, você se recusa a ver!


- É você que não entende! Isso pode abalar o psicológico dela! Pode se desconcentrar da escola e seguir por um caminho erra...


- Me erra, Mebuki! - Disse ele, já exaltado. - Você tem é medo da reação que ela terá ao saber que escondemos algo tão sério. A sua ideia brilhante de esperar que ela crescesse não funcionou. Nunca fui a favor de não falar nada e, agora, vejo meu erro. Deveríamos ter contado tudo desde o início. Ela não é mais uma criança, portanto, acabaram-se os motivos para justificar o porquê de enganá-la desta maneira!


- Mas ela pode reagir mal e...


- Quem está reagindo mal aqui é você.


- Por favor, vamos esperar um pouco. Apenas para...


- Apenas para o quê? Quando pretende contar? Quando eu estiver...?


Kizashi parou de falar abruptamente ao ouvir passos rápidos vindos do andar de cima. Menos de meio segundo depois, Sakura apareceu no topo da escada, segurando quatro pares de biquínis cintilantes e estampados em cada mão.


- Não consigo escolher apenas dois. Estou a ponto de levar todos eles.


Ao ver que os pais não responderam, ela percebeu que havia algo errado. Ambos estavam tensos. O rosto de Mebuki estava lívido e ela tremia quase imperceptivelmente. Já Kizashi estava sério, o maxilar travado, um dos raros momentos em que um sorriso não dançava em seu rosto.


 Sakura estreitou os olhos, esquadrinhando os pais.


- O que houve?


- N-Nada, querida. - Gaguejou Mebuki. - Se quiser, eu te ajudo a escolher.


Sem esperar uma resposta da filha, ela subiu a escada apressadamente, puxando a garota pelos ombros, que era o único local livres das peças de roupa. Com um último olhar desconfiado para o pai, Sakura seguiu a mãe até o próprio quarto.


Kizashi encarou o local em que a filha estava por mais alguns segundos, antes de se sentar no sofá, aflito.


- Merda. - Murmurou.


 


 


**********


 


Aquela foi uma das melhores semanas de que Sakura conseguia se lembrar. A família saiu de casa pouco antes das 13:30, o que significava que almoçariam no caminho. Optaram por um restaurante à beira da estrada, que servia uma comida caseira feita no fogão a lenha. Ao chegarem na cidade, conseguiram algar o chalé de sempre e não tiveram dificuldades para se acomodar. Os dias seguintes foram como um flashback para a Haruno, que fez questão de caminhar pela areia e ver o pôr do sol todas as tardes, além de visitar cada lojinha do centro da cidade -- Só olhando, é claro.


Porém, o tempo parecia estar disputando uma maratona e, a contragosto de todos, chegou a hora de voltar para casa. Sakura arrumou suas coisas com desânimo. Sua vontade era permanecer aquele paraíso para sempre. Então, enquanto ajudava Kizashi a colocar tudo no carro, o humor dela piorava a cada segundo, sem que fizesse o menor esforço para tentar melhorá-lo. A única que a superava era sua mãe, que se manteve emburrada por grande parte da viagem. Sakura suspeitou que o mau humor estivesse ligado à conversa que ela interrompeu. O que será que os deixou tão tensos?, se perguntou. Mas apesar de inúmeros pensamentos mirabolantes, não conseguiu chegar a uma solução aceitável.


Entretanto, esta dúvida não permaneceu por muito tempo em sua cabeça. A mesma ansiedade que a assomou quando chegou no colégio de New York a alguns anos atrás a invadiu novamente, fazendo surgir o nervosismo característico que ela sentia sempre que se via diante de algo desconhecido.


Para amenizar um pouco todas essas emoções confusas, decidiu comprar os materiais escolares necessários para o ano letivo assim que descarregou suas coisas do carro e almoçou com os pais. Durante o fim de semana, permaneceu em casa, com a família, assistindo a séries e fazendo atividades que costumavam fazer, como jogos de tabuleiro ou adivinhação. Mal pôde acreditar quando se deitou em sua cama para dormir e percebeu que já era domingo, o seu último dia de férias. Como era de se esperar, em vez de dormir a noite inteira para acordar revigorada no dia seguinte, seu cérebro não se desligou e ela passou boa parte da madrugada acompanhando os minutos passarem lentamente em seu telefone.


Não é certo a hora em que dormiu, mas com certeza foi depois das duas da manhã. Só se lembrava de ter fechado os olhos e abri-los em seguida, como se tivesse apenas piscado. Porém, a luz vacilante que entrava pela porta de vidro indicava o contrário. Esquecera-se de fechar as persianas no dia anterior. Menos de um segundo depois, ouviu duas batidas na porta e, ao se virar, viu a mãe parada ali.


- Fico feliz que tenha perdido a mania de dormir até o dia acabar. Agora, é melhor levantar logo, hoje é o seu primeiro dia de aula.


- Ah, bom dia para você também, mamãe. Obrigada por me acordar com essa frase, também te adoro.


Mebuki esboçou um sorriso, divertida.


- Se quiser tomar café, já sabe onde encontrar o que precisar na cozinha. Fique de olho na hora, não quero que se atrase para o seu primeiro dia de aula.


- Você é incorrigível.


- Eu sei. - Respondeu, se aproximando da filha.


Sakura recebeu um beijo molhado da mãe enquanto saía da cama.


- Onde está o papai?


- Ele saiu mais cedo. Falando nisso - Continuou ela, verificando o relógio de pulso -, eu já estou atrasada. Sua chave está em cima da mesa, querida. Até mais tarde.


- Tchau.


Assim que ela fechou a porta atrás de si, Sakura se apressou para forrar a cama e marchar para o banheiro. Queria chegar na escola cedo, pois teria tempo de se localizar e quem sabe até conhecer alguém.


Quando saiu do banheiro, seu ânimo vacilou. Ao olhar para suas malas, percebeu que todas as roupas estavam ali, já que ela não tinha feito absolutamente nada para começar a guardar tudo no armário. Se arrependeu por não ter ouvido a mãe no dia anterior, que dissera para deixar tudo pronto com antecedência.


Desanimada, investiu contra uma das malas mais próximas para procurar algo que servisse para ir à escola. Com algum esforço, achou um vestido preto de alças que ia até os joelhos, que encontrou em uma de suas lojinhas preferidas e se apaixonou por ele instantaneamente. Vestida com ele, olhou para fora, para o céu. As nuvens estavam escuras e não havia nenhum sinal de que o sol surgiria. Poderiam ser tanto sete da manhã quanto sete da noite. Uma rajada de vento gelado passou por ela , fazendo com que se arrepiasse e tremesse ligeiramente. Seu humor afundou ainda mais quando colocou -- com uma boa dose de xingamentos -- outra mala sobre a cama.


Finalmente, encontrou uma calça branca e uma blusa rosa-choque longa. Como o céu parecia estar prestes a desabar, ela colocou um suéter verde-claro por cima. Calçou as botas e colocou no bolso da calça o celular e os fones. Na mochila, enfiou todos os livros e cadernos, acreditando que teria seu próprio armário para deixá-los na escola. Colocou também a carteira, porque não tinha a menor vontade de se sentar à mesa da cozinha para tomar seu café da manhã sozinha.


O relógio pendurado na parede indicava que tinha cerca de vinte e cinco minutos para estar dentro da sala de aula e ela saiu de casa apressada.


Ainda que estivesse muito cedo para se considerar atrasada, não queria estar na rota da chuva quando esta viesse. Enquanto caminhava, vez ou outra tropeçava nos próprios pés, tal qual era a sua ansiedade.


Após alguns minutos de caminhada, avistou várias pessoas que surgiam de todos os lados. Estudantes, provavelmente, pensou, pois carregavam guindastes em forma de mochila nas costas e andavam em grupo, conversando e rindo animadamente entre si. Claro, tirando o fato de que todos seguiam na mesma direção.


Ela acompanhou a horda barulhenta de estudantes pelas ruas, e logo viu o centro principal de vozes e risadas altas. Estava em frente a um café lustroso, cheio de mesinhas com guarda-sol e rostos distintos sobre as cadeiras de metal. Como as mesas estavam lotadas, um número ainda maior de pessoas se encontrava de pé, sempre em grupos de três ou mais alunos, e espiavam através da janela de vidro vez ou outra, vendo se os amigos já voltavam com as bebidas de todos.


Com a esperança de comprar algo bem quente para se aquecer, Sakura mergulhou na multidão caótica. Por duas vezes, conseguiu evitar um banho  e, para seu alívio, passou pela porta seca e intacta.


Quando entrou, um vapor carregado de cheiro de café a recepcionou. Um sino pendurado acima da porta anunciou sua chegada aos clientes.


Apesar da confusão na calçada, o interior do estabelecimento tinha poucas pessoas e aparentava tranquilidade, o que era estranho. Alguns olhares desinteressados se viraram na direção dela, para logo depois se tornarem surpresos ou divertidos. Geralmente, era essa a reação que causava: estranheza, mas com certo glamour.


Alheia à metade do café que a acompanhava com os olhos, caminhou a passos firmes para o balcão, onde uma jovem de cabelos acaju a encarava sem piscar atrás de uma caixa registradora. Mascava uma borracha esbranquiçada, que algum dia poderia ter sido um chiclete de menta.


- Bom di... - Começou a rosada, antes de ser interrompida pelo estampido da bola de chiclete se estourando. A funcionária não fez questão de se desculpar.


- O que vai querer? - Disse ela com rispidez - Infelizmente, vossa majestade não é a única para ser atendida. 


Sakura olhou para trás e para os lados. Era verdade que ela não era a única, mas os outros pediam suas bebidas com uma senhora de aparência gentil, do outro lado do café, bem longe da jovem. Sakura começou a suspeitar o porquê.


- Um cappuccino pequeno, por favor.


- São quatro e cinquenta.


A Haruno tirou a mochila das costas para pegar a carteira.


- Não estamos aceitando cartões, a máquina está quebrada.


- Eu não pretendia pagar quatro e cinquenta com um cartão. - Respondeu, sem paciência.


- Oh, perdoe-me, senhora Rainha da Cocada Rosa. - Retrucou, a voz carregada de deboche.


Sakura precisou reunir todo seu autocontrole para não a fazer engolir a borracha que mascava. Com as mãos tremendo, tirou o dinheiro da carteira e entregou-o à mulher, que enfiou as notas dentro do caixa de qualquer jeito e sumiu por uma porta atrás de si.


Ao ouvir um coaxar, Sakura tirou o telefone do bolso.


- Talvez eu tenha que trocar esse toque.


A notificação vinha do número de Obito. Três fotos seguidas de cinco mensagens escritas. Clicou na primeira: um grupo de aproximadamente 20 pessoas reunidas sorria para a câmera e mostrava cartazes parecidos com mensagens criativas, as palavras ''Miss you'' destacadas em cada um.


Sorrindo, deslizou o dedo pela tela, passando para a segunda foto: no meio do grupo, um garoto de olhos e cabelos negros erguia com orgulho um cartaz ainda maior que todos os outros, com os dizeres em português ''Ninguém sente a sua falta. Não ligue para essas pessoas atrás de mim, são dublês dos nossos amigos, tivemos que contratá-los porque ninguém queria vir''. A letra era tão garranchosa que Sakura demorou uns dois minutos para compreender o que diziam. É claro que ela não entendia a letra de Obito na maior parte do tempo, precisando recorrer a ele para traduzir.


Revirando os olhos, passou para a última, tendo que impedir a vontade de rir ao máximo para não chamar atenção. O Uchiha ainda estava no meio do grupo, porém, se encontrava no chão com uma garota de cabelos castanhos sobre ele, lançando um olhar ameaçador, o cartaz esquecido ao lado deles. As pessoas ao redor riam abertamente. Obviamente, Rin batera em Obito, porque além do Uchiha estar no chão com uma expressão bem assustada, ela tinha o punho erguido e exibia um sorriso vitorioso.


Antes que pudesse ler as mensagens, o barulho da porta abrindo a trouxe à realidade. A funcionária voltara, o chiclete ainda na boca. A expressão dela, anteriormente de tédio e deboche, se transformou numa careta de raiva. Enquanto a porta se fechava lentamente atrás da garota, Sakura pôde ver um homem barrigudo na frente do que parecia uma máquina de café expresso. O rosto dele também não parecia muito feliz; perfurava a nuca da funcionária com os olhos, como se esperasse que ela agarrasse todo o dinheiro do caixa e pulasse por cima do balcão.


- Aqui está. - Disse ela, com uma cordialidade tão verdadeira quanto uma nota de três reais.


Provavelmente levou uma bronca do chefe, pensou ela, fazendo o possível para manter a própria expressão impassível. Agradeceu e pegou o copo, já se virando para ir embora.


- Me desculpe. - As palavras saíram da boca dela num atropelo, como se tivesse medo de que as sílabas a queimassem.


Levou alguns segundos para a Haruno distinguir as palavras. Até as pessoas ao redor olhavam espantadas de uma para a outra. Sem jeito, ela apenas responde:


- Tudo bem, já vi atendentes piores.


As duas trocaram um meio sorriso antes de seguirem seu caminho.


Na calçada, a massa de estudantes estava ainda maior do que quando ela chegara. Atravessou com cuidado para o outro lado da rua, equilibrando precariamente o copo numa mão e tentando desbloquear com celular com a outra.


Enquanto clicava na conversa com Obito, bebeu distraidamente o líquido do copo, quase cuspindo-o em seguida. Estava frio e aguado, e o creme por cima ainda continha o gosto dos ovos mal batidos.


Maravilha, pensou.


Continuou a caminhar, agora com um pouco de pressa. Não importava para que lado olhasse, não encontrava em nenhum canto uma lixeira para que pudesse jogar fora a mistura nojenta que pagara. Reparou que à medida que se afastava do café, mais o número de alunos ia diminuindo. Comtemplou as ruas quase vazias, o barulho deixado para trás deixava o silêncio quase assustador. Poucos seguiam na mesma direção que ela, na maioria, sozinhos.


Finalmente, ao virar numa esquina, ela se viu diante de um grande prédio azul-turquesa de dois andares, ladeado por um pátio extenso, que dava acesso a uma estufa de jardim do lado direito e a um ginásio coberto pelo esquerdo.


Parou por alguns segundos para admirar o local em que faria amizades e laços. Um arrepio percorreu pelos seus dedos quando ela os flexionou ao redor do copo e se apressou para atravessar o arco do portão.


Localizou a entrada do prédio principal e rumou para lá. Como ainda não conhecia absolutamente nada, sua melhor alternativa era explorar o local, na esperança, de encontrar a secretaria e, se estivesse com sorte, sua sala de aula.


Seu celular vibrou novamente em sua mão. Por um minuto, ela se esquecera que ainda o segurava e não respondera às mensagens do amigo. Leu as primeiras mensagens deixadas por ele:


''Bom dia, Barbie Girl, como vai?''


''Primeiramente, você deveria me agradecer porque eu acordei antes do sol nascer para te mandar essas fotos antes que fosse para a sua nova escola.''


 ''Você deve estar pensando: Uau, Obito, como você é legal! Eu te adoro muito, além de bonito, é mais inteligente que eu. Mas não se preocupe, porque fiz isso totalmente por vontade própria. Ninguém me obrigou nem nada.''


''Como você deve ter visto, nenhum dos nossos amigos quis fazer a foto, então eu tive que arrumar uns dublês para eles. Na verdade, acho que minha ideia foi brilhante''


''Além disso, eu queria que você não se sentisse sozinha no seu primeiro dia de aula. Lembro quando chegou aqui, era só uma garotinha assustada.''


E a última, que acabara de chegar, dizia:


''Não me diga que você ficou muito triste porque ninguém sente saudade de você? Tenho certeza de que você deve estar desolada. Não chore, Barbie Girl!''


Sakura observou mais uma vez a foto em que seus melhores amigos seguravam os cartazes com frases motivadoras e saudosas. Sua boca se curvou num sorriso irônico quando ela começou a digitar.


''Primeiramente, eu não estou pensando no quanto você é incrível (estaria mentindo se pensasse isso), muito menos inteligente, porque a maioria da nossa turma teve uma nota melhor que a sua nos exames finais. E eu poderia apostar uma perna que foi a Rin que teve toda essa ideia de reunir a galera para fazer a foto. Eu não faço a mínima ideia de onde você tirou essa 'garotinha assustada', mas com certeza, não está se referindo a mim. E o fato de ninguém sentir saudades de mim, acho que além de um tratamento psicológico, você também precisa de óculos, por que não consegue reconhecer seus próprios amigos. Talvez sua visão tenha sido prejudicada depois do soco da Rin. Se eu fosse você, buscava ajuda especializada imediatamente.''


 A respostas levou menos de cinco segundos para chegar:


''Ajuda? Eu sou...''


Infelizmente, ela não conseguiu terminar de ler a mensagem. Como tinha os olhos fixos no celular, não prestava atenção ao caminho à sua frente.


Só se deu conta do seu erro quando recebeu um forte choque ao trombar violentamente contra uma parede. Conseguiu se manter de pé no último segundo, agarrando o celular para que este não caísse. No entanto, com a outra mão, ela não teve tanta firmeza para segurar o que levava. Acompanhou o copo fazer um arco em câmera lenta, se espatifar no muro, derramar todo seu liquido sobre ele e cair no chão com um baque surdo.


- Cacete! - Exclamou uma voz grave.


Ela piscou, aturdida. Desde quando muros xingam? Ao analisar melhor o estrago feito por sua bebida notou, com desespero, que não se batera numa parede, o que teria sido melhor, com certeza. Uma mancha enorme e marrom se espalhava lentamente sobre uma camisa preta, deixando evidentes os músculos retesados da barriga.


Porra, já arrumei confusão antes das aulas começarem. Nem o Obito bateu esse recorde, pensou.


Enfiou o celular no bolso da calça e ergueu a cabeça, já que sua altura mal atingia o queixo da pessoa. Encontrou um par de olhos azuis estranhamente familiares e as sobrancelhas muito juntas. É o meu fim.


Porém, quando seus olhos desceram um pouco mais, o que viu foi um sorriso ainda mais familiar. Espera, sorriso? Que tipo de idiota sorri ao receber um banho de cappuccino? Até que localizou seis riscos pretos em cada extremidade das bochechas. Só conhecia uma pessoa com estas marcas...


- Por favor, que meus olhos não estejam me enganando, Sakura!


Ainda petrificada pelo choque, ela não se moveu quando recebeu o abraço que há muito tempo não recebia. Todo seu corpo se arrepiou quando os braços dele passaram ao seu redor, envolvendo-a com um calor desconhecido. Ficaram abraçados por alguns segundos, o cheiro do cappuccino se misturando ao perfume deles.


Ele se afastou lentamente, quase como se tivesse medo de que ela desaparecesse diante de seus olhos. Como não aconteceu, ele sorriu ainda mais, observando-a ajeitar a mochila nos ombros, o rosto corado pelo frio. Ou que ele achou ser pelo frio. A cabeça de Sakura estava a mil, e ela se surpreendeu por ele não ouvir as engrenagens trabalhando freneticamente. Não falou nada até abaixar os olhos para a própria blusa e ver que também manchara o suéter.


- Desculpe por isso, não consegui me segurar. - Disse ele, contentíssimo.


- Caramba, agora vou morrer de frio! - Gemeu ela.


Tirou o suéter molhado devagar, mas o frio a atingiu como um soco.


- Ah, vai, não é tão grave. Eu é que estou encharcado.


Ele se abaixou para pegar o copo de plástico.


- Pela primeira vez, devo agradecer por alguém ter comprado com a Kim-Mau-Humor. Imagina se esse cappuccino estivesse quente...


- Kim-Mau-Humor?


- Sim, ela trabalha na lanchonete aqui perto há alguns meses; é o terror de quem quer uma bebida decente. Por isso nós sempre compramos com a senhora Puddifoot: demora, mas temos certeza de que o café não virá frio ou aguado.


- Anotado. - Disse ela, puxando a blusa para mais perto do corpo quando um vento gelado passou por eles.


- Nossa, você não estava brincando... Venha, você deu muita sorte, porque eu acabei de deixar minhas coisas no vestiário, deve ter um moletom por lá.


Ainda tremendo, ela acompanhou-o até o ginásio, onde duas portas se destacavam numa das extremidades da quadra.


- Tem certeza de que eu posso entrar aí? - Perguntou, quando ele abriu a porta com os dizeres ''Vestiário masculino'' sem hesitar.


- Normalmente não, mas como não tem ninguém por aqui, não vejo problema. Vem logo.


E, fazendo novos arrepios subirem até a nuca da garota devido ao calor que emanava dos dedos dele, puxou-a pelo braço.


O lugar era bem espaçoso, tendo uma porta que provavelmente levava aos chuveiros do lado direito e três corredores amplos do esquerdo, divididos por fileiras de armários vermelhos.  


Ele se encaminhou para o de número 7, que abriu com uma chave que levava no bolso.


Sakura não se surpreendeu ao ver a bagunça de roupas dentro do armário do amigo. Sempre fora a característica mais acentuada dele viver num espaço caótico.


Com alguma dificuldade, um enorme moletom laranja e preto surgiu no meio de tanta coisa.


- Talvez fique grande, você não cresceu nem um pouco desde a última vez que nos vimos.


- Ei, eu era mais alta que você!


Ele apenas sorriu, divertido. E, sem qualquer tipo de aviso, tirou a camisa que usava e a jogou na primeira prateleira do armário. A seminudez repentina fez com que Sakura se virasse tão depressa que quase foi ao chão. Mesmo de costas, não conseguiu apagar a imagem dos músculos de Naruto. As bochechas queimaram violentamente quando ela tentou disfarçar seu próprio movimento ao vestir o moletom gigante.


- Está tudo bem? - Perguntou ele, inocentemente.


- S-Sim... Eu... Eu preciso ir até a secretária... Ainda não...


- Eu te acompanho; afinal, você não deve conhecer nada por aqui e eu cheguei cedo demais. Vamos.


Ele puxou-a novamente pelo pulso, aparentemente sem perceber seu gesto, e guiou-a até a saída, onde verificou se ninguém vinha. Estranhamente, o mesmo calor se espalhou pelo braço de Sakura quando a mão dele envolveu sua pele. Não poderia ser possível, mesmo que a temperatura corporal dele fosse elevada, que este calor a envolvesse como uma língua de fogo invisível. Ele, porém, não mostrou indícios de ter sentido: não parou de falar nem por um instante, bombardeando-a com perguntas e falando como se não houvesse amanhã. Sakura também registrou que o sorriso dele não se desmanchara nenhuma vez de seu rosto, o que causava um certo divertimento a ela. Quando os dois passaram juntos pelo pátio, dessa vez em direção à entrada principal, muitas pessoas já haviam chegado, e acompanharam o caminho deles com os olhos curiosos.


Finalmente do lado de dentro, a escola se mostrou ainda maior do que ela imaginara. Um longo corredor com inúmeras portas, mais armários dispostos nas paredes e uma escadaria no fim deste compunham o primeiro andar. Naruto foi indicando com o dedo algumas delas, mesmo sendo desnecessário, já que todas exibiam placas com as respectivas funções.


Na secretária, duas mulheres os receberam com entusiasmo. Rapidamente, entregaram à Sakura o quadro de aulas e informaram sua turma, que, por um acaso do destino, era a mesma de Naruto. Explicaram alternadamente as regras (e aqui poderia jurar que os olhares das duas lampejaram brevemente sobre o amigo) e os horários em que a cantina e biblioteca permaneciam abertas. Entregaram-lhe também os números de seus armários (um no corredor e outro no vestiário), ressaltando que as coisas guardadas ali não eram de responsabilidade da escola.


No segundo em que as duas pararam de falar, Naruto tornou a puxar Sakura pelo pulso (novamente o calor subiu pelo braço da garota), levando-a para o fim do corredor, que agora também estava apinhado de alunos barulhentos.


Mesmo com o amigo a puxar-lhe insistentemente, Sakura procurou anotar mentalmente os lugares que já conhecera. A experiência ensinara-lhe a vital importância de saber aonde se ia num ambiente novo.


Quando finalmente pararam diante de uma imponente escadaria de mármore preto, uma pequena porta de vidro saltou aos olhos da garota. Quase passara despercebida, pois encontrava-se logo abaixo das escadas, escondida pelas sombras que esta projetava. A tal porta não exibia uma inscrição indicando sua função, diferente de todas as outras. Ainda se perguntava o que haveria atrás dela quando deixou os olhos deslizarem para o rosto de Naruto.


Estava claramente agitado, talvez até receoso ou apreensivo. Passou uma das mãos distraidamente pelos cabelos, já que a outra segurava firmemente a mão da amiga. Sakura acompanhou os olhos azul-mar correrem pelos alunos eufóricos que os cercavam, conversando e rindo.


-Vamos subir. - Disse finalmente, apontando para as escadas com um aceno de cabeça. - Ficaremos mais tranquilos e, de qualquer forma, nossa primeira aula é por lá.


Sem esperar uma resposta, guiou-a até o segundo andar. Diferente do anterior, este estava totalmente deserto. O corredor também continha várias portas e inúmeros armários. Sakura se encostou na parede, e Naruto, talvez percebendo agora que não largara a mão dela, soltou-a, colocando-se à sua frente. O rosto dele, antes descontraído e alegre, se mostrava sério. O olhar grudado na porta ao lado deles


- Eu... Eu quero te contar uma coisa. - Começou ele, pela primeira vez escolhendo as palavras para continuar.


- Você é gay? - Perguntou ela, sem conseguir frear a língua.


- Como é?! - Ele soltou uma risada nervosa. - Não, claro que não! Que ideia...


- Então fala logo. Vai, desembucha!


Ele desviou os olhos da porta e fixou-os em Sakura.


- Eu... Quero dizer... Faz pouco tempo, sabe... E eu...


Ao notar a expressão de total incompreensão no rosto da amiga, suspirou profundamente e falou, numa ovoz abafada e quase inaudível.


Sakura deu um pulo e arregalou os olhos, surpresa.


 



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Autor(a): alyndrye

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