Fanfic: A Esposa Virgem (Delena - Adaptação) 2ª temporada | Tema: Delena, Vondy, Romance

Idade Média.

Com olhar sombrio para a caneca de cerveja, Damon Salvatore apoiava-se à parede. Não estava embriagado. Nunca bebia demais. Isso lhe embotaria os sentidos e os dele eram afiados como uma navalha. Como prova disso, levantou a cabeça ao ouvir um ruído na entrada do salão. Mantinha o olhar alerta ao menor sinal de perigo. Mas tratava-se apenas da irmã Dulce com o bebê no colo.

Gilbert não passaria por ali outra vez.

Apesar da disciplina férrea, a ideia invadiu-lhe a mente como um fantasma negro. Por um momento, Damon debateu-a. Seu inimigo estava morto. O vizinho, que o tinha abandonado ferido na Terra Santa e voltado para roubar-lhe as terras, perecera neste mesmo salão, nas mãos de Christopher, o marido de Dulce. O fato o privara de exercer a vingança.

Damon olhou para as duas cadeiras pesadas, na frente do salão, onde a cena se passara. Mas os ladrilhos já tinham sido lavados e o sangue de Gilbert se fora para sempre. Damon jamais o veria soluçar e, assim, não sentiria o prazer da vingança tão arraigada em sua alma.

Desde então, nesse último ano, ele tentara executar outras mortes, trabalhando como soldado contratado. Todavia, o extermínio de estranhos significava tão pouco quanto as parcas moedas recebidas em sua troca. Damon já possuía fortuna e uma próspera propriedade. Construído pelo pai, Belvry era um castelo moderno que provocava a inveja de seus pares. O fato, entretanto, não lhe provocava satisfação. Por isso, estava ali, no local do desapontamento amargo, em busca de alento para o vazio em que sua vida se tornara.

Damon apertou os dedos em volta da caneca. Na verdade, não encontrava estímulo em nada, pois tudo perdera o significado para ele. Sua irmã havia mudado muito nesses cinco anos que ele passara na Terra Santa. Ele nem mais a reconhecia. Damon também se ressentia do fato de o cunhado tê-lo privado do que mais desejava: tirar a vida de Gilbert.

Dulce: Damon! Eu não o vi aí encostado na parede. O que pretende fazer esta tarde? - Dulce perguntou com aquele meio sorriso desconfiado, com o qual ele já se acostumara.

A irmã linda, de cabelos negros, não sabia o que fazer com ele, mas isso não o surpreendia. Ele próprio não sabia o que fazer consigo mesmo.

Damon: Nada - respondeu Damon com olhar indiferente. Dulce sentou-se num banco e dirigiu-se à filhinha:

Dulce: Veja, Elise, é seu tio Damon.

Ao ouvir a voz terna e amorosa, ele quase não acreditou. A Dulce que ele conhecia era uma jovem altiva, castelã eficiente, mas incapaz de demonstrações afetivas. Agora, em vez de deixar a criança sob os cuidados da babá, carregava-a para todos os cantos grande parte do tempo. Difícil entender tal atitude.

Um movimento na entrada chamou-lhe a atenção. Virando-se depressa, Damon viu Christopher entrar no salão. Homem de estatura avantajada, o marido de Dulce seria capaz de intimidar as pessoas, mas raramente o fazia. Ele parecia deliciar-se com o mundo em volta, do qual se vira desligado durante uma crise de cegueira temporária.

Dulce: Christopher! - exclamou Dulce sem esconder a alegria. - Veja, Elise, é o papai - acrescentou, sacudindo a mãozinha da criança para o cavaleiro imponente.

Talvez algo durante o parto houvesse danificado a mente da irmã, pensou Damon não pela primeira vez durante a estadia ali.

Dulce: Fique no colo do titio enquanto recebo seu pai - disse Dulce.

Para horror de Damon, ele viu-se com a sobrinha no braço. Era pequena, gorda e sem um fio de cabelo. Cheirava a uma mistura de leite e sabonete. Ele a estrangularia caso lhe sujasse a túnica.

Com a caneca de cerveja em uma das mãos e o bebê no outro braço, Damon dirigiu um olhar impotente para a irmã. Porém, ela já se afastava.

Atônito, viu-a atirar-se nos braços do marido. Damon jamais se acostumaria àquele comportamento. Numa cena constrangedora, o casal beijou-se apaixonadamente como se estivesse em seu quarto. Talvez a crise de cegueira também houvesse perturbado a mente do cunhado, refletiu Damon.

A criança percebeu de repente onde estava e pôs-se a chorar alto. Damon estremeceu e imaginou se não deveria deixar logo o castelo de Dunmorrow. Sentia-se embaraçado ao lado desse trio estranho, mas feliz. Em comparação à deles, sua vida parecia mais vazia e sem propósito.

Damon: Pegue aqui - disse ele, estendendo a criança para a mãe.

Dulce: Pronto, Elise. Você deve estar com sono - Dulce murmurou.

Admirado, Damon não entendeu como a irmã falava com aquela coisinha como se pudesse ser entendida. O estômago contraiu-se e ele lembrou-se de que precisava comer algo. Mas como tudo, os alimentos não lhe despertavam o interesse. Resolveu concentrá-lo no gigante loiro que teimava em chamá-lo de irmão.

Christopher: Damon! - Christopher exclamou com afetividade irritante.

Como o Cavaleiro Vermelho ousava encará-lo com aquela franqueza e como se enxergasse o vazio de sua alma? Como se atrevia a dar-lhe conselhos quando este castelo era uma lástima se comparado a Belvry?

Dunmorrow era velho e seus habitantes não possuíam riquezas. Todavia, eles pareciam ter um tesouro além do alcance de Damon. Isso o deixava mais frustrado ainda. A dor de estômago aumentou e ele quase fez uma careta. Mas manteve a expressão impassível diante do olhar perscrutador de Christopher.

Christopher: Vim avisá-lo, irmão, que chegou um mensageiro do rei a sua procura - disse o cunhado.

Olhando para a entrada, Damon viu um homem com o emblema de Edward. Como não o tinha notado? Claro, distraíra-se com a criança e com demonstrações amorosas. Abafando a raiva, pôs a caneca na mesa e dirigiu-se ao estranho.

Finalmente. Já fazia um ano que Gilbert invadira a propriedade vizinha de Belvry e, até agora, o destino das terras do desgraçado continuava sem solução.

Na opinião de Christopher, Edward decidiria em favor de Damon, passando a propriedade para Belvry como indenização. Damon, entretanto, não confiava em reis e príncipes, graças às experiências adquiridas na aventura chamada de Guerra Santa. Ele não se surpreenderia se Edward confiscasse a propriedade de Gilbert para a coroa.

Não se importaria com isso. Gilbert não tinha prole, portanto, de uma forma ou de outra, as terras deixariam para sempre sua linha hereditária. Isso constituía uma pequena satisfação para Damon, pois era a única vingança que lhe restava.

****: O senhor é Damon Salvatore, o barão de Belvry? - o mensageiro do rei indagou.

Damon: Sou - confirmou Alfonso.

****: Trago-lhe uma mensagem de seu soberano. - Damon fez-lhe um gesto para sentar-se no banco ao longo da mesa. Nesse instante, percebeu o olhar ansioso de Dulce. Ela e o marido não escondiam a vontade de também ouvirem a novidade. Isso o surpreendeu.

Dulce: Posso oferecer-lhe uma bebida? - perguntou Dulce ao mensageiro.

****: Aceito, sim, minha senhora. Mas a mensagem é curta. Não prefere ouvi-la primeiro? - indagou ele olhando para Damon e para os outros dois.

Irritado, mas querendo terminar logo a questão, Damon dirigiu um olhar interrogativo ao cunhado. Este o respondeu com outro de advertência. Com o braço nos ombros da esposa, Christopher o fez sentir que devia algo a Dulce por seu trabalho em Belvry. Tenso, Damon teve a sensação de que, apesar das demonstrações de amizade de Christopher, os dois chegariam às vias de fato.

Damon, entretanto, cedeu. Afinal, o assunto não tinha muita importância para ele. Não havia mal que eles ouvissem a notícia.

Damon: Esta é minha irmã, e seu marido, o barão de Uckermann, o senhor já conhece.

****: Minha mensagem é referente à posse da propriedade adjacente a Belvry e pertencente ao falecido barão de Gilbert.

Damon concentrou a atenção no mensageiro. Este pôs-se a ler o decreto real, no qual Edward demonstrava a vontade de solidificar a lealdade dos súditos através de laços matrimoniais, sempre que fosse possível. Está bem, pensou Damon. Termine logo a leitura!

****: Como descobriu-se a existência de uma sobrinha de Gilbert, portanto sua herdeira, é nossa vontade que o senhor se case com Elena Gilbert, reunindo as duas propriedades e sendo senhor de ambas.

Embora o homem continuasse a ler, Damon não prestou mais atenção. Gilbert tinha uma parenta viva. A informação reavivou a raiva adormecida, enchendo o vazio da alma com renovado propósito.

Continua...