Fanfic: A Esposa Virgem (Delena - Adaptação) 2ª temporada | Tema: Delena, Vondy, Romance

****: Meu senhor?

Vinda da escuridão, a voz interrompeu-lhe os pensamentos. Sem ruído algum, Damon segurou o cabo da adaga na cintura. Tinha tirado a túnica, mas conservara a arma. Como aprendera muito tempo atrás, lugar algum era seguro e não se podia confiar em ninguém, nem mesmo em freiras.

Damon olhou para a entrada da cela, que não tinha porta, ou cortina. Apesar das sombras, distinguiu uma silhueta curvada. Num movimento brusco, sentou-se.

****: Não! Fique onde está, por favor. Sou eu, a abadessa Wright. - A voz era baixa e meio sem fôlego. - Quero trocar uma palavrinha com o senhor.

A essa hora? Se não fosse sua idade avançada, Damon desconfiaria das intenções da freira.

Damon: Do que se trata?

****: De um assunto muito delicado, meu senhor. Eu não tocaria nele se pudéssemos nos ver à luz do dia.

Damon: Está bem. Fale logo - instou Damon, irritado.

****: É sobre Elena, meu senhor. Peço-lhe que não a trate mal.

A irritação cresceu.

Damon: Ela vai ser minha mulher e não lhe dirá mais respeito.

****: Sei bem, meu senhor. Mas eu não gostaria que se impusesse a ela.

Com todos os diabos. Estaria a abadessa querendo aconselhá-lo sobre assuntos matrimoniais?

Damon: A senhora não quer que o casamento se consume? - indagou, incrédulo.

****: Não até que seu coração a receba, meu senhor.

Damon: A senhora me deixa confuso, abadessa. A igreja não exige que os votos matrimoniais sejam consumados? - perguntou Damon com sarcasmo.

****: Quero lembrá-lo que estupro é pecado - disse a freira veementemente.

Damon: Não existe estupro entre marido e mulher - protestou ele.

Não deixava de ser engraçado estar seminu, numa cela de convento, discutindo sexo com uma freira. Contudo, o fato o aborrecia.

****: Deus vê e conhece tudo. Ele o julgará de acordo com sua intenção.

Damon: Abadessa, o que a leva pensar que eu estupraria minha mulher? - Damon perguntou, tentando controlar-se.

****: Vi sua expressão de ódio quando olhou para ela.

Ele não precisou negar a acusação. O farfalhar do hábito mostrou que a abadessa se afastava. Perplexo com tal comportamento, ficou olhando para a entrada da cela. As freiras de outros conventos seriam tão entranhas como as desse?

Praguejou contra a insensatez das mulheres e voltou a deitar-se. Se a velha freira não houvesse tido a audácia de adverti-lo, talvez lhe confessasse não ter a intenção de levar a mulher para a cama.

Planejava algo muito pior para ela.

*******************************

Damon se viu dominado pela sensação de triunfo não sentida desde que havia destruído o exército de Gilbert. Não havia enfrentado o inimigo, pois este fugira covardemente. Mas agora, Damon e a sobrinha do desgraçado encontravam-se diante do sacerdote que os tornaria marido e mulher.

Elena usava o hábito preto de freira. Provavelmente não tinha outras roupas. Pouco importava.

A noiva não era tão alta quanto tinha calculado. O topo de sua cabeça alcançava-lhe a face. Observou-a imaginando os cabelos escondidos sob a touca. Estudou-lhe as feições: sobrancelhas bem arqueadas, cílios longos e densos e lábios rosados. Estavam meio curvados e fechados. Surpreso, ele percebeu que Elena hesitava a fazer os votos matrimoniais. Aproximou-se mais, ameaçando-a em silêncio.

Embora Damon esperasse que a noiva se acovardasse com a atitude, ela ergueu os olhos com ar de desafio. Encararam-se e ele tentou forçá-la a falar através de um olhar feroz. Ela nem piscou. Não importava tanto orgulho, pois ele seria o vencedor. A ideia o levou a sorrir. Elena desviou o olhar e, com voz trêmula, fez o juramento.

Sua coragem o surpreendeu. Essa era uma qualidade que Damon valorizava acima de todas. Estranho encontrá-la na herdeira de Gilbert. Talvez tudo não passasse de tolice feminina, refletiu ele.

Tão logo o padre terminou a cerimônia, Damon anunciou:

Damon: Partimos imediatamente. Vamos, mulher, despeça-se das companheiras.

Mais uma vez, Elena o surpreendeu. Calada e sem lágrimas, passou diante das freiras. Por Deus, que mulher fora do comum!

Por um instante, Damon seguiu-a com o olhar, mas depois dirigiu-se à abadessa:

Damon: Não se preocupe, eu não a tocarei - prometeu. A velha freira não pareceu aliviada e, consternada, disse:
****: Ora, meu senhor, sei que Elena não é tão linda como muitas mulheres, mas a ordem divina é crescer e multiplicar.

Damon: Não foi isso que me disse ontem à noite.

****: Ontem à noite?! - repetiu a velha freira com olhar confuso.

A suspeita dominou Damon e ele virou-se para a porta. Elena já estava lá fora, de costas para ele e junto ao cavalo palafrém. Havia sido ela, sem sombra de dúvida, quem o procurara na noite anterior. E o tinha convencido tratar-se da abadessa.

O sangue de Damon ferveu. A criatura era de uma audácia fora de conta. Imagine aconselhá-lo a respeito da consumação do casamento! Do que mais ela seria capaz?

Dê vazão a suas artimanhas, mulher irascível. A guerra apenas começou - refletiu Damon tentando se controlar.

*******************************

Damon forçou a comitiva a cavalgar até o anoitecer e sentiu prazer ao ver Elena mal conseguir escorregar da sela. Ela não estava acostumada a longas viagens como ele e seus homens.

Agora, ela jantava de cabeça baixa, sinal de exaustão. Em outra mulher, Damon assumiria tratar-se de submissão, mas não Elena. Ela não demonstraria o menor sinal de fraqueza se soubesse que ele, escondido entre as árvores, a observava.

Criatura estranha, mas uma oponente de valor, Damon refletiu. Na curta convivência de ambos, ela mostrara muito mais coragem do que o tio. Todavia, sua visita, durante a noite no convento, provava que era tão traiçoeira quanto Gilbert. Precisava ainda descobrir o que a motivara, mas não se atreveria a virar-lhe as costas.

Enraivecido, aproximou-se, ansioso por atormentá-la. Aliás, Elena já tinha se alimentado bem e ele imaginava para onde iria toda aquela comida. Embora alta, ela não era gorda. Ele terminara há refeição há algum tempo, porém, ela continuava a comer. Talvez tentasse adiar uma conversa com ele. A ideia o estimulou a parar a seu lado numa atitude intimidadora.

Damon: Já está satisfeita, mulher? - Elena levantou os ombros e o queixo, mas não o olhar.

Elena: Não - respondeu ela em tom brusco enquanto apanhava mais um pedaço de pão.

A petulância o irritou.

Damon: Você queira, ou não, sou seu marido agora. Afirmo que você já comeu o suficiente.

Ela, então, o fitou com os olhos castanhos falseando.

Elena: Deseja me manter com fome, meu senhor? - perguntou ela com a rispidez de quem proferia uma praga.

Damon: Impossível, com o que você já comeu. Mas talvez eu faça isso, caso você não me agrade.

Elena não respondeu como Damon esperava e, em vez disso, desviou o olhar como se o ignorasse. Ele não toleraria isso. Com o dedo sob seu queixo, forçou-a a fitá-lo. O antagonismo nos olhos castanhos era evidente, mas ele percebeu algo mais.

Medo. Damon podia quase apalpá-lo. Suas narinas fremiam e a respiração tomava-se ofegante. Apesar das demonstrações de coragem, Elena estava aterrorizada. Por quê?, ele conjeturou antes de calcular a resposta.

A cama. Esta criatura temerária, que havia enfrentado a abadessa, a ira dele e pulado de uma janela alta, receava o cumprimento dos deveres matrimoniais. Ao procurá-lo no convento durante a noite, não fora para fazê-lo passar por tolo, mas porque lhe temia a luxúria.

Damon sentiu-se insultado. Jamais precisara se esforçar para agradar as mulheres. A aparência atraente garantia-lhe a atenção feminina mais do que desejava.

Podia sentir a veia de Elena latejar sob o dedo. Por que se ofendera? Tinha a intenção de atormentá-la e já estava conseguindo. Como, não importava.

Não era verdade.

Soltou-lhe o queixo. Embora ela se esforçasse para não baixá-lo, sua pose arrogante tinha desaparecido. As mãos crispavam-se no colo com tanta força que as juntas dos dedos embranqueciam. Sua derrota o afetava de maneira estranha e, sem pensar, Damon segurou-a pelos pulsos.

*****************************

Continua....