Fanfic: Mestre, Se Entregue! | Tema: Harry Potter

A Segunda Guerra Bruxa havia acabado há um ano. O restante do ano de 1998 tivera voado, com todos tentando se reerguer dos recentes acontecimentos. Ninguém podia acreditar que Dumbledore realmente se fora. E que Voldemort havia sido derrotado, de uma vez por todas.

Agora, em Setembro de 1999, completava-se um ano e quatro meses desde que tudo acabara. Parecia que tudo tinha acontecido na semana passada, no máximo. Hogwarts não era mais a mesma e ninguém poderia imaginar como seria difícil a vida voltar ao “normal” dentro daquela escola. O trio de ouro não voltaria para completar seu sétimo ano. Provavelmente seguiriam em frente, almejando a paz tão sonhada.

Tudo isso cruzou a mente do Professor Snape tão lentamente, que ele quase se esqueceu que um novo ano letivo começaria em Hogwarts dentro de alguns dias. Ele passara o ano todo tentando absorver tudo que havia acontecido; tentando reconquistar a confiança dos professores; dos pais dos alunos, que enchiam o corujal com cartas e mais cartas pedindo explicações; do Ministério, principalmente.

Ele achou por bem transferir o cargo de diretor, que até então ocupava, para a Professora McGonagall, que com certeza seria uma ótima líder, apesar de às vezes possuir um coração muito mole para alguns alunos, na opinião de Snape. Ele voltaria ao seu cargo de Mestre de Poções, tentando estabelecer alguma normalidade em sua vida. Não havia lugar para ele fora de Hogwarts. Ali era seu lugar, sempre fora. Agora mais do que nunca precisava honrar o nome da escola e de Dumbledore.

Durante os meses de férias, ajudando a reformar a escola que fora praticamente destruída, teve muito tempo para pensar o que fora sua vida nesses 39 anos de vida. Simplesmente havia dedicado todo seu tempo e energia para proteger Harry Potter, ser agente duplo para Dumbledore, e usar uma máscara para ganhar a confiança de Voldemort. Além de ter de conciliar com uma vida acadêmica, suportando alunos mal educados e arrogantes.

Ele sabia que precisava de um novo ânimo, uma nova identidade. Já decidira que não passaria os restantes de seus anos preso a memórias e remorsos. Tudo que enfrentou fora ridiculamente fácil para o que ele precisaria enfrentar agora: descobrir sua verdadeira identidade, quem era Severo Snape levando uma vida tranquila, sem antigos inimigos lhe perturbando, sem o medo de Voldemort retornar. E não importava qual pensamento cruzasse sua mente, todos acabavam em Lílian. De uma vez por todas, ele precisava esquecer dela. Uma lembrança mórbida de um amor não vivido. Ele precisava seguir em frente, e sem os vívidos olhos verdes de Harry lembrando-lhe dessa antiga paixão, talvez agora conseguisse.

Severo acordara muito cedo na manhã de 01 de Setembro de 1999. Não era nem 05:30 da manhã quando ele despertou. Pensava se os antigos alunos de Sonserina ainda iram ter-lhe como professor favorito. Afinal passara-se quase um ano e meio que não os via. Aquilo realmente não importava e Snape logo levantou da cama, espantando esse pensamento para longe. Afinal, agradar alunos nunca fez seu estilo, e não seria agora que mudaria isso.

Ele colocou suas vestes pretas, como de costume, uma longa capa que se arrastava no chão e desceu de seus aposentos nas masmorras para tomar café da manhã junto dos outros professores. Todos estavam extremamente alegres com o retorno das aulas; conversavam e imaginavam quais seriam os novos alunos que ingressaria na escola. Snape havia esquecido que teria de tolerar novos pirralhos grifinórios, lhe atormentando noite e dia.

Naquela manhã, Snape decidiu tomar seu desjejum rapidamente a fim de livrar-se daquela conversa sobre o ano que lhes esperava. Engoliu um chá quente e dirigiu-se ao seu escritório na Sala de Poções, para revisar o conteúdo das aulas que iniciariam no dia seguinte. Snape também precisava se apresentar para os Sonserinos, veteranos e calouros no Salão Comunal após o banquete de boas-vindas.

O restante do dia voara e o Professor decidiu tomar um banho quente e se preparar para a cerimônia que iniciaria em breve. Despiu-se de suas vestes, abriu o chuveiro e olhou-se no espelho por um momento. Olhos muito negros encaravam-no de volta. Snape não havia mudado muito nos últimos 10 anos. Continuava pálido, lábios vermelhos, cabelos pretos escorridos, um nariz que era motivo de muitas piadas. Mas precisava admitir que algumas rugas começavam a surgir em seu rosto, demonstrando que logo seria um “quarentão”. Seu grande corpo truculento continuava forte, com largos ombros, braços cheios de veias, e uma tatuagem de cobra, que insistia em lembrar-lhe todos os dias o que precisou fazer para chegar até ali. Há um ano e meio a serpente esquelética não movia-se em seu antebraço, para a alegria de Severo.

Seu peito arfava lentamente conforme aspirava o vapor quente que começava a tomar conta do banheiro que se encontrava. Entrou no banho e deixou-se relaxar pela água quente que corria pelo seu corpo.