Fanfic: Mestre, Se Entregue! | Tema: Harry Potter

CAPÍTULO 27 – QUANTO A MIM...

Lauren pulou com o susto que Draco havia acabado de lhe dar.

- Draco! – exclamou mais alto do que imaginado – Hmm... Oi!

Tentava não parecer nervosa, mas seu coração batia tão forte que suspeitava que o garoto conseguiria ouvi-lo a metros de distância. Draco seguia sentado, fitando-a. E ele não era o único. O Salão Comunal estava cheio de alunos da Sonserina inteira, e todos a encaravam.

- Sim, sou eu. – falava com desdém e seu olhar expurgava raiva – Conseguiu colocar as lições em dia, Lauren? Você está muito bonita, a propósito.

Lauren tremia com todos os olhares voltados a ela e o questionário de Draco trouxe ao Salão um silêncio ensurdecedor.

“E agora? Ele sabe que eu não estava estudando porcaria nenhuma! O que eu falo?!”

Continuava parada na frente da porta, sem conseguir mover um músculo.

“Calma. O primeiro passo é se livrar desse bando de fofoqueiros.”

Reuniu forças e saiu do lugar, caminhando até chegar bem perto de Draco, onde abaixou seu tom de voz, para que ninguém conseguisse ouvir.

- Sim, consegui. Só quis me arrumar um pouco, colocar roupas diferentes. É tão errado assim? – indagou, irritada.

- Não, de forma alguma. Ainda bem que conseguiu colocar tudo em ordem. – respondeu, não acreditando em uma só palavra que Lauren havia dito.

- Sim. Foi cansativo, mas consegui. Estou exausta. Eu vou me deitar. – anunciou, abaixando para beijar o rosto do amigo e se despedir. – Boa noite, Draco. Até amanhã.

- Até, Lauren. – disse Draco, observando algo brilhante no pescoço da menina, a centímetros de seu rosto. – Aliás, belo colar. Spencer tem bom gosto.

- O que? – indagou, olhando para seu próprio peito.

“O colar! Burra, burra, burra!!!”

- SS. Spencer Sykes. – Draco olhava para Lauren como se tivesse acabado de pegar ela na mentira.

- Você está ficando louco, Draco. Eu tenho esse colar há séculos. Nunca reparou, não?

O garoto sentia vontade de gritar com Lauren, para que todos ouvissem que ela era uma mentirosa de primeira linha. Mas resolveu se controlar. Havia uma reputação em jogo.

- Claro... Que memória a minha. – respondeu, rindo com o canto da boca.

Lauren subira as escadas para os dormitórios atônita. Não conseguia entender como podia ser tão idiota ao ponto de se esquecer completamente do colar.

- Nossa, olha ela! Que chique, Laurinha. – debochou Natalie Jones ao ver Lauren entrar pela porta do quarto.

- Ah, vê se não enche! – gritou, batendo com força a porta do banheiro. Já estava sem um pingo de paciência para questionamentos e gracinhas.

“Que saco! Vai ser sempre assim? Ter que sair escondida, mentir, magoar pessoas importantes... Eu não vou aguentar!”

Um turbilhão de emoções atingiu a garota. Parecia que aquele dia não acabaria nunca. Simplesmente não suportou a pressão de tudo que ocorrera naquele sábado e desmoronou no chão do banheiro. Chorou até cansar, pensando no quanto estava magoando Draco. Ele significava muita coisa em sua vida.

Ele que estava lá quando se sentira a pessoa mais sozinha do mundo. Ele que a ouvia, a dava suporte, aconselhava. Tornava tudo mais leve.

“É isso... Leve. Com Draco é fácil.”

Pensava em como tudo com Snape era difícil. Seu jeito autoritário, perfeccionista. Em como a manipulava facilmente, e sempre tentava corrigi-la nos mínimos detalhes. O eterno fantasma de Lílian que parecia não deixa-lo.

Draco a conhecia profundamente, suas qualidades, defeitos, gostos. E não tentava muda-la em absolutamente nada. Sempre a aceitara e demonstrava sua admiração. Lauren odiava cada parte de si mesma naquele momento. Odiava ter que mentir para seu melhor amigo. Odiava saber que havia o machucado. Odiava ter que lidar com tudo isso sozinha.

Decidiu que era hora de se acalmar, tomar um banho quente e descansar. Não aguentava mais aquele dia. Precisava dormir e pensar com clareza em tudo que havia acontecido.

Enquanto isso, Severo Snape repousava em seus aposentos, sentado à mesinha em frente sua cama. Procurava alguma coisa vigorosamente, em uma enorme caixa, cheia de objetos de diversos tamanhos. O Professor retirava tudo com muita rapidez, até encontrar um envelope pardo, com algumas manchas deixadas pelo tempo. Seu conteúdo revelava uma fotografia com molduras brancas. Recostara-se na cadeira para examinar algo que há muito tempo não era tocado.

Lílian Evans sorria para Severo, e olhos muito verdes o encaravam. Seus cabelos cor de fogo moviam-se com o vento, e folhas secas de outono voavam para todo lado, atrás dela. Sua energia era contagiante. Não havia uma só pessoa que viesse a conhece-la e não fosse marcada por sua beleza, simpatia e generosidade.

Assim como Lauren, Snape também era atormentado por suas emoções naquela noite, e várias lágrimas caíram de seus negros olhos, direto para um rosto pálido e envelhecido. Não sabia mais o que estava acontecendo. Estava tão acostumado a sentir a falta de Lílian, que nunca havia parado para pensar em sua história. Fazia tanto tempo que estava preso a esse sentimento e a essa saudade. Tanto tempo negligenciando suas próprias emoções.

O dia exaustivo com Lauren o fizera pensar que não estava acostumado a sentir emoções fortes. Tudo que sentia era relacionado ao passado. Se deu conta que precisava de uma vez por todas deixa-lo para trás. Caso contrário, acabaria magoando Lauren, que era só uma menina. Uma menina que ele amava com todas as suas forças, e só de pensar em machuca-la por qualquer motivo, seu coração se apertava.

Severo estava com sua varinha em mãos, pronto para pronunciar o feitiço “Incendio” e queimar a velha fotografia, que lhe trazia tantas lembranças. Mas lembrou-se que havia uma pessoa que, com certeza, gostaria muito de possuir aquela foto. Apanhou em sua mesinha tinta e pergaminho, e com uma caligrafia fina escreveu:

“Potter,

O amor de Lílian fez com que você conseguisse superar tudo e todos. E ela lutou até o fim para que você vivesse. Tenho certeza que esse amor que ela sentia por você, também vive em seu coração, para sempre.

Quanto a mim, estou seguindo em frente.

Fique bem,

Severo Snape.”

Endereçou o envelope a Harry Potter e rumou ao corujal. Ao chegar no topo da escada, todo o seu ser tremia. Mas no instante que a ave levantou voo com a carta presa em seu bico, Severo a observou cortar o céu gelado de Hogwarts, e ali sentiu um peso sair de seus ombros. Junto com aquela fotografia, estava indo embora uma tonelada de sentimentos. E conseguiu respirar livremente.