Fanfic: Mestre, Se Entregue! | Tema: Harry Potter

A terceira semana de aulas em Hogwarts havia chegado, e a euforia dos alunos já estava se dissipando. Todos já haviam se reencontrado, colocado todos os assuntos em dia, decorado sua grade de horários, se acostumado com as aulas, dormitórios. A Ampulheta de Pontos começava a encher-se de pedrinhas coloridas, conforme os alunos ganhavam méritos e deméritos de seus professores.

Quem olhava de fora, via que tudo estava em ordem, na completa normalidade de uma típica quarta-feira de Hogwarts. Mas quem caminhasse ao terceiro andar do castelo, virasse no banheiro feminino e adentrasse na última divisória, veria Lauren Niemberg chorando baixinho, com as mãos cobrindo seu rosto. Temia que alguém a ouvisse, mas era melhor chorar ali do que no meio da aula de Feitiços, de onde correu para o banheiro, com o choro trancado em sua garganta.

Todos os seus sentimentos eram exacerbados. Sentia-se culpada por mentir para Draco, idiota por confiar que Snape teria a solução e com medo de que sua história com o Professor viesse a acabar. Chorava pois não tinha com quem conversar. Sentia falta de seu melhor amigo, de seu namorado, mesmo estando com raiva de ambos. Draco a julgava e Snape a evitava.

“Você não consegue fazer nada certo mesmo... Sua burra.”

Pensou em enviar uma coruja a seu pai, para ter com quem desabafar. Mas desistiu no mesmo segundo, pois sabia que não ajudaria em nada. Ele provavelmente leria a carta e esqueceria de responde-la. Típico.

Sabia que havia dado motivos para Snape querer ficar longe dela e que havia provocado sua ira. Havia se afastado completamente de Spencer, para não dar motivos para o Professor ficar ainda mais bravo com ela. Havia se afastado de todos, para falar a verdade. Só queria que tudo voltasse ao normal, sem ao menos saber o que era o normal.

Seu peito se comprimia de nervoso, sentia que ficava cada vez mais difícil de puxar o ar. Suas mãos começaram a tremer e toda a saliva de sua boca havia desaparecido. Ao mesmo tempo, soluçava de tanto chorar e não conseguia se acalmar. Assim, Lauren teve sua primeira crise de pânico, completamente sozinha, em um banheiro esquecido da escola.

Vários minutos depois, a muito custo, conseguiu se acalmar. Seu peito, porém, ainda arfava, com dificuldades em respirar. Olhou-se no espelho e seus olhos estavam muito vermelhos, sua boca branca, e seu rosto coberto por lágrimas. Não tinha mais a beleza e brilho que todos admiravam. Ao ver como aquela situação havia a deixado, só conseguiu sentir raiva.

Tratou de lavar o rosto e voltar correndo para a aula, antes que perdesse pontos. Ao adentrar na sala, notou que sua chegada mal havia sido notada. Exceto por Draco, que estava assentado na carteira ao lado dela, do outro lado do corredor.

- Ei... Você está bem? – perguntou o menino, sussurrando e gesticulando. No momento que Lauren saíra da classe, ele já havia notado que havia algo de errado. E agora ela havia retornado completamente transtornada.

A garota somente balançou com a cabeça, tentando esboçar um sorriso. Mas Draco não havia se convencido. Ele conhecia Lauren bem demais para ser enganado. E mesmo bravo com a amiga, se importava muito para não se preocupar.

O coração de Lauren ainda se encontrava deveras acelerado, e não conseguia se concentrar na aula, de jeito nenhum. Quando o Professor Flitwick dispensou a turma para o almoço, ela fora a primeira a apanhar seu material e sair correndo da sala; não queria dar brecha para ninguém vir conversar com ela.

Na metade das escadas, porém, Draco a alcançou.

- Ei. Lauren! – gritava – Espere!

A menina fingia que não estava escutando, já sentindo lágrimas invadirem seus olhos novamente. Se parasse para conversar com seu melhor amigo, que tanto sentia falta, com certeza desabaria. E a hora que Draco apareceu do seu lado, puxando seu braço, no final das escadas, teve certeza disso.

Ela nem precisou dizer nada, pois ele simplesmente a abraçou, e a menina afundou a cabeça em seu peito, chorando copiosamente. Os alunos da escola passavam por eles e os encaravam, tentando saber o que estava acontecendo.

- Shhh... Calma. Venha. – disse Draco, passando a mão nos cabelos de Lauren. Ele a conduziu para fora do castelo, até o jardim, que se encontrava vazio.

Os dois sentaram no gramado, encostados em uma mureta, abraçados. A menina não parava de chorar um segundo. Draco estava começando a ficar realmente preocupado, pois nunca vira a amiga daquele jeito. Por mais chateado que estivesse, por saber que ela havia mentido para ele, não conseguia deixar de quere-la por perto. Ela ali, em seu peito... Simplesmente parecia certo.

Aos poucos, Lauren foi se acalmando, e Draco fez questão de deixa-la ali por quanto tempo ela quisesse ficar. Ao perceber que ela já havia recuperado o controle, a questionou:

- Lauren... O que está acontecendo?

- Eu não posso falar... – disse baixo.

- Como assim você não pode falar? Nós nunca tivemos segredo um com o outro! – perguntou, indignado.

- Simplesmente não posso falar, Draco. Me desculpa... – temendo que se abrisse sua boca acabaria falando o nome de Snape.

- É sobre Sykes? Porque eu juro que se aquele babaca tiver feito qualquer... – esbravejou, levantando o tom de voz.

- Não é sobre Sykes! Ele não me fez nada.

- Então quem foi, Lauren?! Eu nunca te vi assim! Você é durona, jamais se abala por nada.

Silêncio. O garoto fechou os olhos, incrédulo. Não conseguia entender o que havia deixado Lauren daquele jeito, e muito menos porque não podia saber o que estava acontecendo.

- Certo. Eu não vou mais perguntar. – respondeu, calmamente. – Mas olha pra mim. – disse, puxando o rosto da menina.

- Primeira coisa, eu já sabia que você estava escondendo algo de mim. Te conheço bem, Lauren. Segunda coisa, não sei por que você acha que não pode confiar em mim, mas vou respeitar. O meu papel, como seu amigo, é te apoiar e estar ao seu lado. E é isso que eu vou fazer. Saiba que estou aqui, você não precisa se afastar de mim, como fez a semana toda. – Draco fez uma pausa e bufou – Eu sei o que é precisar esconder segredos, Lauren. Já atingi minha cota deles... Sei como é sufocante sentir que não pode confiar em ninguém. Justamente por isso não quero que você se sinta assim. Seja o que for que estiver acontecendo na sua vida, eu não vou mais perguntar. A hora que você quiser falar, estarei pronto para ouvir.

Lauren olhava para o amigo com ternura em seus olhos. Lembrou-se de como tudo era fácil com Draco... Simples, puro e leve.

- Você não sabe o quanto isso significa para mim. O quanto você significa para mim. – disse, abraçando o garoto. – No momento certo, você vai saber de tudo. Mas por enquanto, só de saber que você está aqui por mim, já é o suficiente. Obrigada, Draco.

Naquela noite, Lauren teve pesadelos com Snape. Sua voz ecoava em tom fúnebre as palavras que havia dito para a menina. Ao acordar pela manhã, sentia-se exausta, sem vontade de levantar da cama. Abriu os olhos e seu primeiro pensamento foi sobre Snape... Não havia tido notícias do Professor nos últimos quatro dias. Nem nos momentos das refeições. E saber que naquela quinta-feira teria aula de Poções com ele, não ajudava em nada.

Levantou da cama, sentindo seu corpo pesar. Enquanto se arrumava, viu que seus olhos estavam sem brilho e sua boca sem cor. Não tinha vontade nenhuma de se maquiar ou de tentar disfarçar sua fraqueza. Lutava para somente terminar aquele dia.

“É isso... Um dia de cada vez.”

Ao descer as escadas, com a mochila nos ombros, não reparou que havia alguém lhe esperando no último degrau.

- Bom dia. Vamos tomar café?

Draco Malfoy estava a esperando, com os cabelos louros penteados para trás, vestes impecáveis e um perfume maravilhoso, com dentes muito brancos sorrindo para ela, estampando seu rosto.

Lauren não esperava aquilo. Não depois do que havia feito.

- Bom dia! Mas é claro! Obrigada por me esperar. – respondeu, sorrindo.

- É um prazer. Vamos, você precisa se alimentar. Está com uma cara péssima! – disse brincando, apesar de Lauren saber que era verdade.

Os dois saíram juntos do Salão Comunal, e ao chegar na mesa do café da manhã, Lauren sentiu o furor de olhos muitíssimo negros perfurarem todo o seu ser. Severo Snape observava da mesa dos professores o casal de amigos se assentar. O coração da menina, na hora, se apertou em saudades e angústia. Fez questão de sentar de costas para o Professor, pois já previa que se continuasse olhando para ele, lágrimas a invadiriam novamente.

Snape observava Malfoy servir Lauren de chá mate com limão e bolo de chocolate... Sua refeição favorita de café da manhã. Apesar de estar furiosa com o Professor, Lauren não queria piorar a situação e provocar ciúmes. Só queria que tudo ficasse bem.

Agradeceu Draco, e bebeu seu chá, extremamente quieta. Não sabia até quando Snape ficaria sem falar com ela. Mas sabia que aquele silêncio era o pior dos sentimentos. Preferia que ele berrasse com ela e a castigasse, de qualquer maneira, do que a obrigar a ficar longe dele.

Da Mesa dos Professores, Snape pensava em tudo que estava acontecendo. Lauren estava experimentando exatamente o que ele queria que ela experimentasse: abstinência. Sabia que já havia a viciado em seu amor e afeto, e que quando tirasse isso dela, ela desmoronaria. Esse era o pior castigo que poderia haver.

Odiava com todas as suas forças vê-la sofrer. Mas em sua visão, amor e sofrimento caminhavam juntos.