Fanfic: Mestre, Se Entregue! | Tema: Harry Potter

O Professor Snape não entendia como uma manhã poderia passar tão devagar. O primeiro dia do ano letivo estava se arrastando, como se nunca fosse chegar a hora do almoço. As aulas da manhã lhe proporcionaram uma leve distração, porém a noite mal dormida e a aparição daquela aluna logo cedo, mexeram com ele. Estava feliz por finalmente voltar a lecionar a arte de Poções. Pelo menos isso ele ainda tinha de normal em sua vida. Tudo mudara. Dumbledore se fora, assim como a maioria dos membros da Ordem. Não havia mais ninguém para proteger. Potter agora vivia sua vida longe dele, sem o Lorde das Trevas para lhe tirar o sono. Pelo menos isso eles tinham em comum. Uma (grande) preocupação a menos.
Sentia que sua vida acadêmica era tudo que lhe restava.

Finalmente o relógio bateu 12h e Snape logo tratou de subir para o Salão Principal. Enquanto andava entre os alunos, percebeu como aquilo lhe fazia falta, por mais que não gostasse de admitir. Grupos de alunos andavam em bandos, gritando e rindo alto. Quando chegou ao Salão, rumou para a mesa dos professores e de lá pode observar quem ele tanto queria ver.

Lauren estava sentada no mesmo lugar da noite anterior, na mesa da Sonserina, junto de seus colegas. Só que dessa vez, seus cabelos louros estavam juntos de outro cabelo louro. A garota estava abraçada com Draco Malfoy, que dizia algo que fazia ela e a mesa inteira rir. Aquela cena fez o Professor Snape preencher todo seu ser de ciúmes. Como aquele fedelho se atrevia? Aquilo era inadmissível! Da mesma forma que Snape levantou-se, decidido a ir lá e gritar com eles, tão rapidamente ele sentou-se de volta. Não podia fazer isso por vários motivos. Primeiro, que a garota não era nada dele. Segundo, eles não estavam fazendo nada de errado, estavam apenas abraçados. Como amigos.

- É claro, Severo... Apenas amigos. – Snape tranquilizou a si mesmo em sua mente. – E mesmo que fossem namorados, seu idiota! Ela é sua aluna! ALUNA. Pare de fantasiar com essa pirralha. Está parecendo um adolescente. Concentre-se.

Pouco a pouco, foi conseguindo não olhar mais para a mesa de Sonserina e começou a comer. Precisava se alimentar, pois ainda tinha uma longa tarde de aulas para lecionar. Assim que terminou de comer, não se levantou imediatamente. Ficou pensando como estaria a vida de Lúcio Malfoy, agora que tinha ganhado sua liberdade ao delatar outros Comensais da Morte, livrando-se de uma vida em Azkaban. Devia estar aproveitando sua enorme mansão junto de Narcisa, com seus móveis chiques, dezenas de empregados e sua infinita fortuna. Certamente ele não imaginava como seu filho já estava se divertindo longe de sua presença. Draco merecia, assim como Harry, ter uma juventude normal. Ambos assumiram responsabilidades absurdamente grandes para suas idades. E mesmo após cumprir com seu Voto Perpétuo, continuaria protegendo Draco, pois considerava-o como um afilhado.

Severo levantou-se, decidido a não pensar mais em Lauren. Ou melhor, na Srta. Niemberg. Sua aula seria extremamente profissional e sem nenhum pensamento impróprio. Isso. Assim era melhor.
Descendo para as masmorras, trombou o monitor-chefe de Sonserina no corredor, Spencer Sykes, que estava atento a qualquer gracinha ou desobediência dos alunos. Spencer estava em seu último ano em Hogwarts; era um garoto alto, magro, cabelos castanhos e muito focado. Severo o escolhera justamente pelo seu apreço pelas regras da escola. Sabia que Spencer o procuraria se houvesse problemas com qualquer aluno.

- Como está sendo o primeiro dia, Sr. Sykes? Algum problema? – indagou Snape.

- Por enquanto não, Professor. Os alunos estão muito empolgados com o retorno da escola, estão com muita gritaria. Mas nada além disso. Pode deixar que qualquer problema eu o aviso, senhor.

Snape seguiu seu caminho para começar a aula de Poções dos sonserinos. Faltavam cinco minutos para começar a aula, os alunos foram chegando, se assentando, diminuindo o falatório. O Professor começa a falar, num tom baixo e sério.

- Bem-vindos. Já aviso que esse não será um ano fácil. Se estão pensando que darei moleza por a escola ter ficado fechada durante esse tempo, vocês estão enganados. O comitê da escola resolveu que retomaria alguns assuntos que foram abordados antes de se ausentarem, portanto, essa semana revisaremos o que vocês aprenderam com o Professor Slughorn. Alguém gostaria de começar falando quais foram as últimas poções aprendidas? Sim, srta. Jones?

Do meio da classe, Natalie Jones, uma das alunas mais populares da escola, levantou a mão. Era uma bela jovem, cabelos alaranjados, diversas sardas em seu rosto, largo sorriso. Snape tinha certa afinidade com a aluna; seus pais sempre lhe mandavam cartões de Feliz Natal e uma garrafa de bebida quente para acompanhar. A garota respondeu com um sorriso:

- Professor, a última coisa que aprendemos foi introdução a antídotos. O Sr. Slughorn nos contava como saber preparar um antídoto é tão importante quan...

A fala da srta. Jones foi interrompida por um baque na porta da sala. Toda a atenção dos alunos se voltou para trás, para ver quem tinha sido o idiota de chegar atrasado logo no primeiro dia de aula. Com o Snape ainda!

- Senhorita Niemberg! – sibilou Snape – Nos deu a graça de juntar-se a nós, nessa humilde aula? Por que está atrasada?!

A garota aparentava estar bem, não estava ofegante, nem nada. Para quem estava de fora, parecia que tinha se atrasado de propósito.

- Me perdoe, Professor. – respondeu Lauren em tom manipulador – Acho que perdi a noção do tempo no almoço. – e riu para si.

Snape não acreditava: era a segunda vez que ela mentia descaradamente para o Professor. Ele não podia deixa-la simplesmente sair livre com isso, mas não poderia coloca-la em detenção somente por se atrasar.

- Eu acho que fui muito claro quando expliquei que não tolero atrasados, não fui, senhorita? – o professor falava agora com certa raiva em sua voz.

- Sim, senhor. Peço que me perdoe, mais uma vez. – a aluna parecia estar cada vez mais se divertindo com a situação. Gostava da atenção da sala para si. Apreciava ainda mais o fato de ter interrompido Natalie, a qual não gostava nem um pouco.

- Suas desculpas não poderiam me interessar menos. Entre e encontre seu lugar. 10 pontos a menos para Sonserina.

- O que?! – bradou Lauren – Não é justo punir a casa inteira por um erro meu!

Snape rapidamente se aproximou dela e falou bem perto de seu rosto.

- Tem razão. A senhorita acabou de ganhar uma semana de detenção, por me desafiar. Aqui dentro eu decido o que é justo! Menos 30 pontos para Sonserina.

A aluna agora parecia surpresa. Não esperava 40 pontos a menos e uma semana de detenções. Não conseguia se mover, nem falar nada. Só ficou parada com a boca aberta.

- Quer tirar 50 pontos de sua casa antes mesmo do dia terminar, senhorita? Encontre seu lugar e fique quieta! – Snape gritou essas palavras em sua cara.

Lauren estava realmente assustada e encarava o chão. Assim era melhor, pensou Snape. A aluna encontrou uma cadeira vazia no fundo da sala e se sentou. Toda a classe agora a olhava com raiva, por ter perdido tantos pontos antes mesmo de terem a chance de ganha-los.

O Professor retornou à frente da sala para continuar sua aula. Seu plano de não pensar mais na aluna foi por água abaixo pois agora ele teria que passar uma semana inteira dividindo suas noites com os castigos dela. Não tinha tempo de pensar quais seriam esses castigos agora. Precisava lecionar.

Começou a falar sobre antídotos no seu natural tom, baixo e rouco. Enquanto explicava suas funções, não conseguia deixar de olhar para a loura que havia tirado sua paciência. Pediu aos alunos que começassem a escrever um resumo sobre o que entenderam dos tópicos sobre antídotos.

Os estudantes começaram a tirar suas penas e pergaminhos das bolsas e um silêncio tomou conta da sala. Só se ouvia o barulho das penas nos tinteiros e das poções que borbulhavam nas bancadas da sala. Snape teve tempo para pensar qual seria a primeira detenção da garota. Era uma quinta-feira e aquela seria uma fria noite, previa o professor. Ele precisava fazer que Lauren entrasse na linha e nunca mais o desrespeitasse. Snape não era o tipo de professor que tentava entender o aluno, seus problemas, sua personalidade. Ele simplesmente via que ela precisava de disciplina. A garota já havia somado uma série de atitudes insolentes. Na noite anterior ficou lhe encarando. Durante os avisos no Salão parecia que estava debochando do professor. Havia tentando escapar do dormitório a noite. De manhã parecia não ter vergonha alguma de perguntar a um professor como “ele estava”. Chegara atrasada no primeiro dia de aula. E agora tinha o desafiado na frente da sala inteira. Ela estava lhe testando!

- É isso, Severo! A fedelha está te testando. Deixe-a comigo, ela verá quem chegará ao limite.

Os alunos terminaram seus resumos e o professor passou recolhendo um por um. Ao chegar na mesa de Lauren, ele abaixou e ordenou:

- Espero a senhorita hoje, pon-tu-al-men-te, às 21h, aqui na minha sala. Entendeu? – ele a encarava sem piscar.

- Sim, senhor – disse a menina olhando para baixo.

- Olhe para mim quando dirigir a palavra, senhorita. – murmurou Snape.

Lauren olhou para dentro dos olhos negros do professor, contra sua vontade e respondeu lentamente:

- Sim. Senhor.