Fanfic: Amor de Aluguel | Tema: Vondy

Na garagem de uma casa no subúrbio, uma música é interrompida quando alguém coloca uma nota errada, fazendo a harmonia da canção destoar completamente.

— Pô, cara! Assim não dá! Nós já passamos essa música milhares de vezes e você erra sempre a mesma coisa! — um homem joga as baquetas de qualquer jeito sobre a caixa da bateria e levanta furioso.

— Calma, Ucker! Não precisa ficar nervoso desse jeito. Senta aí! — um outro homem faz sinal com a mão para Ucker se acalmar e sentar — Vamos passar mais uma vez. — ele se abaixa para regular os pedais da guitarra.

Ucker para de andar de um lado pra outro por trás da bateria e encara o homem que acabara de falar.

— Como você quer que eu me acalme? Me diz! — ele gesticula com as mãos ainda irritado — O show é hoje a noite, Poncho! Hoje! As músicas precisam estar impecáveis para que o Álvarez nos leve para tocar em um lugar melhor.

— Desculpa, galera! – um terceiro homem senta cabisbaixo sobre um amplificador de baixo e coça a cabeça.

— Tá tudo bem, Thyago! Relaxa. – Poncho olha de Thyago para Ucker — Olha, cara, eu sei que você precisa de mais dinheiro para pagar as suas contas, mas esse não é o momento para perder o controle. Está bem? Vamos passar mais uma vez.

Ucker olha para ambos em silêncio por alguns segundos e respira fundo, tentando se acalmar. O Poncho tem razão. Ele não está tão chateado, assim, porque o Thyago errou uma nota; e, sim, porque as suas contas estão atrasadas novamente, ele precisa pagá-las e não tem um centavo no bolso. Sua única renda financeira é o dinheiro inconstante e irregular das tocadas que faz com a banda em pubs. Sentindo-se um pouco mais relaxado por ter identificado o real motivo da sua raiva, ele senta no banco da bateria e pega as baquetas.

— Vamos passar mais uma vez. — começa a marcar o tempo da música. 

***

Uma mulher caminha pacientemente de um lado para outro, dentro de um escritório no centro da cidade, com o celular no ouvido.

— Aham... Sim... Nós vamos ver o que podemos fazer enquanto a isso... Sei... Podemos fechar o contrato em 9 faixas, então, o que acha?

A porta da sala se abre e uma outra mulher entra sorridente. Mas seu sorriso se desfaz tão logo ela percebe o que está acontecendo. Ela revira os olhos e vai em direção ao sofá.

— Ahh, não, Dulce! Você ainda não parou de trabalhar? — ela fala sussurrando para não atrapalhar a ligação e senta com um olhar incrédulo, balançando a cabeça negativamente.

Dulce leva o indicador até os lábios, fazendo sinal de silêncio, e continua séria.

— Ok... Fica marcado na segunda-feira às 10h... Que isso! A satisfação é minha... Muito obrigada... Tchau, tchau! Boa noite! — ela desliga o celular e vai até a sua mesa — O que deseja, Anahí? — Dulce senta na cadeira e começa a revirar uns papéis.

— Você pode parar por 2 segundos, pelo menos, e olhar para mim, minha querida?

Dulce respira fundo e olha para Anahí com um sorriso meio forçado no canto dos lábios.

— Estou ouvindo.

— Olha, hoje é sexta-feira, ok? Nós trabalhamos a semana inteira feito loucas nesse estúdio. Deixamos tudo preparado para a banda que vem gravar na próxima semana. Podemos nos divertir agora? Heeein? — ela olha para Dulce com olhos tristes e pidões e faz um biquinho.

— Não está tudo tão pronto, assim, como você imagina. Eu estava com o Domínguez no telefone quando você chegou e ele disse que os integrantes fizeram algumas exigências. — Dulce volta a mexer nos papéis sobre a mesa.

— O que eles querem?

— Drogas e prostitutas.

Anahí arregala os olhos e deixa o queixo cair lentamente. Dulce dá um sorrisinho ainda de cabeça baixa por ter conseguido causar a reação que queria. Ela aproveita alguns segundos do silêncio e então olha sorrindo para Anahí.

— Meu Deus! Você precisa ver a sua cara. — ela solta uma gargalhada, sem parecer com a mulher séria de poucos minutos atrás.

Anahí solta um suspiro de alívio e leva uma mão ao peito.

— Ai, Duuul! Envelheci uns 10 anos. Gelei só de pensar nisso aqui como um bordel dos anos 80. — soltando mais um suspiro e logo em seguida franzindo a testa — Agora, você vai sair comigo hoje a noite para se redimir! Quero nem saber de desculpas. — ela cruza os braços e levanta o rosto pra cima.

— Ok, drama queen! Nós vamos aonde você quiser. Está bem? Me deixa só limpar essa mesa um instante.

— Yaaay! — Anahí abre um sorriso e se levanta num pulo, batendo palmas. — Te espero lá embaixo. Ahhh, e dispensa o sr. Gonçalo porque eu vou dirigindo. — ela dá uma piscadinha e sai da sala. 

***

A banda que está tocando no pub anuncia a sua última música da noite. Dulce e Anahí estão sentadas no bar virando mais uma dose de tequila. Ambas sorriem para o nada.  Alguns minutos depois, o celular da Dulce começa a vibrar no bolso da jaqueta e ela o pega. Seus movimentos estão um pouco lentos por causa do álcool, mas um alerta interno dispara quando ela vê que a chamada é de sua tia. Prontamente, ela atende.

— Alô! Tia? Aconteceu algo?... Não estou conseguindo te ouvir direito. Tem muito barulho por aqui. Só um momento.

Dulce se levanta do banco, mas a Anahí agarra a sua mão e pega o celular.

— Você vai ficar aqui e vai se divertir mais um pouco. Se for algo sério, eu te aviso. — então, ela coloca o celular no ouvido — Oooi, tia! Aqui é a Any. — e desaparece no meio das pessoas.

Dulce solta um suspiro e volta a se sentar, apoiando os cotovelos no balcão e colocando as mãos na cabeça. A banda para de tocar e uma música eletrônica preenche o lugar. Isso é sinal de que a atração principal da noite já aconteceu e agora só os mais dispostos vão ficar até amanhecer o dia. Dulce faz um sinal para o barman e pede uma água com gás. Ela olha ao redor e vê que o número de pessoas no lugar está reduzindo. Está na hora dela ir embora também. Seu olhar procura por Anahí, mas sua atenção é desviada quando um homem senta ao seu lado.

— Boa noite, princesa! Posso te levar pra casa hoje? — ele lança um olhar demorado para os seios de Dulce, que faz uma cara de nojo.

— Não! Eu estou aguardando o meu namorado. Muito obrigada! — sorri sem graça e se levanta olhando aos arredores procurando Anahí.

— Mas eu não vi você com nenhum cara essa noite, princesa.

Ele estende a mão para tocar o braço dela, mas fica inibido quando um grupo muito animado se aproxima do bar, com todos falando alto e ao mesmo tempo. Um deles vira a cabeça para o lado e, por um instante, seu olhar encontra o de Dulce. Antes que ele pudesse voltar a atenção para os amigos, ela abre um sorriso e joga seus braços em volta dele.

— Meu amor, você foi incrível! — ela segura o seu rosto com as mãos e o beija.

Ele a segura pela cintura e corresponde ao beijo surpresa. Seus amigos começam a assobiar e a soltar gritos de "Aeeee". Toda essa algazarra acaba por chamar a atenção de Anahí. Ela se vira em direção ao barulho e solta um gritinho arregalando os olhos.

— Tia! Eu tenho que desligar urgente! A Dulce está beijando um cara estranho!... Isso é incrível! Tchau!

Ela desliga o celular e vê a Dulce de mãos dadas com o cara do beijo indo em direção a saída do pub e dando um tchauzinho para um outro cara sentado no bar. Anahí corre para alcançá-los.

Do lado de fora do pub, o homem para de caminhar e faz a Dulce interromper os passos abruptamente, pois ainda estão de mãos dadas.

— Ei! Calma, aí! Vem cá! — Dulce se vira completamente séria para para olhá-lo — Qual é o seu nome? — ele sorri encantadoramente.

— Isso nunca aconteceu!

Ela balança a cabeça negativamente, soltando sua mão, e sai rapidamente em direção a um carro. Anahí aparece correndo logo atrás dela.

— Vem beber, Ucker! — Poncho grita da porta.

Ucker olha confuso para Poncho, volta o olhar para o carro e o vê sumindo em uma curva.