Fanfic: Amor de Aluguel | Tema: Vondy

Christopher estaciona na gravadora e se despede da Maite com um sorriso e um aceno de cabeça. Ele a observa sair do carro e ir de encontro aos demais integrantes da banda. Como nos dias anteriores, todos eles entram numa mini-van e partem. Seus olhos pousam no relógio do painel. Daqui a pouco a Dulce encerra as atividades do dia e ele pode ir para casa descansar. As duas últimas semanas foram intensas. Praticamente, ele rodou a cidade inteira com a Maite. Chegava ao final do dia tão exausto que nem prolongava as conversas com a Dulce quando ia deixá-la em casa. Ela também parecia bastante cansada naqueles dias, então, concluiu que era um favor que ele fazia para ambos ao ir embora mais cedo. Christopher se vira e estica o braço para pegar um livro no banco traseiro. Com poucos minutos de leitura, ele cochila, acordando assustado um tempo depois, lembrando que ainda está no trabalho. Olha para o relógio novamente. Já passa das 20h e nem sinal da Dulce. Ele confere o celular se não perdeu nenhuma mensagem ou chamada... E nada. Preocupado, Christopher sai do carro e entra no prédio. Ele bate de leve na porta da sala da Dulce e a abre sem esperar uma resposta.

— Posso entrar? — seus olhos encontram o dela.

— Ah! Claro! — faz sinal com a mão para que entre — Fique a vontade. — ela sorri rapidamente e baixa a cabeça novamente para uns papéis.

Christopher entra, fechando a porta atrás de si, e caminha parando ao lado da Dulce. Ele senta de lado na mesa e olha para os papéis.

— Você estava demorando, então vim checar se está tudo bem.

— Desculpa por te fazer esperar. Estou revisando esses documentos para a banda sobre direitos autorais. É um saco! Ainda bem que falta pouco. — solta um suspiro — Mas ainda tenho que avaliar três locais e escolher um para ela fazer o show de lançamento no próximo final de semana. — aponta para uma pasta no canto da mesa e Christopher menea a cabeça assentindo.

— Isso parece que vai demorar um pouco.

— Sim. — olha pra ele — Você pode ir pra casa, se quiser, eu pego um Uber quando terminar aqui.

— Vou buscar uma janta para você e te espero aqui se não tiver problema.

Dulce concorda e sorri agradecida. Não tinha reparado antes, mas ela está realmente com fome. Meia hora depois, Christopher retorna.

— Espero que goste de comida chinesa. 

— Hmmm... — se delicia com o cheiro da comida — Adoro! O que tem aí?

— Um yakissoba tradicional, fritas e refrigerante.

— Ótimo! Vamos comer.

Eles sentam no sofá, abrem as embalagens e começam a comer silenciosamente.

— Como estão ficando as gravações? Já terminou? — Christopher pergunta enquanto pega uma batatinha frita.

— Quase! Amanhã o Jack e o Eddy vão gravar a segunda voz das músicas e finalizamos tudo. Aí é só fazer a mixagem na semana que vem e o disco vai estar pronto para lançamento.

— O pessoal vai continuar vindo aqui enquanto a mixagem for feita?

— Não. Quando acabar as gravações, todos vão estar liberados. Eu envio as músicas prontas pela internet depois.

Christopher concorda com a cabeça e continua comendo. Dulce sente vontade de perguntar como foi esses dias para ele com a Maite, mas fica sem coragem. Então, ela fica torcendo para que ele toque no assunto sozinho.

— Fui na sua casa hoje e peguei um livro novo. Mesmo na correria dos últimos dias, consegui terminar Fahrenheit. — sorri orgulhoso enquanto Dulce bate palmas de uma forma performática.

— E o que achou?

Ela fica um pouco desapontada pela rápida mudança de assunto, mas com Christopher é sempre assim. Ele sempre quer falar sobre todas as coisas ao mesmo tempo. Os dois discutem um pouco sobre o livro e traçam um paralelo com os principais regimes totalitários da história.

— Senti falta de passar um tempo com você. — Christopher deixa um pensamento escapar naturalmente em voz alta e termina de beber o seu refrigerante.

Dulce cora ao ouvir aquelas palavras e sorri timidamente.

— Então, você terminou o que tinha para fazer aqui enquanto fui buscar a comida?

— Sim. Fiquei em dúvida entre dois lugares. Vou pensar mais um pouco sobre eles e escolher amanhã.

— Você pensa demais, às vezes, Dulce! Escolha o primeiro lugar que lhe pareceu o ideal e confie na sua intuição.

Os dois se olham seriamente por um momento. As primeiras notas de Beast of Burden, da The Rolling Stones, começam a soar. Eles haviam colocado o álbum Some Girls para tocar baixinho enquanto comiam. Christopher se levanta, aumenta um pouco o volume e volta para Dulce.

— Vem! — estende a mão para ela — Você está precisando relaxar um pouco.

— O que você está pensando em fazer? — segura sua mão receosa e levanta.

Ele passa o braço em torno da sua cintura como se tivesse feito aquilo várias vezes e cola seus corpos, embalando no ritmo da música. O rosto de Dulce fica meio escondido no seu pescoço e ele encosta a bochecha na cabeça dela.

— Você ainda está muito tensa, Dul. — fala no seu ouvido — Confia em mim e relaxa.

Dulce respira fundo e sente um maravilhoso cheiro de loção para barba. Ela fecha os olhos e decide não ficar no controle, apenas deixar as coisas acontecerem. Seus músculos relaxam e ela segue os passos de Christopher, dançando de forma descontraída. Ele sorri sem que ela veja e começa a cantarolar a música baixinho.

— I'll never be your beast of burden. So let's go home and draw the curtains.

A voz rouca de Christopher, quase sussurrada em seu ouvido, faz Dulce arrepiar.

 — Music on the radio. Come on baby make sweet love to me.

Ela não consegue evitar um espasmo ao ouvir a última frase. Christopher a segura em seus braços com um pouco mais de força porque a sente tremer, mas segue cantando o refrão espontaneamente. Ele dá um passo para trás e a afasta, sem soltar sua mão, em seguida a faz girar no lugar. Dulce sorri largamente e ele também. Ao trazê-la de volta para si, Christopher para de dançar e a admira. Seus olhos brilham, ela ainda tem um sorriso nos lábios e está reluzente. Ele procura seus olhos, mas o olhar de Dulce está fixo na boca dele. Eles estão próximos o suficiente para Christopher sentir o coração dela bater acelerado contra seu peito e suas respirações descompassadas se misturarem. Seus rostos se aproximam lentamente e ele vê Dulce fechar os olhos em rendição.