Fanfic: Expectations | Tema: Romance
CAPÍTULO IV.
"Segure minha mão e diga-me
Eu estive sonhando com este momento
Com você"
Naeun se acomodou no pequeno quarto de hotel e telefonou para o advogado assim que encerrou a ligação com Jackson. Sua cabeça estava leve, assim como seu coração e ela se sentia segura já que ninguém além de seu irmão mais velho sabia onde ela estava. O mais velho dos Son lhe enviaria dinheiro que ajudaria em seu sustento durante as semanas em que se abrigasse ali. Semanas que foram longas.
Na primeira delas, Naeun tinha sonhos recorrentes em que o marido a encontrava e a matava. Na segunda delas, suor frio molhava sua têmpora durante pesadelos e fazia com que o cabelo colasse em seu rosto e seu coração palpitasse.
Em uma noite particularmente angustiante, Naeun acordou nauseada e vomitou até as vísceras. Sua cabeça ainda rodava depois de ela ter lavado a boca e escovado os dentes porque a sensação de sujeira que havia permanecido a deixava enjoada também.
Andava pelas ruas esgueirando-se pelos cantos, olhando por cima dos ombros ao mesmo tempo em que tentava aprender mais sobre si mesma. Visitava o pequeno hospital local, lendo para crianças doentes e até mesmo havia passado a usar calças e vestir-se como as mulheres da sua idade vestiam-se naquela época.
Não havia deixado de ser refinada, só que era melhor misturar-se à multidão. Naquela mesma semana, havia conseguido um bico ao cobrir uma moça de seu hotel na cafeteria onde ela trabalha já que tal moça havia pegado um forte resfriado. Naeun não tinha experiência alguma com a simplicidade de um trabalho honesto, mas seu carisma era bom demais para que ela fosse puramente atacada por sua inaptidão inicial. Ofereceram-lhe um emprego no período noturno, mas ela negou com a afirmação de que apenas estava cobrindo uma conhecida que estava com problemas.
Cada centavo de seu pagamento foi passado à moça com rapidez já que a mulher não tinha nenhum interesse no dinheiro. Tudo que ela queria era ajudar. Como estava sendo ajudada por seu irmão. Como estava sendo ajudada por quem amava. Gostava de pensar que retribuir para os outros o que recebia lhe fazia bem.
Na terceira para quarta semana, percebeu que seu ciclo não viera. Mas deu pouca importância para o fato. Os telefonemas com Jackson também eram, em sua maioria, curtos demais e, em uma noite particularmente chuvosa, Naeun decidiu demorar mais enquanto falava com ele.
— Sinto sua falta. — ele murmurou com suavidade. — Quero deitar com você, acariciar seu rosto… sentir seu cheiro. Estou mal acostumado acerca de coisas que nunca tive. — uma Naeun sonolenta emitiu uma risada baixa.
— Assim que Junmyeon assinar os papéis eu volto. Vou estar segura quando ele não for mais meu marido.
— Eu sei… mas agora que ele está fora da cadeia… — o silêncio do outro lado da linha indicava que Naeun não estava mais acordada. Jackson suspirou pesadamente e passou uma das mãos pelo cabelo. — Eu te amo. Só tome cuidado.
Os relâmpagos e trovões tomavam o céu quando Naeun acordou nauseada outra vez. Levantou-se e, depois de vomitar novamente, decidiu ir até a loja de conveniência da esquina para comprar alguns testes de gravidez que podiam ser feitos ao fazer xixi no palitinho. Era idiota e, no mínimo, inusitado que o pensamento a acometesse naquela hora da noite, naquele lugar. Mas havia uma pequena angústia instaurada em seu peito naquele instante.
Retornou para o quarto de hotel pingando água, tremendo de frio. Mais que depressa, Naeun realizou os testes e entrou embaixo da água quente tentando recuperar um pouco da circulação sanguínea que havia desaparecido com o vento e a água gélida que castigara seu corpo.
Precisava se esquentar até mesmo para criar coragem de olhar a ameaça que pairava sobre sua cabeça e a esperava do lado de fora da cortina de plástico barata daquele pequeno quarto de hotel que era extremamente quente durante o dia e pateticamente frio durante a noite, mas que, ainda assim, era o único lugar que ela teria para ficar enquanto estivesse instalada na cidadezinha. Havia enfiado-se em um lugar minúsculo, onde Junmyeon nunca pensaria em procurá-la. O plano, no entanto, havia sido mesmo aquele. Os pensamentos aleatórios, naquele momento, serviam justamente para espantar o crescente medo de olhar o resultado daqueles testes.
Sendo honesta, Naeun estava com medo. Muito medo.
Enquanto isso, Junmyeon saía do bar onde fora para comemorar sua liberdade. A amante estava pendurada em seu pescoço e parecia satisfeita em sentar-se no banco da frente. Ambos estavam bêbados demais para pensar que seria perigoso pegar a estrada naquela hora, debaixo da torrente de água que despencava do céu.
Hana, a amante, passou a acariciar a coxa de Junmyeon enquanto ele afundava o pé no acelerador com uma vontade cega de chegar em casa e tomar o corpo dela para si. — Animado? — ela perguntou ao sentir a ereção sob sua palma.
O erro veio naquele momento. Junmyeon tirou os olhos da estrada. Uma buzina alta soou e uma luminosidade intensa atingiu seu rosto através da água torrencial. Hana se encolheu, esperando o impacto que não veio. Ao invés disso, o veículo rodopiou e capotou quando atingiu a barreira de proteção.
O corpo de Junmyeon, que não usava o cinto, foi jogado para fora do carro e Hana acabou presa entre as ferragens. Seu corpo inerte ferido o suficiente para que os ocupantes do outro veículo não se dessem ao trabalho de procurar pelo homem que havia sido jogado fora do automóvel.
Na manhã seguinte, o telefone tocou. Naeun, que estava sentada à beira da cama com os dedos sobre os lábios, deu um salto com o medo que a atingiu. Jackson nunca ligava. Ele não tinha seu número e não tinha como saber das duas linhas claras e quase invisíveis que haviam aparecido nos três palitinhos.
Atendeu, demorando alguns segundos para processar que era seu irmão. Outros longos segundos seguiram-se até que ela entendesse o que ele havia dito de fato. — Naeun? Você me entendeu? Entendeu que pode voltar e que está livre? Todo o dinheiro é seu. Ele morreu.
— Ele… como foi? — a pergunta foi a primeira coisa que conseguiu formular.
— Foi um acidente de carro. Ele estava bêbado. Na verdade, ele acabou afogado por causa da chuva já que não conseguia se mover. Você vai ao funeral?
— Sim. Quando vai ser? — parecia cruel. Mas parte de si estava extremamente aliviada e se sobrepunha tranquilamente à sua parte triste.
— Em dois dias. Se você vier hoje, chegará bem na hora. Quer que eu avise o Jackson da sua volta?
Jackson. Oh, droga.
— Sim. Por favor. Oppa? Obrigada. — o ouviu rir do outro lado da linha antes de dizer que precisava desligar.
Junmyeon estava morto. Era uma mulher livre, afinal.
Naeun retornou para a capital já vestida para o enterro. Nam Gi a esperava com Nari quando ela desembarcou do trem. A irmã tinha uma barriga protuberante e arredondada sobre o suéter de lã preta, lembrando a Naeun da conversa que ela estava tentando adiar com todas suas forças.
O que pensariam dela quando dissesse? Não queria mesmo saber.
Ocupou-se em olhar para a multidão do funeral, permanecendo de pé, sentando-se ocasionalmente, ao lado do caixão durante todo o tempo. Junmyeon era um homem bonito e era, de fato, jovem. Achou um disparate quando sua amante apareceu com muleta e curativos para se despedir, no entanto, sua mente sendo levada para lugares em que ela não gostaria de estar. Para sua surpresa, no entanto, a garota lhe pediu desculpas. — Eu soube que ele era casado quando já tinha me apaixonado… me disseram que você sofreu com ele, mas eu o amava… ele era bom comigo.
— Você deveria ir embora — Naeun disse com o tom mais educado que conseguiu. Não tinha raiva da mulher por ter sido amante de Junmyeon, mas algo dentro de si irritou-se em saber que ele era bom com a outra e fazia de sua própria vida um inferno.
— Por favor. Me deixe ficar — pediu uma Hana suplicante. A sogra de Naeun aproximou-se naquele momento, perguntando qual o problema. E leve como um pássaro, Son sorriu para a velha senhora.
— Estou indo embora. Acho mais digno que a namorada de seu filho fique no meu lugar.
— Namorada? Mas vocês eram casados! — a mais velha olhava Hana da cabeça aos pés de um modo que Naeun já havia sido olhada antes.
— Não seríamos mais em alguns dias. Lhe respeito muito, senhora, mas não sei o que seu filho vinha lhe dizendo. Eu pedi o divórcio há algum tempo. Ele só não havia concordado ainda. Eu cansei de ser a esposa que fica em casa para ele encontrar outras na rua. Entenda-me, não sou saco de pancadas de ninguém e creio ter aguentado muito tempo.
— O que você está dizendo? Que meu filho te batia? Você é louca! Mentirosa e louca! — a voz da mulher havia subido algumas oitavas. Ela tentou empurrar a nora, mas uma mão masculina colocou-se no ombro da mulher.
— Senhora? Mantenha a classe, é o enterro do seu filho. Lamento muito por sua perda, mas isso não vai ajudar agora. — Jackson puxou Naeun para trás de si delicadamente, interpondo-se entre as duas mulheres.
— Jackson, eu… quero ir embora… — ele voltou-se para Naeun com uma expressão serena. Soltou a mulher e concordou com um aceno. Havia um burburinho crescente ao redor dos três, mesmo os familiares da viúva pareciam interessados no que estava acontecendo enquanto Jackson delicadamente levava Naeun para fora com uma mão respeitosamente posta sobre suas costas.
Ele a colocou no carro e deu a volta, levando-a para a casa que já conhecia muito bem.
Ainda dentro do carro, ele segurou na mão de Naeun quando pararam na entrada da mansão. — Naeun, eu sei que é cedo, mas eu- quero te pedir uma coisa. Podemos demorar o quanto você quiser, mas eu quero que você seja minha namorada. Minha esposa. Por favor, não me leve a mal, eu só-
— Eu estou grávida.
O silêncio pairou no carro enquanto o homem pensava acerca do que tinha ouvido.
— Jackson? Você me entendeu?
— Entendi. Eu só estou pensando que é estranho.
— Estranho? Por quê? — Naeun abaixou a cabeça, esperando para ser xingada ou humilhada. Grávida de um dos dois. E ela sequer sabia de quem. Embora tivesse quase certeza que era do homem com quem estava falando e não do que acabara de abandonar em um caixão.
— É estranho porque eu ainda quero namorar e casar com você. — ele puxou seu rosto delicadamente para olhar em seus olhos. — Casa comigo, Naeun. Eu sou o pai, mesmo que não seja meu… ele ainda é meu. Porque eu amo cada pedacinho seu. E essa criança não é nada além disso, não é? Um pedacinho seu.
Ela sorriu, assentindo para o homem sem importar-se se ainda estavam no carro. Apenas retirou o cinto de segurança, jogando-se em seus braços ao abraçá-lo com força. Talvez ela não quisesse mesmo viver como casada naquele momento. Sentia que o conhecia bem, mas ainda tinha algum tempo para esconder a gestação antes de tornar aquilo oficial.
Naquele momento, ela queria se descobrir um pouco mais. Ir a encontros e ser livre. Amando alguém que não lhe punha expectativas. Amando alguém que a amaria de volta. Cada pedacinho seu.
Autor(a): bitterndsweet
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