Fanfics Brasil - Capítulo 02 — Distância Bruto e Indecente

Fanfic: Bruto e Indecente | Tema: vondy


Capítulo: Capítulo 02 — Distância

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Dentro do meu antigo quarto, deitada na cama, foi como se a minha
ficha finalmente caísse.
Estava em casa.
Em Girassol, no sítio em que chorei, esperneando e amaldiçoando os
meus pais e o universo por me manterem prisioneira. No pedaço de terra em
que dei o meu primeiro beijo — e, um ano mais tarde, perdi a minha
virgindade no banco de trás do carro de Alison Bastos. No lugar em que
tomei muito banho de chuva enquanto corria sujando os meus pés na terra
vermelha ao lado da minha melhor amiga Maite .
Fiquei longe por dez anos — mais de 3650 dias —, porém, conseguia
lembrar nitidamente de quando parti, do dia um, do momento em que
coloquei a minha mala violeta na caminhonete do meu pai e olhei para trás,
dando-me conta de que aquela seria a última vez em muito tempo que
observaria a fachada da casa em que havia crescido. Levei comigo apenas um
punhado de roupas surradas e sonhos inalcançáveis que estava disposta a
realizar.
Voltei o meu olhar para o lado, tornei a encarar a fotografia da minha
amiga mais antiga, e não demorou muito para que as lembranças começassem
a bombardear a minha mente, levando-me de volta ao passado que tanto lutei
para esquecer.
Desde a época em que eu e Maite éramos duas garotinhas bobas, sem
nenhuma noção de como o mundo realmente funcionava, fantasiávamos
sobre o momento em que finalmente viveríamos na cidade grande, longe de
todo o mato que nos cercava e da terra que encardia as solas dos nossos
sapatos.
Conforme fomos crescendo, essas fantasias infantis transformaram-se
em planos e sonhos que juramos seguir e realizar. Dentro desse globo
mágico, nós dividiríamos o mesmo emprego e apartamento, seríamos
madrinhas de casamento uma da outra e, quando uma de nós engravidasse, a
criança da sortuda passaria a ser afilhada da outra.
Tínhamos o plano perfeito e tudo estava muito bem organizado, não
existiam brechas para nenhum tipo de erro. Naquele tempo, essa era a nossa
verdade, a única coisa que realmente importava: nós nos formaríamos e, logo
em seguida, partiríamos daquele lugar, dando início ao sonho que
desenvolvemos juntas.
Mas só porque criamos os nossos próprios planos, não significa que a
vida também não crie os dela. E nesse destino ou coincidência — ou qualquer
outra coisa que queiramos chamar —, Maite não estava inclusa no pacote.
Minha melhor amiga abriu mão de tudo aquilo no instante em que
conheceu Williamerico. Foi como se nada do que combinamos durante anos
continuasse importando para ela. E então eu assisti a todos os nossos planos
deixando de existir, sendo sobrepostos pelos que eles criaram juntos.
Eu fui a única de nós duas a deixar Girassol e mudar para a cidade
grande. Fui a única a cursar uma faculdade. E eu fui a única que não se
rendeu ao estilo de vida ao qual costumávamos nos opor.
Enquanto me preocupava com a minha carreira no ramo publicitário,
minha amiga engravidou e, cercada por todas as coisas que ela costumava
desprezar, passou a se dedicar à sua nova família e casa no sítio.
Essas nossas diferentes realidades, somada a toda a distância entre nós
duas, foi mais do que o suficiente para que as ligações se tornassem cada vez
mais curtas e raras, até que deixassem de acontecer.
Depois de todos aqueles anos, eu já nem era capaz de me lembrar da
última vez em que havíamos nos falado — sem que fosse através de um
comentário fútil nas redes sociais —, só sabia que fazia muito, muito tempo.
A parte mais irônica era que a sua amizade — aquilo que me ajudou
suportar toda a infância e adolescência confinada no Inferno — era uma das
únicas coisas que eu estava disposta a levar do lugar em que cresci. E, mesmo
assim, eu não fui capaz de carregá-la comigo.
***
Peguei meu celular e, automaticamente — como se fosse uma espécie
de instinto —, cliquei no perfil do Pablo. Mesmo me detestando muito por
isso, dei uma de stalker e bisbilhotei toda sua rede social, querendo saber
tudo o que estava acontecendo com o meu ex-noivo.
Observei os lugares que ele visitou através de seus check-ins, stalkeei
cada uma das mulheres que ele havia adicionado nesse meio tempo, analisei
as fotos que curtiu e todas as que ele postou.
Tínhamos uma amiga em comum, Roselinda — ela detestava esse
nome e insistia para que a chamássemos de “Rose” —, que optou por não
tomar partido, mesmo sabendo que o desgraçado havia me traído.
Respeitei a sua decisão e não cortei nossa amizade. Inclusive, fora ela
quem me dera a brilhante ideia de viajar para “esfriar a cabeça” e dar
“tempo ao tempo”.
— Eu acho que você devia viajar pra algum lugar, amada — disserame ela, no dia seguinte ao término do meu relacionamento com Pablo. —
Esfrie a cabeça e descanse um pouco... Tenho certeza de que quando você
voltar pra cá, as coisas já estarão melhores.
Lembro-me de rir, como se a ideia de deixar o meu trabalho fosse
ridícula.
— Não posso simplesmente abando...
— Dê tempo ao tempo, Dul — ela me interrompeu. — A pior parte
ainda nem começou, amada... As pessoas vão comentar e ainda vão se meter
no meio do relacionamento de vocês dois.
De todas aquelas coisas, “as pessoas vão comentar”, foi o que mais
ressoou em mim. Eu senti pavor só de imaginar o que pensariam de mim, do
que diriam pelas minhas coisas e, principalmente, daquilo que perguntariam
quando me vissem.
E foi exatamente isso o que me fez sair de férias, a oportunidade única
de evitar aquele constrangimento, de pular toda a parte estranha e desgastante
do final da minha relação.
Agora, no dia em que cheguei a Girassol — dois dias depois de ter
saído do meu apartamento e entrado no ônibus —, a primeira coisa que notei
no perfil de Pablo foi a foto de uma festa, uma imagem repleta de garotas e
bebidas. E a cretina da Roselinda estava lá, bebendo com ele, encorajando-o a
seguir em frente sem mim.
Ainda que não fosse explícito, isso me fez perceber que, ao contrário
do que havia me dito, Rose havia tomado partido, sim, ela havia escolhido o
meu ex-noivo. Aconselhou-me a viajar para “esfriar a cabeça” enquanto
enchia a do Pablo de cachaça e diversão.
Fiquei com tanto ódio que minha vontade era a de tirar um print da
foto e mandar para ela, exigindo explicações. Eu precisei me controlar para
não brigar, xingando-a dos piores nomes que conseguia pensar.
No final, tudo o que eu fiz foi excluí-los das minhas redes sociais e
agradecer a distância por me impedir de quebrar a cara daquela traíra, que
não teve a decência de esperar nem ao menos duas semanas antes de festejar
com Pablo, encorajando-o a cercar-se de mulheres. Fez isso mesmo depois de
me garantir que, talvez, as coisas ainda não tivessem realmente terminado
entre a gente.



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Autor(a): babyuckermann

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

Prévia do próximo capítulo

Por telefone, combinei um encontro com Clarice em sua casa. Minhaantiga amiga ainda morava no mesmo lugar, na propriedade de seus pais, queeram praticamente os nossos vizinhos ou o mais próximo que tínhamos dissonas proximidades.Dez minutos dentro da caminhonete do meu pai foi o suficiente paraque eu chegasse lá.A poeira se levantando, os vidros abertos ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



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  • babyuckermann Postado em 02/04/2021 - 03:27:31

    Ctn


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