Fanfic: Bruto e Indecente | Tema: vondy
Quando aquela nossa conversa chegou ao fim, recusei o convite, mas, assim como acontecia no tempo da escola, Maite insistiu demais e apelou para frases do tipo: “você vai mesmo privar a amiga entediada que não visitou durante anos de se divertir em uma festa”? Consequentemente, acabou me fazendo ceder.
Ela conseguia ser muito persuasiva quando queria e, no final era sempre a mesma coisa, eu acabava concordando com a loucura que ela sugeria.
Mesmo depois de confirmar, ainda fiquei dividida, pensando se realmente deveria ir a uma espécie de festa e fingir que estava bem, que não estava pensando naquele infeliz que me trocou como se eu fosse um modelo ultrapassado.
Nos dois dias seguintes, a minha resposta foi um “não, eu não vou ir a essa festa estúpida” e “eu não preciso disso”. Mas quando a sexta-feira chegou, dirigi até o local em que a festa ocorreria, pensando “você merece se divertir, Dulce !”, como se estivesse justificando para mim mesma o motivo de ter aceitado participar daquela loucura.
Como Maite se atrasou, fiquei do lado de fora, observando o estilo das pessoas que estavam entrando no local, uma espécie de barracão.
Não havia ninguém parecido com o tipo de gente que eu estava acostumada a conviver. Eles eram, em sua maioria, malvestidos e barulhentos. No entanto, o maior problema que identifiquei, não foram as roupas ou a intensidade que as suas vozes irritantes soavam, mas que toda
aquela gente tinha uma coisa muito específica em comum.
A idade.
Eu ainda não tinha visto ninguém que aparentasse ter mais de vinte e cinco anos e isso me deixou bem desanimada, pois, ao lado deles, jovens e agitados, acabei me sentindo uma idosa.
Estava em um ambiente cheio de crianças.
O lugar cheirava a leite.
E depois de ser substituída por um modelo mais novo, não era nem um pouco legal se sentir um produto vencido. Por mais que a minha autoestima fosse boa, era impossível não me sentir mal depois do que havia acontecido com o meu noivado, do que Pablo havia feito comigo.
Quando a minha amiga finalmente deu o ar de sua graça, vestindo um shortinho extremamente curto, que parecia com algo que ela costumava usar na adolescência, comentei sobre o que me incomodava.
— Só tem adolescentes por aqui, Maite — sussurrei, enquanto continuava observando as pessoas que passavam ao nosso lado. — E eu não vou ser a coroa da festa... Já não basta eu ter sido trocada por uma novinha?
— Você, uma coroa? Claro que não, amiga! — respondeu-me ela em uma tentativa de me convencer do contrário. — Tem gente de todas as idades por aqui, sua boba.
Eu tinha uma estranha impressão de que essa também era a primeira vez dela em uma festa daquele tipo. A morena parecia estar tão surpresa e perdida quanto eu, ainda que estivesse tentando esconder isso de mim.
— Por que você não me avisou que seríamos a terceira idade daqui, sua vaca? — continuei a questioná-la e, dessa vez, quase gritando. Havia
pronunciado até um “sua vaca”. A minha paciência estava desaparecendo rapidamente. — Não pensou que seria legal, sei lá, me avisar?
Ela ficou em silêncio por alguns instantes e, em seguida, respondeu, confirmando todas as minhas suspeitas.
— Esta é tipo a minha primeira festa em uns oito anos… Então, desculpe, eu… eu não sabia.
“É claro que não”, pensei, odiando-me ainda mais por ter aceitado a porcaria do convite.
Ela só tentou passar a impressão de que ainda era tão descolada quanto no tempo da escola, de que ainda frequentava festas e se divertia, mesmo sendo casada e mãe.
No fim das contas, estávamos incessantemente tentando mostrar o quanto a nossa vida era incrível e deslumbrante, ainda que isso não fosse verdade. Tudo o que importava eram as aparências, as fotos que postávamos e as curtidas que recebíamos.
— Chega disso! Eu… eu vou embora — disse e me virei, disposta a deixar tudo aquilo pra trás e passar a minha noite realmente assistindo televisão com o meu pai.
Com certeza, algo bem mais produtivo do que a festa do dia das crianças que estava rolando naquele barracão. Mas ela agarrou o meu braço, impedindo-me de voltar para a caminhonete azul.
— Você vai mesmo desperdiçar a oportunidade de se divertir e esquecer o babaca do seu ex? — questionou ela como se estivesse atirando uma isca pra me fisgar. Depois de perceber a minha hesitação, a morena continuou: — Vamos entrar e se só tiver crianças lá dentro, nós vamos
embora. Combinado?
Maite — ainda que ela não estivesse admitindo — estava precisando mais daquela festa do que eu.
Talvez ela estivesse se sentindo sufocada com a sua vida de mãe e dona de casa. Talvez estivesse tentando dar o troco em William depois da briga que tiveram. Talvez a minha presença tivesse despertado memórias antigas e ela estivesse apenas com saudade daquela pessoa festeira que costumava ser.
Eu não tinha ideia de qual era a resposta correta, mas depois de ter isso em mente, foi impossível deixar de balançar a minha cabeça, concordando com a sua proposta.
De qualquer forma, o que eu perderia tentando me divertir?
Entramos na festinha e, felizmente, não estávamos cercadas apenas por adolescentes — ainda que eles, com toda a certeza, fossem a maioria — e isso foi o suficiente para que eu finalmente começasse a me animar. Maite não perdeu tempo e buscou bebida para nós duas, sabendo que isso ajudaria a nos enturmarmos com o restante das pessoas.
Eu nunca fui do tipo de mulher que costumava beber com frequência: nem mesmo chegava a gostar de cerveja, a bebida que eles tinham ali. Por outro lado, em um lugar onde não conhecia ninguém, o álcool certamente me ajudaria a ficar mais extrovertida.
Depois de uma hora bebendo isoladas em um canto, uma música sertaneja começou a tocar e Maite , puxando-me para dançar com ela, gritou: — Amiga, é a minha música!
Como eu já estava um pouco alta — na verdade, bem mais do que “um pouco” —, nem questionei, só a acompanhei até o centro do barracão onde
outras pessoas também se arriscavam nos passos de dança.
A partir da segunda música, já estava me divertindo. Não era algo forçado, em que eu tentava me convencer de que estava melhor sem Pablo, sem que nem eu mesma acreditasse totalmente nisso.
Naquele instante, enquanto dançava com a minha amiga, esqueci completamente de todo o restante, que incluía o trabalho que eu havia deixado nas mãos de outras pessoas lá na cidade — gente que até se esforçava, mas que não era tão competente quanto eu — e, obviamente, do meu ex-noivo, o culpado por tudo.
Finalmente me sentia bem e essa sensação foi o suficiente para que eu me entregasse de vez à bebida, à música e, consequentemente, à festa.
Autor(a): babyuckermann
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
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A minha visão estava completamente embaçada e tudo parecia girar, deixando-me ainda mais desorientada. E por mais que a minha cabeça estivesse explodindo — certamente, uma consequência de toda aquela bebida que ingeri na festa —, esse não era o meu principal problema. Não me lembrava de muita coisa da noite anterior. Com e ...
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