Fanfic: Bruto e Indecente | Tema: vondy
Eu só fui começar a esfriar minha cabeça e realmente descansar — um dos principais motivos da minha viagem de férias ao Paraíso — no final da primeira semana no sítio.
Pablo não era mais um pensamento constante, especialmente quando a minha mãe me arrastava para ordenhar vacas e limpar o galinheiro. Deixei de me importar com o trabalho que deixei lá na cidade. E, principalmente, o meu convívio com a dona Blanca estava “suportável”.
As coisas, estranhamente, estavam se encaminhando melhor do que eu havia imaginado.
— Você não vai sair hoje, não é? — questionou a minha mãe, destacando o “não” em sua frase, como uma espécie de indireta para que se eu de fato fosse sair, desistisse da ideia.
Balancei a cabeça, negando.
Realmente não tinha nenhum compromisso com Maite — a única pessoa com quem eu tinha contato na cidade —, os meus planos para a segunda-feira à noite se resumiam a televisão e cama, pois já havia me acostumado a dormir mais cedo.
Mas, ainda assim, quis saber o porquê da pergunta dela.
Felizmente, não precisei nem questionar, pois dona Blanca deu-me a resposta: — O seu pai convidou um amigo para jantar com a gente esta noite.
O “jantar com a gente”, provavelmente, significava “apresentar você pra ele”.
— É alguém que eu conheça?
Ela confirmou, balançando a cabeça e continuou: — Sim, acho que você o conhece, sim… O Uckermann , ele tem uma fazenda nas proximidades...
De forma bem espontânea, fiz uma careta e revirei os olhos.
Eu sabia exatamente de quem a minha mãe estava falando: Victor Uckermann .
Basicamente, um senhorzinho mal humorado que eu sempre detestei. E além da nossa pouca afinidade — e do fato de ele ser insuportável —, existia outro probleminha. Uckermann era o dono do lugar em que eu acordei depois do meu porre. Ele devia ser o patrão daquele peão idiota. Dessa forma, existia a possibilidade de ele ter reconhecido a caminhonete do meu pai estacionada em sua propriedade ou — o que também era muito provável — que o projeto de caubói tivesse dado com a língua nos dentes, soltando detalhes sobre o carro que “a mulher que vomitou nele” possuía.
Ainda que eu fosse grandinha demais pra ter medo de ser exposta por um dos amigos do meu pai, queria evitar essas situações constrangedoras, porque ainda não estava totalmente recuperada da última.
Mas, dessa vez, o máximo que eu conseguiria fazer era mentir, dizendo “eu dormindo no quarto de um peão na sua propriedade? Eu acho que não, hein”.
O lado bom dessa história — se é que existia um — seria que os meus pais nunca acreditariam em algo assim, principalmente a minha mãe que sabia bem o nível de pessoas com quem eu me relacionava, ainda que tivesse me flagrado chegando pela manhã naquele sábado.
Como ficar pensando no que aconteceria não faria com que as coisas
melhorassem quando o velhote chegasse, fui para o meu quarto escolher uma roupa que não fosse o pijama que eu já tinha programado usar pelo restante da noite.
Quando abri o meu guarda-roupa, onde já tinha colocado as minhas coisas, a primeira peça que os meus olhos enxergaram foi a camisa xadrez do peão. Agora, depois de toda aquela confusão, ela já não parecia mais tão ridícula assim. O vermelho e o preto combinavam e o tecido até que era bem macio, lembrando bastante o algodão.
E, de repente, eu me peguei pensando naquele idiota. Pensava no quanto ele era grande e atraente, no momento em que tirou a camisa e em como o seu sorriso irritante conseguiu me cativar, mesmo detestando todas as coisas que procediam de sua boca.
Quando notei o que estava fazendo, fiquei horrorizada e tornei a pensar em Victor, o patrão dele.
Não queria me arrumar demais para um jantar com aquele homem desagradável, então optei por vestir um jeans e uma blusinha preta, algo bem simples. Essa roupa não faria com que a minha mãe revirasse os olhos e pensasse algo como “se arrumou toda pra desfilar ali no milharal, Dulce ?”, tampouco me faria sentir malvestida.
Seria um perfeito meio termo.
Estava em um ótimo dia, um tão bom que me voluntariei para ajudar a minha mãe na cozinha. Fiquei lá por exatos dois minutos, mais especificamente até que ela começasse a colocar defeito na salada que eu estava cortando, dizendo coisas como “então, na cidade as pessoas desaprenderam a fazer coisas tão simples quanto cortar um tomate?”.
Quando a minha paciência se esgotou, respondi com um “então, faça
do seu jeito, mãe!”, e me afastei.
Ela, que nunca deixava barato, retrucou com “farei mesmo ou vamos acabar espantando o convidado”.
Apenas mais um momento normal entre mim e minha mãe.
Pensei em ajudar com os pratos, mas mudei de ideia. Não queria correr o risco de discutir com ela em frente ao nosso “convidado de honra”.
Ela havia caprichado no jantar, fazendo coisas que, provavelmente, não faria para mim. Tínhamos a sua famosa lasanha à bolonhesa, um arroz e feijão feitos na hora — e não o que havia sobrado do almoço —, além da salada e limonada, já que a minha mãe detestava refrigerante, até mesmo o zero açúcar, que eu particularmente consumia.
E, com isso, foi impossível não soltar coisas como “tudo isso pra aquele velho chato?”.
Como eu não ouvi nenhuma resposta da parte dela, dona Blanca não devia ter ouvido minhas queixas.
Quando a comida ficou pronta e a mesa arrumada, meu pai começou a comentar sobre as vezes em que ele e Uckermann pescaram e no quanto aquele caipira costumava ser engraçado e brincalhão. Tudo o que eu conseguia imaginar, era Victor mascando o seu fumo horrível e falando coisas desagradáveis.
Depois de dez minutos de atraso — morando em um lugar não tão distante do nosso sítio —, não consegui mais controlar a minha língua.
— Esse velho não tem relógio, não? — disse de forma debochada, na cozinha com minha mãe. Meu pai já estava sentado lá fora, esperando a chegada do amigo. — Ou será que não consegue mais enxergar as horas nos
ponteiros do relógio?
Como dona Blanca não me acompanhou na risada, devo ter sido a única a achar graça naquilo — ainda que fosse uma piadinha de muito mau gosto, assumo. Mas isso era estranho, já que a minha mãe nunca ligou para o “politicamente correto”, principalmente quando isso se referia à própria filha dela.
Alguns segundos mais tarde, como se tivesse demorado a processar a informação, minha mãe questionou: — De que velho você está falando, Dulce ?
Eu a encarei com uma expressão confusa por alguns segundos, antes de responder: — Do Victor, o amigo do papai… O santo que vocês veneram.
Antes que eu pudesse continuar, ela me cortou: — E quem falou de Victor?
O barulho de carro fez com que eu perdesse a minha linha de raciocínio. Como a minha mãe foi em direção à porta para recepcionar o “amigo”, eu resolvi segui-la. Parei ao lado dela e observei a caminhonete, uma Hilux cinza, estacionar em nosso quintal.
Minha mãe estava comentando alguma coisa sobre lasanha ser o prato preferido dele, algo que não dei muita importância. Todo o meu foco estava no carro e na pessoa que sairia dele.
E no segundo em que a porta cinza do veículo se abriu, eu o reconheci.
Seria capaz de reconhecer aquele rosto e corpo a centenas de metros — principalmente, pelo modo ridículo como se vestia. Se a roupa de peão não tivesse me entregado a sua identidade, o seu caminhar certamente o faria.
A única coisa em que conseguia pensar era que Victor, por algum
motivo — talvez por não conseguir mais dirigir —, havia mandado o peão dele trazê-lo. No entanto, parecia não haver mais ninguém dentro do veículo e isso se confirmou quando meu pai se levantou da cadeira e, aproximando-se dele, deu-lhe um abraço.
— Você disse que o Victor Uckermann viria para o jantar… — disse para minha mãe, ainda encarando a pessoa que se aproximava de nós duas, já ao lado do meu pai.
— Eu disse Uckermann ... Nunca disse que era o
Victor. Droga.
Droga.
Droga.
Não tive tempo para responder com um “da próxima vez, seja mais específica”. Meu pai e o provável filho de Victor Uckermann já se encontravam bem a nossa frente.
— Eu acho que você ainda não conheceu a minha filha, Dulce … — começou o meu pai, apresentando duas pessoas que já haviam se conhecido da pior maneira possível. Ele voltou o olhar para o cretino que já estava sorrindo e continuou: — Esse aqui é o Christopher.
Christopher Uckermann deu um passo à frente e estendeu a mão em minha direção, apresentando-se: — Pode me chamar de Christopher .
Antes que eu pudesse dizer um “prazer em te conhecer, Christopher”, disfarçando ao máximo o fato de que já nos conhecíamos, o desgraçado, em um golpe extremamente baixo, disparou: — Na verdade, eu acho que a gente já se conhece, não é?
Autor(a): babyuckermann
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Antes que ele pudesse revelar aos meus pais as exatas circunstâncias em que nós dois havíamo-nos conhecido — e me matar de vergonha alheia —, apertei sua mão com força e levantei o meu olhar, encarando os olhos esverdeados que tanto me intimidaram naquele sábado de manhã. — Impressão sua… — ...
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