Fanfic: I still walk | Tema: The Walking Dead
Estou observando esse lugar há um dia quase inteiro. Daqui eu consigo ver todo o lado leste dos grandes muros de metais e dois atiradores. Uma mulher com cabelo castanho, rabo de cavalo, boné e roupa justa, e um cara alto e forte, ruivo. Todas as pistas me trouxeram até aqui, até este momento.
Estou rezando para que algum sinal apareça. Só preciso ver alguém conhecido, só isso que preciso. Mas eu sei que quando digo alguém tenho um nome bem especifico na minha mente, porque apesar de mentir para mim mesma dizendo que o padrão que estou seguindo há tantos meses leva ao meu antigo grupo. Na verdade, leva a minha família e se eu tiver muita sorte a uma pessoa.
Foi ai que meu coração parou ao reconhecer quem estava subindo na guarita de proteção, provavelmente para uma mudança de turno... Glenn. Não perdi tempo, sai da mata e mesmo que quisesse correr eu precisava ter cautela. Coloquei a besta automática de mão que carregava ao lado do meu corpo e fui me aproximando da entrada principal. Alguns Walker andavam em minha direção, mas rapidamente eu consegui acabar com eles com um punhal que carregava no coldre em minha cintura . Ate que cheguei próximo o suficiente para que Glenn me vice.
— Você ai, não sabe ler? Parado.
Claro, com esse capuz e a roupa toda preta ele n conseguia me reconhecer, acho que mesmo que ele pudesse meu ver meu rosto não acreditaria. Mas essa era a minha intenção com as roupas pesadas e pretas que cobriam todo o meu corpo. Que ninguém pudesse perceber que eu era uma menina. Uma coisa que eu aprendi nesse mundo maluco é que os humanos são piores que essas coisas.
— Ultimo aviso. Parado ou eu atiro. – Disse apontando um revolver para mim.
Parei. Levantei as mãos e olhando para cima pude ver Rick que já estava lá em cima, junto com minha irmã, Meggie. Que saudade...não acredito que estou a vendo. Não acredito que os encontrei. Faz quanto tempo? Eu nem me lembro. Tanto tempo que eu não consigo mais contar. Já se faz três meses deis de que eu sai do Hospital. Então pelo menos uns cinco? Talvez mais deis de que eu vi minha querida irmã pela ultima vez.
Dois walker me tiraram dos meus pensamentos tristes, estavam se aproximando, um de cada lado . Fui rápida e segurei a faca com mais firmeza, com um rápido puxão no braço do que estava no meu lado esquerdo, joguei ele contra o outro , quando eles caíram no chão eu acabei com eles com um golpe em cada na cabeça. Me levantei e fiquei de novo em frente ao grande portão e a minha família que não tinha ideia quem eu era.
Rick estava apontando o seu revolver para mim, isso não era bom.
— Ultima chance. Quem é você e o que quer?
Respirei fundo e como um raio na minha cabeça eu lembrei de cada momento que passei ate chegar aqui. Acho que não falo deis do dia que sai do hospital, quando se esta viajando sozinha não tem necessidade de falar. Acho que por isso não tinha gritado “ sou eu , sou eu”. Com calma levantei as mãos e larguei a faca, tirei o capuz e levantei meu rosto para que eles pudessem me ver. Pude ver seus rostos passando de surpresa a incrédulos e depois de volta a surpresa.
— Sou Beth, finalmente achei vocês.- disse com um sorriso na voz e lágrimas nos olhos.
Como um foguete Rick, Glann e Meggie desapareceram e eu fui ate o portão após pegar minha faca, quando ele se abriu eu fui logo para dentro. Tão logo meus pés tocaram o solo de dentro, estava nos brações deles. Foi tão forte , tão familiar. Nem acreditava que aquele momento estava acontecendo. Ninguém falou nada, foram só lágrimas e palavras que eu não conseguia entender os significados, e logo estávamos andando em direção a algumas casas pintadas de cores claras com varandas brancas de madeira. Aquele lugar era incrível. Como os condomínios fechados que alguns amigos meus que moravam na parte mais rica da minha cidade. Da minha antiga vida. Grama cortada e tinha ate uma praça.
Eu não conseguia prestar muita atenção no que todos falavam, ou o que eu respondia, mas pelas expressões deles eu estava respondendo alguma coisa com coerência, não muita coisa, mas estava. Logo mais pessoas apareceram e me abrasaram. Carol, Michonne e Carl com uma bebê no colo que logo presumi que era Judith. Isso tudo era incrível.
Uma senhora loira se aproximou e muitas pessoas desconhecidas também, mas eu n tive medo porque aquelas pessoas que estavam ao meu redor eram meu porto seguro. Consegui me concentrar e falar com minha irmã que estava em minha frente chorando.
— Como Beth? Como?
— Eu tenho tanto o que te contar. Foi tão difícil.
— Eu vi você morta. Eu vi.- Dizia ela incrédula.
— Eu sei... Eu sei.
Glenn se aproximou com os olhos cheios de lágrimas e disse:
— Todos vimos Daryl carregar seu corpo sem vida, como você esta viva? E como nos encontrou?
Daryl... Ouvir aquele nome em voz alta partia meu coração. Ele não estava ali, não o tinha visto em nenhum lugar. Nem sinal dele.
Agora estávamos muito próximos a uma casa com varanda de onde Michonne e Carl saíram.
—Onde ele esta? Ele conseguiu, certo? Ele esta aqui?- Conseguia ouvir minha voz desafinar e falhar logo em seguida. Eu não pude esperar a resposta. Fiquei olhando para os lugares esperando que de alguma forma ele houvesse minha voz e viesse ate mim. Mas como um milagre ou delírio meu, comecei a escutar o ronco de uma moto. Me virei e vi o portão se abrir e ele entrou no condomínio. Meu anjo. Minhas pistas. Como se eu seguisse suas penas que foram deixadas nos campos de batalha. Eu o encontrei.
Vi seus olhos ficarem miúdos tentando focar na pouca luz , o sol já estava indo embora e o dia quase se despedia em um crepúsculo alaranjado e bonito. Os poucos raios de sol que ainda restavam se esforçando para atravessar as nuvens grossas e cinzentas. O vento ficava mais forte indicando que logo teríamos chuva, quem sabe algo mais forte como uma tempestade.
Daryl parou a moto bruscamente e desceu dela, mas não deu um passo se quer. Ficou paralisado ao lado da moto. Mas aquilo era demais para mim. E antes mesmo de soltar o ar preso entre meus lábios eu corri.
Deixei que a corda que segurava a besta nas minhas costas como uma mochila a impedisse de cair. O ar doía em meu peito eu não conseguia respirar. Só correr. Meus músculos usando o ar que estava dentro de mim, para me forçar a correr. E com alegria vi seus braços se abrirem para mim.
Quando cheguei ate ele, não me dei ao trabalho de parar. Como se eu quisesse me unir a cada molécula de seu peito, eu o abracei forte e meu rosto se enfiou em seu peito duro. Ele segurava meu rabo de cavalo com uma mão e a outra ele apertava minha cintura forte. Pude soltar o ar que parecia que estava preso dentro de mim deis do dia em que eu acordei naquele maldito hospital depôs de me raptarem.
Sentia o cheiro dele e era a melhor coisa do mundo. Cheiro de chuva e terra. Cheirava a suor e sujeira também, mas não me importei. A roupa dele estava molhada o que provavelmente indicava que a chuva já estava chegando e que ele a encontrou no meio do caminho.
Quando senti seus lábios no topo da minha cabeça foi o céu para mim. Então eu senti seu peito se encher quando ele inspirou forte. Só conseguia soluçar pateticamente. Todos os discursos com os quais eu havia treinado em minha mente teriam de esperar, porque naquele momento minha boca era incapaz de formular uma frase inteira.
Os raios e trovoes só vieram para anunciar o obvio, demorou um segundo para conseguir distinguir minhas lagrimas de gotas de chuva gelada. Minha pele estava tão quente que o que entregou a chuva foi a temperatura das gotas de agua.
Minhas mãos seguravam o tecido húmido de sua jaqueta, não queria soltar nunca mais. Só que ele n sentia o mesmo ao que parecia, porque aquele momento perfeito logo acabou e seus lábios sumiam dos meus cabelos e suas mãos estavam em meus ombros me afastando com delicadeza, porem forte.
Com muita dor me separei de seu peito e olhei para ele por traz de minhas lagrimas. Seu rosto estava cansado e sujo, mas a barba estava feita e a roupa apesar de suja era uma sujeira recente. Provavelmente estava limpa quando saiu em sua empreitada, também tinha aparado o cabelo porque estava no mesmo comprimento da ultima vez. Seus olhos estavam escuros e eu não conseguia ver sua cor, ele focava em mim, mas era como se eu não estivesse ali.
Tanta coisa que eu queria dizer, o que eu queria fazer. Mas eu não conseguia reunir coragem para nenhum dos dois.
— A chuva começou. Vamos entrar. La a Beth pode nos contar tudo. – Eu conseguia ouvir de longe uma voz feminina que eu não reconhecia.
Deryl deu mais um paço para trás, então minhas mãos soltaram sua jaqueta e eu também dei um paço para traz. Porque ele estava se afastando? Qual o problema? Agora seus olhos estavam focando algo atrás de mim.
Mas logo eu estava nos braços de Meggie novamente e todos nos dirigimos até a casa mais próxima, e pelo canto do olho eu vi meu anjo subir em sua moto e foi embora.
A sala era grande, mas éramos tantos que ficou pequena. Tinha cores claras nas paredes e cortinas brancas, com um tecido leve, apropriado para um verão quente, permitindo que o ar gelado da noite que acabava de chegar. A energia que eu já tinha me acostumado com sua ausência me deixou sem jeito por um segundo. Tudo tão claro, tudo tão às claras. Quase como uma confraternização, todos se encaixavam em cada ponto da sala bonita.
Tinha a decoração simples, como uma mãe que tem crianças em casa iria decorar. Nenhuma foto, mas tinha dois jarros com flores silvestres em criados mudos em cada canto da sala. Dois sofás grandes marrons e uma poltrona de couro preta, daquelas que inclinam. Meu pai tinha uma na fazenda.
Rick foi o primeiro a falar, ele estava com uma camiseta branca limpa e calças jeans. Estava barbeado e limpo na minha frente. Bem diferente do que eu estava acostumada.
— Consegue nos dizer o que aconteceu?
— Eu acho que sim...eu...- Daryl entrou e me interrompeu. O vi caminhar ate a janela que estava mais próxima a mim. Eu estava no sofá de 3 lugares com Megan e CaRol. Queria tanto levantar dali e ficar mais próxima a ele, mas eu sabia a importância de explicar tudo, então tentei focar no Rick.
— Não sei nem por onde começar- Disse mais para mim, como reflexão. Com um sorriso sincero, porem sem graça.
—Talvez por partes e do inicio seja mais simples.- Carol com um olhar gentil, tentou me dar uma direção .
— Tudo bem. Vocês me deixaram no hospital após eu ser baleada. - Era uma afirmação, mas ficou no tom de acusação.
— Tínhamos certeza que você estava morta. Eu sinto muito. – Megan chorava ao segurar forte a minha mão.
— Eu sei, doutor me explicou isso. Ele também achou, quem não acharia? Fui baleada na cabeça. Foi meio que uma loucura sabe?!. Ele me disse que vocês não estavam pensando direito. Que queriam ir embora carregando meu corpo. Mas ele convenceu vocês que me dariam um funeral e que era melhor assim. Andar carregar um corpo pela cidade até a floresta mais próxima não é uma ideia inteligente. No final foi minha salvação.
Meggie segurou mais forte minha mão e eu olhei para ela. – Foi à coisa mais difícil que eu já fiz. Te deixar ali. Mas eu não sabia o que fazer. Ninguém conseguia pensar direito . Daryl não queria soltar você.
Não pude evitar olhar para ele. Estava olhando pela janela a chuva bater forte contra o vidro fechado agora. Sua pose parecia descontraído apoiado no parapeito. Conseguia ver metade de seu rosto na luz da sala.
— Imagino que deve ter sido difícil.- Queria que ele olhasse para mim, queria confortar ele.
— O que aconteceu depois que saímos?- Rick me tirou de meus pensamentos.
— Me levaram para o necrotério, e lá o doutor decidiu limpar meu rosto, foi então que ele percebeu que eu ainda estava sangrando. Decidiu fazer alguns testes só por precaução e eu estava viva. Cuidou de mim, e segundo ele fiquei um mês em coma. Acordei com uma pequena sequela e uma grande cicatriz na cabeça.- Disse levantando meus ombros, como se eu disse-se que perdi o ônibus.
—Sequela? – Meu corpo todo respondeu aquela voz. Há quanto tempo eu não ouvia sua voz? Agora ele me olhava atentamente e eu conseguia ver seu rosto completo. Minha respiração estava aumentando e aumentando e eu não sei se tinha vontade de chorar ou gritar, então decidi desviar o olhar e olhar para baixo com a esperança de reformular minha cabeça.
— Eu perdi a minha memória. Por um tempo.
— O que te fez lembrar?- Karl estava tão diferente que eu quase não reconheci sua voz.
— Eu tive um sonho. Depois tudo foi voltando.
— Quando você lembrou-se de tudo veio atrás da gente?
— Sim – respondi para minha irmã- Assim que consegui ficar de pé e consegui lembrar das coisas eu sai a procura de vocês.
— Como nos achou? - Glenn queria saber.
— Procurei padrões nas trilhas, foi difícil, mas consegui.
— Como o que?
— Como furos de 2 cm no meio da cabeça dos walkers.... E isso!- Levei a minha mão ate minha perna e tirei 5 flechas velhas e desgastadas que perfurariam somente os walkers podres, que estavam presas na minha bota.
— Você rastreou o Daryl! Isso é genial.
Todos olhavam para mim com surpresa. Claro que não acreditavam que a antiga Beth pudesse fazer algo parecido. Mas as coisas mudam, pessoas mudam e eles ficariam surpresos com o que eu passei. Na verdade eu mesma não me conheceria se me visse por fora.
A porta se abriu novamente e todos olhamos para a entrada. Uma mulher branca e loira entrou na sala com um homem que tinha o mesmo padrão gentil em sua expressão. Presumi que fossem mãe e filho. Eles não entraram hesitantes ou como se não quisessem ser notados. Estavam muito confortáveis com a atenção. Mas a atenção deles estava em mim.
— Presumo que devo me apresentar. Muito prazer sou Deanna. – A mulher se aproximou e estendeu a mão branca e delicada. Era uma mulher na casa dos 50, loira. Acho que há 30 anos deveria ser exuberante sua beleza, mas agora eu conseguia ver mais que seus lindos olhos azuis. Conseguia ver como ela é forte.
Me levantei e levei a mão ate o encontro a dela. Era óbvio que minhas mãos castigadas por esses meses iriam ficar estranhas e deslocadas ao tocar as dela. Foi quando a vi olhar para minha mão e rir. Não entendi ao certo o porquê no momento.
— Acho que você não precisa segurar isso o tempo todo.
Olhei para minha moa, sem entender o que ela queria dizer e percebi que ainda estava segurando a besta automática.
— Onde conseguiu isso? – Perguntou Meggie com um tom preocupado.
— Eu... Eu encontrei em uma loja. Como eu estava sozinha achei que não era inteligente sair por ai dando disparos.
— Você sabe usar isso? – Meggie ainda estava incrédula que sua irmãzinha que tinha medo de preencher os formulários para a faculdade pudesse fazer algo do tipo.
— Eu tive tempo e muita oportunidade para treinar. – Acho que meu tom foi meio brusco porque todos olhavam para mim tensos agora. A atmosfera mudou completamente. Como se o clima lá fora pudesse entrar na casa. O vento começou a ficar mais forte e a chuva q antes grossa se tornava uma tempestade, como se ela pudesse sentir o momento certo de ficar mais obscura.
Repousei a besta no coldre especial que estava na minha perna.
— Desculpe, muito prazer, sou Beth.
—E um prazer te conhecer Beth. Acho que temos muito o que conversa. – Olhei para Rick ao mesmo tempo que ela segurava minha mão. Esperando que ele me desse alguma direção. Eu não a conhecia, mas obviamente ela era alguém importante ali.
— Deanna construiu os muros junto com seu marido. Isso tudo é um projeto dela. Ela nos acolheu aqui. Todos temos responsabilidades aqui, tenho certeza que vai se adaptar.
— Com certeza que temos um lugar onde você se encaixe.
— Então posso ficar?- perguntei para Deanna.
— Bem, obviamente você passou por um inferno para achar sua família. Não vou separar vocês.
— Obrigada. – Queria poder dizer mais , mas foi a única coisa que me veio a mente.
— Amanha nos conversamos e vemos onde você se encaixa. No momento vamos aproveitar a chuva e dormir. Você parece bem cansada. Vamos achar uma cama para você.
— Cama?
— Noites difíceis ?
— Ano difícil.
Rick veio à frente e colocou a mão em meu ombro.
— Ok, vamos arrumar comida e roupa limpa p você. Falando nisso, que roupa e essa?
— Achei que mesmo pequena se não soubessem que eu era mulher iria ser mais... seguro.
— Inteligente.
Logo as pessoas foram saindo, passando para me dar um abraço rápido e dizer como estavam felizes em me ver. Meggie disse que morava com Glenn em uma pequena casa atrás daquelas e que não queria que eu dormisse em um sofá, mas que amanha depois dela dormir teríamos uma longa conversa. Também me falaram que a maioria das casas estavam ocupadas. Então eu podia ficar em um quarto na casa do Rick que era aquela.
Mais tarde descobri que Rick morava com Karl, Judith, Michonn e ... Daryl.
O garoto que estava com a Deanna se aproximou de mim com um grande sorriso convidativo.
— Aqui tem algumas roupas , mas você pode ir ate o galpão vermelho trocar se quiser, fica a duas casas daqui . E nessa bolsa produtos de higiene.
Eu peguei as duas bolsas que nem tinha notado que o menino carregava. Chama-lo de menino provavelmente não estava correto. Ele deve ser da idade da Meggie, ou mais velho , é difícil saber porque ele tinha um sorriso gentil o que o fazia parecer mais jovem, era alto e forte. Tinha a mesma estrutura que alguns amigos da Meggie que iam aos verões visita-la na fazenda quando ela vinha da faculdade.
Eu estava meio sem saber o que fazer com aquilo, meio desconcertada com tudo o que estava acontecendo, e principalmente com tudo o que estava tentando ignorar naquele momento. Aproximei as sacolas de couro no meu peito, fazendo pressão, e de alguma forma aquilo me reconfortou e vez com que tudo ficasse mais quente. Minhas roupas estavam molhadas e eram grossas, o que faziam dobrar de peso, me fazendo sentir pequena e indefesa. Como um filhote de gato indefeso e patético. Mas não vazia sentido, eu sabia que ali não tinha perigo, ate onde eu sabia. Eu estava segura, pelo menos fisicamente.
Meus sentimentos e tudo o que eu tinha me esforçado tanto para manter afastados para que pudesse me manter concentrada, em um plano estratégico e racional para sobreviver sozinha, estavam arranhando a barreira que fiz em minha mente e no meu coração. Isso me fazia querer chorar e correr para os braços da minha família e principalmente dele, do Daryl. Nem podia acreditar que ele estava ali, atrás de mim. Mas eu não podia fazer isso, precisava me concentrar por um pouco mais de tempo, um pouco mais de tempo, pelo menos até que tudo se transformassem no desconhecido e eu conseguisse me organizar. Apesar de estar feliz de estar ali e sabe que Rick e os outros nunca me machucariam, eu precisava me concentrar e observas. Precisava saber onde eu estava me metendo.
Aqueles olhos castanhos me encaravam ainda, esperando uma resposta ou um agradecimento. Ou simplesmente estava verificando que eu tinha sérios problemas psicológicos , pois o silencio ficava cada vez mais constrangedor .
— Obrigado.- Foi o que consegui dizer.
—Sem problemas...A propósito, meu nome é Spencer ............. sou filho da Daenn.
Consegui balançar a cabeça em um movimento afirmativo , para que ele soubesse que eu entendia a informação, eu não ia passar por uma completa tapada , não ainda. Era tão estranho aquele homem com um pouco de barba por fazer, olhos gentis castanhos , cabelo curto castanho, blusa xadrez vermelha e jeans me olhando. Quase me estudando. Limpo e nem mesmo um arranhão. Unhas limpas e delicadas. Parecia um estudante de direito ou administração, alguma coisa limpa e organizada. Eu conseguia visualiza- ló, mais com um terno cinza e gravata azul do que com as roupas simples que ele estava. Como se ele n vivesse no mesmo mudo que nos durante esses últimos anos.
Ele parecia aqueles meninos metidos e populares da minha cidade, os mesmos meninos que eu queria tanto que me chamassem para sair. Me lembro de ir com minha mãe visitar algumas faculdades que seriam opção para mim e ver esses meninos passeando pelo campos. Lembro de me sentir deslocada, mas mesmo assim, querendo chamar a atenção de algum deles. Mas eu era obviamente uma aluna de segundo ano, magrela de mais, passeando com a mãe e uma blusa florida verde fora de moda e caipira. Se eu tivesse ido com a Meggie teria tido mais chances e ela me impediria de usar aquela roupa horrível que papai me deu de natal há dois anos atrás.
Eu estava a usando pela primeira vez naquela manha de sábado em homenagem a ele. Papai havia se formado naquela faculdade, por isso era importante para ele que eu voltasse para casa e contasse como eu estava apaixonada pelo lugar. E esse era o papel da mamãe na viagem, garantir que eu visse o melhor que o lugar pudesse me oferecer. Provavelmente daria certo se eu já não tivesse meus próprios planos. De jeito nenhum eu passaria os próximos anos infiltrada na biblioteca da universidade Drexel, na Pensilvânia. Não me entenda mal, provavelmente era uma ótima faculdade com muito a oferecer, afinal era para Meggie estar nos acompanhando, mas apareceu um seminário de ultima hora, foi o que ela disse.
Aquele lugar era para Meggie e papai, que são os tipos de pessoas que se encaixam em qualquer lugar. São o tipo de pessoas que todos querem ser seus amigos. Não era meu caso, então meu futuro já tinha me respondido e aparentemente eu tinha sorte, ou alguém no céu tinha pena de mim, pois a minha carta de aceitação estava me esperando na minha escrivaninha, dentro de um livro de álgebra. Meu destino estava em New York. Eu só precisava encontrar a melhor maneira de contar isso para o papai.
Acabou que o melhor momento acabou sendo somente no final do verão seguinte, quando quase perdi o prazo de inscrição. Mas eu sempre tive sorte de ter o melhor pai do mundo. Compreensivo e amoroso meu pai sempre foi o tipo de homem que te passa à vontade de se abrir e compartilhar seus segredos.
No final o meu medo era de decepciona-lo, eu não queria machucar ele ou talvez o meu medo fosse de me destacar pelos motivos errados mais uma vez da minha família. No final das contas ele ficou feliz por mim e ate me levou para conhecer o campos da Juilliard, foram 3 dias muito divertidos e me arrependo de não ter aproveitado mais .
Eu estudaria composição clássica, realizaria meu sonho, me tornaria uma compositora. Nunca quis ser famosa ou aquele tipo de cantora clichê, mas sempre sonhei em viver da musica escrevendo minhas letras que era onde eu me encaixava. Acabou que não tive tempo de frequentar as aulas, nem por um dia, não tive oportunidade porque logo que voltamos os do final de semana em New York, mortos ganharam vida e essa loucura começou. Engraçado pensar que meu maior problema era contar ao meu pai que eu queria ir para outra faculdade.
— Porque você não vem comigo? Eu te mostro a casa. – Michonne me tirou da minha viagem ate o passado e me fez perceber que Spencer ainda me olhava.
— Claro. Obrigado pelas roupas.- disse a ele.
— Sem problemas, nos vemos amanha – Ele me deu um sorriso meigo que chegou ate seus olhos, e logo já estava fora da casa. Decidi não comentar o fato de que ele parecia amigável até de mais .
Me virei para seguir Michonne pela escadaria de madeira branca que levava até o andar de cima, e tive o prazer de perceber que Daryl estava me encarando da janela. Aparentemente ele não havia se mexido, não deu tempo de perceber seus olhos, mas parecia que alguma coisa o estava deixando inquieto, preocupado.
Seguimos até o andar superior e fomos ate um corredor com as paredes nas mesmas tonalidades claras, novamente sem nenhum quadro nas paredes. Tudo muito simples. Agora eu conseguia ver as portas e diferente da porta principal, as daqui de cima tinham a cor de marrom escuro. Eram de madeira e as maçanetas eram redondas na cor cobre. Pensando melhor agora a casa parecia com casas de mostruário ou que estavam sendo alugadas. Nada pessoal, somente uma tela branca para que uma dona de casa pudesse entrar e visualizar as possibilidades do lugar. Um lar feliz.
Michonne parou no meio dos dois corredores e em frente a uma porta. - Aqui é o banheiro. Do lado esquerdo fica o quarto de Karl o meu e do Rick. E do outro, o do Daryl, o seu e a ultima porta desse corredor ao lado do quarto do Daryl.
— Judith fica onde?- Tentei distrair minha mente e não pensar que meu quarto ficava ao lado do Daryl.
— Comigo e com Rick.
— você e Rick?
Michonne sorriu para mim meio sem graça e colocou a mão sobre meu ombro. -As coisas mudaram um pouco.
— Notei. – Michonne e Rick? Quem diria.
— Bem , teremos tempo para conversar mais tarde. Tome um banho e coloque suas coisas no quarto. Te encontro lá em baixo. Vou arrumar alguma coisa para você comer.
— Tudo bem. Obrigada.
Ela me deixou e desceu as escadas logo atrás de mim. Girei a maçaneta que estava fria e entrei no banheiro. Era tudo branco, de cerâmica, tinha um espelho sobre a pia branca, tinha duas torneiras de bronze. Uma de agua fria e outra de agua quente eu imaginei. A área do chuveiro era branca também, com um suporte para sabonetes vazio. Aparentemente todos tinham o mesmo quite de limpeza que o meu. Pois não havia sabonetes, shampoos ou escovas de dente. Novamente um cômodo sem nada de pessoal nele.
Me olhei no espelho e meu cabelo estava molhado e amarrado em um rabo de cavalo meio solto. Algumas mechas haviam fugido e meu cabelo loiro estava opaco e eu podia ver que tinha uma boa camada de sujeira.
Meu rosto tinha marcas de lágrimas que limpavam uma camada de poeira que cobria toda minha bochecha, não tinha percebido que tinha chorado tanto. Meus olhos estavam enormes e assustados. Agora eu conseguia ver porque meu apelido no maternal era Bambi. Parecia uma garotinha assustada e perdida. Bem diferente da mulher corajosa e destemida que eu acreditei que havia me tornado. E isso era frustrante, eu não queria aparecer aqui daquele jeito.
Tirei a besta que estava presa a minha coxa e logo depois o punhal preso na minha cintura, e logo em seguida minha roupa que estava molhada e pesada. Assim que tirei a blusa e fiquei somente de sutiã percebi o quanto estava magra. Conseguia ver meus ossos do esterno salientes em baixo da fina e lisa camada de pele. Mais branca que o normal, sobre a luz azul do banheiro. Retirei o sutiã rosa claro que agora estava quase marrom, grande de mais para mim.
Retirei a calça do exercito que estava sendo presa por um cinto que eu tive que fazer dois furos a mais para que ficasse firme. Como a calça era boca de sino, bem largas eu consegui tirar antes das botas de acampamento. Quando as retirei estavam cheias de lama e as duas meias que usei não impediram que minhas unhas dos pés ficassem cheias de terra preta.
Peguei a bolsa de couro marrom que Spencer me falou que tinha produtos de limpeza e entrei no chuveiro feliz em notar a agua quente sobre meu corpo gelado. Era estranho sentir o conforta da agua limpa e quente batendo sobre meus ossos e pele.
Abri a sacola depois de um minuto em baixo da agua e notei que tinha dois frascos de plástico com tampas. Uma vermelha que estava escrito Shampoo com uma caneta preta em uma letra desajeitada de forma e outra azul que era o condicionador segundo a embalagem caseira. Mas a letra era diferente, dessa vez bonita e uniforme, com uma caneta roxa. Também tinha uma saboneteira, com um sabonete branco dentro, tinha um cheiro bom de laranja, uma escova de dente rosa e um tubo de pasta de dente de uma marca que eu não conhecia.
Peguei um pouco de shampoo , menos do que normalmente pegava em casa, mesmo que meu cabelo estivesse vários centímetros maiores que naquela época, eu não tinha certeza se receberia um kit novo. Comecei a lavar meu coro cabeludo. Desliguei o chuveiro, mas isso era um costume que eu adquiri com minha mãe. Ela sempre era preocupada com os recursos naturais e sempre falava que iriam acabar um dia. Se ela estivesse aqui para ver como era difícil conseguir um copo de agua limpa, mas minha mãe era legal de mais para dizer “ Eu te avisei”.
Em quanto fazia espuma com o milagroso Shampoo que tinha cheiro de camomila comecei a pensar em tudo o que tinha acontecido e é claro que meu pensamento foi até ele. Será que ele estava bravo com a minha volta?
Tentei vasculhar na minha mente meus últimos momentos com ele, mas não conseguia lembrar de alguma coisa que eu pudesse ter feito, para chateá-lo. O que eu poderia ter feito? Eu não pensei muito no assunto, mas e se ele não quisesse me buscar? Eu sabia que fui um peso para ele e para todo o grupo no passado, mas e se ele ficou feliz em me sequestrarem? Feliz talvez não, mas e se as coisas tivessem melhorado para ele depois? Daryl sempre foi pratico, e carregar uma garota desajeitada por ai, não era nada pratico.
Ele viria atrás de mim quando tivesse a oportunidade disso eu sabia, mas ele não iria fazer isso com qualquer pessoa do grupo? Eu não tinha pensado nisso. E se ele foi atrás de mim por obrigação, ou porque tinha alguma consideração por causa do meu pai? Eu pensei que talvez eu fosse importante para ele , mas e se ele somente seguiu as orientações. Todos estavam com ele. Talvez ele não estivesse me procurando, talvez Rick ou talvez Meggie estivesse atrás de mim.
Quando a prisão foi invadida e eu consegui fugir com Daryl era claro, que ele não estava feliz, mas eu realmente achei que as coisas estavam diferentes depois de um tempo. Quando ele praticamente admitiu que eu houvesse feito mudar de opinião em relação às pessoas. Aquilo me fez pensar que talvez ele estivesse sentindo algo por mim. Que eu o fiz sentir esperança. Que ele tive estivesse começando a gostar de mim. Sentir um sentimento que eu só notei que existia quando fiquei longe dele.
No segundo ano minha professora de artes nos levou a uma exposição de arte contemporânea, boa parte dela era abstrata, então ela sugeriu que déssemos alguns passos para trás, que nos afastássemos. De longe teríamos uma visão melhor do todo da obra, assim entenderíamos melhor o desenho. Foi assim que compreendi meus sentimentos, ao me afastar pude entender meus sentimentos que eram confusos e abstratos como aquelas obras.
De longe aqueles emaranhados de sentimentos foram tomando forma, e mesmo que não fossem fáceis de aceitar, eu conseguia compreender.
Aquele pensamento me fez sentir um aperto na garganta, me fazia sufocar. Eu não tinha pensado nisso. Não tinha cogitado essa possibilidade. Depois de acordar fiquei tão focada em me recuperar que não pensei em muito.
Abri o chuveiro e enxaguei meu cabelo, peguei um pouco de condicionador e passei no comprimento. Enquanto deixava um pouco o hidratante na cabeça, peguei o sabonete e a bucha e passei pelo meu corpo tirando toda a sujeira. A agua desceu escura pelo ralo quando terminei.
Alcancei a toalha dentro da bolsa com roupa , ela era azul e tinha algumas manchas vermelhas, dessas que você consegue quando lava peças coloridas juntas, não era nova , mas era o suficiente. Enxuguei-me e prendi a toalha nos cabelos fazendo um turbante. Peguei a bolsa e vasculhei o que tinha dentro: uma vestido curto rodado branco com renda, sem mangas de alça de cetim, uma calça jeans escura, uma blusa preta de manga com botões no decote, uma sapatilha de pano preta, uma calcinha , um sutiã preto e uma escova de cabelo.
Decidi pelo vestido, mesmo que não quisesse mostrar as pernas e os braços, por causa dos hematomas e machucados. A calça jeans obviamente ficaria enorme e eu não queria usar aquele cinto de novo. Não queria nunca mais usar aquelas roupas de novo. Então coloquei a roupa fazendo uma nota mental para ir ao galpão vermelho que Spencer disse para trocar. Calcei as sapatilhas e agradeci eternamente que a numeração estava correta.
Me olhar no espelho escovando meu cabelo era engraçado. Agora meu cabelo estava liso por causa do peso da agua, meu rosto parecia eu de novo e até meus olhos não estavam tão esbugalhados como antes. A adrenalina deixava meu corpo e isso facilitava a respiração. Escovei meus dentes e coloquei a roupa suja dentro da sacola que antes tinha o vestido branco. Peguei tudo e sai do banheiro, percorri todo o corredor e fui ate o quarto.
Ao entrar percebi que era um quarto de menina, provavelmente esse era o motivo dele estar vazio. As paredes eram roxas e tinha uma cama de solteira com um colchão branco, a roupa de cama estava em cima do colchão esperando para ser estendida. O chão era de madeira escura e tinha uma janela que estava aberta com as cortinas cor bege aberta. Agora eu podia ver que a chuva se tornara um chuvisco leve, e o vento frio que caminhava para dentro, deixava o clima do quarto perfeito para uma noite de sono. Tinha uma penteadeira de madeira branca com um espelho grande em uma moldura elaborada com uma cadeira branca obviamente do mesmo conjunto. Ao lado uma porta dupla de madeira branca, aberta de um armário embutido com alguns cabides de madeira pendurados.
Deixei tudo o que estava em minhas mãos em cima da penteadeira e coloquei a toalha aberta no encosto da cadeira para secar. Antes de me virar para deixar o quarto pude ter uma bela vista de mim por inteira. A visão me deixava em um contexto confuso. Vendo-me de vestido, banho tomado e atrás um quarto bonito e iluminado. Lembrou-me de quem eu era, me lembrou de como as coisas eram, minha visão ficou turva e notei que estava chorando. Mas eu não podia fazer aquilo agora eu precisava me concentrar e enfrentar o que me esperava lá embaixo. Eu precisava enfrentar o Daryl.
Autor(a): baby1532
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Ao sair do quarto e caminhar, me sentir leve. HÁ quanto tempo eu não me sentia limpa e leve? Esse vestido me fazia sentir que estava em casa, de alguma forma ainda estava na fazenda esperando mamãe me chamar para jantar. Eu sabia que isso não ia acontecer, nunca mais a veria, nem ela nem o papai, nunca mais teria minha vida antiga de volta. Quand ...
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