Fanfic: Encontrada (2ª temporada) (Adaptação - Vondy) | Tema: Vondy

Fiquei um pouco agitada observando Isaac acomodar as grandes caixas sobre a carruagem. A assistente de madame Georgette estava na calçada ao lado de duas pilhas de pacotes que quase ultrapassavam sua altura. E Anelize não era do tipo mignon. Ela esticava um deles para o alto, e o garoto que cuidava do estábulo de Christopher coçava a cabeça, claramente se perguntando onde acomodaria mais um. Eu gemi e desviei os olhos. Christopher tinha extrapolado todos os limites dessa vez.

Dulce: Seu irmão não devia ter comprado tanta coisa pra mim. É um exagero! - reclamei com Anahí, roendo a unha do dedão.

Minha quase cunhada adolescente me encarou, exibindo suas adoráveis covinhas. Os cabelos louros escuro, como os do irmão, ressaltavam a satisfação mal disfarçada nos grandes olhos azuis.

Anahí: Você ouviu. Christopher ordenou que comprássemos o enxoval completo. Creio que teremos de voltar amanhã para buscar o restante. Ou então pedir para Isaac vir sozinho, caso os preparativos do casamento nos impeçam de estar aqui.

Dulce: Eu não preciso de nada disso, Anahí! - resmunguei, batendo o pé feito uma criança de cinco anos.

Angelique: Discordo, senhorita Dulce - contrapôs a melhor amiga de Anahí, com ar sonhador.

Tá vendo? Eu devia estar me sentindo como a Angelique, embasbacada e animada, não assustada.

Angelique: O senhor Uckermann lhe compra tantas coisas apenas pelo desejo de vê-la feliz. - continuou Angelique, pousando a mão enluvada em meu cotovelo.

Uma parte de mim sabia que ela tinha razão, e eu até podia entender Christopher, desde que ele não comprasse a vila toda para mim, como vinha fazendo nas últimas semanas. Conforme o casamento se aproximava, mais tensa e inquieta eu me sentia. Não sabia ao certo por quê, bem, isso não é totalmente verdade. Não que a culpa fosse minha, mas da sociedade que cismava em usar o termo errado quando duas pessoas decidiam dividir a vida. Contrair matrimônio. Eu não conhecia nenhum bom uso para aquele verbo: contrair dívidas, contrair um vírus... Os bíceps de Christopher se contraindo e estufando as mangas da camisa enquanto ele treinava seus cavalos... humm... Tudo bem, um uso era bom, mas só aquele. Alguém devia fazer alguma coisa a respeito disso. Não é para menos que as pessoas fiquem com um pé atrás quando pensam em se casar. Como fora o meu caso, antes de conhecer Christopher e ele me fazer perceber que um papel não mudaria nada.

Eu tinha dado o grande passo, o maior de todos na verdade, ao aceitar abandonar o meu moderno, tecnológico, cheio de facilidades século vinte e um, para viver com ele no arcaico e sem recursos século dezenove.

Admirei o anel que reluzia em minha mão esquerda. Christopher o desenhara e pedira a um joalheiro conhecido da cidade para confeccionar a peça. Era o anel mais espetacular que eu já tinha visto. Uma safira rodeada de brilhantes e dois diamantes triangulares de cada lado do aro dourado, formando uma flor perfeita. Acabei suspirando.

Escolher Christopher foi simples, natural como respirar. Não dava para viver com o coração batendo fora do peito e morando em outro século. Não havia ninguém que me conhecesse tão bem quanto ele. Nem mesmo Maite, minha melhor amiga, que tive de deixar para trás. Por isso era tão ridículo ficar tão aflita por conta de uma simples cerimônia.

Maldita Tensão Pré-Casamento!

Então ali estava eu, vendo Isaac ser ocultado pelas caixas do meu enxoval. Não suportando mais observar a pilha de pacotes crescer sobre o teto da carruagem, sugeri a Anahí e Angelique que fôssemos dar uma volta pela vila. Elas toparam na hora. Não que fosse surpresa. Angelique era fã de compras, mesmo que fosse comprar remédios. O que era exatamente o caso.

Angelique: Se não se importarem, eu gostaria de ir até a botica - sugeriu a loira. - Mamãe precisa de seus sais.

Acompanhei as duas pelas ruas de pedra da pequena vila, desviando de carroças e cavalos amarrados a estacas. Ainda era chocante contemplar aquele cenário, fazer meu cérebro entender que agora eu fazia parte dele.

Homens com botas e casacos acompanhavam damas com amplas saias enfeitadas. Os casais paravam aqui e ali para uma conversa casual com um conhecido. Eu era abordada frequentemente quando Christopher me acompanhava até a vila, eu nunca saía sozinha, não sabia montar, muito menos dirigir uma carruagem, e volta e meia era alvo de inúmeras perguntas. Algumas pessoas eram simpáticas comigo, outras apenas curiosas.

E era compreensível. Por mais que eu me esforçasse, ainda destoava e muito de todos ali, sobretudo se Anahí e Angelique estivessem ao meu lado, com vestidos bufantes perfeitos graças à crinolina, coisa que jurei jamais voltar a usar. Uma garota deve impor alguns limites.

Não que eu estivesse me queixando de nada, nem daqueles olhares especuladores, mas às vezes... tudo bem, quase sempre... eu me sentia meio mal por ser alvo de tanto interesse. Tipo uma atração de circo. Christopher sempre ria quando eu lhe dizia isso, e então me beijava de um jeito provavelmente inadequado para o século dezenove. Aí eu perdia a linha de raciocínio e esquecia tudo que me atormentava. O que, pensando bem, devia ser a intenção dele.

Humm... Acho que eu devo reclamar mais vezes...

Anahí: A senhora Madalena está com tudo pronto para a festa - falou Anahí, animada. - Restam apenas alguns detalhes a ser resolvidos. Passou tão depressa que mal posso acreditar que o casamento acontecerá em dois dias!

Dulce: Eu também - concordei, saindo do caminho de um menino com roupas excessivamente engomadas que perseguia um cachorro desgrenhado e fedorento.

Angelique: É surpreendente que a senhora Madalena esteja tão adiantada - comentou Angelique – Pois o número de convidados é bastante grande. O senhor Uckermann fez questão de convidar todos os moradores da vila.

Eu soltei um longo suspiro.

Dulce: Acho que o Christopher convidou até aquele cachorro ali, Angelique.

Eu havia imaginado uma pequena cerimônia na fazenda de Christopher, com alguns poucos amigos, mas ele e Anahí tinham outros planos. Planos imensos! E, mesmo pouco à vontade, concordei. Levei dias para endereçar e despachar todos os convites. Usar pena para escrever era um saco, e eu não me saí muito bem. De toda forma, minha letra era praticamente ilegível, e Christopher teve que terminar o serviço com sua caligrafia perfeita.

Anahí: Será uma cerimônia esplêndida, Angelique! - Desde que marcamos a data, Anahí não falava em outra coisa. - Sobretudo quando virem a noiva. O vestido de Dulce é absolutamente maravilhoso e único.

Dulce: Não que a madame Georgette concorde com isso – resmunguei.

A costureira quase se recusou a confeccioná-lo. Foi preciso muita persuasão (e algumas moedas extras, eu suspeitava) da parte Christopher para convencê-la a costurar o vestido que eu queria.

Angelique: Devo concordar que madame Georgette tem mãos de fada, e certamente seu vestido de noiva será o mais... - Entretanto, antes que Angelique pudesse continuar com os elogios, um homem alto e magro se colocou em nosso caminho.

****: Bom dia, senhoritas! - o médico da vila e amigo dos Uckermann se inclinou educadamente, tocando a aba do chapéu redondo. - Que grata surpresa encontrá-las aqui na vila assim tão cedo.

Anahí: Viemos buscar o enxoval da senhorita Dulce, dr. Almeida - explicou Anahí. – Isaac está acomodando as compras na carruagem.

O magricela sorriu para mim de um jeito simpático.

Dr. Almeida: Suponho que a senhorita esteja ansiosa com a proximidade do casamento - observou o dr. Almeida.

Dulce: Mais do que o senhor pode imaginar – acabei dizendo.

Ele balançou a cabeça de leve.

Dr. Almeida: Estou em dívida com o senhor Uckermann. Lamento não ter ido visitá-lo nas últimas semanas, sobretudo por perder a oportunidade de conhecê-la melhor, senhorita Dulce. E se eu corrigisse meu erro oferecendo um jantar aos noivos em minha residência?

Eu sabia! Sabia que ele não esqueceria o assunto.

Dulce: Hã... não vai dar. Tá tudo muito corrido, sabe como é... por causa do casamento e tudo mais. Mas vou passar o recado pro Christopher. Ele vai gostar do convite. - Porque, ao contrário de mim, Christopher confiava naquele homem.

Meu problema com o dr. Almeida ia muito além do rancor por ele ter sugerido, tempos atrás, que Christopher me internasse em um manicômio. Acontecera logo depois de eu contar ao meu futuro marido que viajara no tempo.

Obviamente, a princípio ele não acreditou, eu mesma custei a crer que tinha sido enviada ao passado sem passagem de volta. Eu não podia culpá-lo por ter pedido ajuda ao velho amigo da família na esperança de me ajudar de alguma maneira. Mesmo assim, a sugestão do dr. Almeida ainda me causava mágoa.

Fora Christopher, o médico era a única pessoa ali que sabia, ainda que vagamente, que eu não tinha nascido naquela época. Meu medo era que ele decidisse investigar ou, pior, estudar o caso mais a fundo, ainda que Christopher me garantisse todos os dias que o amigo jamais faria uma coisa dessas. Ele insistia em dizer que eu agora pertencia àquele século, pertencia a Christopher, eu sempre o corrigia, e não havia nada a investigar. Eu nunca acreditava nele, claro.

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