Fanfic: Encontrada (2ª temporada) (Adaptação - Vondy) | Tema: Vondy

A dor foi cedendo, e eu consegui relaxar um pouco. Ofegante, olhei para Christopher. Ele estava sem cor.

Christopher: Tenho que buscar o dr. Almeida! - falou em pânico. - Não, primeiro tenho que levar você para o quarto! Creio que precisaremos de água quente. Vamos precisar, não vamos? - ele perguntou ao Domingos.

Sr. Domingos: Talvez levá-la para dentro seja o mais aconselhável. Eu chamarei o médico para o senhor. Seguirei à vila o mais rápido que puder. Tenha uma boa hora, senhora Uckermann.

Eu apenas assenti. Uma boa hora? Sendo dilacerada ao meio?

Christopher: Muito obrigado, senhor Domingos. Fico-lhe muito grato. Venha, meu amor. - Christopher passou um braço por meus joelhos e me pegou no colo enquanto o seu Domingos corria para sua montaria. Lancei um braço por seu pescoço e o examinei atentamente. A palidez agora dava lugar a um tom esverdeado.

Dulce: Christopher, fica calmo - murmurei. - Respira fundo e solta devagar.

Ele apertou o passo e me fitou com as sobrancelhas tão comprimidas que se tornaram uma só.

Christopher: Estou calmo. Estou respirando. Acho. Está doendo muito? Diga que está suportando, Dulce... - implorou aflito.

Dulce: Tudo bem. Tá tudo bem. - Eu acariciei seu rosto. - Você precisa ficar calmo, e eu acho que posso andar.

Christopher: Não. Nada de andar.

A essa altura já estávamos no quarto, e delicadamente ele me colocou sobre a cama. Então endireitou a coluna e ficou me observando assustado.

Christopher: E agora? - perguntou.

Dulce: Não sei. Nunca fiz isso antes.

Christopher: Não brinque, meu amor. Talvez eu deva...

Uma nova contração me atingiu e eu saí do ar. Senti os dedos longos de Christopher agarrarem a minha mão. Quando consegui enxergar novamente, eu o encontrei ajoelhado ao meu lado, pálido, comprimindo os lábios até se tornarem uma linha reta, os olhos atormentados e cheios de agonia.

Madalena passou pela porta e imediatamente expulsou Christopher do quarto.

Ele não lhe deu a menor atenção. Eu queria que o meu marido ficasse ao meu lado o tempo todo, mas, ao ver seu desespero impotente, entendi que ele se afligiria muito mais se ficasse ali, me vendo sofrer. Também me dei conta de que os gritos o levariam à loucura.

Merda!

Quem sabe ainda há esperanças, me consolei. Àquela altura, o dr. Almeida podia ter encontrado a morfina!

Infelizmente, isso não tinha acontecido.

Quando o médico chegou, tratou de arrastar Christopher para fora com a ajuda de Gomes e mais dois empregados.

Dr. Almeida: Ela ficará bem, senhor Uckermann - o médico garantiu.

Christopher: Dulce! - Ele lutava contra as mãos que o dominavam, mas a porta foi logo trancada em sua cara.

Dr. Almeida: Pronto, querida - o dr. Almeida falou com ternura. - Agora vamos trazer essa nova vida ao mundo.

Bom, só que não foi tão simples assim. A noite caiu e eu continuava ali, gemendo baixinho, respirando e empurrando como Madalena e o médico ordenavam. Mas acho que o bebê mudou de ideia na metade do caminho e decidiu ficar onde estava.

Dr. Almeida: Vamos, Dulce, um pouco mais de força agora - instruiu o médico.

Eu tentei, mas não dava. Madalena bufou, secando minha testa.

Madalena: Essa criança já teria nascido se o teimoso do seu marido me ouvisse e estivesse agora mesmo rodeando a casa com a galinha nas mãos, em vez de tentar colocar a porta abaixo! - resmungou Madalena.

Olhei para ela sem entender.

Dulce: Que galinha? - perguntei.

Dr. Almeida: Agora, Dulce. Empurre! - comandou o dr. Almeida.

Eu fiz tanta força que senti uma veia em meu cérebro querendo se romper. Mas não aconteceu nada.

Dulce: Não dá pra deixar o bebê aí dentro? Eu não me importo - falei, esgotada.

Dr. Almeida: Não desista agora, querida. Está quase lá! - ele me incentivou.

Quando a nova onda de tortura me encontrou, quase perdi os sentidos.

Madalena alisava meu rosto com um pano úmido. Seus olhos estavam preocupados agora.

Dulce: Preciso do Christopher - falei atordoada.

Madalena: Imagine só! Um homem assistir ao parto do filho! - Madalena exclamou horrorizada.

Dulce: Ele estava comigo quando essa criança entrou - reclamei. - É justo que esteja quando ela sair. Não vou conseguir sem ele!

Madalena: Oh, pobrezinha. A agonia a está fazendo delirar! - choramingou ela.

Tentei convencer o médico.

Dulce: Doutor, ou o senhor me dá a morfina ou o Christopher. Preciso de um dos dois!

A cabeça careca do médico surgiu entre os meus joelhos, ele comprimiu os lábios finos até se tornarem apenas um risco.

Dr. Almeida: Não me parece boa ideia consentir que...

Ah, que se dane. O bebê era dele também.

Dulce: Christopher! CHRISTOPHERRRR! - comecei a gritar.

Christopher: Dulce! - veio a voz abafada através porta que ele esmurrara sem parar nas últimas seis horas ou mais. - Madalena, abra esta porta!

Madalena: Senhor Uckermann, faça sua parte e vá pegar a galinha!

Mas que raios de galinha era aquela? Mágica ou alguma coisa assim?

Dulce: Christopher! - chamei de novo.

Algo pesado investiu contra a porta. O dr. Almeida olhou espantado naquela direção e então suspirou.

Dr. Almeida: Ele vai entrar, senhora Madalena - constatou resignado. - De um jeito ou de outro. É melhor que não se machuque no processo. Abra a porta.

A mulher arfou pesadamente, e eu temi que seu queixo fosse se desprender do rosto.

Madalena: Mas, doutor...

Dulce: Vai logo Madalena! - gemi, me contorcendo na cama.

Ela bufou. Madalena mal teve tempo de abrir a tranca e Christopher estava lá, pálido,trêmulo, suado. Até parecia ter contrações também.

Christopher: Estou aqui! - Ele se juntou a mim na cama, segurando minha mão e beijando minha testa. - Estou aqui e não sairei do seu lado.

Dulce: Preciso de você.

Ele assentiu freneticamente.

Christopher: Basta me dizer como posso ajudar, meu amor.

Dulce: Quero que faça de conta que eu sou uma égua.

Um longo silêncio se abateu sobre o quarto, tudo o que eu ouvia era a minha respiração ofegante. Três pares de olhos se fixaram em mim.

Christopher, Madalena e Dr. Almeida: O quê? - os três perguntaram em uníssono.

Dulce: Faz de conta que sou uma égua - expliquei a Christopher. - Faz aquilo que vi você fazendo no estábulo. Com a Princesa.

Compreendendo o que eu queria, ele assentiu uma vez. Então me ajudou a erguer o tronco e se encaixou entre as minhas costas e a cabeceira da cama. Passou um braço sobre os meus ombros, me mantendo no lugar, e esticou a mão livre para tocar minha barriga. Christopher começou a fazer círculos firmes e precisos e, conforme seus movimentos cresciam, minha energia voltava.

Christopher: Assim? - ele sussurrou.

Eu ergui os olhos, a cabeça encostada em seu ombro, e encontrei suas íris castanhas brilhantes, sentindo a onda de tortura se avolumar dentro de mim.

Dulce: A gente já passou por um monte de coisas.

Respira.

Christopher: Muitas - ele concordou, continuando com sua mágica em minha barriga.

Respira. Respira. Respira.

Dulce: Não queria que você ficasse de fora dessa que, eu acho, vai ser a maior delas.

Christopher: Dulce... - Seus olhos ficaram úmidos, e tirei dali toda a força que me faltava.

Cerrando a mandíbula, eu aceitei a dor e a força de Christopher, agarrando-o pelo antebraço, e empurrei com tudo. E continuei empurrando, até que por milagre a agonia desapareceu, e um choro agudo e estridente preencheu todo o quarto. O som fez meus olhos arderem e um nó se formou em minha garganta.

Madalena: Uma menina! - exclamou Madalena. - Oh, meu Deus, ela é tão linda!

Tentei vê-la, mas estava esgotada demais, não conseguia nem me mover. Busquei Christopher e o encontrei olhando para frente maravilhado, hipnotizado. Então, como se sentisse que eu o estava observando, ele abaixou a cabeça. Os olhos marejados brilhavam como nunca.

Dulce: Como ela é? - eu quis saber à meia-voz.

Christopher: Barulhenta, exigente, forte e enlouquecedoramente linda. Assim como a mãe.

Sorri para ele, exausta, perdida em um tipo de alívio que se parecia muito com êxtase. Madalena depositou o embrulho branco barulhento nos braços de Christopher. Ele se moveu de leve para recebê-la, de modo que seu corpo ainda sustentasse o meu. A menina parou de chorar no instante em que se aconchegou nos braços dele.

Essa é a minha filha, com toda certeza.

Com a cabeça ainda apoiada no ombro de Christopher, estiquei o pescoço ao mesmo tempo em que ele se inclinou de leve para que eu pudesse vê-la.

Afastei o tecido para o lado e perdi o fôlego quando de repente o mundo se tornou mais brilhante, mágico e encantado. O bebê mais perfeito do mundo tinha a pele rosada - ainda um pouco suja de sangue - e muito cabelo.

Louro escuro. Não consegui ver seus olhos, ainda fechados, mas a boca era pequena, o lábio inferior ligeiramente farto, como um morango.

Christopher se moveu e, meio desajeitado, colocou aquele pacotinho precioso em meus braços, as mãos envolvendo as minhas para que eu pudesse segurá-lo. Foi estranho e maravilhoso. Era como segurar meu próprio coração.

Ao ver a garotinha piscar os olhinhos inchados, mover a mão pequenina meio descoordenada, meu coração quase parou, e então começou a bater rápido, num tipo de amor indissolúvel, imutável e incondicional, que se amalgamava com cada fibra do meu ser. Christopher sentia o mesmo, eu podia ver a veneração, o instinto protetor, a ternura em seus olhos enquanto a admirava, gravando seus traços delicados na memória, esticando um dedo tímido para tocar sua bochecha gordinha.

Baixei a cabeça e pousei os lábios na testa macia e quente de minha filha.

Dulce: Bem-vinda a este mundo maluco, Maite.

Os olhos castanhos de Christopher se ergueram e se atrelaram aos meus. Sorri para ele.

Dulce: Aposto que você estava com medo de que eu fosse chamar nossa filha de Cocada.

Ele riu e se inclinou, beijando minha testa, depois meu nariz e por fim meus lábios secos. Quando voltou a me encarar, sua expressão tinha mudado. A diversão se fora.

Christopher: Meu amor, eu... - Sua voz falhou e senti que ele pretendia dizer que viveria, lutaria, morreria por mim, por nós duas se preciso, mas estava tão emocionado que não era capaz de emitir som algum.

Tudo bem, estava tudo ali, exposto naquelas íris infinitas.

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Continua...