Fanfic: Encontrada (2ª temporada) (Adaptação - Vondy) | Tema: Vondy

Dulce: Mas eu não estou fazendo! E acho que não precisa desse estardalhaço todo só porque não sei latim. É só o senhor usar o bom e velho português e tá tudo resolvido.

O rosto do padre assumiu um tom arroxeado bastante preocupante, e me perguntei se não seria melhor chamar o dr. Almeida.

Padre Antônio: Isso está fora de questão! Quem já ouviu um sacrilégio desses?

Dulce: Mas é assim que as coisas são no meu tempo! - gemi.

Padre Antônio: Que tempo? - ele perguntou alterado, se detendo no vai e vem.

Christopher: Padre Antônio - Christopher interveio, com a voz segura. - Entendo que o senhor nunca se deparou com uma situação assim antes, mas Dulce vivia em um lugar um pouco... diferente daqui. Ela não fez por mal, posso lhe garantir. Ela não pode ser culpada pelo fato de os costumes terem se modificado lá onde vivia.

Padre Antônio: Decerto que não, mas enviarei uma carta a Roma, exigindo que façam algo para deter essa... esse... disparate. Imediatamente! - Ele se plantou à minha frente. - Exijo que me diga o nome de seu vilarejo!

Dulce: Ih! Isso vai ser meio complicado... - murmurei.

Christopher: Creio que o senhor tem razão - começou Christopher, cauteloso. - Mas isso levará certo tempo e, no momento, estamos no meio do nosso casamento, uma centena de convidados nos aguarda. Será que não poderia abrir uma exceção e realizar a cerimônia em português, até que Roma se pronuncie?

O homem empinou o queixo.

Padre Antônio: O que me pede é inaceitável, senhor Uckermann! Eu não posso ir contra as ordens de Roma!

Dulce: Mas não seria ir contra as ordens - comentei. - Seria mais como... fazer uma adaptação.

Padre Antônio: Senhorita Dulce! - O sujeito trincou os dentes. - Estou a um passo de excomungá-la!

Christopher: Padre Antônio, por favor! - Christopher me puxou um pouco para trás, para longe da ira do sacerdote.

Padre Antônio: Sinto muito, senhor Uckermann, mas não haverá casamento hoje. – E, com isso, retirou a echarpe branca (ou o que quer que fosse aquilo) e a colocou sobre uma cadeira velha.

Christopher olhou apavorado para mim, e eu tive certeza de que ele queria dizer um palavrão. Eu queria.

Em desespero de causa, Christopher se virou para o padre e soltou a primeira coisa que lhe ocorreu. Ao menos achei que foi isso que aconteceu depois de ouvir o que ele disse:

Christopher: E se... eu mandasse consertar o telhado? O senhor sempre reclama das goteiras.

Não foi uma boa ideia, levando em conta o tom arroxeado do rosto do padre.

Padre Antônio: Senhor Uckermann! Não se envergonha?

Christopher balançou a cabeça, apressado.

Christopher: Neste momento não, padre.

Então uma ideia me ocorreu. Uma não muito boa nem muito digna, mas eu me casaria naquele dia, quisesse o padre ou não. Só esperava que funcionasse. Christopher e Maite insistiam que eu não sabia mentir. O véu serviria para alguma coisa, afinal. E, quer saber, não era exatamente mentira.

Dulce: Tá tudo bem, Christopher - soltei.

Christopher e Padre Antônio: Tudo bem? - ele e o padre perguntaram em uníssono, ambos me fitando. Christopher, confuso; o padre, surpreso.

Dulce: Tá sim - dei de ombros. - O padre Antônio tem razão. Ele não deve mudar a cerimônia só porque ninguém nunca me ensinou latim.

Christopher: Mas, Dulce... - Ele buscou minha mão e a apertou contra o peito. Seu coração batia forte, rápido, magoado. - Meu amor, e quanto ao nosso futuro?

Dulce: Continua igual - assegurei a ele. - Nada vai mudar nesse sentido.

Christopher: Não vai? - Christopher franziu o cenho.

Já o padre gritou:

Padre Antônio: O quê?!

Encarei Christopher sob o véu.

Dulce: Você me quer na sua vida, mesmo se o padre não casar a gente hoje, não quer?

Christopher: Você é a minha vida, Dulce - ele disse simplesmente, me fazendo suspirar.

Dulce: Então é isso - ergui os ombros. - Vamos morar juntos. Não me interessa se estaremos casados conforme manda o figurino. Desde que você esteja comigo, nada mais importa.

Padre Antônio: A senhorita não teria coragem! – se intrometeu o padre.

Virei a cabeça para ele.

Dulce: Teria sim, padre. Eu disse pro senhor outro dia que passei por muita coisa para poder voltar pro Christopher. Viver com ele não seria nada de mais pra mim. Eu já moro com ele, lembra? A gente só não divide o mesmo quarto. Mas... bom, isso vai mudar hoje à noite.

Christopher me olhou transtornado, torturado. Não era o final feliz que ele previra. Nem de longe! No entanto, eu sabia que ele não hesitaria um segundo sequer se essa fosse a única alternativa. Mesmo que o arranjo o destruísse.

Padre Antônio: Abriria mão até de ser uma mulher honrada? - perguntou o padre. - Teria de andar pelas ruas de cabeça baixa, seria apontada como uma... uma...

Dulce: Amante? - ajudei.

Padre Antônio: Não use essa palavra em minha sacristia!

Revirei os olhos.

Dulce: Tudo bem, mas eu seria uma o-senhor-sabe-o-quê sem nem pensar duas vezes. E, se esse for o único jeito de o Christopher ficar comigo, acho que ele também não vai se importar.

Christopher esfregou a testa e suspirou.

Christopher: Sentirei muito, Dulce. Quero-a sob a proteção de meu nome. Não foi esse o futuro que planejei lhe oferecer, mas, se for a única maneira...

Padre Antônio: E a clemência divina? - o padre berrou, interrompendo-o. – Não temem a ira de Deus?

Christopher se encolheu, mas eu neguei com a cabeça.

Dulce: Na verdade, não, porque eu estou aqui - expliquei. - O Christopher está aqui. É o senhor que não quer nos casar. É o senhor quem nos condenará a uma vida de pecado. E a ter filhos bastardos. Um montão deles. - Tudo bem, eu não estava falando sério nessa parte. - E aposto que Anahí também vai ficar falada. Talvez até a Madalena, pobrezinha. Mas, se o senhor diz que não tem casamento, então não tem. Entendo perfeitamente sua posição.

Foi aí que eu vi a compreensão invadir Christopher. Seus olhos de repente ganharam vida, sua postura mudou, ficando mais imponente.

Christopher: Sim, Dulce está certa - ele concordou depressa. - Não podemos pedir que altere as regras por nossa causa. Mas também não vejo como mudar o que sinto por minha Dulce. Viveremos à margem da sociedade, mas será um preço pequeno a pagar pela nossa felicidade. Sinto muito por ter tomado seu tempo esta manhã, padre. Agradeço por tudo. - Christopher enlaçou os dedos aos meus. - Vamos para casa, meu amor. Não há mais nada que possamos fazer além de dar início à nossa vida conjugal. - E começou a me puxar em direção à portinha que dava para a rua.

Padre Antônio: Esperem! - ordenou o padre.

Nós nos viramos. Ele nos fitou por um longo instante, os olhos faiscando de raiva.

Padre Antônio: Dirijam-se para aquele altar agora mesmo. E não digam uma só palavra a menos que lhes seja solicitado. Voltaremos a conversar em uma ocasião mais oportuna.

Eu lutei para não gritar de alegria. O padre pegou a echarpe na cadeira e a jogou de qualquer jeito pelo pescoço, se dirigindo para a porta que levava à igreja, mas, antes de sair, ele nos olhou por sobre o ombro.

Padre Antônio: Que Deus tenha piedade de sua alma, senhor Uckermann, pois essa dama manipuladora não terá. - Então deu dois passos, porém se deteve mais uma vez. - Eu lhe enviarei a conta depois da reforma do telhado. - E saiu pisando duro.

Dulce: Ai, meu Deus, deu certo! - Eu pulei em Christopher, abraçando-o pelo pescoço. - Achei que ele não fosse cair nessa.

Christopher: Não posso acreditar que você mentiu para um padre! Dentro de uma igreja - ele riu ao meu ouvido.

Dulce: Eu não menti! - Afastei-me um pouco para observá-lo através do véu, apoiando as mãos em seus ombros fortes e largos. - A gente ia viver junto sim, no que dependesse de mim. Eu só quis dramatizar um pouco a situação para tentar convencê-lo a nos casar. E deu certo!

Christopher: Você me deixa embasbacado, Dulce - sussurrou, apoiando as mãos na minha cintura. - Constantemente.

Padre Antônio: O que estão esperando? - berrou o padre do corredor, e eu e Christopher nos apressamos.

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