Fanfic: Encontrada (2ª temporada) (Adaptação - Vondy) | Tema: Vondy

Eu me espantei, mas menos do que da primeira vez em que o ouvi proferir um palavrão. Christopher tinha uma bela biblioteca e uma incrível coleção de Bocage. Peguei alguns exemplares emprestados sem que ele soubesse, já que Christopher não queria que eu os lesse e, sério, Bocage deve ter nascido na época errada, porque seus textos tinham tantos palavrões e obscenidades quanto as conversas do Christian. E, para falar a verdade, fiquei espantada com o realismo das gravuras. Eram lindas, e, pelos desenhos, imaginei que fossem uma distração masculina, tipo uma Playboy do século dezenove.

Christopher chacoalhou a cabeça, antes de correr as mãos pelos cabelos. A massa loura se tornou escura, os pelos macios em seu tórax brilhavam como se minúsculos diamantes estivessem incrustados ali, os pequenos mamilos arrepiados de frio. E havia ainda os bíceps extraordinários, enrijecidos e expostos, e, bom... meu cérebro meio que entrou em curto. Eu tinha algo para fazer, algo importante, mas não conseguia lembrar. Só fiquei ali, admirando aquele homem lindo, ensopado, nu e todo meu. Eu devia ter feito algo realmente formidável para merecer um cara como Christopher.

Alguma coisa como ter inventado a energia elétrica.

Christopher: Dulce, o que está olhando? - murmurou inquieto, me tirando do transe. Com duas rápidas braçadas, ele me alcançou.

Dulce: Tô chocada por você ter dito “caralho*”. Bocage de novo? - perguntei.

Christopher: Não posso acreditar que seja isso que a preocupa neste instante - ele riu. - Venha cá. Depressa!

Então ele me escondeu atrás de seu corpo. Eu gostei da ideia. Gostei demais. Já estava prestes a deslizar os dedos pelas montanhas e pelos vales de suas costas, esculpidas à perfeição, quando Christopher exclamou:

Christopher: Padre Antônio!

Reprimi um palavrão, me afundando ainda mais na água, segurando as laterais dos quadris imersos de Christopher e colando minha testa no vão de suas costas, como se, com isso, eu pudesse me tornar invisível.

Padre Antônio: Estava me dirigindo à sua propriedade, senhor Uckermann - disse o homem de um jeito alegre. - Espero que não se incomode em ter mais um convidado para o almoço.

Christopher: De maneira nenhuma, padre. Será muito bem-vindo. Por que não vai na frente? Anahí providenciará um refresco para o senhor.

Houve uma breve hesitação.

Padre Antônio: Não deveria ser a senhora Uckermann? - o sacerdote quis saber.

Christopher: Ela... – Christopher pigarreou. – Acredito que estará um pouco ocupada.

Eu cobri a boca com a mão e mordi o lábio para não rir.

Depois de uma longa pausa, de Christopher se enrijecer da cabeça aos pés, o tom de voz do padre mudou e se tornou gélido, quase brusco:

Padre Antônio: Sim, posso ver que ela está mesmo ocupada. Vejo também que seus hábitos mudaram nos últimos tempos, senhor Uckermann. Não me recordo de o senhor ser tão... exibicionista. Ousaria perguntar o que poderia ter causado tamanho disparate, mas desconfio de que já conheço a resposta.

Christopher: Padre... - começou Christopher, mas o homem não permitiu que ele prosseguisse.

Padre Antônio: É meu dever alertá-lo de que essa conduta é imprudente e beira a imoralidade. Se me permitir a intromissão e quiser dar ouvidos a um velho, tome cuidado, senhor Uckermann. Sua esposa ainda o levará à ruína se persistir com esse comportamento libertino.

Christopher soltou um suspiro exasperado.

Christopher: Com todo o respeito que lhe tenho, padre Antônio, esse assunto só diz respeito a mim e a ela.

Padre Antônio: Está enganado, meu caro. Diz respeito à pobre menina que vive sob seus cuidados e que terá como modelo a jovem irresponsável escondida atrás do senhor.

Praguejei baixinho, mas não me movi. Não dava para simplesmente aparecer pelada na frente de um padre!

Padre Antônio: Passar bem.

Permanecendo imóvel feito uma estátua, ouvi o trote do cavalo se afastar, até que Christopher relaxou os ombros e se virou, ficando de frente para mim.

Dulce: Sinto muito - me apressei.

Christopher: Pelo quê? - perguntou confuso.

Pensei um pouquinho a respeito.

Dulce: Por ter tirado a sua roupa? - tentei.

Christopher: Jamais vou desculpá-la por isso, Dulce. E fui eu que comecei. - Um sorriso cheio de malícia curvou sua boca para cima.

Dulce: Não dava tempo de abotoar o vestido. Pensei que ele não fosse me ver aqui atrás.

Christopher: E não viu, mas nossas roupas foram evidências mais do que suficientes - ele apontou para a margem com a cabeça.

Dulce: Ah! - Eu não tinha pensado nisso. - E o que a gente faz agora?

Ele enroscou o dedo em uma mecha do meu cabelo.

Christopher: Vamos sair dessa água fria para que você não adoeça de novo.

Dulce: Tô falando do padre Antônio, Christopher!

Christopher: Não faremos nada. Somos casados e ninguém pode nos condenar por estarmos apaixonados. Venha. - Ele me tomou pela mão, me conduzindo até a margem e me ajudando a sair da água.

Enquanto ele me secava usando a camisa, me peguei estudando sua expressão. Ele não estava nada satisfeito com o flagrante do padre Antônio, mas fazia o melhor que podia para não deixar isso transparecer. Eu o conhecia bem o suficiente e sabia que as palavras do homem a respeito de Anahí o afligiam profundamente. Christopher era responsável por ela e sempre agira como tal. Até eu aparecer na vida dele.

Seu empenho em encobrir a preocupação me alertou sobre algo que eu deveria ter notado havia muito tempo. Ele sempre assumia a culpa para si e, por consequência, me isentava dela. Percebi também que as coisas poderiam ficar ruins para Anahí se eu não fizesse nada a respeito.

Já vestida e ainda observando Christopher, que agora abotoava a camisa praticamente ensopada, decidi que precisava me esforçar mais para não colocá-los naquela posição outra vez. Não permitiria que Christopher se sentisse culpado por meus atos impensados e que Anahí tivesse uma mancha em sua reputação. Ela era uma princesa e sempre se comportava como tal. E Christopher merecia uma boa esposa. A melhor! Eu precisava a todo custo me tornar essa mulher perfeita, o exemplo de que Anahí precisava.

Mas como diabos eu faria isso?

**************************************

Na manhã seguinte, eu estava na cozinha amassando uma grande quantidade de abacate e banana. Madalena cuidava da comida e Anahí me ajudava com a papa, já que meu braço ainda doía um pouco.

Christopher descera ao estábulo para se assegurar de que o potro recém-nascido e Princesa estavam bem. Mas, antes de sair, ele me pedira que escolhesse um nome para o cavalinho.

Dulce: Qualquer nome? - perguntei.

Christopher: Qualquer um.

Pensei no pouco que conseguira ver do animal, a pelagem castanha, a longa mancha branca que ia do focinho à testa.

Dulce: Olho de Sogra. Ele parece o docinho, só que ao contrário.

Christopher não sabia se ria ou se me sacudia. Bom, ao menos foi o que eu achei.

Christopher: Dulce, entende que em algum momento negociarei esse animal? - Ele optou por rir, coçando a nuca.

Dulce: E o que é que tem?

Christopher: Não posso dar a ele o nome de um doce - falou, tentando conter a diversão. - O pobrezinho teria de andar cabisbaixo diante de seus pares pelo resto da vida.

Dulce: Pois eu acho bastante original. E até pretendia sugerir que você desse nome de doces a todos os que nascerem este ano. Os cavalos modelo 1830 seriam Olho de Sogra, Chantili, Chocolate, Caramelo, Quindim, Paçoca, Doce de Leite...

Christopher comprimiu os lábios, fazendo força para conter a gargalhada, mas seus ombros sacudiam de leve.

Christopher: Tento imaginar o marquês, um homem do tamanho de uma carruagem, cavalgando no Doce de Leite...

Dulce: Não ia rolar?

Christopher: Ah, muitos iriam, certamente - garantiu. - Rolar de tanto rir!

Dulce: Ah... Então não é bem qualquer nome, né?

Tentei lembrar os nomes que ouvira Christopher mencionar. Storm, Meia-Noite, Lua, Princesa, Diamante. Olho de Sogra soava tão bom quanto qualquer um deles, mas muito mais original! No entanto, talvez Christopher tivesse razão, e o futuro comprador preferisse algo como... como...

Dulce: Eclipse? - sugeri, insegura.

Christopher: É um bom nome - garantiu ele com um sorriso. - Gosto de Eclipse. É promissor. - E me beijou com intensidade antes de sair. Eu segui para a cozinha.

**************************************