Fanfic: Encontrada (2ª temporada) (Adaptação - Vondy) | Tema: Vondy

Por sorte, Christopher e eu nos desencontramos do padre Antônio na tarde passada, mas Anahí deixou transparecer que a visita não fora nada agradável.

Anahí: Padre Antônio trancou-se na sala de leitura com tia Ninel - contou ela, esmagando as bananas. - Não sei o motivo, mas posso garantir que minha tia não estava nada satisfeita quando saiu de lá.

Dulce: Eu posso imaginar - resmunguei, evitando contato visual.

Anahí: Em seguida, o padre quis falar comigo em particular. Discursou sobre moral e bons costumes, e eu estranhei um pouco. – Ela parou de amassar as frutas e suspirou. – Dulce, acha possível que minha conduta tenha sido reprovável em algum momento?

Eu ergui a cabeça, derrubando acidentalmente um pouco de água de coco na mesa de madeira maciça.

Dulce: Não, de jeito nenhum! - garanti. - Você é uma princesa, Anahí. Nada em você é reprovável, muito pelo contrário! Não conheço nenhuma garota com melhores modos que você. E Angelique. Mesmo ela falando pelos cotovelos de vez em quando - adicionei rapidamente.

Anahí franziu o cenho.

Anahí: Então não consigo entender o que levou o padre Antônio a me procurar para discorrer sobre recato, obediência e limites que uma dama jamais deve ultrapassar.

Eu posso.

Dulce: A culpa é toda minha - admiti. - Ele acha que eu sou uma péssima influência pra você. Eu sinto muito.

Anahí: Mas por que padre Antônio pensaria um absurdo desses? - perguntou ela, ofendida. - Você é adorável!

Dulce: Ah, Anahí - limpei as mãos em um pano encardido e a abracei com força. - Você não existe! Mas eu sei bem o que sou. E o que não sou também. O padre tem razão em alguns pontos. Não sou um bom exemplo pra você, por... por ter crescido em um mundo diferente, por ter outras crenças. Você jamais deve imitar o que eu faço, tá?

Anahí: Mas você é minha irmã agora! - ela me olhou com gravidade.

Dulce: Uma irmã bem meia-boca no quesito educação do século dezenove. Você devia ouvir o que a Madalena diz.

Anahí abriu a boca para falar alguma coisa, mas mudou de ideia e acabou fazendo a única pergunta que eu não queria responder. Não sem mentir para ela.

Anahí: Por que sempre menciona o século em que estamos?

Eu me afastei e me ocupei com o creme de abacate.

Dulce: É mania, Anahí. Deixa pra lá.

Anahí: Como quiser. Mas ainda não compreendo. O que você pode ter feito de tão terrível para que o padre Antônio a censure?

Suspirei desanimada.

Dulce: A lista é infinita. Mas eu basicamente não sou uma dama.

Anahí: Mas é claro que é! - ela objetou sem hesitar. - É única! A forma como pensa, como vê a mulher em pé de igualdade para com os homens...

Madalena: Jesus Cristo! - Madalena, ao lado do fogão de lenha, fez o sinal da cruz.

Anahí: É o que a torna uma dama tão forte, tão extraordinária! - prosseguiu minha cunhada adolescente, com um brilho no olhar que não achei nada bom. - Alguém que me inspira a ser uma pessoa melhor. Meu desejo é um dia me tornar uma dama culta e inteligente como você.

Acabei rindo, mesmo sem querer.

Dulce: Seu irmão vai me matar se te ouvir dizendo essas coisas.

Anahí: Por quê?

Madalena: Acredite no que a senhora Uckermann diz - aconselhou Madalena, cabisbaixa. Ela ainda não superara a conversa das esponjas. - Dessa vez ela tem razão.

Dulce: Cadê a Angelique? - perguntei, voltando a mexer o creme.

Anahí: Deve estar chegando - suspirou Anahí, amassando mais bananas. - Sebastian saiu ainda agora para uma caminhada. Ele me convidou para acompanhá-lo, mas eu quis esperar você.

Dulce: Eu achei seu primo um gato.

Isso a fez sorrir.

Anahí: O primo Sebastian é um homem muito distinto. Sinto muito apreço por ele - ela endireitou a fita lilás presa à cintura de seu vestido verde-água.

Não sei se foi o tom de sua voz ou o sorriso doce, mas o que ela acabara de dizer me incomodou. No entanto, não tive tempo para fazer conjecturas, pois um bolo de tecido roxo entrou na cozinha.

****: Ora, que apropriado. A nova senhora Uckermann na cozinha, amassando frutas como uma criadinha.

Dulce: Bom dia pra senhora também, dona Ninel - sorri petulante para ela.

Ela me fitou com desprezo e ignorou meu comentário, então se dirigiu à sobrinha:

Ninel: Anahí, pare de sujar seu vestido e vá para a sala de artes agora. Você não terminou o trabalho que começou pela manhã. Displicência é algo que não tolero.

Anahí: Mas, tia Ninel...

Ninel: Vá, Anahí! - ordenou ela, como se a garota tivesse três anos.

Isso me deixou bastante irritada. Eu ainda me lembrava de como era horrível esse período da adolescência, tentando me encaixar no mundo adulto e não sendo levada a sério.

Dulce: Anahí, fique onde está! - eu falei quando ela fez menção de sair. - A casa é sua, e você não tem de obedecer a ninguém. - Eu me inclinei de leve para sussurrar pelo canto da boca: - A não ser ao seu irmão.

Ninel: Como ousa afrontar minha autoridade? - cuspiu a mulher.

Eu sei que eu devia ter ficado de boca fechada. Eu sei. Mas não pude. Não quando Anahí pareceu tão mortificada.

Dulce: Anahí não é mais uma criança - repliquei. - É uma adolescente e sabe muito bem como deve se comportar, o que precisa ou não fazer. A senhora não é a mãe dela.

A mulher deu três passos em minha direção, os olhos enrugados grudados aos meus, e tive de lutar para não estremecer. Ela chegou tão perto que eu podia ver os poros dilatados na pele de seu rosto severo, exageradamente maquiado.

Ninel: Eu realmente lamento não ter chegado a tempo de impedir que essa catástrofe se concretizasse. Algo me diz que a senhora levará o nome de minha família para a lama. Talvez então Christopher consiga se libertar de seu feitiço e me dê razão.

Se ela tivesse me dado um tapa teria doído menos.

Dulce: Pode ser que esteja certa - comecei e fiquei satisfeita por minha voz não ter estremecido. - Mas, se por acaso isso acontecer, terá sido um acidente, não de propósito. Christopher e Anahí sabem disso.

Madalena: A senhora Uckermann é uma boa pessoa, senhora Ninel - Madalena correu em minha defesa. - Apenas foi criada em um lugar um pouco diferente, e seus modos... - ela se deteve quando Ninel girou sobre os calcanhares e a fuzilou com os olhos.

Ninel: Desde quando dei permissão para a criadagem se dirigir a mim? - esbravejou a mulher.

Abaixando a cabeça e encolhendo os ombros, Madalena se voltou para o fogão de lenha. Aquilo foi a gota d’água para mim.

Dulce: Escuta aqui, dona Ninel, você não vai falar assim com a Madalena... - comecei, mas uma gargalhada ecoou no ar.

Angelique e Sebastian subiam as escadas de braços dados, alheios ao clima pesado ou a qualquer outra coisa ao redor. Angelique ria de algo que ele dissera.

Sebastian: Juro que aconteceu de verdade - dizia Sebastian. - Pode perguntar ao...

Ninel: Sebastian! - Ninel rugiu assim que eles puseram os pés na cozinha.

Ao notar o tom zangado da mãe, o rapaz congelou. O aborrecimento que se abateu sobre o seu rosto me causou pena.

Sebastian: Ora, boa tarde, senhora - ele se recompôs, fazendo uma profunda reverência para a mãe. - Senhora Uckermann, senhorita Anahí.

Ninel: Onde esteve? - Ninel exigiu saber. - Eu o procurei pela casa toda! Preciso que me leve até a vila.

Sebastian: Saí para uma caminhada revigorante e, por sorte, tive o prazer de encontrar a senhorita Angelique no caminho, mas estarei pronto assim que a senhora estiver.

Ninel: Eu já estou! - ela berrou, sacudindo as saias. - Preciso respirar ares melhores. Vamos antes que eu enlouqueça nesta casa.

Sebastian comprimiu os lábios, mas concordou com a cabeça uma vez.

Sebastian: Até mais ver, senhorita Angelique. - Ele levou a mão dela aos lábios e beijou de leve os nós de seus dedos.

Angelique balançou ligeiramente, como se tivesse perdido o equilíbrio por um instante, mas se recompôs a tempo de fazer uma graciosa mesura.

Sebastian seguiu a mãe para o interior da casa, e eu me perguntei por que ele lhe obedecia com tanta presteza.

Anahí: Sebastian é um bom filho - me explicou Anahí, como se adivinhasse o rumo dos meus pensamentos. - E tia Ninel se aproveita disso.

Dulce: Não entendo como ele pode ser tão gentil.

Angelique: E galanteador - adicionou Angelique.

Anahí: Sebastian adora agradar. Faz o possível para que todos ao seu redor se entretenham da melhor maneira possível. O oposto da mãe. Mas tio Sebastian era a gentileza em pessoa.

E talvez por isso tenha partido desta pra melhor, pensei com os meus botões . O coitado deve ter morrido de desgosto.

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Continua...