Fanfic: Encontrada (2ª temporada) (Adaptação - Vondy) | Tema: Vondy

Dulce: Ele descobriu, Anahí. Sobre o condicionador e o boticário. Christopher já sabe de tudo.
Anahí: Oh, céus! Foi por isso que partiu? - perguntou alarmada.
Dulce: Espero que não. Ele me disse que precisa de um garanhão novo.
Anahí: Eu sabia que resultaria nisso! - resmungou ela, sacudindo a cabeça. - Posso imaginar como Christopher deve estar se sentindo.
Dulce: Ele disse que eu o humilhei publicamente - contei, me encolhendo toda.
Anahí: Minha irmã, de que outra forma ele poderia se sentir? - No entanto, sua voz era doce. Não sei se Anahí pretendia me punir por ter magoado seu irmão ou se falou sem pensar, mas o caso é que nunca me senti tão fora de lugar desde que Christopher entrara em minha vida. - Qualquer homem se sentiria humilhado se descobrisse que a esposa decidiu ganhar a vida por meios próprios - emendou ela. - De que serve um marido se não para prover o sustento da esposa?
Foi uma pergunta retórica, mas não pude me conter.
Dulce: Para amar, Anahí! - exclamei. - Um marido serve pra ficar ao lado da mulher nas horas boas e ruins. Para apoiar caso ela decida começar o próprio negócio e ficar feliz quando ela se sair bem! Eu só queria ajudar, cuidar dele!
Mas ninguém entendia. Nem mesmo Christopher. Às vezes eu achava que ele era capaz de me ver por dentro, que conhecia cada pensamento meu. Exceto quando meu desejo de trabalhar entrava na jogada. E minha predileção por calças. Ah, e ele já tinha dado fim na minha saia jeans.
Anahí pegou minha mão.
Anahí: E Christopher quer cuidar de você também, Dulce - murmurou com gentileza. - Por que é tão ruim ser mimada e protegida por ele?
Dulce: Não é ruim, adoro quando ele faz essas coisas, mas não com dinheiro... - Minha cabeça começou a latejar.
Era triste constatar que, apesar do amor que sentia por ele e da certeza absoluta de ser retribuída, isso não era suficiente numa vida a dois.
É sempre a diferença entre as pessoas a verdadeira causa de as taxas de divórcio aumentarem tanto, pensei com tristeza.
Será que Christopher cogitava essa possibilidade? Quer dizer, eu achava que divórcio era coisa do futuro, mas ele podia, sei lá, decidir viver longe e arrumar uma amante que ficasse mais do que feliz em ser sustentada por ele, como acontecia nos romances que eu gostava de ler.
Anahí: Não sei o rumo que seus pensamentos tomaram, mas não me parece um bom lugar para estar - comentou Anahí, me tirando do desvario.
Sacudi a cabeça, estremecendo.
Dulce: Não é - concordei. - Por que é tão difícil entender que não quero ser um peso na vida de vocês?
Anahí: Você é parte da nossa vida, não um peso. Jamais foi. - Ela me abraçou com força. - Christopher precisou partir, mas voltará em breve. Se ele já se apressava quando éramos apenas nós dois, imagine agora, que está aqui esperando por ele? - Ela tentou me animar. Quase funcionou. - Já tomou seu café da manhã?
Dulce: Ainda não.
Anahí: Então venha me fazer companhia.
Segui Anahí até a mesa e tive a grata surpresa de ser informada por Madalena que Ninel saíra havia pouco para visitar lady Catarina. Ao menos uma notícia boa.
Gomes: Minha cara Dulce! - exclamou o mordomo ao entrar na sala, me avaliando de cima a baixo. - Creio que nunca a vi tão... - ele não conseguiu terminar a frase.
Dulce: Só fiz um coque, seu Gomes — dei de ombros. — Madalena me ajudou.
Gomes: Tem a aparência de uma dama elegante. - Tive a impressão de que ele não achava aquilo uma coisa boa.
Ele me serviu com a ajuda de Madalena. Anahí me avaliava ainda com o cenho franzido.
Anahí: O senhor Gomes tem razão. Você está muito elegante, Dulce. Mas não entendo por que está vestida assim. Está... diferente.
Dulce: Essa é a intenção, Anahí.
Anahí: Não tenho certeza se isso é bom.
Dulce: Mas vai ser. - Assim que eu colocasse o restante do meu plano em prática.
Só esperava conseguir a colaboração de que precisaria.
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Dulce: Dr. Almeida, preciso que me ensine a ser uma dama! - falei irrompendo em sua biblioteca particular, depois que a dona Letícia me mostrou onde ficava.
O sujeito atrás da mesa piscou algumas vezes.
Dr. Almeida: Creio que não a compreendi. Por isso não terei de decidir se me sinto lisonjeado com sua proposta ou ofendido por pensar que tenho maneiras afeminadas.
Dulce: Não! Não é nada disso. O senhor é bastante... masculino, mas é que... eu... - Eu precisaria elaborar melhor o assunto se quisesse conseguir ajuda. Respirei fundo. - O senhor já leu A máquina do tempo, de H. G. Wells?
O médico negou com a cabeça, os olhos ganhando vida.
Dr. Almeida: Não, mas, agora que minha curiosidade foi aguçada, sinto que morrerei se não lê-lo. Por que não se senta? - E indicou a cadeira.
Eu me afundei com pouca elegância na cadeira estilo Luís XV revestida de tecido carmim. A biblioteca dos Almeida era ainda maior que a de Christopher, porém as lombadas revelavam obras de medicina, em sua maioria. Fiquei satisfeita por encontrar o médico em um ambiente em que me sentia confortável.
Dulce: Não tenho certeza se esse livro já foi lançado. Nem sei se já foi escrito - enfatizei, observando sua reação. - Mas basicamente conta a história de um cientista que descobriu um jeito de viajar no tempo. Ele vai para o futuro e conhece um mundo bem diferente do seu.
Dr. Almeida: Muitíssimo interessante. - Ele se inclinou para frente sem parecer se dar conta disso.
Dulce: E o senhor bem pode imaginar como o cientista ficou chocado e se sentiu deslocado nesse futuro. Tudo que ele conhecia não valia mais de nada, e tinha até uns ETs... - sacudi a cabeça. - Mas esse não é ponto. A questão é que ele foi parar num mundo que não era o dele. E às vezes é difícil se adaptar. Seja no futuro desconhecido ou... no passado, que só se conhece por meio dos livros de história, mas que na prática é... bem complicado.
O médico endireitou a coluna, tamborilando os dedos finos no tampo da mesa.
Dr. Almeida: De quanto tempo estamos falando? - Ele se esforçou para parecer desinteressado.
Não era sobre as aventuras de H. G. Wells que ele me perguntava.
Dulce: Quase duzentos anos.
Dr. Almeida: Duzentos - ele ecoou. Um sorriso embasbacado brotou em seus lábios, e o olhar se fixou em algum canto atrás da minha cabeça. - Meu. Deus.
Dulce: Imagino que o senhor tenha muitas perguntas.
Ele piscou como se saísse de um transe e fixou os olhos, que de súbito pareciam vinte anos mais jovens, em mim.
Dr. Almeida: Inúmeras - confessou.
Tomei fôlego para criar coragem.
Dulce: Tudo bem, responderei a todas elas se o senhor me ajudar a ser uma dama do século dezenove.
O dr. Almeida me estudou com atenção, cerrando brevemente os olhos.
Dr. Almeida: Se seu desejo de se tornar alguém diferente é fruto das observações maldosas daquelas velhas matronas...
Sacudi a cabeça depressa.
Dulce: Christopher foi embora - soltei, prendendo a respiração. Dizer aquilo em voz alta tornava tudo real e triplicava minha agonia.
Dr. Almeida: Perdoe-me, o que disse?
Dulce: Christopher viajou sem mim. - Minha voz mal tinha som. - Tivemos uma briga feia e ele disse a palavra que começa com T. - Ele fez uma cara estranha, mas eu prossegui mesmo assim: - E tudo porque eu ainda penso como alguém do século vinte e um. Preciso da sua ajuda pra salvar meu casamento, doutor. O senhor tem que me ajudar! Por favor!
Ele se levantou, contornou a mesa e pegou uma das minhas mãos com gentileza.
Dr. Almeida: Acalme-se, querida. Conheço o senhor Uckermann há anos e posso lhe garantir que... seja qual for o motivo da desavença, superarão isso juntos.
Dulce: Não enquanto eu pensar que mulheres podem usar calças e trabalhar pra ajudar no sustento da casa, independentemente da classe social.
Ele prendeu o fôlego e seus olhos se alargaram.
Dulce: Viu? - Soltei sua mão e suspirei com força. Os bambolês sob minha saia se eriçaram e precisei ajeitá-los com as mãos. - Eu preciso aprender a ser uma mulher do século dezenove antes de o Christopher voltar.
Ele se abaixou lentamente e se acomodou na cadeira ao meu lado. Quase dava para ouvir as engrenagens de seu cérebro trabalhando.
Dr. Almeida: Está certa de que essa é a melhor solução?
Dulce: É a única que parece sensata - dei de ombros.
Com um longo suspiro, ele tornou a se levantar e seguiu até uma das prateleiras da estante. Correu os dedos por várias lombadas até puxar um volume de capa azul-marinho.
Dr. Almeida: Talvez isso possa ajudá-la. - Ele me entregou o livro. Guia de etiqueta da alta sociedade. Eu sabia que tinha um livro para isso. Sabia! - Pertence à minha esposa.
Dulce: Vale... Obrigada - me corrigi. - Vou ler com muita atenção, mas será que o senhor não podia fazer um resumo? Um apanhado geral, os pontos mais importantes. Tenho que aprender depressa!
Ele pigarreou e voltou a se sentar.
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