Fanfic: The L Word - O Retorno | Tema: The L Word
Uma garota de cabelos ruivos e olhos azuis, tocava violão e cantava junto com um garoto de cabelos bagunçados, em um pequeno palco, num café.
- Ela é boa né? – perguntou uma mulher negra, gordinha, para uma magra, morena, cabelos cacheados e bem vestida, que entrou no lugar e se escorou no balcão.
- Muito, quem é?
- BL, faz sucesso em pub’s na Itália, mas não aceitou contrato com gravadoras, disse que isso poderia estragar a energia da música e que teria que se vender, o que vai contra os princípios dela...
- Como conseguiu essa joia rara? – perguntou uma loira de olhos azuis-escuros, ao lado da morena.
- Sonny conheceu ela quando fazia um trabalho como Sunset Boulevard. Ele descobriu que ela estava na Califórnia para visitar a mãe, e fez o convite...
- Ela deve ter cobrado uma fortuna... – comentou a morena.
- Um café e um pedaço de torta – respondeu a mulher, sorrindo – para ela e o garoto...
- Isso é sério? – perguntou a loira.
A canção terminou e a menina falou algo para o rapaz, largou o violão, caminhando até as 3 mulheres, e se escorou no balcão.
- E ai, Kit? – perguntou ela, sorrindo – O que achou?
- Que se dependesse de mim e Helena, você nunca mais saia daqui... – sorriu a mulher por trás do balcão, largando um pedaço grande de torta na frente dela e mandando a garçonete levar outro pedaço para o garoto.
- Obrigada por nos deixar tocar aqui – falou a menina, comendo a torta, feliz – ouvi falar tanto no The Planet... Esse lugar tem uma certa magia...
- Isso, vindo de uma artista como você, significa muito... Bê, eu queria te apresentar duas pessoas muito importantes para mim... Essa é minha irmã caçula, Bette Porter – ela fez um gesto na direção da morena, que estendeu a mão e apertou a da menina, que perdeu o sorriso na hora – E a companheira dela, Tina Kennard...
- Bette Porter? – perguntou a garota, quando soltou a mão da loira e olhou Bette, ainda séria – A ex-reitora do curso de Arte da Universidade da Califórnia?
- Como sabe? – sorriu a morena – Isso provavelmente foi antes de você nascer...
- Sou bem informada – respondeu a garota, pegando o prato – Er... Kit, eu vou lá com o Ro, obrigada novamente pela torta. Vamos encerrar por hoje, preciso ir visitar a minha mãe, prometi almoçar com ela...
- E quando vai trazer ela aqui? Estou ansiosa para conhecer quem trouxe ao mundo esse anjo de cabelos avermelhados e olhos azuis...
- Uma hora dessas... Prazer conhecer vocês, Sra Bette e sra Tina.
- O prazer foi nosso – sorriu Tina.
A menina se afastou e sentou ao lado do menino, cochichando algo, começando a guardar o violão.
- Acho que ela não gostou de mim – comentou Bette, observando a menina.
- Também senti isso... – comentou Kit – O que é estranho, por que ela é encantadora com todo mundo...
- Kit, você não acha ela com um rosto familiar? – perguntou a morena.
- Um pouco, mas acho impossível que já tenhamos visto ela, vive desde os 10 anos no sul da Itália, uma cidade pequena. Quando a mãe decidiu voltar aos Estados Unidos, ela resolveu ficar. Foi emancipada, chegou a menos de um mês aqui, ela e o garoto, RF...
- Espera... está falando de BL & RF? – perguntou a loira – Eu to atrás dos dois a 4 anos, perdi 3 patrocinadores porque não encontrei eles... Não acredito que eles simplesmente surgiram assim, do nada, logo aqui...
- Como assim? – perguntou Bette.
- BL é uma das melhores compositoras da nova geração – contou Tina, animada – E RF um dos melhores dançarinos e coreógrafos, os dois juntos, são o sonho de metade do mercado do cinema... Meu Deus, como eu não reconheci eles... Em Hollywood eles são conhecidos como B & R só...
- Mas são só crianças... – comentou Bette, observando os dois jovens que terminavam de organizar o espaço que haviam utilizado – devem ter o quê, uns 16 anos?
- Na verdade, 20, são 2 anos mais novos que a Angélica – respondeu Tina – São jovens prodígios, nasceram artistas... Quase intocáveis...
- Kit... – chamou a menina, se aproximando com o violão nas costas e acompanhada pelo menino – Estamos indo...
- Vejo vocês amanhã? – perguntou a mulher sorrindo.
- Sim, Rachel nos convidou para tomar café da manhã – respondeu o garoto, corando – Com ela e Helena, estaremos aqui...
- Então espero os dois, vou preparar algo especial para vocês...
- Vocês conhecem a esposa da Helena? – perguntou Tina, com gentileza.
- Eu namoro a Luna – respondeu o garoto, seu rosto agora completamente vermelho – a filha delas...
- Achei que vocês dois eram um casal – comentou Bette – Tem tanta sintonia...
- Precisamos ir, até amanhã Kit, tchau sra. Porter e sra Kennard – falou a menina, dando um beijo no rosto de Kit e saindo na frente.
- Com sua licença – falou o garoto, beijando a mão de Kit, fazendo um discreto aceno com a cabeça para as duas, e saindo logo depois.
- Definitivamente, ela te odiou – concluiu Tina, caminhando até uma mesa onde uma mulher loira, bem magra, olhos castanhos, mexia concentrada no computador, e sentando a sua frente – Olá Alice...
- Olá... Bette, quem você irritou?
- A menina que estava cantando, BL, ou algo assim, só não sei como fiz isso... – respondeu a mulher, sentando ao lado da companheira – eu só a cumprimentei...
- Foi por sua causa que ela foi embora? – perguntou Alice – escolhi esse lugar por que dava para ouvir melhor eles... São incríveis... sabem a música que ela estava cantando por último?
- Sim, era linda – respondeu Tina.
- Ela compôs sábado a tarde, eu tava aqui quando ela estava conversando com o menino, e do nada, no meio da conversa, a música surgiu... Nunca vi algo assim... Tentei entrevistar ela para “O Quadro”, mas ela não concordou... Seria legal... mas ela nunca deu entrevistas, nenhum dos dois na verdade.
- A última vez que uma adolescente me olhou daquele jeito, foi quando contei para Angélica que viríamos para Los Angeles... – comentou Bette.
- Fiquei feliz de ter vocês aqui novamente – falou Alice, sorrindo para as duas – mesmo que nem todas estejam aqui, é bom poder reunir essa família depois de tantos anos...
- Quem mais vem para almoçar? – perguntou Tina.
- Shane e Molly com as crianças – respondeu ela, fechando o computador – Helena e Rachel, Kit e Sonny vão se juntar a nós... e acho que Max também vem com o filho, Jonny, está um homem enorme... Onde está a Angélica e o Mark?
- Já estão vindo... – respondeu Bette – foram numa loja de música, do outro lado da rua, agora nos conte, Alice, como você e Tasha estão?
Enquanto elas conversavam, BL chegava em casa, largando o violão em cima do sofá e caminhava até a mãe, lhe contando como tinha sido a manhã, e quem ela havia conhecido no The Planet. A reação da mulher não foi exatamente de quem recebe uma boa noticia, mas ela explica a menina, que as coisas que aconteceram no passado, antes dela nascer, devem ficar no passado, e pediu que Bê esquecesse essa história. Passaram o resto da tarde trabalhando juntas em um projeto, e deixaram um pouco de lado qualquer coisa relacionada a Bette Porter.
Ainda não eram nem 7h quando BL e RF saíram para encontrar Rachel e Helena no The Planet, quando chegaram, Luna, uma jovem de pele muito clara e cabelos negros levemente ondulados, se aproximou do garoto e o beijou, enquanto BL seguia para a mesa onde as mulheres estavam.
- Bê – falou Rachel, abraçando a garota – Coisa boa te ver, esta cada dia mais linda...
- Obrigada Rachel, bom dia Helena...
- Bom dia, que bom que aceitou nosso convite – respondeu a morena, corpulenta, cabelos negros, uma mulher extremamente bonita – senta... e o casal ai, por favor...
- As vezes... – falou Luna, puxando o garoto até a mesa, pela mão – ter duas mães é um saco...
- Bom dia Sra Rachel e Sra Helena – cumprimentou ele, sentando ao lado da namorada, com Bê a sua esquerda.
- Bê – chamou a menina – Obrigada por cuidar dele para mim...
- Sem problemas... Como esta?
- Feliz de estar de volta... Decidi morar em Los Angeles, a cidade é linda, e aqui posso ficar perto das duas mães mais incríveis que existem...
- Já falei, não vai ganhar um carro – falou Helena, tomando seu café.
- Mas mãe, Bê tem um conversível...
- Bê é responsável, mora sozinha a 5 anos – respondeu Rachel.
- O conversível era da minha mãe... – comentou a garota, comendo um pedaço de torta – Um clássico, ela me deu pra tentar me convencer a ficar...
- E como foi a tentativa? – perguntou Rachel.
- Válida... A final o carro é um clássico conversível...
- Eu queria muito conhecer sua mãe... – comentou Helena – Conhecemos você a o quê, uns 8 anos, mas nunca nos falou nem o nome dela, só nos contou que é famosa...
- Não seja por isso, minha mãe se chama...
- Bom dia... – cumprimentou Tina, se aproximando da mesa.
- Tina, já conhece a Bê e o Ro? – perguntou Helena, sorrindo.
- Tive o prazer ontem. Não quero atrapalhar, só vim cumprimentar vocês...
- Onde está Bette? – perguntou Rachel, e Bê se mexeu desconfortável na cadeira.
- Teve que ir cedo para a galeria, resolver uns problemas, Angélica saiu com a filha de Shane, e Mark está com o filho dela e com o Jonny, eu não quis tomar café sozinha...
- Então se junte a nós... – respondeu Helena – Sei que ninguém vai se incomodar...
- Certeza? – perguntou ela.
- Claro – respondeu Bê, fazendo um gesto para que Tina sentasse ao seu lado – Então Tina, trabalha com o quê?
- Cinema... Sou executiva da Focus Filmes...
- A Focus tem filmes infantis incríveis – comentou a menina, sorrindo – Uma das primeiras músicas que compus, foi para um filme da focus que vi no cinema... eu tinha 8 anos.
- Conheço o seu trabalho... ou melhor, o trabalho dos dois, são incríveis... o curioso é que os dois fazem tanto sucesso, mas nunca ouvi nada sobre as famílias de vocês...
- Gostamos de ser discretos... – comentou Ro – Helena, como tá os preparativos para o concurso na Hit, sexta a noite?
- Concurso? – perguntou Tina.
- Esqueci de falar com você e a Bette, vamos promover um concurso de dança sexta a noite no Hit... Por que você e a Bette não se inscrevem? Quase ganharam o que tivemos a 20 anos atrás...
- Vou pensar... – sorriu Tina.
- Preparei uma apresentação especial para a noite – contou Ro.
- E eu fiz uma playlist especial para o evento, todas composições feitas especialmente para Hit – contou Bê – vou tocar com Sunset Boulevard, vai ser muito legal...
- Acho que minha mãe vem para o concurso... – contou Ro.
- Vocês vão amar ela – comentou Rachel – Linda, inteligente, sexy e uma dançarina capaz de seduzir qualquer um...
- Duvido que seja melhor que a minha mãe... – comentou Bê, rindo – ela é incrível...
- As duas, dançando juntas, são insuperáveis – concordou Ro – Será que sua mãe iria sexta?
- Vou falar com ela – sorriu a menina.
- Bom, acho então que eu vou, nem que seja para prestigiar o trabalho dos dois... – falou Tina, com gentileza – Sou muito fã de vocês, de verdade...
- É nossa convidada de honra então – sorriu Bê – Você e seus filhos...
- Não entendo por que odeia tanto a Bette... – comentou a loira, observando a menina com interesse – Se viram só uma vez...
- Tenho meus motivos...
Kit se aproximou e sentou com o grupo, na mesa, e o assunto logo mudou de foco. A dupla cantou um pouco, e depois saiu, deixando as amigas conversando. No final da tarde, voltaram, estavam em uma mesa Ro, Bê e Luna, conversando e rindo, quando Bette chegou acompanhada dos filhos.
- Como estão os meus sobrinhos favoritos? – perguntou Kit, abraçando o rapaz e a garota.
- Oi tia... mama T já chegou? – perguntou a menina.
- Ainda não, mas podem ir sentando, já vamos falar com vocês...
- Aquela ali é a Bê e o Ro, do B & R? – perguntou Mark.
- Conhece eles? – perguntou Bette, surpresa.
- Só você não conhece, mama B – respondeu o rapaz.
- Querem conhecer eles? – perguntou Kit, observando os dois, que não tiravam os olhos do trio.
- Sério? – perguntou Angélica, sorrindo.
- Vou apresentar vocês, só não mencionem a mama B, eles podem não reagir muito bem...
- Como conseguiu ser odiada por dois, dos artistas mais legais que existem atualmente? – perguntou Mark, curioso.
- Aparentemente é um dom, - respondeu Bette - podem ir...
- E o problema dela é você, Tina tomou café da manhã com eles e se divertiram muito, venham comigo – chamou Kit, levando os dois até a mesa do trio – Oi, desculpa atrapalhar a conversa...
- Você nunca atrapalha, Kit – respondeu Bê.
- Eu queria apresentar meus sobrinhos para vocês, essa é a Angélica e esse é o Mark...
- Filhos da Tina? – perguntou Bê, com gentileza.
- Exato... – sorriu Angélica.
- Prazer... – falou Ro, apertando a mão do garoto e depois da garota.
- Se juntam a nós? – perguntou Bê, puxando uma cadeira.
- Er... claro – concordou Angélica, sentando, Mark puxou uma cadeira e sentou a frente da irmã – obrigada...
- Vou trazer uma torta especial para vocês – avisou Kit, se afastando e chamando uma garçonete.
- Definitivamente o problema sou eu... – comentou Bette, quando a irmã se aproximou – só não sei por quê...
- Oi pessoal... – cumprimentou Tina, entrando acompanhada de uma mulher muito magra, de cabelos curtos, pretos e lisos – Já escolheram uma mesa?
- Oi Shane – cumprimentou Bette – E Molly?
- Foi deixar os gêmeos com a avó, ela prometeu levar eles para passar o fim de semana na Disney – Já deve ta chegando...
- Venham – chamou Kit – Separei uma mesa para nós...
- Onde estão Angélica e Mark? – perguntou Tina, dando um beijo na esposa e acompanhando Kit até a mesa.
- Desistindo de odiar Los Angeles – respondeu Bette, indicando a mesa dos jovens, que conversavam rindo, e sentando no lugar que Kit indicou.
- Ela é o tipo de amizade ideal para Angélica, fico feliz que tenham se dado bem... – comentou Tina, sentando ao lado de Bette.
- Eric e Jenny vão ficar furiosos de não quererem vir, quando eu contar quem estava aqui – riu Shane, se escorando e também observando os jovens – Eles passam o dia todo assistindo os vídeos dos dois...
- Pelo visto eu sou a única pessoa no mundo que nunca ouviu falar dos dois – comentou Bette – Tina, por que diz que ela é o tipo ideal de amizade para a Angélica e o Mark?
- Por que além de compor, cantar e tocar, ela também fez faculdade de arte, se formou em 3 anos, na Academia de Belas Artes de Florença...
- Essa é uma das melhores universidades de artes do mundo...
- Aham, ela cruza técnicas de pintura e fotografia... É quase como se ela não fosse humana...
- Desculpem a demora – falou Alice, chegando com uma mulher magra, muito bonita, negra, cabelos lisos pouco a cima dos ombros – O que eu perdi?
- Estávamos falando da “menina maravilha” – respondeu Bette, tomando um gole de café – Oi Tasha...
- Boa tarde – cumprimentou a mulher, sentando ao lado de Alice – Bom rever todas...
- Sabe... – falou Alice, pensativa – Sinto falta de uma pessoa...
- De mim? – perguntou uma mulher de cabelos curtos e olhos claros, rindo e se aproximando do grupo, beijando Shane e sentando ao seu lado – Pronto, Jenny e Eric estão com a minha mãe... uma semana sem dois adolescentes resmungões... Espera, aquela ali é...
- A “menina maravilha” – respondeu Bette, impaciente, mexendo na xícara – E que me odeia...
- Relaxa – pediu Helena, chegando com Rachel e se juntando ao grupo – A Bê é uma garota incrível, não vai te tratar mal, só vai te ignorar... Kit, vem logo sentar, só falta você...
Kit se aproximou, mas parou, olhando com choque para a porta. Uma mulher alta, encorpada e em forma, cabelos negros até os ombros, lábios grossos, usando uma gargantilha com uma pedra delicada. Ela estava parada, olhando para as pessoas no bar, até que seus olhos encontraram os de Kit, e ela sorriu, se aproximando.
- Acho que estou tendo uma alucinação – falou Alice, todos na mesa estavam em estado de choque.
- Ela está aqui de verdade? – perguntou Shane.
- Vão ficar só me olhando, ou eu ganho um abraço? – perguntou a mulher, a voz grave, mas suave.
- Não acredito que esta aqui... – falou Tina, levantando e abraçando a mulher – Marina Ferrer, a primeira dona do The Planet, sumida a 21 anos, aqui, diante de nós...
- É bom te ver - falou Shane, abraçando Marina assim que Tina a soltou.
Todas do grupo a abraçaram, felizes e surpresas com a aparição da mulher. Ro, que conversava animado com o seu grupo, parou de falar e caminhou até as mulheres, sério.
- Mãe? – perguntou ele, surpreso e confuso.
- Ele disse “mãe”? – perguntou Alice – As surpresas não param...
- Não vai me dar um beijo? – perguntou ela, abrindo os braços e puxando o menino.
- Achei que só chegaria amanhã a noite – respondeu ele, abraçando-a e lhe dando um beijo no rosto.
- Resolvi fazer uma surpresa para o meu menino... fiz mal? – perguntou ela, sem soltá-lo.
- Claro que não...
- Você é filho da Marina? – perguntou Tina, ainda sem acreditar.
- Sim – confirmou o menino.
- Engravidei do Roget pouco depois de me mudar para a Itália – contou Marina – A vezes acho que ele tem vergonha do próprio nome, com essa mania de assinar como RF...
- As pessoas iriam me infernizar se soubessem que me chamo Roget Ferrer, filho da grande dançarina e dona de uma das maiores companhias de dança da Europa...
- Nunca nos contou que teve um filho... – comentou Bette – Na verdade, não temos notícias nenhuma desde que sumiu, a 21 anos atrás...
- Sair de Los Angeles me fez mudar muito, fui vizinha da Rachel quando ela morou na Itália, foi quando Luna e Roget se conheceram...
- Eles se encantaram um pelo outro assim que se viram... – confirmou Rachel – Depois, Marina se mudou e Roget ficou morando com Pietra...
- Quem é Pietra? – perguntou Alice.
- Minha ex-mulher – contou Marina – Ficamos juntas por 5 anos, ela ainda mora na Itália, enquanto eu viajo pelo mundo... Acho que Roget tem isso de mim... Bê está com você? Preciso falar com ela...
- Vou chamar, te vejo mais tarde?
- Jantamos juntos – sorriu ela, segurando o rosto do filho e lhe dando um beijo – Te amo...
- Também te amo mãe – respondeu ele, se afastando e voltando para sua mesa.
- Um filho? – perguntou Alice, com dificuldade de acreditar – Você tem um filho já adulto?
- Ele é lindo, né? – perguntou ela, orgulhosa, sorrindo – Acho ele tão parecido comigo...
- Você é linda e sexy, e ele irritante com um ego enorme – comentou Bê, rindo, se aproximando – Tudo bem Marina?
- Ótima, agora que voltei... Estava com saudades deste lugar – respondeu a morena, puxando a garota para um abraço – E você, como está?
- Também gosto de estar de volta, mas não conta para minha mãe...
- Segredo nosso – riu a morena – Bê, eu queria falar com a sua mãe, mas perdi o contato dela...
- Ela ta te esperando para o jantar, e vai ficar hospedada lá em casa, sem discussões, ela ficou muito feliz quando o Ro disse que você viria, vai preparar um jantar especial, sabe que ela gosta de inventar na cozinha.
- Você é uma garota de ouro – sorriu Marina, dando um beijo na testa da menina.
- Vai querer uma carona?
- O conversível é seu? – riu Marina.
- Vou dar uma saída daqui a pouco, mas volto e te busco antes de ir para casa – sorriu Bê, dando um beijo no rosto de Marina e voltando para perto do seu grupo.
- Ainda não acredito que você voltou... – comentou Tina, quando Marina puxou uma cadeira e sentou-se com elas – Conta, o que aconteceu depois que você simplesmente sumiu?
Marina contou sobre as viagens, a gravidez, Pietra e a companhia de dança, era a primeira vez que conseguiam reunir todas do grupo depois de muitos anos. A noite, Bê se despediu dos demais com Ro e Marina, e foram para casa. A mãe de Bê e Marina, haviam tido um envolvimento curtíssimo, uns anos antes, mas agora eram ótimas amigas.
Na quinta-feira, véspera do concurso de dança na Hit, Bê recolheu as coisas mais cedo no The Planet, quando Ro saiu com Luna para dar uma volta. Bette e Tina chegaram quando a menina se despedia de Kit, e Bette a olhou, parecendo ponderar o que dizer.
- Eu conheço essa jaqueta... – falou Bette, e então seu rosto se iluminou de compreensão e confusão, ao mesmo tempo, observando a jaqueta verde-militar da menina, e depois observando os olhos da mesma – Espera...
- Existem muitas jaquetas como esta... – retrucou a menina, uma veia no seu pescoço, pulsando a mostra.
- O que houve Bette? – perguntou Tina, confusa.
- Essa jaqueta... – falou ela, se aproximando, tentando ligar os pontos – Tina, essa jaqueta era da Jodi... a favorita dela...
- Jodi? – perguntou Kit, observando a menina, também com choque – A artista, surda, professora da universidade... essa Jodi?
- A Jodi que você traiu com a Tina, 20 anos atrás – respondeu Bê, com raiva – Parabéns Bette Porter, essa jaqueta era realmente da Jodi Lerner, sua ex-namorada...
- Eu sabia que conhecia aquele carro lá fora também... – falou a mulher, os olhos arregalados – Era o carro da Jodi... O que está fazendo com as coisas dela?
- Não é da sua conta... – retrucou a menina, tentando sair, mas Bette segurou seu braço, e a olhou nos olhos, séria – Me solta, o que pensa que está fazendo?!
- Quem é você? – perguntou a mulher, quando a menina puxou o braço, se soltando.
Tina e Kit observavam no mais absoluto silêncio.
- Quer mesmo saber quem eu sou, Bette? – desafiou a menina, olhando-a nos olhos, e Bette compreendeu, sem que ela precisasse dizer nada. A morena cobriu a boca, chocada – Eu digo quem eu sou, mas acho que você já sabe...
- Você tem os olhos, além do olhar de raiva dela... – falou Bette, baixinho.
- Do que está falando? – perguntou Tina, para a esposa.
- BL – falou a menina, as mãos fechadas com força, olhando nos olhos de Bette, furiosa – Significa Bette Lerner, eu sou filha da Jodi, mas acho que você percebeu isso assim que te olhei nos olhos, não foi?
Bette se apoiou no balcão, pálida e atônita.
- Você é filha da Jodi? – perguntou Tina, também chocada – Mas você tem 20 anos, isso significa que...
- Minha mãe já estava grávida, quando ficou sabendo da traição, isso mesmo... – respondeu a menina, a raiva visível em seu olhar – era para ser uma surpresa de aniversário para a mulher que ela tanto amava, mas no final, quem foi surpreendida, foi ela... Bette queria uma família, e minha mãe queria dar essa família completa a ela, um irmão ou irmã para a Angélica...
- Mas no concurso de dança, ela... – tentou Bette, apavorada.
- Estava com quase 5 meses – respondeu Bê – A barriga dela só apareceu depois do 6º mês. O que me deixou irritada, quando ela me contou toda a história, não foi o fato da minha mãe ter me criado sozinha, acho que ela fez isso muito bem, o que me enfurece, é que ela me deu o nome da desgraçada que transou com outra estando com ela... a mesma mulher que fez ela se dedicar a um relacionamento, se apaixonar, se jogar de cabeça numa relação... durante muito tempo, eu achei que ela tinha feito isso por me odiar... ela não sonhava em ser mãe, e de repente estava grávida de mim, eu sou o bebe que deveria ser dela e da mulher que ela amava... Até que me dei por conta que ela me deu esse nome, por ter sido essa a pessoa que ela mais amou na vida... É por isso que eu sinto raiva de você Bette, porque era para você ter sido minha mãe...
- Bê, eu... – tentou Tina, preocupada.
- Tá tudo bem, Tina, eu gosto de você, minha mãe também... você é uma pessoa boa, seu único erro foi não ter controlado esse sentimento que tem pela Bette... apesar de que, vocês estão juntas a 20 anos, sem contar os 8 anos antes de Bette se envolver com a minha mãe, o que me faz pensar que talvez o único erro nessa história, tenha sido minha mãe, e consequentemente, eu...
- Por que ela não... – falou Bette, preocupada.
- Porque ela não te contou? – perguntou a menina – Pra quê? Pra você ficar com ela por pena? Se acha que ela concordaria com isso, realmente não a conhecia...
- Eu sei que não, desculpe... Er... Bê, eu não tinha como saber que ela estava esperando você, e talvez...
- Você e a Tina, nasceram uma para a outra, qualquer um vê isso... Eu só... Eu só queria não ter o nome da mulher que fez a pessoa que mais amo no mundo, sofrer... Kit...
- Sim querida?
- Amanhã eu não venho, te vejo a noite no Hit?
- Com certeza.
- Licença.
Bê saiu e as três ficaram se olhando. Bette tinha o olhar perdido, como se tentasse resolver uma quebra-cabeças muito complicado.
- Querem saber o quê é mais irônico nisso tudo? – perguntou Tina, passando a mão no rosto da esposa.
- O quê? – perguntou Bette, olhando nos olhos da loira.
- É que ela é parecida com você... Jodi criou uma filha com a sua personalidade e temperamento, ela se parece mais com você, que a Angélica...
Quando Bê chegou em casa, ela largou as coisas e se atirou no sofá, fechando os olhos. Jodi se aproximou e tocou o braço da filha, para que ela lhe olhasse. As duas conversavam na língua de sinais, Jodi escutava pouco e falava um pouco também, então misturavam as duas formas de comunicação.
“- O que você tem?” – perguntou ela, em língua de sinais.
“- Nada, só estou cansada...” – respondeu a menina, sentando no sofá e respirando fundo.
“- Você sempre mentiu muito mal” – sinalizou Jodi, sentando em cima da mesinha de centro, próxima ao sofá, na frente da filha – “O que aconteceu?”
“- Falei com a Bette Porter, ela reconheceu sua jaqueta e seu carro...”
“- Você brigou com ela? Eu pedi para deixar esse assunto de lado, mas você é teimosa, parece que sempre faz o oposto de tudo que eu mando...”
“- Ela segurou meu braço, me obrigou, então contei tudo... Contei que era para ela ter sido minha mãe, e que eu não gosto de ter o mesmo nome dela...”
“- Sente raiva de mim? Sabe o quanto te amo... Não sou uma mãe perfeita, mas dei o meu melhor, eu juro...”
“- Para...” – pediu Bê, segurando as mãos da mãe e silenciando-a – “Você é a melhor mãe do mundo, é incrível, fez tudo correto... Foi bom isso ter acontecido...”
“- Como esta se sentindo?”
“- Mais leve...” – admitiu a menina, dando um suspiro triste.
“- Me orgulho de você... muito...” – concluiu Jodi, puxando a filha para um abraço.
As duas tinham uma relação muito próxima, eram amigas, antes de qualquer coisa, e a artista plástica sempre falou de qualquer assunto com a filha, incentivando-a a defender o que acreditava e respeitar a todos, sempre.
Enquanto as duas se entendiam, Bette estava sentada em uma mesa de canto, no The Planet, ao lado de Tina, com o olhar vago, distraída. Tina havia contado a Alice e Shane sobre o que tinha acontecido e elas discutiam sobre o fato de Jodi ter tido uma filha e elas nunca terem descoberto isso.
- Inacreditável... – falou Alice – Encontramos a Jodi várias vezes, fomos a exposições dela, e ela nunca mencionou que tinha uma filha... Como alguém esconde algo assim?
- Ela não queria se expor... – defendeu Bette, ainda com o olhar vago.
- Mas é uma filha, de 20 anos... – retrucou Alice.
- Jodi nunca sonhou com filhos, mas ela não só teve uma, como criou ela sozinha, e criou muito bem... A Bette é muito inteligente e confiante no que fala e faz...
- Bette? – perguntou Shane – Esse é o nome verdadeiro dela? Huau...
- Sinto que tenho responsabilidades sob esta menina – comentou Bette – Eu tenho que falar com ela... eu...
- Acho que você tem que deixar isso quieto... – comentou Tina – Espera para ver se ela vai te procurar, não força nada...
- Jodi só engravidou por minha causa, a menina tem o meu nome, é como se eu fosse a mãe dela... Uma mãe que a abandonou...
- Não precisa se sentir responsável por ela... – avisou Marina, se aproximando e sentando com elas – Bê nunca precisou de duas mães, Jodi é ótima, nunca deixou faltar nada para ela... Se Bê explodiu e te contou tudo, não foi para cobrar que você faça algo, foi porque ela precisava desabafar, só isso...
- Você sabia de tudo, Marina? – perguntou Alice.
- Sim, Bê e Ro são amigos desde que as duas foram para a Itália... – contou a morena – Eu e Jodi nos envolvemos por um tempo, sei tudo o que aconteceu entre vocês...
- Você e Jodi? – perguntou Bette – desculpe, não consigo imaginar...
- Nós também não, ficamos muito amigas, ela sempre recebe o Ro na casa dela, trata ele como um filho... Acreditem, nenhum dos dois precisou de duas mães, eles tem um ao outro...
- E como a Jodi está? – perguntou Bette, e Tina olhou para ela – Nunca mais tivemos notícias, nem sabia que ela tinha voltado para Los Angeles...
- Esta ótima, namorando sério, não sei se não vão acabar casando...
- E como essa mulher trata a Bê? – perguntou Bette.
- Bette... a Bê tem 20 anos, não é mais uma criança, e você não é mãe dela... Jodi engravidou quando vocês estavam juntas, mas isso não te torna responsável por ela, vocês não são nada uma da outra, então esqueça essa história, para o bem das duas...
- Eu sei... – suspirou ela, passando a mão no rosto – Esquecer... Ok...
- Vocês vão a competição de dança no Hit, amanhã a noite? – perguntou Marina.
- Seu filho ta organizando né? – perguntou Alice – Estaremos todas lá... Eu e Tasha vamos arrasar esse ano...
- Vão precisar nos vencer antes – avisou Tina – Eu e Bette, somos a melhor dupla...
- Como assim? – perguntou Bette, olhando para a companheira – Nós vamos?
- Claro, prometi para Bê que íamos, ela cuidou de toda a trilha sonora para a competição. Angélica já comprou até um vestido novo...
- Angélica e Mark também vão? – perguntou a morena, surpresa – Não fui informada disso...
- Só Angélica – respondeu Tina, com tranquilidade – A própria Bê a convidou, elas se deram muito bem... Curioso né...
- Preciso respirar, te vejo a noite, em casa – falou Bette, levantando, dando um beijo em Tina, e saindo.
- Por que ela ta agindo como um cara que engravidou uma mulher e reencontra a criança anos depois? – perguntou Shane, para as demais na mesa.
- Porque é como ela se sente... – respondeu Tina – e confesso que sinto o mesmo...
Sexta-feira a noite, quando a hora do evento chegou, Ro e Bê foram cedo para a Hit, uma boate bonita, que Kit e Helena comandavam em sociedade e com sucesso a quase 21 anos. O lugar era uma das casas noturnas mais requisitadas de Los Angeles, além de ser voltada para o público LGBT onde qualquer tipo de preconceito era terminantemente proibido.
- O que vocês acharam? – perguntou Sonny, quando entrou no lugar com os dois.
- Parece uma discoteca clássica... – comentou o garoto, encantado – A decoração ficou perfeita... Huau...
- Meu genro, elogiando meu trabalho? – perguntou Helena, caminhando até o grupo, sorrindo – Isso é realmente uma surpresa, espero que alguém tenha gravado...
- Helena, eu já falei o quanto te admiro, várias vezes... – falou ele, dando um beijo e uma abraço nela – É uma honra fazer parte desta família...
- Se aprontar para minha filha, eu te castro, você sabe disso né? – sorriu ela.
- É, eu sei sim... – respondeu ele, sorrindo e se afastando para olhar melhor o lugar.
- Como você está? – perguntou Helena, quando Sonny foi se trocar e ela e Bê ficaram sozinhas.
- Também ficou sabendo?
- Elas são minhas amigas a quase 25 anos, então sim... Bette está bem preocupada... não entendo por quê nunca nos contou que era filha da Jodi...
- Por que sei a humilhação que minha mãe fez a Bette passar depois que ela descobriu a traição. Quando ela me contou quem vocês eram, eu não queria que me vissem diferente, pelo que minha mãe fez...
- Você é uma garota incrível, sabe disso né?
- Ouvi boatos – respondeu ela, rindo – você me desculpa, por eu ter escondido quem era minha mãe?
- Sou da teoria de que os filhos, não devem pagar pelos erros dos pais, ta tudo bem... Ainda odeia a Bette?
- Nunca odiei ela, odiar é algo muito forte... Sinceramente, eu até admiro ela...
- Você admira a Bette? Não pareceu isso quando observei vocês juntas...
- Ela é uma excelente profissional... Bom, vamos trabalhar?
- Hoje a mesa de som é toda sua...
Elas foram para o espaço destinado ao DJ, e Bê mostrou as músicas que tinha preparado para a noite. Quando Sonny voltou, já estava transformado em Sunset Boulevard, a Drag mais requisitada das pistas LGBT’s.
Antes de abrir as portas, já havia uma fila na frente, e em poucos minutos o lugar estava cheio e Sunset subiu no palco como o microfone.
- Boa noite Los Angeles... – falou ele, e as pessoas vibraram, enquanto Bê diminuía o som – Sejam bem-vindos a Noite de Dança Hit! Vamos dar as boas vindas para a nossa DJ, vinda direto de Florença, na Itália, e com músicas 100% autorais produzidas especialmente para essa noite, e o seu parceiro e grande organizador deste evento, B & R!
O lugar inteiro vibrou com gritinhos e aplausos, e a luz focou em Bê e Ro, juntos na mesa de som, ele sentado usando um elegante terno, num canto da mesa.
- Boa noite garotas e garotos de Los Angeles... – falou Bê, ao microfone, e as pessoas se agitaram ainda mais, obrigando-a a falar mais alto – Obrigada por estarem aqui, prestigiando essa noite, e ajudando a Casa de Apoio, que recebe e cuida de jovens que são expulsos de casa por amarem alguém que a sociedade não concorda. Toda a semana, cerca de 30 jovens são agredidos ou expulsos de casa por serem gay’s, enquanto esses números não diminuem, enquanto a intolerância não for vencida pelo amor e pelo conhecimento, é bom saber que tem alguém lá fora, transbordando amor o suficiente para acolher nossos irmãos. 80% do valor arrecadado com as inscrições do concurso de dança, vão para eles. Os outros 20% vão para a Associação Nacional Americana de Surdos, da qual eu sou membro, e que ajuda surdos e deficientes auditivos, a terem um futuro melhor, colocando-os no mercado de trabalho e em contato com as artes plásticas. Essa noite, vocês além de se divertirem, estão ajudando a salvar vidas, um brinde a vocês...
Ela ergueu uma garrafinha de cerveja, em um brinde e tomou um gole. Bette olhou incomodada e caminhou até Helena, escorada no bar com a esposa.
- Ela ta bebendo... – reclamou Bette – Bê não pode beber, não tem idade...
Ro assumiu o microfone, deu um beijo no rosto de Bê, e desceu da mesa de som, caminhando até o palco.
- Obrigada Bê, mas agora, menos papo, mais dança... – falou ele, e fez um gesto para o fundo do palco, de onde veio Luna, que se aproximou, usando um elegante vestido vermelho, e segurou sua mão – Por favor, me acompanha?
A menina sorriu e ele entregou o microfone para Sunset, enquanto Bê colocava um tango eletrônico e as luzes mudavam, focando o casal.
- Eu não me incomodaria se os dois decidissem se casar... – comentou Rachel, observando os dois dançando.
- Pela forma como se olham, eu não duvidaria que isso acontecesse logo... – comentou Marina, pegando uma bebida.
- Um Ferrer e uma Peabody... É o que eu chamaria de casal de poder... – comentou Helena – O que Luna seria?
- Será – corrigiu Marina – Ela será uma Duquesa... Roget é um Duque.
- Achei você... – falou Tina, se aproximando de Bette e pegando sua mão – Me distraí um minuto, e você sumiu...
- Vim pegar uma bebida – falou a morena, pegando um copo e entregando para Tina.
- Você precisa relaxar, Bette – falou Helena, observando a amiga – Bê foi ensinada a falar o que pensa, precisa superar isso e seguir em frente...
- Eu deveria falar com a Jodi...
- Você deveria beber – corrigiu Rachel, colocando um copo na mão dela – Por conta da casa...
- Oi meninas... – falou Alice, se aproximando e puxando Tasha pela mão – Vocês não vão acreditar em quem eu acabei de ver chegar com a sargento que cuidou do caso da morte da Jenny...
- A Jodi... – respondeu Marina, sorrindo.
- Como sabe? – perguntou Alice, desapontada pela informação não ser surpresa.
- Elas estão ali, falando com a Bê... – respondeu Tina.
- Jodi esta aqui? – perguntou Bette, olhando para a mesa de som – Eu preciso...
- Você precisa deletar essa história da sua cabeça – interrompeu Marina – Não vai querer discutir com a Jodi nesta festa tão bonita que meu filho e a filha dela ajudaram a organizar...
- Um brinde a Marina – falou Shane, se aproximando.
Enquanto o grupo conversava, Bê contava para mãe o que aconteceu depois da situação com Bette e como as pessoas reagiam.
“- Você é forte” – sinalizou Jodi, sorrindo – “E elas são mulheres fantásticas...”
“- São sim...” – concordou Bê, falando e sinalizando – Fico feliz que tenha vindo Marybeth...
- Eu não perderia por nada, é o seu dia... – respondeu a sargento, falando e fazendo sinais ao mesmo tempo, elas sempre se comunicavam assim para que Jodi pudesse compreender.
- Vão participar da competição de dança?
“- Vamos ganhar...” – respondeu Jodi.
“- Sua mãe me fez ensaiar desde que mandou mensagem avisando do concurso... Ela pode ser bem persuasiva quando quer...”
“- Eu sei... mas é a melhor mulher do mundo, então continue cuidando bem dela... – sorriu Bê - Mãe, como se sentiria se um dia eu revelasse publicamente quem eu realmente sou? Digo, contar para as pessoas...”
“- Me sentiria orgulhosa... – respondeu Jodi, sorrindo – Ia anunciar para o mundo todo que tenho a melhor filha do mundo...”
“- Te amo...” – falou a menina, abraçando a mãe.
“- Também te amo muito.”
“- Vão se divertir, vejo vocês mais tarde...” – falou Bê.
- Aceita mais uma cerveja, senhorita DJ? – perguntou Marybeth.
- Eu aceito, Sra. 1ª Tenente, muito obrigada...
“- Vamos” – chamou a mulher, puxando Jodi pela mão.
Elas caminharam entre as pessoas, até o bar, onde o grupo de amigas estava.
- Boa noite, sargento – cumprimentou Tasha.
- Boa noite garotas – cumprimentou Marybeth – Na verdade, agora é 1ª Tenente... prazer em revê-las, principalmente longe da delegacia.
- Oi Jodi – cumprimentou Tina, e Jodi lhe abraçou, e depois cumprimentou as demais – Bom te ver, está muito bonita...
“- Obrigada... – agradeceu Jodi – você também, esses anos te fizeram bem, está sexy...”
- Obrigada... – sorriu Tina.
- Er... Jodi... – chamou Alice – Por que escondeu que teve uma filha?
“- Vou levar uma cerveja para a Bê, me espera aqui...” – avisou Marybeth, pegando uma cerveja e dando um beijo em Jodi, se afastando.
“- Por que não me contou que estava grávida, quando terminamos?” – perguntou Bette.
“- Era problema meu – respondeu Jodi, dando de ombros e pegando uma bebida – Não tinha porque eu contar...”
“- Eu podia ter te ajudado a criá-la, não abandonaria vocês...”
“- Bette, olha para ela... – respondeu Jodi, apontando para a filha, rindo e falando com a Tenente – Acha que fiz algo de errado na criação dela? Bê é inteligente, decidida, tem personalidade e sabe se virar sozinha, acho que criei muito bem a minha filha...”
“- Ela falou comigo...” – contou Bette.
“- É, eu sei... não temos segredos, ela me contou tudo. Aliás, eu nunca pude agradecer, Helena e Rachel, eu não sei dizer o quanto agradeço o carinho que sempre tiveram com a minha filha...”
- Ela é uma garota incrível, não precisa agradecer... – respondeu Rachel.
“- Jodi, eu me sinto culpada...” – falou Bette, incomodada.
“- Não precisa... eu te agradeço muito, você me deu coragem para fazer isso, e hoje eu tenho a pedra mais preciosa do mundo... tenho uma filha linda, e por quem eu daria minha vida. Se não fosse você, eu nunca saberia o que é sentir algo assim... Obrigada Bette...”
- Jodi? – perguntou uma mulher, se aproximando.
- Angélica? – perguntou Jodi, surpresa, olhando a menina – você está enorme, e linda!
- Bom te rever – falou a menina, abraçando-a – Tenho flash’s de lembranças daquela época, mas sei que nos dávamos muito bem... Mama T falou que eu perguntava por você sempre...
- Nos divertíamos juntas... – respondeu Jodi, quando Marybeth voltou e parou próxima a ela.
- Então vocês estão juntas? – perguntou Alice, observando a artista e a policial – Huau...
“- 3 anos...” – contou Mary, sorrindo.
“- Como se conheceram?” – perguntou Bette, aceitando um copo que Tina lhe ofereceu.
- Um aluno da Jodi teve um surto, ameaçou ela e depois de alguns dias, se matou... Eu cuidei do caso, tinha assumido a pouco tempo como delegada da Homicídios de Los Angeles... Nos aproximamos e acabamos nos apaixonando...
- O que Bê acha disso? – perguntou Bette, e Tina lhe deu um olhar de repreensão.
“- Bê e Mary se dão muito bem...” – respondeu Jodi, incomodada com o tom dela.
- Ela é a filha que não consegui ter – respondeu a Tenente – comprei uma casa, e vamos convidar Bê para morar conosco...
- Você é uma mulher da lei – retrucou a morena – Por que deu cerveja para uma menor de idade?
- Chega – interrompeu Tina, segurando a esposa pelo braço – Vem Bette, Jodi, Mary, me desculpem por isso...
- Sem problemas – respondeu Mary.
As duas se afastaram e Jodi tocou o braço de Helena, para que ela lhe olhasse.
“- Por que a Bette ta agindo como se fosse mãe da Bê? Não to entendendo?...”
- Ela acha que Bê também é responsabilidade dela, já que vocês estavam juntas quando você engravidou... – respondeu Helena.
“- Isso é ridículo... – respondeu a artista – Bê é minha filha, só minha...”
“- Nossa – corrigiu Mary – Bê é nossa filha...”
Todas as luzes se apagaram e então apenas uma, iluminou o palco, onde estava Sunset. Começaria o concurso de dança. Depois de 1h30 de pequenos trechos de estilos musicais diferentes, Bê colocou um repertório para que todos pudessem apenas curtir, enquanto a final não começava.
Bette, Tina e o grupo que sempre estava junto, estavam sentadas na ala VIP, conversando, Bette estava mais descontraída, depois de beber um pouco, mas o clima de brincadeira mudou, quando elas viram quem havia acabado de chegar, e caminhava até Bê, concentrada, brincando com as luzes da pista.
- Aquela ali é a... – perguntou Tina, sem ter certeza.
- Não pode ser... – falou Alice, se mexendo para enxergar melhor.
- É ela... – confirmou Shane, desconfortável.
A mulher de pele morena, tatuagens a mostra, cabelos um palmo a baixo do ombro, e o corpo em forma, se aproximou de Bê pelas costas, sem ser vista, e cobriu seus olhos. A menina parou o que fazia e respirou fundo, sentindo o perfume da mulher e sorrindo.
- Eu reconheceria esse perfume em qualquer lugar do mundo, mesmo de olhos fechados no meio de uma multidão... – falou a garota, se virando para ficar de frente para a mulher que tinha a sua altura e colocando as mãos em sua cintura, ainda sem abrir os olhos.
- Sou tão importante assim? – perguntou a mulher, tocando de leve o rosto de Bê, enquanto colocava os braços ao redor de seu pescoço.
- Na verdade, você é muito mais... – respondeu Bê, puxando-a e lhe beijando.
Shane, que observava as duas, se afogou com a cerveja, Bette deixou cair o copo que segurava, Angélica sorria, mas o resto do grupo estava completamente em choque.
- Eu tinha certeza que ela gostava de mulher! – riu a menina – Tava muito na cara... O que houve com vocês, parece que viram um fantasma...
- Quase isso... – respondeu Tina – Shane... tudo bem?
- Quem é aquela mulher e por que vocês estão com essa cara? – perguntou Molly, confusa.
- Aquela é a mulher que eu deixei no altar, a 20 anos atrás... – respondeu Shane, sem conseguir desviar os olhos das duas.
Enquanto Tina explicava o que havia acontecido, a morena olhava nos olhos de Bê, sorrindo, sem se afastar.
- A que devo a surpresa? – perguntou Bê, sem soltá-la.
- Saudade... Não nos vimos hoje, nem ontem... – respondeu a morena, mexendo no cabelo de Bê, com carinho – Achei que ia me ver...
- Um dia sem nos vermos, e já ficou com saudade?
- É... viu o que esta fazendo comigo?
- Se gosta tanto de mim, por que não me assume? – perguntou Bê.
- Você vive viajando Bê...
- Eu paro de viajar... – respondeu a menina, olhando nos olhos dela.
- Bê, eu sou 20 anos mais velha que você...
- E isso te incomoda? – perguntou a garota, séria – Até agora isso não foi nenhum empecilho...
- Você tá na fase de curtir... – falou a mulher, tentando se afastar, mas Bê a segurou com mais força – gosto do que temos, mas eu cheguei num ponto da minha vida, que preciso mais do que só sexo e curtição...
- Sabe que não quero só isso com você... – interrompeu Bê – Olha, não sou como as outras garotas de 20 anos que você conheceu por aí, mas você já sabe disso. Desde que nos conhecemos, eu não fiquei com mais ninguém... desde que te vi a primeira vez eu não olhei mais para nenhuma mulher. Esquece a minha idade e pensa, só por um minuto, no que nós temos...
- Gosto do que temos, gosto disso aqui... – comentou ela, contendo o sorriso – Você é... diferente... inteligente, sexy, divertida...
- E completamente louca por você... – concluiu Bê.
- E se sua mãe for contra, por causa da minha idade, ou qualquer outro motivo? Bê, eu não tenho mais idade para isso... Estou envelhecendo, logo você vai cansar e procurar uma mulher mais jovem, mais gostosa, e isso vai me magoar muito, mas eu vou ter que aceitar que não posso ter você para sempre...
Bê mexeu na mesa de som e mudou para uma música mais lenta, uma em especial, a primeira que dançou com a morena. As pessoas na pista se aproximaram mais, e o grupo de amigas continuava observando as duas, que não haviam notado que tinham plateia. A bebida de Bette havia sido trocada, e nenhuma delas parecia sequer piscar.
- Eu queria ser uma mosquinha, só para ouvir o que as duas estão dizendo – comentou Alice – Só eu to achando essa noite muito surreal?
- Ou o mundo virou de ponta-cabeça, ou estamos todas muito bêbadas – concordou Helena.
- A meu Deus, olhem aquilo, ela vai se ajoelhar... – falou Alice, mas não precisava, porque todas pareciam ter trancado a respiração.
Bê colocou um joelho no chão e segurou a mão da mulher, sorrindo.
- Carmen de la Pica Morales – falou Bê, olhando nos olhos dela – quer namorar comigo? De verdade... Um namoro com todas aquelas baboseiras tradicionais...
- Levanta... – riu ela.
- Só se me responder...
- Aceito...
- Aceita o que?
- Aceito namorar com você, agora levanta... – riu Carmen, puxando Bê, para que se levantasse, e beijando-a – Vem cá, sua doida...
- Completamente, e por você...
- Vai ficar mesmo? Vai vir morar aqui?
- Vou... Agora tenho algo que me prende a Los Angeles, só saio daqui com você...
- Desculpa atrapalhar... – falou Ro, se aproximando – Oi Carmen, esta linda hoje...
- Obrigado Ro, você também esta um gato...
- Aqui esta o nome das 5 finalistas... – ele entregou um bilhete para Bê – Quando você estiver pronta... O que vi ali, foi um joelho no chão?
- Bê me pediu em namoro – contou Carmen, feliz – E eu aceitei.
- Isso significa que vamos ficar em Los Angeles? Carmen... eu te devo uma...
- Sério isso? – perguntou Bê, se referindo aos nomes.
- Conheço esses nomes... todos eles... – comentou Carmen – acho que precisamos conversar Bê...
- O que houve?
- Lembra que te contei que fui deixada no altar?
- Você tinha 18 anos e uma amiga de vocês, pagou o casamento, no Canadá, eu lembro...
- Eu ia me casar com essa pessoa aqui... – falou ela, apontando para um dos nomes no papel, e olhando para Bê.
- Shane McCutcheon? – perguntou Bê, olhando-a – Sério?
- Não me zoa, eu estava apaixonada...
- Você é mulher demais para ela... mostrou que realmente evoluiu, ficando comigo – comentou Bê, pegando o microfone e diminuindo o som – Como estão nossas competidoras? – as pessoas na pista vibraram, a luz estava focada nela – Bom, pessoal, o descanso estava ótimo, mas agora é hora de descobrirmos qual casal levará o grande prêmio da noite... Eu tenho aqui em mãos, os nomes das finalistas do segundo Concurso de Dança Hit! Estão prontas?... Vamos começar dando uma salva de palmas para... Jodi Lerner e Marybeth Duffy!
- Os casais semi-finalistas podem ir se arrumando para a próxima etapa – avisou Ro.
- Próximo casal, Alice Pieszecki e Tasha Willians... – anunciou Bê.
- Somos nós! – gritou Alice, e Carmen e Bê olharam para a ala VIP, os olhos de Shane e Carmen, se encontrando.
- Parabéns garotas, por favor se dirijam ao fundo do palco... – pediu Ro, sorrindo.
Bê respirou fundo antes de falar o outro nome de casal.
- Molly Kroll e Shane McCutcheon...
Shane sorriu para a esposa, mas não parecia muito feliz, ao levantar e descer da ala VIP.
- Alicia Rose e Anny Smith... – anunciou Ro, animado.
- E o último casal finalista, - concluiu Bê - uma salva de palmas para... Bette Porter e Tina Kennard Porter! Vamos dar aos casais, 10 minutos para se prepararem, e então vamos para a final!
Bê voltou a subir o som da música, e Jodi se aproximou puxando Marybeth pela mão, as duas já estavam vestidas para a apresentação final.
“- Carmen, não é? – perguntou Jodi – Bom te ver...”
- Tudo bem Jodi? – perguntou ela – Parabéns...
- Vocês já se conhecem? – perguntou Bê, confusa.
- Só de vista – respondeu Carmen – Jodi e Bette se envolveram pouco depois que me afastei de Shane, nos esbarramos em algumas festas...
- Bom... – falou Bê, respirando fundo, e criando coragem – Carmen, esta é a minha mãe... Mãe, esta é a minha namorada...
- O quê? – perguntou Carmen, olhando confusa para Bê – Jodi, é sua mãe? A meu Deus...
“- Carmen, esta tudo bem para mim, se estiver para você... – comentou Jodi, olhando para a morena – Você parece que parou no tempo, não envelheceu nem um dia sequer...”
- Sério que concorda que eu e Bê estejamos... juntas?
“- Claro, por que eu não concordaria? As duas são lindas e solteiras... Bom, agora não mais solteiras né...” – respondeu a ruiva, sorrindo e abraçando as duas.
- Como estamos? – perguntou Mary, mostrando sua roupa.
- Ganhem, e eu pago o almoço amanhã... – respondeu Bê.
“- Vai almoçar conosco, né? – perguntou Jodi – Quero conhecer melhor a minha nora... a primeira, devo dizer...”
- Vou adorar – sorriu Carmen, sem jeito.
- Mary, destruam elas – pediu Bê, abraçando Mary – Por mim...
- Por você... – sorriu a Tenente, pegando Jodi pela mão e sumindo entre as pessoas.
- Eu preciso de uma cerveja... – falou Carmen, se escorando no pilar que havia próximo, e rindo nervosa.
- Pega... – falou Bê, se espichando e pegando duas cervejas com um garçom, entregando uma a ela – Tá tudo bem?
- Mundo pequeno... – falou ela, bebendo – Não consigo acreditar que você é filha da Jodi... Tá explicada a inteligência, a personalidade...
- O fato de você conhecer minha mãe, é um problema? – perguntou Bê, mexendo na mesa de som.
- Você é um problema... Um problema que eu não quero resolver, e muito menos me livrar...
- Carmen, tá disposta mesmo a deixar que todos saibam que estamos juntas? Assumir isso publicamente?
- Se você está certa de que é isso o que realmente quer, eu também estou – confirmou ela.
- Pensa mais um pouco... – pediu Bê.
- Não tenho mais o que pensar... É você...
A final do concurso de dança começou, já eram 3 horas da manhã, mas as pessoas não demonstravam cansaço. Bê colocava as músicas, e puxava Carmen para que a morena lhe acompanhasse na dança.
- Sabe que temos plateia, né? – perguntou a morena, rindo, enquanto um tango tocava com Jodi e Mary, dançando no palco.
- Sua ex-namorada não tira os olhos de nós... – respondeu Bê, sem parar de dançar - Se você estiver se sentindo desconfortável, posso me afastar...
- Não ouse... é minha namorada, não é?
- Acho que sou... – riu Bê.
- Então nem pense em se afastar... A Shane é passado na minha vida, você é quem me importa...
- Minha mãe vai enlouquecer quando eu contar que vou ficar por aqui...
- E onde vai morar?
- Vou ver isso... Mas será num lugar onde você possa estar comigo sempre que quiser...
- Recuperar o tempo que tivemos afastadas?
- Cada segundo desperdiçado.
Bette e Tina foram as últimas no palco, e então todas as luzes apagaram e as pessoas deram gritinhos de comemoração. Quando elas voltaram a ser acesas, Bê estava no palco, ao lado de Ro, e Carmen havia assumido a mesa de som como DJ.
- Bê, o que você achou das competidoras desta noite? – perguntou Ro, ao microfone.
- Honestamente? – perguntou ela – Se eu soubesse que as pessoas de Los Angeles dançavam tão bem, eu tinha te arrastado antes para cá, então por favor, uma salva de palmas a todas e todos, vocês foram incríveis...
Houve aplausos e gritos, e Sunset se aproximou dos dois no palco.
- Vocês dois fizeram o Hit ferver – falou ela – Então porque não encerram a noite com chave-de-ouro e mostram o ritmo que conquistou a Itália?
- Vai ser um prazer, Sunset – respondeu Ro, fazendo um sinal para Carmen, que colocou uma música, sorrindo.
Todas as luzes se apagaram e quando voltaram a acender, os dois estavam lado a lado, sozinhos no palco. Dançaram uma música com uma batida pop-eletrônica, e fizeram as pessoas vibrarem muito, uma coreografia impecável. Quando a música acabou e as luzes voltaram a iluminar todo o palco, Sunset se aproximou devolvendo os microfones.
- Gente, o que foi isso? – falou ela, se abanando – Vocês tiraram o meu fôlego... Será que temos chance de ouvir vocês cantando também? Talvez uma música inédita...
- Bom... – riu Ro, um pouco ofegante – Acho que quem quiser ouvir terá que ir ao The Planet, as vezes aparecemos por lá para ensaiar e cantar um pouco, agora vamos ao que realmente interessa... Bê, fiquei sabendo que o nosso júri entregou para você o nome do grande casal campeão...
- É, você anda bem informado – riu ela – Mas antes, eu queria pedir uma salva de palmas para os nossos jurados, Maxwell Holldsman, professor de dança contemporânea, na Universidade da Califórnia – o homem se levantou no mezanino e fez uma leve reverência para as pessoas, depois mandou um beijo para Bê – Fiorella Matiori, professora de balé clássico na Academia de Belas Artes, em Florença, onde nos formamos, Sra Matiori, a senhora é uma santa, merece um prêmio por ter aguentado esse garoto por 4 anos...
- Eu era um santo, - respondeu Ro - o melhor da turma, ao contrário de você, anda logo... quem leva o troféu?
- O casal vencedor do segundo concurso de dança Hit é... – ela abriu o envelope e sorriu – Jodi Lerner e Marybeth Duffy!
- De novo?! – perguntou Alice, indignada, enquanto Jodi e Mary subiam ao palco e se posicionavam a um lado.
- Em segundo lugar... – continuou Bê, rindo – Alice Pieszecki e Tasha Willians!
- Somos nós?! – perguntou a loira, gritando.
Ela pulou nos braços da companheira, eufórica, e as duas subiram, parando ao lado de Jodi, saltitante.
- Parabéns meninas – falou Bê, satisfeita – E em terceiro... Tina Kennard e Bette Porter!
Os três casais estavam no palco, Bê e Ro entregaram os troféus e cumprimentaram as vencedoras.
- Pessoal – chamou Ro – A música vai continuar rolando, enquanto tiver alguém na pista de dança, mas antes de voltarmos a festa, eu queria expor um pouco essa garota que esta aqui, ao meu lado, que é minha parceira de música e de vida nos últimos 11 anos... Bê me perdoa, sei que prefere manter nossa vida particular só entre nós, mas esse é meu presente para você, nossos amigos e nossas famílias, juntos, para te desejar “feliz aniversário”... a final não é todo dia que se faz 21 anos, e ontem, quando esta festa começou, foi o SEU dia...
Carmen colocou uma batida e Ro começou a cantar parabéns em um ritmo diferente, seguido deles, todos se tornaram um coro, fazendo a menina se emocionar.
- Bette... – chamou Mary, parando ao lado da mulher, que a olhou – Antes de você saber da existência dela, a Bê já era minha filha, eu não daria cerveja a ela, se ela não tivesse idade para beber.
- Desculpa...
- Relaxa, hoje é o dia dela, não se culpe tanto, não precisa...
Quando a cantoria terminou, Bê secou uma lágrima e empurrou Ro, que a puxou para um abraço, lhe dando um beijo no rosto.
- Ro... lembra que moramos juntos e eu vou te sufocar a noite, né? – perguntou a garota, rindo.
- Vou trancar a porta do quarto, mas obrigado pelo aviso... – respondeu ele, sem soltá-la.
- Bom, pessoal... Primeiro, obrigada por esse carinho, a 6 anos, muitos de vocês, vem nos apoiando, assistindo nossos vídeos e acompanhando um pouco de nossas vidas... E hoje eu refleti muito, pensei e decidi que vocês merecem saber quem são esses dois jovens que vocês tratam com tanto respeito. Para marcar isso, eu queria chamar de volta ao palco, duas mulheres que, sem elas, nenhum de nós dois, estaria aqui hoje... por favor... – ela falou em língua de sinais, antes de falar ao microfone – Jodi Lerner e Marina Ferrer, vocês poderiam subir ao palco?
As duas foram, confusas, e Ro olhou para Bê, dizendo “obrigado”, só movimentando os lábios. Jodi e Marina se posicionaram ao lado de Bê e Ro, respectivamente, e Bê entregou o microfone para Sunset, que a olhou com carinho.
- Eu te ajudo... – falou ela, para que Bê pudesse falar em sinais e ao microfone ao mesmo tempo.
“- Vocês nos conhecem apenas como BL e RF – continuou a menina – Hoje eu quero me apresentar formalmente a vocês, eu me chamo Bette Lerner, e sou filha desta artista incrível, aqui ao meu lado...”
- E eu me chamo Roget Ferrer – seguiu Ro, abraçando a mãe – E sou filho deste espetáculo de mulher... Decidimos aproveitar essa noite, aqui na casa de Kit Porter e Helena Peabody, que nos acolheram com tanto carinho, para anunciar que B & R finalmente encontraram o seu lugar, e é aqui, em Los Angeles, com nossas famílias e amigos...
“- O que significa – continuou Bê, sorrindo, e seus olhos encontraram os de Carmen – Que ficaremos aqui, eu, perto da minha mãe, minha mãe de coração a Tenente Duffy, que tem sido um anjo na vida da mulher que mais amo nesse mundo, e com a minha namorada, a mulher que a 3 anos eu tive a sorte de conhecer, Carmen de La Pica Morales, a DJ que nos ajudou essa noite... É por elas...
- E por Luna Peabody, a linda garota que dançou comigo, que não por acaso também é minha namorada, sim, eu vi os olhares para ela, desistam... – seguiu Ro.
“- Que decidimos ficar...” – concluíram os 2, em uníssono.
Houve uma explosão de aplausos e Jodi abraçou a filha com força, emocionada. Marina abraçou o filho e deu um beijo em sua cabeça. Sunset limpou uma lágrima discretamente e respirou fundo.
- Los Angeles tem sorte de receber vocês e a Hit sempre estará de portas abertas para os dois... – falou a apresentadora - Agora, Carmen, por favor, sobre a música que eu só quero dançar...
Ela fez um sinal de positivo com o polegar, e subiu a música, enquanto Bê e Ro desciam do palco abraçados em suas mães, acompanhados por Sunset, que sumiu rapidamente entre as pessoas. Elas caminharam até o restante do grupo, reunido, e Bê abraçou Mary, parando em frente a Bette, todos os olhares se voltaram para as duas. Bê estendeu a mão, para apertar a da mulher.
- Estamos em paz? – perguntou a garota, soltando a policial.
- Estamos – sorriu Bette, apertando a mão da menina, que a puxou e a abraçou.
“- Você fez um ótimo trabalho com ela” – falou Tina, fazendo sinais para Jodi, que sorriu, abraçando Mary.
“- Fiz mesmo, não é?” – concordou a artista, sorrindo.
- Bette... – falou a garota, soltando a mão da mulher – Você não tem obrigação nenhuma comigo, mas se quiser, podemos ser amigas, gosto de arte, vai ser um prazer, conhecer melhor seu trabalho...
- Você... – tentou Bette, desconfortável.
- É, eu notei o que sentiu... E vi o seu olhar quando bebi a cerveja na abertura da festa... Olha Sra Porter, eu já tenho mãe, duas, então não tente bancar minha mãe, a senhora não é...
- Boa noite pessoal... – cumprimentou Carmen, se aproximando, e todos os olhares se voltaram para ela.
- Que surpresa eim! – falou Alice, abraçando a DJ – você sumiu por 20 anos... e agora está aqui, ainda incrivelmente jovem, parece que parou no tempo, e namorando uma menina com idade para ser sua filha...
- Alice, deixa de ser enxerida, não é da sua conta... – pediu Tasha, constrangida.
- Só estou curiosa... – defendeu-se ela, e deu para sentir a maldade em sua voz.
- Tá tudo bem, - falou Carmen, cruzando os braços e olhando feroz para a loira - estou acostumada com o jeito de Alice, e já sabia que esse tipo de comentário seria rotina, afinal o que uma mulher adulta, vai querer com uma “criança”, não é?
- Nos conhecemos e aos poucos nos apaixonamos – respondeu Bê, parando entre Alice e Carmen, olhando nos olhos da jornalista – tocamos algumas vezes em parceria, em Londres, e não nos afastamos mais desde então... Levei um bom tempo para saber a idade dela, como pode ver, Alice, você parece mais ter idade para ser mãe dela, do que ela minha. Além do mais, quando gostamos de alguém, a idade não importa, até onde sei sobre você, foi pra cama com a mãe de Molly Kroll...
- Sabe sobre minha vida... – falou Alice desconfortável.
- Óbvio que sei.
- São 20 anos de diferença... – retrucou Shane, incomodada, e Bê deu um passo na direção dela, séria, mas Carmen a segurou pela cintura, obrigando-a a parar.
- Mas ela é muito mais mulher do que você era aos 23 anos – respondeu Carmen – quando fez Helena gastar uma fortuna naquele casamento, para me abandonar no altar para se drogar e ir transar com alguma vagabunda.
- Er... Carmen, Bê... – chamou Mary, e Jodi tocou o braço da filha, fazendo-a lhe olhar – Já que recebemos essa notícia maravilhosa, de que você vai ficar, é nossa vez de dar uma notícia...
“- E esse é o momento ideal para isso... – falou Jodi, e Mary foi traduzindo, falando para os demais – Estamos todas aqui reunidas, e apesar do tempo que estamos afastadas, para mim, somos como uma grande família, que briga, se fasta, implica, mas que no fundo, se ama muito... Todas aqui são importantes para mim...”
“- Mãe – falou Bê – Fala logo...”
- O que a Jodi ta se enrolando para dizer – falou Mary – É que nós duas compramos uma casa maior, bem maior na verdade, e queremos te convidar para morar conosco, Bê... E eu queria aproveitar e somar dois pedidos a este convite...
- Que pedidos? – perguntou Bê.
“- Não lembro de termos combinado de fazer um pedido a ela...”- falou Jodi, confusa.
- Esse é por minha conta... – riu Mary, respirando fundo – Er... Bê, eu queria pedir a mão de sua mãe, em casamento, a você...
“- O quê?!” – perguntou Jodi, surpresa.
- Vocês já eram uma família quando eu cheguei na vida das duas, e eu tenho absoluta certeza de que quero passar o resto da minha vida, perto de vocês... O que me diz?
- Que a minha benção você já tem, agora é com ela...
“- O que está fazendo?” – perguntou a artista, preocupada.
“- Jodi... – falou Mary, tirando uma caixinha do bolso do casaco e abrindo na frente dela – Quer casar comigo?”
“- Eu e você? Casar?”
“- Já vivemos juntas, nos damos bem, eu te amo muito e quero construir uma família com você...”
“- Eu aceito... sim, sim, sim!”
Todas aplaudiram e Mary colocou a aliança na mão de Jodi, beijando-a. As mulheres parabenizaram as duas e Mary se aproximou de Bê, novamente os olhares se voltaram para elas.
- Agora, o segundo pedido que eu queria fazer... – falou a Tenente, respirando fundo novamente – Eu sei que você já é maior de idade, e que não precisa, mas você me faria a mulher mais feliz do mundo se me aceitasse como sua mãe...
- Não tenho certeza se entendi... – falou a menina, observando-a.
- Eu quero te adotar... Quero te pedir para ser minha filha legalmente... Quero te dar o meu nome, que tenha todos os direitos como minha filha... sei que é meio tarde para isso, mas...
- Eu aceito – interrompeu a menina, emocionada.
- S-Sério? – perguntou a mulher, surpresa.
- É... mãe... é sério... – confirmou Bê, se aproximando de Mary e abraçando-a, limpando as lágrimas na manga da blusa.
- Obrigada... – falou a policial, baixinho, sem soltá-la, também chorando.
- Louise – chamou Helena, olhando para a bartender – Bebida liberada o resto da festa para todas essas lindas mulheres... por conta da casa.
- Vamos fazer um brinde – propôs Rachel.
Mary soltou a garota, e retirou uma corrente do pescoço, uma medalha militar, e colocou no pescoço de Bê. Algumas pegaram cerveja, outras coquetéis, e ergueram os copos e garrafas.
- A Bê e Ro, nossos jovens de ouro – falou Helena – Bê, é uma honra para nós, ter você aqui, principalmente neste dia tão especial... E acho que falo por mim e pela Kit, quando digo que faremos questão de ter você aqui, e no The Planet, mas com um pagamento justo, ao invés de café e torta...
- Eu adoro o café e a torta do The Planet... – respondeu Bê, rindo – Obrigada por terem nos recebido tão bem...
Todos ergueram suas bebidas e brindaram. Kit fez o brinde com suco, pois não ingeria bebida alcoólica.
- O resto da festa, Sunset vai cuidar da música – avisou ela, sorrindo – aproveite o resto da festa com sua namorada muito gata...
- Obrigada, Kit – riu Carmen, sem jeito.
- Bem-vinda de volta – falou Bette.
- É bom rever vocês... e acho que voltaremos a nos esbarrar bastante...
- Eu sabia que a Bê gostava de alguém – comentou Helena, observando as duas – É uma garota bonita, interessante, sempre tem mulheres e homens ao redor, mas nunca olhou para ninguém, era óbvio que tinha alguém nesse coração...
- Só eu sabia do envolvimento das duas – comentou Ro, abraçado em Luna – Foram discretas ao extremo nesses anos, nunca foram vistas juntas, mas nunca se afastavam.
- Eu jurava que vocês dois eram um casal... – comentou Tina, sorrindo.
“- Descobri que Bê gostava de garotas quando ela tinha 10 anos, e disse que nunca iria namorar porque garotos eram nojentos... – contou Jodi, rindo – mas ficava sem jeito perto de meninas que achava bonita.”
- Éramos os estranhos da escola – contou Ro – Eu gostava de dança, de balét, nos chamavam de Frocio e a ela de Machio Straniera...
- O Fresco e a Machona Estrangeira... – traduziu Bê – Unidos pela exclusão. Não nos separamos desde aquela época, somos irmãos...
- Vai ser estranho, não morar com você... – comentou ele, olhando para ela – Dividimos o apartamento até quando estudávamos na Academia de Belas Artes... Tivemos que alugar um apartamento no campus, como se fossemos um casal, homens e mulheres dividindo dormitórios, não são bem vistos...
“- Esquecemos de contar para eles...” – lembrou Jodi, olhando para Mary.
- Ah, sim! – concordou a tenente – Quando convidamos Bê para morar conosco, esquecemos de dizer que o convite se estende a você, Ro... Compramos uma casa com “Casa da Piscina”, tem 3 quartos, escolhemos ela para que vocês tivessem um canto só de vocês...
“- Nunca faríamos algo para separar vocês dois...” – completou Jodi.
- Vai me querer como colega de quarto na sua nova casa? – perguntou ele, olhando para Bê.
- Acho que não, você é muito bagunceiro – respondeu ela, rindo e puxando Carmen para perto, fazendo com que a mulher lhe abraçasse.
- Vamos embora – avisou Shane, visivelmente desconfortável.
- Pode ir – respondeu Molly, entendendo o desconforto dela e lhe olhando torto – Eu vou ficar aqui com as meninas...
Shane terminou o conteúdo de seu copo e o largou no balcão, saindo sem falar com ninguém.
- Não deveríamos ir atrás dela? – perguntou Alice, olhando para as amigas.
- Não – respondeu Molly, séria – Shane precisa resolver questões com ela mesma. Ela viu a Carmen e lembrou o que fez com ela.
- Sinto muito, eu... – começou Carmen.
- A culpa ajuda a Shane a pensar, ta tudo bem, e você foi a vítima, não tem que se desculpar...
- Vocês estão juntas? – perguntou Carmen.
- Casadas a 15 anos... – confirmou Molly – E temos um casal de filhos...
- Huau, Shane casada e com filhos, é uma evolução e tanto, parabéns...
- Você está exatamente como era a 20 anos atrás, você é que esta de parabéns...
- Obrigada... Er... Bê, vamos dançar?
- Não precisa pedir duas vezes – respondeu a menina, largando a cerveja no balcão e acompanhando Carmen até a pista de dança.
- Isso tá muito errado... – comentou Alice, observando as duas – Carmen é muito mais velha que ela... Bê deveria namorar alguém da sua idade...
- Alice, como a Bê lembrou, você foi para a cama com a minha mãe, quando ela era casada com o meu pai, não tem muita moral para falar nada – respondeu Molly, observando o casal – Além do mais, elas ficam bonitas juntas...
- Alice, vamos dançar, e para de cuidar da vida alheia – chamou Tasha, puxando-a pela mão para a pista de dança.
“- Parabéns pelo casamento – falou Bette, se aproximando de Jodi – E parabéns pela filha, a criou muito bem...”
“- Eu via você com a Angélica, tive um ótimo exemplo... Sabe... É estranho, mas as vezes acho a Bê, muito parecida com você...”
“- E isso, é ruim?”
“- Eu gosto – admitiu a artista – Ela é muito forte, sabe o que quer e o que fazer para conseguir... Ela é a minha vida... e você me ensinou a amar alguém assim...”
- Jodi... – chamou Mary – Vamos dançar?
“- Bette, amigas?” – perguntou a artista, estendendo a mão para a mulher.
“- Amigas...” – respondeu a curadora de arte, apertando a mão de Jodi.
- Vamos embora? – perguntou Tina, olhando para a esposa – Estou muito cansada...
- Vamos – concordou Bette, dando um beijo rápido nela – Foi uma noite muito longa... Onde está Angélica?
- Largamos ela em casa depois – ofereceu Ro – A Bê larga, na verdade, eu to de moto...
- Não queremos incomodar... – falou a morena.
- Não é incomodo, Angélica deve estar se divertindo, fique tranquila, ela estará em boas mãos... Bê fazia bico de piloto de corrida, para tirar um extra, na Itália... Competições amadoras, nunca perdeu uma que participou...
- Tem algo que ela não faça? – perguntou Tina, rindo.
- Ela cozinha muito mal – contou Ro, rindo.
- Obrigada... – agradeceu Bette.
- Almoça, com nós amanhã? – perguntou o garoto, olhando-a – Sei lá, um almoço para reunir duas gerações...
- É uma ótima ideia – concordou Rachel – No The Planet?
- Contem conosco – confirmou Bette.
- 13 horas? – perguntou Ro.
- Estaremos lá... – informou Tina.
- Er... eu tava pensando... tudo bem se a Angélica não for para casa? Acho que a Bê vai querer fazer “o ritual”, mas ela estará segura igual... eu juro...
- Pode confiar neles... – confirmou Helena – Parecem doidos, mas são muito ajuizados.
- Tudo bem, se cuidem, qualquer coisa, me liguem... – se despediu Bette.
Aos poucos, as pessoas foram indo embora e a boate se esvaziando. Ro estava deitado na sala vip, a cabeça no colo de Luna, adormecido. A menina mexia no celular, distraída, quando Bê entrou, puxando Carmen pela mão, e se escorou na porta.
- Lu, acorda a bela adormecida – falou ela – Temos um ritual para fazer...
- A Angélica vai junto, tá? – avisou Luna, acordando o garoto – O Ro se ofereceu para levá-la para casa, ou para o ritual, se você concordasse...
- É claro que ela concorda – resmungou ele, sentando e passando a mão no rosto.
- Tá bem para pilotar? – perguntou Bê, observando-o.
- To ótimo, e você?
- A cerveja do brinde foi a última, to sim...
- Vamos almoçar com nossas mães e as amigas delas... – avisou ele, levantando e se espreguiçando – Encontro de gerações...
- Isso tem cara de ter sido ideia sua – falou a garota, entregando os capacetes e a chave da moto para ele – Eu concordo... vai almoçar conosco, né Carmen?
- Se esta me convidando, eu vou...
- Ótimo, vamos... – falou Bê, saindo a frente.
Angélica conversava e ria com uma garota asiática de cabelos vermelhos, mas se afastaram quando o grupo se aproximou. Só haviam os funcionários limpando o lugar, nem Helena e Kit estavam mais.
- Er... Bê, esta é Yumi, uma nova amiga – apresentou Angélica, sem jeito – Yumi, essa é a Bê, uma nova amiga também...
- Quase irmãs – falou Bê, apertando a mão da menina – prazer...
- Prazer... eu... sou muito fã de vocês dois, decidi ser musicista por causa dos dois...
- É bom saber que somos capazes de ser boa influência também – comentou Ro, apertando a mão da garota.
- Angie... – falou Bê – Eu vi vocês duas se beijando, se escondem bem, mas sou boa observadora, e nos últimos 3 anos fiquei especialista em achar onde me esconder para não ser vista... Tá tudo bem... nós vamos dar uma volta, se quiser convidar a Yumi para ir com a gente...
- Você quer ir? – perguntou a menina.
- É, eu quero – sorriu a garota.
- Então vamos – chamou Bê, seguindo para a rua com o grupo.
- A cabana? – perguntou Ro, colocando o capacete e subindo na moto com Luna em sua garupa.
- A cabana – confirmou Bê, abrindo a porta do carona ao lado do motorista, para Carmen, e voltando a fechá-la depois que ela entrou – Entrem meninas.
Angélica e Yumi sentaram atrás e Bê seguiu Ro para a estrada. Carmen se ajeitou no banco, e apoiou o braço no banco de Bê, olhando para as duas atrás.
- Não acredito que voltei a te reencontrar... – falou ela – Não lembra de mim, né?
- Vi umas fotos e vídeos onde você aparece... Sabe que olhando para vocês, todas vocês, parece que ninguém envelheceu, pararam no tempo...
- Realmente estão todas muito bonitas... – concordou Carmen.
- Minhas mães sentiam muita falta de Los Angeles... – admitiu Angie - Eu não gostei no inicio, de vir, mas agora... me acostumei com a ideia...
- Senti falta de todas... – comentou a morena - mas Shane era a amiga, eu era apenas a namorada da amiga delas. São um grupo muito unido, como uma família...
- Pois é, e agora, estão todas reunidas novamente, de volta a cidade, 20 anos depois da morte de Jenny... – comentou Angie.
- O mais bizarro disso tudo, é que depois de ter sido sua babá várias vezes, eu agora estou namorando sua quase irmã... – riu Carmen, colocando a mão no pescoço de Bê, e lhe fazendo carinho, a menina sorriu.
- Como funciona esse lance de quase irmã? – perguntou Yumi, curiosa, pegando a mão de Angélica, discretamente.
- Minha mãe, Jodi, e a mãe da Angie, Bette, estavam namorando quando minha mãe engravidou... eu seria uma surpresa e um presente de aniversário para a Bette, que queria tanto mais um filho... – contou Bê, sem tirar os olhos da estrada.
- Quase irmãs... – riu Angie, sentando mais próxima de Yumi.
- Mas o que aconteceu? – perguntou Carmen, olhando para Bê.
- Bette transou com Tina, traindo minha mãe – respondeu Bê.
- Sua outra mãe? – perguntou Yumi, olhando para Angélica.
- Exato, eu tinha uns 3 anos na época – respondeu ela – A história é meio louca... minhas mães viviam juntas a 8 anos, até que minha mãe Bette, traiu minha outra mãe, Tina. Eu nasci, as duas voltaram, e então Mama T, trocou Mama B, por um homem...
- Aí, Bette conheceu minha mãe – continuou Bê – Elas se envolveram, se apaixonaram, Tina terminou com o cara, e então aconteceu, elas voltaram a se reaproximar, Bette traiu minha mãe, que terminou e decidiu não contar que estava grávida, ela não queria que Bette se sentisse obrigada a ter alguma responsabilidade sobre ela, ou o bebê, no caso, eu...
- Minhas mães voltaram a ficar juntas... – completou Angélica.
- E a minha saiu primeiro da cidade, e depois do país – finalizou Bê.
- Só eu que acho o mundo lésbico muito bizarro? – riu Yumi.
- A mãe das duas foram no meu “quase casamento” – contou Carmen.
- E agora você namora a filha delas? – perguntou a garota.
- Ela pega rápido, gostei – riu Bê.
- Obrigada – falou Yumi, rindo – Que horas são?
- Agora... 4 horas... – respondeu Bê – Não temos muito tempo...
- Para quê? – perguntou Carmen.
- Para chegar... – respondeu ela, mexendo no painel do carro – garotas, vamos apreciar essa linda madrugada...
O teto do veículo recolheu para a parte de trás, e o céu se revelou na madrugada com um mar de estrelas para deixar qualquer um encantado.
- Onde está nos levando? – perguntou Carmen, fechando os olhos e sorrindo ao sentir o cheiro da madrugada fria.
- Ao meu pedaço do paraíso na Califórnia... – respondeu a garota, satisfeita com a felicidade da morena.
Yumi puxou Angélica para que pudesse por o braço por cima do ombro dela, e a garota apoiou a cabeça em seu ombro, fechando os olhos.
Levou mais 30 minutos até que chegassem a uma praia, deserta até onde a vista alcançava, exceto por uma cabana escondida entre as dunas. Ro estava escorado na moto, abraçado em Luna. As quatro desceram do carro e Bê pegou o violão do porta-malas, pegando Carmen pela mão e seguindo para a escada ao lado da casa, que dava direto na praia. Os demais as seguiram.
- Pronta? – perguntou Ro, quando ela largou o violão na varanda da casa e tirou o casaco.
- Para quê? – perguntou Carmen, confusa.
- Temos um ritual – explicou Bê, tirando os tênis, enquanto Ro fazia o mesmo – Quando decidimos mudar nossas vidas, fazemos o “Ritual do Recomeço”, como um marco de libertação, começando uma nova fase, livres do passado...
- Só os dois fazem o ritual? – perguntou Carmen, rindo.
- Nós e todos que quiserem se unir a nós neste processo de libertação... – respondeu Bê, tirando a blusa.
- Vocês vão... – perguntou Yumi.
- Sim, vocês vem? – perguntou Ro, tirando a blusa.
- To dentro – respondeu Carmen, tirando o casaco e depois a blusa, ficando só de sutiã.
- Eu também... – respondeu Luna, fazendo o mesmo.
Angélica e Yumi se olharam por uns segundos, e então imitaram os demais. Em menos de 5 minutos estavam todos de roupa íntima, e Bê correu em direção ao mar.
- Deve tá uns 5 ºc agora... – falou Angélica, tremendo de frio.
- Essa é a moral – riu Ro, correndo para a água também.
As três criaram coragem e fizeram o mesmo. Bê mergulhava, sem se importar com o frio cortante, as ondas lhe faziam perder o equilíbrio. Ela ria, satisfeita, apesar de seu corpo inteiro tremer com o frio. Carmen foi até ela, quando a menina voltou de um mergulho, e a puxou, colando seus corpos. O sol começava a nascer, e Bê sorriu, colocando os braços ao redor do corpo da morena.
- Chegamos a tempo... – sorriu Bê, Carmen olhava em seus olhos, com um leve sorriso, mordendo o lábio inferior.
- Esta mesmo disposta a enfrentar o que nos espera? – perguntou a morena – As pessoas tendem a demorar a aceitar casais como nós... Duas mulheres e com grande diferença de idade...
- Isso é problema deles... – respondeu Bê – Por você, eu enfrento o que vier... Foram 3 anos para assumir algo que estava na cara...
As duas começaram a se beijar e esqueceram onde estavam até que Ro, de longe, assoviou e fez sinal para que saíssem, ele estava diante de uma fogueira acesa, próximo a casa. Quando as duas saíram da água tremendo muito, o garoto entregou um roupão preto a cada uma, e voltou para perto da namorada. Havia panos ao redor da fogueira, além de algumas cadeiras, mas ninguém estava sentado nelas.
- Cerveja... – ofereceu Luna, e cada um pegou uma.
- Acho que isso significa que estamos juntos nessa – falou Bê, abraçada em Carmen, olhando o grupo – Agora Los Angeles é nossa casa, depois de anos sem parada... é aqui que estão as pessoas que amamos e que queremos por perto... me sinto pronta para criar raízes...
- Um brinde ao amor... – falou Ro, erguendo a garrafa.
- Um brinde – responderam as meninas.
Angélica não estava com uma cara boa, e se levantou, caminhando até a varanda da casa, olhando para o nascer do sol, que agora já iluminava a praia inteira com seu alaranjado. Yumi levantou para ir atrás dela, mas Bê fez um sinal para que ela sentasse novamente, e a garota obedeceu.
- Eu vou – falou Bê, levantando e indo até Angélica, fora do campo de audição do grupo – Posso ficar um pouco aqui com você?
- Claro... er... obrigada por me deixar vir com vocês, e fazer parte disso tudo...
- Er... Angélica...
- Me chama só de Angie... – interrompeu ela – Prefiro que me chame assim...
- Sem problemas, Angie – corrigiu Bê – Eu sei que mal nos conhecemos, mas...
- Posso confessar algo?
- Claro, diga... – confirmou Bê, observando-a.
- Não consigo tirar essa história de “quase irmãs” da cabeça, desde que Mama T, me contou quem você era... Eu sempre quis ter uma irmã, e o Mark é ótimo, mas...
- Mas é diferente... – respondeu a garota, compreendendo – Eu sei de você desde os meus 8 anos, sempre quis uma irmã também, e o Ro é um cara fantástico, usava até roupa de princesa para me acompanhar em peças da escola, mas eu sei que é diferente... Bom, você acabou de participar do ritual comigo, acho que podemos aproveitar essa fase zerada, que começa hoje, para... sei lá, talvez... sermos irmãs, como era para ter sido...
- Quer mesmo ser minha irmã? – perguntou a garota, olhando para Bê.
- É, eu quero... – confirmou ela, olhando nos olhos de Angie, e colocando a mão em seu braço – Agora, para isso dar certo, precisa ser sincera comigo, ok?
- Claro...
- Bette e Tina, não sabem que você sente atração por mulheres, não é?
- O que te faz pensar assim?
- Você fica visivelmente desconfortável com demonstrações de afeto na frente das pessoas...
- Não tenho certeza que elas entenderiam algo assim...
- Mas elas são lésbicas...
- Por isso mesmo – respondeu ela, bebendo um gole de cerveja e olhando para o mar – eu cresci vendo minhas mães brigarem para defender que a sexualidade delas, não iria interferir na nossa, e um dia eu percebi que sentia algo por garotas... aquilo fez eu me sentir uma traidora de todo o cuidado e carinho que me deram...
- Tem medo que culpem as duas por você gostar de mulher... – compreendeu Bê.
- Minhas mães, são minha vida, e tudo o que faço, todos os dias, é preocupada em deixar as duas orgulhosas... não posso permitir que ataquem elas...
- Mas você também não pode deixar de ser feliz... Elas lutaram pelo direito de ficarem juntas, você precisa honrar isso e lutar pela sua felicidade também...
- Eu... ainda não sei o que fazer, e não estou pronta para tomar essa decisão...
- Eu te apoio no que decidir, mas posso dizer algo?
- Claro... – falou ela, olhando para Bê.
- Estamos a aproximadamente 160 km em qualquer direção, de qualquer cidade ou comunidade. Aqui, não precisa se esconder... o que acontece em Paradise, fica em Paradise...
- É esse o nome que deu a esse lugar?
- Esse e os outros que eu e o Ro temos, espalhados por onde passamos... Compramos lugares como esses, para que possamos ter dias de paz, isso ajuda a compor... Agora esse lugar também é seu...
Angélica abraçou Bê o mais forte que conseguiu, fechando os olhos. A menina retribuiu o abraço.
- Muito obrigada, irmã... – falou ela, soltando-a e sorrindo – de verdade...
- Vamos, tem duas mulheres lindas nos esperando, e não é justo perder esse amanhecer lindo, ficando longe delas...
Bê abraçou a menina e as duas foram até o grupo novamente, que assava marshmellow’s na fogueira. Angélica sentou ao lado de Yumi e a puxou, beijando-a, os demais riram e aplaudiram. Carmen se ajeitou e quando Bê sentou, escorada em uma pedra, ela sentou a sua frente, se escorando nela.
- Esse lugar é lindo... – comentou a morena, colocando um pedaço de marshmellow na boca de Bê, e comendo o outro – O que fez vocês comprarem essa casa?
Bê começou a fazer sinais para Ro, pedindo que não contasse e ameaçando matá-lo, mas ele ignorou e respondeu.
- Você. O que foi Bê?
- Eu? –perguntou a morena, confusa, olhando dele, para Bê – Como assim?
- Linguarudo – reclamou a garota.
- Bê? Por que compraram essa casa? Onde eu entro nisso?
- Se ela me achar maluca, e me dispensar, eu juro que acabo com sua raça, Roget Ferrer – ameaçou a garota.
- Bette, eu quero uma resposta, agora – exigiu Carmen, séria, olhando nos olhos da garota – que história é essa?
- Lembra a primeira vez que nos vimos, em Westlake Village? – perguntou Bê, respirando fundo.
- Eu estava tocando no Los Agaves Mexican, e vocês dois começaram a dançar, esvaziaram a pista, todo mundo só queria ver vocês dois...
- Eu me distraí uns segundos, por que o Ro cochichou que a DJ, que era uma gata, tava nos olhando...
- E você acabou caindo por cima de uma mesa, porque ele também se distraiu...
- Lembra o que aconteceu depois?
- Eu larguei a mesa de som e corri para te ajudar... – lembrou ela.
- E depois? – perguntou Bê.
- Depois eu... – falou Carmen, tentando recordar de tudo, e então olhou para Ro, pedindo ajuda.
- Você riu... – respondeu ele, com carinho – Gargalhou na verdade... viu que ela estava bem e caiu na risada...
Carmen olhou para Bê, ainda perdida.
- Depois disso, eu só conseguia pensar no seu sorriso... – continuou Bê – Procurava ir aos lugares onde tocava, sabia que me achava muito criança, mas sem poder resistir ao seu sorriso. Eu estava aqui apenas para visitar minha mãe nas férias, precisava voltar para Florença em uma semana, então de certa forma, era um caso perdido, mas antes de ir, eu precisava sentir que deveria voltar, eu precisava de uma explicação concreta do por quê eu viria para Los Angeles com mais frequência...
- Eu não sabia... achei que tinha me achado apenas legal...
- Quando voltei, você estava com alguém... ai eu decidi comprar a casa aqui, mesmo que não pudesse mais te ver, aqui era o mais perto que eu poderia chegar da mulher que me tirou noites de sono...
- Viramos amigas, fui chamada em vários lugares depois que te conheci... – comentou Carmen - foi você?
- Eu te indicava... admito que exigia que você fosse a segunda DJ, assim, passamos a nos ver mais vezes...
- Mas eu estava namorando...
- Sim, e ela não te fazia feliz... eu me irritei quando vi ela ficando com outra, numa festa onde eu e você estávamos tocando, pedi para Ro te manter ocupada porque achei que você não merecia ver aquilo...
- Mas ele não conseguiu, e cheguei na hora que você tava tirando minha namorada de cima da outra mulher, que estava quase nua... e arrastando ela para fora da festa...
- Sempre fui péssimo em tentar distrair as pessoas, - se defendeu Ro - parece que tem um letreiro luminoso em mim dizendo que tem algo de errado...
- Eu te achava muito fofa – admitiu Carmen, olhando nos olhos de Bê – Mas quando vi você fazendo aquilo, e depois cuidando de mim o resto da noite, sem tentar nada... Caramba, você me levou para seu apartamento porque eu não tinha para onde ir, eu dormi na sua cama enquanto você ficou no sofá... eu só conseguia pensar que eu queria te beijar, te abraçar... E quando criei coragem para fazer isso, antes de ir embora, percebi que estava me apaixonando por você, depois de um ano de amizade... mas você...
- Eu me apaixonei por você 3 segundos depois de te ver, e esta casa foi o resultado dessa paixão...
- Mostra para ela... – falou Ro, enfiando um pedaço de marshmallow na boca.
- Mostrar o que?
- Vem comigo... – pediu Bê, levantando e puxando Carmen pela mão, levando-a para dentro da casa.
Elas entraram, Carmen olhando a casa, encantada. Era um lugar simples, mas extremamente bonito, e bem decorado.
- É difícil acreditar que você comprou esse lugar para ficar mais perto de mim... – comentou a morena, olhando ao redor.
- Imaginei que não iria acreditar... – respondeu a menina, abrindo a porta com o seu nome – Entra...
Ela esperou Carmen entrar no quarto, e voltou a fechar a porta, caminhando até uma escrivaninha trancada por um cadeado com senha.
- É muito lindo... – falou a DJ, olhando tudo enquanto andava pelo quarto – Você tem um banheiro com banheira?
- Ganhei uma aposta, fiquei com o melhor quarto. No Canadá, o melhor quarto é o dele...
- Eu poderia passar horas, só apreciando essa vista... – falou Carmen, sentando no sofá em frente a uma grande janela, e olhando para o mar e as dunas, que formavam um retrato extasiante, acompanhados do degrade de cores formado pelo amanhecer.
- Eu também... – comentou Bê, escorada na mesa, olhando para a mulher, que sorria.
- Como pretende me provar que isso tudo foi por minha causa?
- Com isso... – respondeu a menina, oferecendo um caderno um pouco amassado a ela, sentando no sofá a sua frente – Abre...
- Isso aqui, parecem... – falou Carmen, folheando o caderno – músicas...
- Escritas para você... olha as datas...
- Começam quando nos conhecemos... você fez um desenho meu? Por que não me contou isso?
- Por medo que me achasse maluca e não quisesse mais me ver...
- E por que me contou isso agora?
- Porque depois da minha mãe e do Ro, você é a pessoa mais importante da minha vida... Bom, é isso... já sabe como tudo começou...
- Bê... por 3 anos ficamos, e você sempre pareceu curtir o lance de “sem compromisso”, como se sentisse um carinho por mim, mas nada além disso... por quê?
- Porque tinham te machucado muito... eu ouvia suas histórias, e fiquei com medo de que, se eu contasse que estava apaixonada, você pensaria que eu faria o mesmo que as outras, e se afastaria... ter você como amiga, e depois como ficante, por quase 4 anos, era muito melhor do que simplesmente não ter você de forma nenhuma, mas você merecia saber a verdade, e se me acha maluca e quiser ir embora, eu vou respeitar...
Carmen levantou, largando o caderno na escrivaninha e parou na porta, segurando a maçaneta, pensando. Bê estava de costas para ela, e deitou no sofá, cobrindo o rosto. A DJ trancou a porta e caminhou até Bê, deitando em cima dela, e passando a mão em seu rosto, enquanto Bê abria os olhos devagar.
- Eu te amo, Bê Lerner... – sussurrou Carmen, sorrindo – eu teria que ser muito idiota para jogar 4 anos ao lado de uma mulher incrível como você, fora... Nos últimos 3 anos, eu fui devagar, por receio de te assustar, de te perder... agora que eu consegui o que eu queria, não vou aceitar perder isso por nada...
- Eu te amo, Carmen... – falou a garota, beijando-a.
- Você esta salgada... – riu a morena.
- Você também... – respondeu Bê, voltando a beijá-la.
Na praia, os outros dois casais conversavam sobre a mudança para Los Angeles, enquanto as duas aproveitavam a privacidade do quarto.
- Nenhum de vocês mora em Los Angeles então? – perguntou Yumi.
- Eu vivia em Nova York, até duas semanas atrás – contou Angélica – Mama B é dona de duas galerias de arte lá, e agora de outra aqui, e Mama T é executiva da Focus, nos mudamos porque Mama T assumiu todos os filmes da Focus, produzidos em Los Angeles...
- Eu vivia na Toscana – contou Luna – Depois me mudei para Florença, para estudar na Academia de Belas Artes. Minhas mães se conheceram em uma viagem de negócios que minha mãe Rachel, fez. Ficaram na ponte aérea, até que Helena se mudou para Itália. Eu fiquei morando com meus avós, quando as duas decidiram vir para cá. Me formei este ano em Balét Clássico, e agora estou aqui...
- E você, Ro... – perguntou Angélica – qual a sua história?
- Eu cuido da Bê... – respondeu ele, com simplicidade – Viajamos tocando e cantando em trabalhos particulares, eu organizo nossa agenda, mas ela diz se vamos ou não... as vezes ficamos mais tempo em um lugar, as vezes em outro... mas não temos casa, pouso fixo, apesar de sermos proprietários em conjunto de pelo menos 4 casas, uma em cada canto... nossos 4 Paradises.
- Vocês tem mais 3 lugares como esse? – perguntou Yumi.
- Sim... esse, um a 170km de Dawson, no Canadá, um no sul do Brasil, e o outro é um pequeno castelo afastado de tudo, no País de Gales.
- Você disse que cuida da Bê – falou Angélica – E que ela decide para onde vão, mas... e se você não concordar com a ideia dela?
- Ela decide, nós fazemos, sempre... quando não concordo, tento ver o ponto de vista dela e passar a concordar...
- Já pensou em se separarem? – perguntou Yumi – cada um seguir seus sonhos? Ou você passar a decidir o que farão, quem sabe... não parece algo legal, ela decidir sempre pelos dois...
- Eu nunca vou abandonar ela, devo minha vida aquela garota...
- Como assim? – perguntou Angélica.
- Eu era um garoto diferente – contou ele, mexendo com o espeto no fogo – magricelo, delicado, nunca fui bom em esportes... ao contrário dos outros garotos da minha idade. Uma vez, eu estava indo embora sozinho para casa, depois da aula, dançando na rua... distraído... quando um grupo de garotos mais velhos me cercou, e começaram a me bater... ela tinha entrado a menos de um mês na minha turma, eu nunca tinha sequer cumprimentado ela, e mesmo assim ela se meteu entre os braços e pernas que me batiam. Eles desistiram de mim e começaram a atacar ela, que era o meu oposto... um pouco rude, usava roupas largas e geralmente estava de boné, suja de tinta. Eu corri para pedir ajuda, e quando voltei com a polícia... ela estava muito machucada... tiveram que chamar a ambulância, ligaram para a minha mãe, e mandaram uma mensagem para a dela...
- Machucaram quanto? – perguntou Angélica.
- Ela entrou em coma... – respondeu ele – Uma menina que eu nunca sequer dei bom dia, apanhou no meu lugar, e quase morreu por isso... sabe, mesmo sabendo que era para mim estar no lugar dela, Jodi, a mãe da Bê, não ficou brava comigo... me agradeceu por eu ter buscado ajuda. Eu fui vê-la todos os dias depois da aula, até que ela acordasse... cantava para ela, lia, recitava poesia...
- Quanto tempo ela ficou em coma? – perguntou Yumi.
- Um mês... e quando acordou, a primeira coisa que fez, foi perguntar para Jodi, se eu estava bem... ela quase morreu, mas estava preocupada comigo, um estranho... quando cheguei ao hospital, depois da aula, e me apresentei a ela, prometi cuidar dela o resto da minha vida, e é o que eu faço desde então...
- Ro entrou para a academia de artes marciais... – contou Luna, escorada no namorado – E desde então eles são inseparáveis... são irmãos, é a relação mais linda que já vi na vida...
- Brigamos, como qualquer irmão, mas nunca vou abandoná-la, tenho uma divida eterna com essa garota e com a mãe dela, que sempre me tratou como um filho...
- E vocês vão ficar por aqui então? – perguntou Yumi.
- Vamos... acho que é hora de criar raízes... – respondeu ele, sorrindo – Podemos contar com vocês?
- Com certeza – sorriu Angélica.
- Participamos do ritual – sorriu Yumi – estamos todos juntos nessa...
Eles ficaram mais um tempo na praia, e então entraram para tomar banho e descansar. As 11h, Bê bateu na porta dos quartos e voltou para a cozinha, onde Carmen terminava de servir 6 xícaras de café recém passado, e pegava uma, entregando outra para Bê.
- Esse lugar trás uma paz... – falou a morena, se aproximando de Bê e beijando-a.
- Exatamente como o seu sorriso. Entendeu porque escolhi este lugar?
- E quando podemos vir para cá?
- Sempre que você quiser... é só pedir, e nós viremos...
- O que pretende com isso?
- Não tá na cara? Te deixar tão mimada, que ninguém mais vai aguentar você, e será obrigada a ficar comigo para sempre...
- Idiota... – riu ela, dando mais um beijo em Bê.
- Vocês não cansam? – perguntou Ro, saindo do quarto e vendo as duas.
- Não deem bola – respondeu Luna, saindo do quarto no instante que Angélica e Yumi também saíam do quarto onde estavam – Ele tá com inveja, porque fica completamente inútil depois de 40 minutos...
- Eu definitivamente preciso arranjar amigos homens – resmungou Ro, pegando uma xícara de café – viver entre lésbicas, está destruindo minha autoestima.
- Você vai sobreviver – riu Bê, abraçada na namorada – Angie, gostou?
- Amei... esse lugar é realmente um paraíso...
- Esse lugar estará sempre de portas abertas para você, o quarto que ficou, é seu agora... – falou Bê – Eu e Angie resolvemos assumir esse lance de “irmãs”
- Bem-vinda – sorriu Ro – Meninas, precisamos ir...
- Vamos – concordou Bê, pegando a xícara vazia de Carmen e lavando, largando no escorredor de louça.
Os demais fizeram o mesmo, e Ro saiu por último, trancando a porta da casa. Na volta, Bê deixou Yumi em casa e seguiram direto para o The Planet. Quando chegaram, Bette, Tina, Helena, Alice, Tasha, Rachel, Molly, Shane, Mary, Jodi, Kit e até Marina, estavam ao redor de uma mesa, com seus respectivos filhos, conversando animadas.
- Oi mãe – falou Angie, dando um beijo em Tina e Bette, e dando um aceno geral para os demais da mesa.
Ela sentou ao lado do irmão, enquanto Luna, Bê e Roget fizeram o mesmo, dando um beijo em suas mães e um aceno para o restante. Carmen sentou no lugar indicado por Helena, sem jeito diante do grupo.
“- Os 4 estão com caras ótimas” – falou Jodi, quando a filha sentou ao lado de Carmen, sorrindo.
“- Estamos felizes de ficar – respondeu Ro, sentado a frente de Jodi – E felizes com os novos amigos que ganhamos...”
- Isso é de vocês... – falou Mary, entregando duas chaves para Bê – podem se mudar quando quiserem... tem saída por um corredor independente, mas imagino que as pessoas que mais veremos por lá, serão Carmen e Luna....
- Quais as regras? – perguntou Bê, observando a tenente.
- Só respeitem a lei, sou uma policial, preciso que minha filha seja uma mulher sem ficha criminal...
- Sou uma garota responsável, e na dúvida, Carmen fica de olho em mim...
- A quanto tempo vocês estão juntas? – perguntou Bette, com gentileza, quando os pratos chegaram.
- 3 anos... – respondeu Carmen, bebendo o suco de Bê – mas nos conhecemos a 4 anos.
- Bê era menor de idade, isso é crime... – respondeu Shane, com arrogância.
- Isso, vindo da pessoa que usava drogas em casa, soa muito hipócrita... – retrucou Bê, colocando o braço por trás de Carmen e se escorando na cadeira.
- Vocês tem uma diferença de idade muito grande... – comentou Alice, e Tasha lhe deu um beliscão – Ai...
- Até onde eu sei, Alice – respondeu Bê – você se envolveu com Phyllis Kroll, e ela é 35 anos mais velha que você, 18 anos de diferença a mais do que eu e Carmen, o que tira toda sua moral para nos julgar.
- Você mereceu essa – riu Tasha.
- 2 a zero para Bê – brindou Marina, rindo.
- Como sabe sobre nossas vidas? – perguntou Alice, séria.
- Pesquisei sobre todas – respondeu Bê, com simplicidade – Vim para Los Angeles sabendo quem era cada uma de vocês. A única coisa que perdi na busca, foi o fato de Shane ter deixado Carmen no altar...
- Minha mãe já namorou a atual namorada da BL? – perguntou Jenny, a filha de Shane – Isso é muito legal...
- Vou ver um lugar para alugar mais perto daqui – comentou Carmen, comendo – Assim posso vir ver vocês mais vezes...
“- Por que não mora com Bê e Ro?” – perguntou Jodi, e Carmen olhou de canto para Bê.
- Acho que seria muito cedo...
- Eu gostei da ideia – interrompeu Bê, e Carmen lhe olhou nos olhos – Não sei o tamanho da casa, mas...
- Tem 3 quartos – respondeu Mary – Será muito bem-vinda, Carmen.
- Também acho que seria legal – concordou Ro – Nos aceita como colegas de quarto?
- Tem certeza? – perguntou a morena, olhando nos olhos de Bê.
- Absoluta – sorriu Bê, beijando-a enquanto alguns fizeram careta – ta decidido, depois vamos buscar suas coisas e hoje mesmo nos mudamos.
- Vocês são muito lindas juntas – comentou Tina, sorrindo.
- Quando elas se olham – comentou Rachel, observando as duas – É como se não tivesse mais ninguém no mundo... Esse tipo de olhar é raro, Helena não me olha assim a anos...
- Helena te olha como quem diz: “Eu tenho a mulher da minha vida ao meu lado...” – comentou Bê – Sempre vi esse olhar em vocês, e torci muito para que minha mãe um dia tivesse isso... e agora ela tem, com a Mary...
“- Carmen – chamou Jodi, e a mulher a olhou – Obrigada...”
- Pelo quê?
“- Eu sei que a Bê decidiu ficar por sua causa, foi para ficar com você, e agora eu tenho a minha menina comigo... Devo isso a você...”
- Obrigada por nos aceitar...
- Kit... – chamou Bê – E Bette...
Bette a olhou surpresa, por ter lhe dirigido a palavra, e ela não foi a única com essa reação.
- Sim? – perguntou Bette.
- Estive pensando muito, e acho que você seria a pessoa certa para encontrar um artista em especial...
- Se eu puder ajudar... será um prazer...
- Procuro alguém para ilustrar 12 músicas do B & R, além da capa do CD...
- CD? – perguntou Ro, surpreso.
- Sim, o que vamos gravar com a participação especial da grande artista Kit Porter... Se ela concordar em nos dar essa honra...
- Isso é uma piada? – perguntou Ro, pasmo.
- Era o que você queria, não era? – perguntou Bê, com simplicidade, sem parar de comer.
- Era sim... – confirmou ele – É, ainda é meu sonho... mas o que deu em você?
- Vamos realizar esse sonho então... Kit, aceita?
- Claro! Aceito sim! – vibrou a mulher.
- Bette? – perguntou Bê.
- Posso fazer isso? - perguntou Angie.
- Pode... – sorriu Bê – Desculpa Bette, mas família tem prioridade...
- Como assim, “família”? – perguntou Alice.
- Posso contar? – perguntou Angie.
- Faça as honras – concordou Bê, sorrindo.
- Já que quase fomos irmãs, decidimos assumir essa relação... temos 21 anos para serem compensados, mas estou muito feliz com a oportunidade...
“- Isso foi ideia da Bê, não é?” – perguntou Jodi, sorrindo.
“- Sim – confirmou Angélica – Como sabia?”
“- Ela falava de você todos os dias, desde que descobriu sobre você, queria muito te conhecer... – contou Jodi – Quero que saiba, que nossa casa sempre estará aberta para você...”
“- Obrigada...” – agradeceu a menina, com carinho.
- Quero propor um brinde a Carmen – falou Ro, erguendo seu copo, e todos na mesa, com exceção de Shane e Alice, imitaram seu gesto – Obrigado por roubar o coração da Bê, e mostrar a ela que ter um lugar para chamar de seu, e uma família para chamar de sua, vale a pena... Pode me pedir resto da vida, o que quiser, que eu vou fazer...
- Sabe que não vou esquecer disso né? – riu a morena, sem jeito.
- Faço questão que não esqueça – sorriu ele.
Depois do almoço, Bê recebeu uma ligação e foi atender na rua, por causa do agito. As pessoas conversavam todas ao mesmo tempo, e Alice e Shane, que conversavam aos sussurros, aproveitaram quando Carmen foi ao banheiro, e a seguiram.
- Precisam de alguma coisa? – perguntou a morena, secando as mãos e observando as duas, séria.
- O que pensa que esta fazendo? – perguntou Shane, em tom de repreensão.
- Acho que não estou entendendo...
- Mas nós entendemos o seu jogo – retrucou Alice.
- Jogo? Que jogo? – perguntou Carmen, séria.
- Resolveu se envolver com a filha de uma amiga nossa, só para me atingir – respondeu Shane, irritada – Quer destruir minha felicidade, só para se vingar do que fiz com você... nunca imaginei que podia jogar tão sujo, Carmen...
- O quê?! – perguntou a DJ, chocada – Espera ai, deixa eu ver se estou entendendo bem, você acha que só estou com a Bê, para atingir você? Por que eu iria querer me aproveitar e destruir sua vida?
- Não precisa mais mentir – respondeu Alice – Já ta mais do que na cara, admite logo...
- Meu deus... quanta pretensão de vocês duas, achar que eu perderia meu tempo, só para me vingar de você Shane... Minha vida não gira, nem nunca girou ao redor de você, se toca!
- Essa garota tem idade para ser sua filha! – brigou Alice – O que você ta fazendo é muito baixo, até para você!
- Eu só queria saber em que momento eu virei a vilã desta história, porque até onde eu sei, EU fui abandonada no altar, EU fui humilhada na frente dos meus amigos e da minha família, enquanto você transava com outra mulher e se drogava! Você e nada, para mim, são a mesma coisa. Shane McCutcheon, eu tenho é pena da Molly, que já deve ter sido corna com Los Angeles inteira, e daquelas crianças que podem ser abandonadas a qualquer momento! Eles não sabem onde se meteram!
Shane ergueu a mão e deu um tapa forte na cara de Carmen, e Alice parou sem reação, cobrindo a boca com as mãos. Shane estava transtornada de ódio.
- Nunca... – bufou Shane – NUNCA MAIS FALE DA MINHA FAMILIA! SUA VAGABUNDA IMUNDA E PEDÓFILA DE MERDA! E se chegar perto dos meus filhos, EU TE MATO!
Bê abriu a porta com um soco, pegou Shane de surpresa pelo casaco e a arrastou para fora. Ro levantou num salto e correu para a calçada, junto com os outros, enquanto Bê empurrava Shane contra o asfalto.
- LEVANTA McCUTCHEON! – mandou Bê, furiosa, e a mulher obedeceu.
Assim que Shane parou em pé, ainda surpresa com o que estava acontecendo, Bê fechou o punho e deu um soco em seu nariz, fazendo-o sangrar. Tenente Duffy correu para segurá-la, mas não precisou, Bê estava recuando, respirando fundo.
- Bê... – falou a Policial, observando a menina.
- A próxima vez que tocar na Carmen,- bufou Bê - ou olhar para ela, eu juro que não vou te dar só um soco, Shane, eu vou acabar com você!
- O que esta acontecendo aqui? – perguntou Tina, se aproximando de Carmen, que cobria o lado direito do rosto, enquanto uma lágrima escorria de seus olhos.
- Os seus filhos, e sua esposa, eu não me importo de estarem perto de nós, mas você... – avisou Bê, seu olhar emanando raiva – Você... foi a primeira e última vez, que você atacou minha namorada, fui clara?!
- Sim – respondeu a mulher, levantando com a ajuda do filho – Molly, vamos para casa...
- Pode ir sozinha – respondeu Molly, séria – Aproveita e pega suas coisas, não quero ver você quando eu chegar...
A mulher caminhou até Carmen, e a guiou para dentro da cafeteria novamente. Alice ainda não falava, mas acompanhou Shane. Tasha se desculpou, e as seguiu.
- Você está bem? – perguntou Mary, colocando a mão no ombro de Bê, que ainda tremia de raiva.
- Desculpe por isso, não queria te causar problemas, mas...
- Ela atacou primeiro – falou Mary.
- Vou fazer um boletim de ocorrência contra você – avisou Shane, com raiva, enquanto Alice a puxava para o carro com a ajuda do filho.
- Faz isso – pediu Bê, olhando feroz para a mulher – Faz, que você tem muito mais a esconder que eu... Faz Shane, faz queixa contra mim, e vamos ver quem realmente vai perder... vou adorar ver isso...
- Cala a boca e entra no carro, Shane – falou Tasha, parando com a porta do carro aberta – Desculpe, Tenente...
“- Vamos entrar...” – chamou Jodi, puxando a filha pela mão.
Bê caminhou até o sofá onde Carmen estava sentada, rodeada pelas mulheres, com Molly ao seu lado, segurando uma sacola de gelo, enrolada em um pano, no seu rosto, onde havia um inchaço. Bette se aproximou de Bê e lhe entregou uma sacola de gelo também.
- Coloca na mão, para não inchar... – falou a mulher.
- Obrigada – agradeceu Bê, se agachando diante de Carmen, e se apoiando em suas pernas. Lágrimas ainda escorriam de seu rosto, e ela parecia muito constrangida. A menina tocou seu rosto com delicadeza – Me perdoa... você não merecia passar por isso... é tudo culpa minha...
- Vocês concordam com a Shane? – perguntou Carmen, olhando para as mulheres ao seu redor – Acham que só me envolvi com a Bê, para atacar e provocar vocês?
- Posso falar o que penso? – perguntou Bette, e Tina a olhou preocupada.
- Por favor... – pediu Carmen, e todos a olharam.
“- Quando olho para vocês duas... – respondeu Bette, também em sinais, para que Jodi lhe compreendesse – Não vejo duas mulheres, ou uma menina e uma mulher, vejo duas almas se unindo, duas pessoas que se completam e se somam, como se tivessem a vida toda esperado para encontrar uma a outra, então não, eu não concordo com o que Shane e Alice disseram. O que a Shane fez, não tem perdão para mim...
- Uma pergunta... – falou Kit, se aproximando com um chá e entregando para Carmen – Bê, por que arrastou Shane até a rua?
- Por respeito a vocês – respondeu Ro, sério, de braços cruzados ao lado da Tenente – Ela não ia iniciar uma briga dentro de um lugar que a recebeu tão bem desde que chegamos aqui...
- Carmen... – falou Molly, e a morena a olhou nos olhos – Me perdoa pelo comportamento da Shane... Ela esta agindo como uma criança, e tenho certeza que ninguém aqui duvida do que vocês duas tem, uma pela outra... teria que ser cego, para não ver o amor de vocês...
- Ela sempre foi imatura, ta tudo bem... – respondeu Carmen, constrangida - eu acho que vou para casa...
- Eu te levo – falou Bê, levantando e estendendo a mão para ela – “Mãe, te vejo na casa nova?”
“- Claro, vocês jantam com a gente?”
- Sim – respondeu Ro – adoro sua comida...
- Tchau pessoal, e obrigada... – agradeceu Carmen, entregando o pano com gelo e a xícara para Kit e saindo com Bê.
Elas ficaram em silêncio por quase meia hora, Bê olhava para Carmen de canto de olho, mas também não conseguia dizer nada. Se sentia culpada pela humilhação que a namorada havia passado. Carmen a olhou por alguns segundos, e então passou os dedos no machucado na mão de Bê, apoiada na marcha.
- Eu... – falou Bê, respirando fundo.
- Você defendeu minha honra, de novo... – falou a morena - Odeia brigas, e bateu em alguém por minha causa, outra vez...
- Carmen, sei que te convidei para morar comigo, fiz isso cedo e no meio de muitas pessoas, então se achar que não é hora...
- Você me pediu em namoro ontem...
- É, eu sei... – respondeu Bê, com uma careta.
- E hoje me convidou para morar com você... – continuou Carmen.
- Convidei...
- Isso é tão lésbico – riu a morena, entrelaçando os dedos com os de Bê e se mexendo no banco para beijar seu rosto – O convite ainda está de pé?
- S-sim... – respondeu a menina, sem jeito.
- Vai me fazer ficar no 3º quarto?
- Nunca...
- E você me ajuda a arrumar minhas coisas?
- Ajudo...
- Então não tem discussão, a partir de hoje, iremos morar juntas. Você acha que ainda consegue comer algo?
- Acho que sim, por quê?
- Minha mãe te adora, vai enlouquecer quando contarmos que oficializamos o que temos, e vai te obrigar a tomar café com ela...
Enquanto as duas riam, a caminho da casa dos pais de Carmen, Alice, Tasha e o filho de Shane, Eric, chegavam a casa de Alice, largando as coisas na sala.
- O que vocês estavam pensando, quando resolveram atacar a Carmen no banheiro?! – perguntou Tasha, irritada, observando as duas.
- Tá na cara que Carmen está usando a Bê... – respondeu Alice.
- Isso não é problema de vocês duas! – reagiu Tasha – Quem vocês pensam que são, para dizer se os sentimentos de duas pessoas, são ou não, verdadeiros?!
- Eu conheço a Carmen, ela... – tentou Shane.
- Você conhecia a Carmen, a 20 anos atrás! – interrompeu a mulher – Vocês duas seguiram uma mulher até o banheiro, e atacaram ela! Pior que isso, o banheiro de um café de respeito, das nossas amigas!
- Sabe o que senti quando vi as duas juntas?! – perguntou Shane, olhando nos olhos de Tasha.
- A única coisa que você deveria sentir, é vergonha! – respondeu a policial – Essa menina fez, aos 17 anos, o que você levou quase 10 anos para criar coragem de fazer... Ela respeitou e foi fiel ao que sentia.
- O que pode acontecer agora? – perguntou Alice, começando a se preocupar.
- Legalmente falando, Carmen pode dar queixa de vocês duas e do próprio The Planet, seria causa ganha para ela, não esqueçam que ela é nora da Tenente Duffy...
- Isso significa indenização? – perguntou Shane, preocupada, passando a mão no rosto.
- Isso significa uma indenização que vocês nunca conseguiriam pagar...
- E o que você acha que vai acontecer agora? – perguntou Alice.
- Acho difícil elas culparem o The Planet, todas que ficaram, parecem ter ficado ao lado delas...
- Mas Bê me bateu... – falou Shane – EU posso fazer queixa contra ela...
- Shane... – falou Tasha, respirando fundo – você deu um tapa na cara de uma mulher, depois de cercá-la no banheiro. A namorada dessa mulher, é filha de uma Tenente, e te levou para rua, cercada de testemunhas, e da mulher agredida, e te deu um soco... não houve premeditação, e sim uma defesa a um ataque sofrido... Você poderia entrar como vítima no tribunal, que igual sairia tendo que pagar, e com uma agressão em sua ficha.
- Basicamente, não tem nada que eu possa fazer? – perguntou a mulher.
- Vocês podiam pedir desculpas – sugeriu Eric.
- Desculpas? – perguntou Alice – Me desculpe, Eric, você é uma criança, mas adultos não pedem, e não aceitam desculpas...
- A Bê aceita... – respondeu o garoto – Ela acha que o primeiro passo para uma pessoa ser melhor, é reconhecer que errou, e pedir desculpas... Esqueceram que sou fã dela e sigo os dois a anos?
- Pode dar certo – ponderou Tasha – Só espero que toda essa confusão que vocês armaram, não me traga problemas...
- Como assim? – perguntou Shane.
- Segunda eu começo na delegacia que esta sob o comando da Tenente Duffy...
No café, as mulheres que ficaram, conversavam ao redor de uma mesa, enquanto tomavam café.
- Pelo menos a calmaria durou 20 anos... – comentou Helena – Nossas vidas eram cheias de altos e baixos, até a morte da Jenny, depois da confusão do caso, veio uma estranha calmaria, e agora voltamos a montanha russa...
- Vocês sabem me dizer o que pode ter estourado esse comportamento na Shane e na Alice? – perguntou Molly – estavam na vida delas quando Carmen apareceu...
- Carmen se envolveu com Shane, mas ela ficava com outras mulheres na frente de Carmen... – contou Tina.
- Então Carmen decidiu ficar com Jenny... – continuou Bette – Até que Shane percebeu que amava Carmen, o que fez elas voltarem a ficar juntas.
- Shane pediu Carmen em casamento – seguiu Helena – Levei todas para o Canadá e paguei casamento...
- Mas quando Carmen subiu ao altar – lembrou Tina – Alice foi até ela, dar um recado de Shane, que tinha fugido com o pai e uma grande quantia em dinheiro da Helena. Ela pediu que Alice dissesse: “Não posso fugir do que sou, desculpe.”
- O que Carmen fez depois disso? – perguntou Molly.
- Pegou suas coisas e voltou para a casa dos pais. Não tivemos mais notícias dela, exceto pela fita de despedida que mandou para Jenny, antes de nos mudarmos para Nova York... – concluiu Bette.
- Shane nunca mais ficou com nenhuma mulher que se parecesse com Carmen – comentou Helena – Acho que esperava nunca mais precisar encontrá-la.
- E agora a mulher que ela amou, voltou, e ainda por cima, feliz, com uma garota que tem a idade que ela tinha, quando a abandonou... – acrescentou Tina – O problema dela, é a culpa...
- Alice esta apoiando Shane, por que alguém precisa fazer isso... E talvez porque acha que ela esta certa... – falou Helena.
- Mas o que as duas fizeram é crime... – comentou Molly – O The Planet pode se prejudicar, elas agrediram o familiar de uma Tenente...
- Mary não vai registrar queixa – respondeu Rachel – Conversamos com ela, prometemos que Shane sairia sempre que Bê ou Carmen chegassem, mesma regra para Hit.
- Shane ficará furiosa... – suspirou Tina.
- Minha mãe pediu por isso – respondeu Jenny – agora terá que pagar o preço.
O restante do sábado e o domingo, foram calmos. Bê e Ro tinham poucas coisas, uma mochila e uma mala cada um, mas Carmen e Luna ajudaram os dois a deixar o lugar com cara de “Lar”. Na segunda, a tenente bateu na casa as 6h da manhã, e Bê atendeu, já pronta para sair.
- Vamos? – perguntou Mary, sorrindo.
- Me da só um minuto que vou pegar meu casaco e minha carteira, pode entrar...
- Fizeram um trabalho ótimo com esse lugar...
- Carmen e Luna são ótimas nisso, eu e Ro, só cumprimos ordens.
Ela entrou no quarto, tentando não fazer barulho, mas Carmen já estava acordada, o olhar triste. Ela pegou as coisas e sentou na beira da cama, passando a mão nos cabelos da namorada, que sorriu.
- Sabe que horas volta? – perguntou a morena.
- Antes do jantar... vou deixar meu carro, a chave esta ali na mesinha, e tem dinheiro para o combustível no porta-luvas, use para ir onde precisar...
- Divirtam-se...
- Qualquer coisa me liga... – falou a menina.
Bê deu um selinho nela e saiu fechando a porta. A tenente a levou até a base de treinamento da polícia, onde Tasha as esperava, fardada como policial.
- Bom dia, Tenente Duffy... – cumprimentou a mulher.
- Willians... Bem-vinda a equipe... Ouvi dizer que foi a melhor de sua turma, eu preciso de uma policial de confiança, cuidando as ruas para mim...
- Farei o meu melhor.
- Sei que fará. Hoje passarei o dia ocupada, mas podem me chamar se tiver algum imprevisto...
- Sim senhora.
- Vem Bê... – chamou a mulher, guiando-a por um corredor.
- Onde vamos? – perguntou Bê, seguindo-a.
- A vantagem de ser uma tenente, é que posso fazer coisas “erradas”...
- Como o quê, por exemplo?
- Como por uma civil em uma sala de tiro exclusiva da polícia – riu Mary abrindo uma porta e fazendo um gesto para ela entrar – achei que gostaria de aprender a atirar...
- Me viu bater em alguém sábado, e mesmo assim, quer que eu aprenda a usar uma arma?
- Senti que você tem um dom, e quero só fazer um teste, para ver se confirma minha suspeita...
- Vai me dizer que “dom” foi esse, que sentiu que tenho?
- Depois, agora vem...
Mary mostrou a arma, como trocar o cartucho, a forma correta de segurar, o que acontecia quando se disparava, e instruções básicas de segurança. Depois das orientações, as duas colocaram as proteções e Bê mirou no alvo e atirou. O primeiro acertou quase na ponta do alvo. Ela se ajeitou, se concentrou e deu mais dois tiros, depois tirou as proteções e olhou para Mary, que sorriu.
- Que tal? – perguntou a garota.
- O primeiro foi bom, principalmente para quem nunca atirou – comentou a mulher – Mas o segundo, no meio da testa, e o terceiro no peito, foram simplesmente perfeitas.
- Gostei disso... É fácil, e ajuda a relaxar...
- Pronta para assinar os papéis?
- Prontíssima – sorriu Bê, largando as coisas e saindo da sala com a tenente.
Elas assinaram os papéis de adoção e foram ajustar o nome de Bê. Depois de todo o processo e burocracias, a carteira sairia em alguns dias e o documento de identidade ficou pronto na hora com a ajuda de um amigo de Mary, elas saíram para almoçar e conversar mais.
- E agora, vai me dizer o que pensou? – perguntou Bê.
- Sei que é formada em música, mas já pensou em fazer outra coisa?
- Tipo...?
- Tipo trabalhar comigo...
- Uma policial?
- Uma agente, FBI...
- Eu sou uma cantora, dançarina e compositora, como chegou a conclusão de que eu poderia ser uma agente do FBI?
- Você é focada, dedicada, justa, leal... também é forte, além de ter uma mira que faria muito agente veterano morrer de inveja...
- Isso seria um emprego, né?
- Sim, claro que teria que abrir mão de algumas coisas, ou não... talvez uma pessoa influente como você, seja útil, possivelmente terá que esconder apenas que é uma agente, deverá seguir sua vida normalmente...
- Eu teria que abrir mão de Carmen? – perguntou a menina.
- Não... a menos que ela seja uma criminosa, mas não é o caso... Se quiser, posso te colocar na próxima turma de Quântico, que vai começar em duas semanas...
- E o que vai fazer para me convencer a aceitar essa proposta?
- Não é óbvio? Te levar para Quântico e te mostrar tudo... Se aceitar, depois de formada, quero que venha trabalhar comigo, a vaga já é sua...
- Favoritismo por ser filha da Tenente?
- Alguma vantagem tem que ter né? – riu a mulher – Mas ninguém saberá, a menos que você conte...
- O que minha mãe disse da sua ideia?
- Que você ia destruir corações se virasse policial... – riu Mary.
- Posso pensar?
- Claro... vai querer sair comigo a campo hoje?
- É, eu vou – confirmou Bê, sorrindo.
As duas passaram o resto da tarde atendendo pequenos chamados onde Bê só observava e acompanhava atenta ao que a tenente fazia. Elas voltaram por volta das 19h para casa, e Bê encontrou um bilhete colado na porta:
“Fui para o Hit, te encontro na sala VIP.
T.A
Carmen”
A garota foi até a casa da mãe, mas Mary a encontrou no caminho, com um bilhete na mão também, Bê mostrou o dela, e Mary riu.
- Sua mãe é mais prática – comentou ela, mostrando o bilhete que dizia apenas: “Hit. J”
- Elas devem estar juntas... vamos?
- Você dirige – avisou a tenente, entregando a chave do carro para ela – Hoje você é a motorista da rodada...
- Deixa eu adivinhar – falou Bê, quando elas voltaram para o carro, assumindo a direção – Tem exame toxicológico para Quântico...
- Só para caso decida se inscrever, enquanto pensa...
- Mary... acho que ainda não te agradeci...
- Pelo que?
- Por querer ser minha mãe... Significa muito para mim... De verdade...
- Eu que preciso te agradecer, por me aceitar... tenho muito orgulho da mulher que você é, a filha que sempre sonhei em ter... sabe... eu e sua mãe queremos aumentar a família, te dar um irmã ou irmão, mas está sendo bem difícil...
- Continuem tentando, logo você ou minha mãe, acabam engravidando.
Mary corou e as duas caíram na risada com a brincadeira. Chegaram a Hit e foram direto para a sala VIP, onde o mesmo grupo do almoço com exceção de Shane e Alice, além dos filhos de Shane, as esperavam. As mulheres aplaudiram quando as duas entraram, e elas olharam confusas.
“- O que eu perdi?” – perguntou Mary, quando Jodi se aproximou.
- Estamos aqui para comemorar o nascimento de uma mãe, e uma filha – explicou Carmen, se aproximando de Bê, e beijando-a de leve – Parabéns... Srta. Bette Duffy Lerner...
- É uma honra e uma responsabilidade muito grande, carregar esse nome – falou a menina, abraçando Carmen – mas prometo não te decepcionar... Mãe...
- Sei que não vai – sorriu a Tenente, puxando a esposa.
“- Eu quero aproveitar e fazer um comunicado para as duas – falou Jodi – Sei o quanto vocês gostam de futebol, então mandei fazer camisetas para toda nossa família ir junta ao jogo...”
Ela entregou uma caixa para as duas, e se afastou para observar, enquanto elas abriam. Haviam 4 camisetas com tamanhos diferentes e iniciais nas costas: B.Lerner, J.Lerner, M.Duffy e A.L.Duffy.
“- A.L.Duffy?” – perguntou Bê, para a mãe, que tentava conter a animação.
“- Parabéns, Mary, você será mamãe, de novo... E Bê, terá um irmãozinho...” – contou Jodi, radiante.
“- Isso quer dizer que...” – falou Mary, os olhos brilhando.
“- Conseguimos a guarda do Antony, agora ele é nosso filho... – confirmou Jodi – Podemos buscá-lo amanhã a tarde...”
Mary abraçou a esposa e a ergueu nos braços, vibrando, emocionada, enquanto eram aplaudidas, depois puxaram Bê para um abraço. Jodi e Mary estavam a 2 anos tentando adotar um menino, e a resposta finalmente havia saído. Elas foram parabenizadas por todas, inclusive Tasha, que foi cumprimentar a chefe. Bê pegou Carmen pela mão e se afastou do agitado grupo, sentando a um canto.
- Como esta se sentindo? – perguntou Carmen, observando-a.
- Estranha... É muita novidade para mim... Muita coisa acontecendo ao mesmo tempo... mas me diz como foi o seu dia?
- Fui com a sua mãe fazer as camisetas, ela até me deu uma... Acho que quer dizer que faço parte da família... – comentou Carmen, sorrindo – E o seu dia, como foi?
- Tem algo que eu queria falar com você...
- Vocês precisam ficar um pouco afastadas, para dar tempo de sentirem saudades – interrompeu Ro – Não é saudável ficarem tão coladas... Carmen, vem dançar comigo...
Carmen riu e olhou para Bê, que lhe deu um beijo rápido. A morena levantou e saiu da sala Vip com Ro, indo para o meio das pessoas, e Luna e Angie se atiraram ao lado de Bê, no sofá.
- Filha de uma artista e uma tenente, você é muito poderosa... – riu Luna.
- Responsabilidade em dobro – comentou Angie, rindo – Não vai beber nada?
- Hoje não...
- Para tudo, que homem é aquele... meu... deus... – falou Luna, olhando para um rapaz bonito, que puxava uma garota loira, de olhos azuis, pela mão.
- Aquela garota parece um anjo... – comentou Angie – São tão bonitos juntos, que chega a doer...
O casal andava entre as pessoas, ele a frente, sorrindo, parecendo encantado com tudo o que via, usava uma calça jeans, uma blusa social branca e uma jaqueta preta de couro, tinha os cabelos espetados, bem pretos, e olhos verdes, era uns 20 cm mais alto que a garota.
- Onde estamos? – riu a menina, confusa – Acho que não deveríamos estar aqui...
- Por quê? – perguntou ele, radiante, puxando-a para dançar.
- Olha ao redor, o que você vê? – perguntou ela.
- Pessoas bonitas dançando e bebendo, felizes? – perguntou ele, os olhos brilhando de alegria.
- Olha ali, duas mulheres se beijando, ali outras duas, ali são dois homens... não, espera, acho que são duas mulheres também... é uma casa noturna gay...
- Sabe o que mais gosto nestes lugares? – perguntou ele, fazendo-a dançar.
- Nem sabia que já tinha vindo a um lugar como esse – riu ela, acompanhando-o – Não parece muito a sua cara...
- Não deixe se enganar por esse sorriso galanteador... Eu ia muito durante as férias da escola, na Grécia... Lugares assim te aceitam, desde que os aceite e os respeite... Gay’s são criaturinhas que amam mesmo contra tudo, contra o mundo... Essas pessoas lutam todos os dias, pelo direito de amar... Acredito que toda forma de amor é válida...
Os dois se beijaram, e Luna fez cara de decepção, rindo. O casal tinha plateia, uma boa parte das pessoas olhavam para ele, mas a maioria observava ela. Os dois continuaram rindo e dançando, até que Helena se aproximou e tocou o ombro do rapaz, e ele se virou para olhá-la.
- Não acredito! – falou ele, abraçando-a – Pelos Deuses, você está linda!
- E você um homem! Um espetáculo de homem...
- Tive a quem puxar – riu ele.
- Teve sim, venham comigo, quero apresentar minha família...
O casal acompanhou Helena até a ala Vip, onde todos olharam quando chegaram. Rachel se aproximou sorrindo e olhando para o garoto.
- Por que seu rosto, me é familiar? – perguntou Rachel.
- Rachel, este é o Lucas, filho da Afrodite... – apresentou Helena.
- Sua namorada da época da faculdade?
- O próprio, ou melhor, filho da própria... encantado – falou ele, beijando a mão de Rachel – Essa é minha noiva, Angel Dragons...
- Namorada – corrigiu a menina, cumprimentando as duas – ele ainda não pediu minha mão. Prazer... Eu não sabia que Afrodite era lésbica...
- Foi só uma coisa de momento, olha para Helena... – riu Lucas – Meu pai era um babaca, você conheceu ele, viu isso...
- Ele ainda é... – corrigiu Angel.
- E como esta sua mãe? – perguntou Rachel – Nunca mais nos falamos, eu conheci Helena através dela.
- Mamãe faleceu num acidente, a 14 anos atrás... Meu pai foi preso a pouco tempo, e agora eu assumi o trono da Grécia, apesar de ter outras obrigações em Londres...
- Bebem algo? – perguntou Rachel – São nossos convidados de honra.
- Qualquer coisa sem álcool, obrigado – agradeceu ele – Não poderemos ficar muito...
- Estão morando por aqui? – perguntou Helena.
- Londres – respondeu Lucas – estamos aqui a passeio...
- Acho que conheço aquela moça ruiva, sentada ali... – comentou Angel, olhando Bê, que conversava com Luna e Angélica – já volto...
Angel se afastou e Helena a observou alguns segundos.
- Ela é linda... muito... parece uma princesa... – comentou Helena, para Lucas.
- Quase isso – sorriu ele, colocando as mãos nos bolsos – Na verdade ela é uma rainha mesmo...
- Como?
- Angel é rainha de uma ilha, um lugar incrível... Pouco mais de 600 habitantes...
- Boa noite... – falou Angel, se aproximando do trio.
- Huau... – falou Bê, no instante que Carmen entrou, levantando e se aproximando de Angel – Você...
Carmen parou séria, observando as duas, agora a 20 cm de distância uma da outra. Ela emanava ciúmes e raiva, olhando as duas, próximas de mais, os narizes quase se tocando. As pessoas olharam para as meninas e então para Carmen, que as observava com um olhar feroz.
- Só pode ser piada... – falou Angel, séria.
- Ta mais velha e muito, mas muito gata, mas ainda me deve um violão...
Angel riu e abraçou Bê, que retribuiu o gesto, erguendo-a um pouco no ar.
- Caramba, você envelheceu muito – riu Angel.
- E parece que um caminhão te atropelou... viu o que dá, ficar roubando das pessoas...
- Eu não preciso mais roubar, agora eu só bato mesmo...
- Atrapalho as duas? – perguntou Carmen, séria, se aproximando, seus olhos faiscavam de raiva.
- Claro que não – respondeu Bê, feliz, esticando a mão, para pegar a de Carmen – Quero te apresentar uma pessoa, Angel, esta é Carmen, a mulher da minha vida, Carmen, esta é Angel, ela roubou meu primeiro violão...
- Prazer... – falou Angel, apertando a mão da mulher, confusa.
- Acho que não entendi... – falou Carmen, olhando para a namorada.
- Lucas, essa é a Bê Lerner – contou Angel, e o rapaz se aproximou com Helena, as pessoas já haviam voltado ao que estavam fazendo.
- A dona do violão? – perguntou ele, sorrindo.
- Ainda tem ele? – perguntou Bê, surpresa, abraçando a namorada.
- Alguém me explica? – perguntou Carmen.
- Anjo Pega Bobo – falou Ro, se aproximando e entregando um copo para cada um – Sem álcool... eu e Bê estávamos tocando em Londres, nos distraímos alguns segundos, e ela nos roubou, com outra menina. As duas eram conhecidas como a dupla de Anjos Pega Bobo.
- Tínhamos uns 14, 15 anos – contou Bê, sorrindo - nos procuraram no dia seguinte, para devolver nossos documentos...
- Amanda me obrigou... – admitiu Angel.
- Quem é Amanda? – perguntou Helena.
- A consciência da Angel – riu Lucas.
- Você disse que tinha vendido o violão... – lembrou Ro.
- Eu menti, não queria devolver... aprendi a tocar, tenho até hoje...
- Estou ensinando Daniel a tocar, com ele – contou Lucas.
- E quem é Daniel? – perguntou Bê.
- Nosso filho – respondeu Angel – Temos 2 meninos...
- Que idade você tem? – perguntou Carmen, assustada.
- Tenho 16 anos... – respondeu ela, mexendo no celular, e o sorriso sumindo de seu rosto – Lucas, precisamos ir agora... Richard invadiu Dragons. Er... Boa noite, foi um prazer, e Bê, logo te mando um violão novo, prometo... Vamos Lucas.
O casal saiu as pressas, e Carmen olhou para Bê, pedindo uma explicação, e ela não era a única.
- Quando Angel e Amanda voltaram ao parque no dia seguinte que nos roubaram, contaram que tinham feito isso porque tinham fome – contou Bê – Eu e Ro compramos algumas coisas para elas, e conversamos um pouco, Angel até cantou, e a voz dela, foi uma das coisas mais lindas que já ouvimos.
- Não podíamos culpá-las por roubarem – falou Ro – Tinham 10 anos, e viviam na rua, encarando um inverno rigoroso, estavam machucadas e usavam poucos agasalhos... uma criança não deveria passar por algo assim.
- Aquela menina era moradora de rua? – perguntou Carmen, chocada.
- E falava inglês muito mal, viviam no Brasil, chegaram a Londres em um container. Tinham marcas de agressão pelo rosto e braços – respondeu Bê, para Carmen – Tinham fugido recentemente de um reformatório, onde as duas tinham apanhado muito... é bom ver que a vida dela mudou tanto...
- Mas ela é tão... – tentou Carmen.
- Linda? – perguntou Bê.
- É... Parece um anjo...
- Por isso o nome, Anjos Pega Bobo – respondeu Bê – Batedoras de carteira, famosas, e boas de fuga...
- Lucas é um herdeiro grego – contou Helena – Uma das famílias mais ricas que já conheci. Ele contou que agora ela é uma rainha, em Londres.
- Incrível como as coisas mudam – sorriu Bê.
- Aquela foi a última vez que se viram? – perguntou Carmen, ainda com uma pontada de ciúmes.
- Sim... As duas foram ao nosso encontro 4 dias consecutivos, depois nunca mais as vimos – confirmou a menina.
- E como a reconheceu?
- Esta com ciúmes Srta Carmen? – riu Bê, olhando-a.
- Um pouco...
- Ela tem heterocromia rara – contou Bê, dando um beijo em Carmen, que se esquivou – Uma mancha vermelha no olho esquerdo. Já vi pessoas com manchas douradas, azuis e até verdes, mas olhos azuis e mancha vermelha, ela é a única... Difícil esquecer, duvido que exista outro igual... Espera... Qual que ela disse que era o sobrenome dela?
- Dragons, por quê? – perguntou Helena.
- E o namorado dela?
- Augustus... está tudo bem? – perguntou Ro.
Bê fez sinal para que Mary chamasse Jodi e logo todas estavam atentas a ela.
“- Sábado, quando saí da mesa, eu fui atender uma ligação – contou Bê – A produtora AD, com sede na Grécia, ofereceu um contrato para B & L, onde eles concordam em não interferir no conteúdo ou a acústica da música, deixando por nossa inteira responsabilidade o material que será lançado.”
- O que eles querem? – perguntou Ro, desconfiado.
- Ofereceram 40 mil dólares, por um contrato de exclusividade de 2 CD’s, se o primeiro não der lucro, eles interferem no segundo...
- Eles vão... pagar...? – perguntou Kit, chocada – Nunca vi uma gravadora pagar para lançar um CD... Muito menos um valor assim...
Bê mexeu no celular, buscando uma informação na internet.
- AD significa Augustus Dragons... – falou ela, lendo – Acho que essa gravadora é da Angel... Esquece, eu tenho certeza, ela acabou de me mandar uma mensagem: “Não estou mais te devendo um violão, estamos quites...”
- Estamos sendo patrocinados pela mesma pessoa que nos roubou a 6 anos trás? – perguntou Ro, pasmo.
- É o que parece... – riu Bê – E aí? O que me diz?
- Que vamos gravar! – comemorou Ro, erguendo o copo – Um brinde a Angel!
As pessoas voltaram a comemorar e os dois foram parabenizados por todos, que logo se dispersaram. Bê pegou Carmen pela mão, levando-a para a pista de dança.
- Você tá com uma cara péssima... – falou Carmen, em seu ouvido – Tem algo que queira me contar?
- Vamos para casa, por favor? – pediu a menina, e Carmen concordou de imediato.
Elas saíram sem se despedir de ninguém e foram direto para casa, em silêncio. Bê foi tomar um banho enquanto Carmen arrumava algo para comerem. Quando finalmente deitaram, Carmen não aguentou o silêncio e sentou na cama, virando para ficar de frente para Bê.
- Bette, você me traiu? – perguntou ela, séria.
- O que? – perguntou a menina, que estava perdida em pensamentos, e não ouviu a pergunta.
- Você esta arrependida de me pedir em namoro? Esta gostando de outra mulher?
- Não... da onde tirou isso? – perguntou ela, se aproximando mais da morena e se espichando para beijar a marca no rosto dela.
- Você esta estranha, distante... parece que não esta aqui de verdade...
- Mary me fez uma proposta, e eu não consigo parar de pensar nela... Só que estamos finalmente juntas, e eu não vou decidir nada, sem falar com você antes...
- Quer falar comigo, para tomar uma decisão? – perguntou Carmen, surpresa.
- Estamos juntas – respondeu ela – E eu não quero que isso seja algo de momento, se eu vou decidir algo que muda nossas vidas, eu vou precisar de você...
- Qual foi a proposta? – perguntou ela, se aproximou mais de Bê, olhando-a nos olhos.
- Ela quer que eu me inscreva para Quântico, que eu vire agente do FBI... disse que eu tenho um dom para isso...
- Huau... agente do FBI?
- Pois é... Hoje atiramos, conversamos, e eu saí com ela, para atender alguns chamados... Honestamente, eu gostei...
- E a música, e o Ro?
- Não to disposta a abrir mão disso.
- Independente do que decidir, eu vou te apoiar... É um emprego, não é?
- É, acho que sim...
Com o passar dos dias, muita coisa começou a mudar na vida de todos e passados 3 meses das novidades, Bê e Ro estavam focados no CD.
Jodi estava botando a casa nova a baixo com o novo morador, Antony, um lindo menino de cabelos muito negros e olhos verdes, de 5 anos, que parecia ter energia para derrotar um exército, sem fazer pausa para descanso, mesmo que curto.
Seja lá o que Yumi e Angélica tinham, foi ficando mais sério, e mais difícil de esconder. Shane estava dormindo no quarto dos fundos do seu salão, pois Molly não a deixava voltar para casa, e os filhos se dividiam entre as duas.
Apesar das coisas claramente estarem em constante mudança, era evidente que muitas outras ainda viriam, e isso ficou ainda mais claro, quando no dia do lançamento do CD, depois de 11 meses de trabalho duro, Bê recebeu uma visita inesperada, que mudaria a vida de todas, radicalmente... mas isso é história para outro dia...
Nos vemos em breve
Abraços
Finalizada: 18 – jun – 2017 / 7h45
Autor(a): tammy_endres
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