Fanfics Brasil - Capítulo único? Quem sabe... Lendas e Ladras

Fanfic: Lendas e Ladras | Tema: Lendas do Amanhã, Legends of Tomorrow, Arrowverse


Capítulo: Capítulo único? Quem sabe...

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LENDAS E LADRAS


Ser um herói viajante do tempo era com toda a certeza um trabalho muito emocionante, viajar através da história corrigindo pequenos eventos com o mínimo de interferência possível e voltar a nave para mais uma missão... Isso claro, se você não topar com uma das Lendas do Amanhã, como são chamados os viajantes mais rebeldes e desastrados da Terra 1.


Quando se trata das Lendas, o Natal pode virar o dia do Beebo, a Rainha Ana de Áustria, esposa do Rei Luís XIII da França pode ter um breve romance com uma viajante do tempo, um jovem de armadura tecnológica e bom coração pode ser nomeado um dos Cavaleiros da Távola Redonda na corte do Rei Artur, ou Albert Einstein pode receber uma visita de um grupo exótico que o convence a dividir os merecidos créditos de sua pesquisa com sua primeira esposa, a Físico-matemática Mileva Maric, sem a qual não teria elaborado a Teoria da Relatividade.


Consertar anacronismos virou uma rotina com o passar dos anos, e nossa história começa no ano que as Lendas completaram 10 anos de viagens, e as coisas já haviam mudado muito desde o início de suas trajetórias. Da equipe original restavam apenas Ray Palmer, Mick Rory e a Capitã Sara Lance, que depois de ver sua noiva Ava Sharpe deixando-a por uma versão sua militar da Terra 17, se fechou completamente no trabalho. Levaram anos até que a equipe agora formada por Sara Lance, Mick Rory, John Constantine, Nate, Ray Palmer, Nora Darhk, Mona Wu e Charlie, voltasse a normalidade, com as eventuais viagens prolongadas de Ray e Nora, que desfrutavam de um romance. Com o passar dos anos os anacronismos, tremores de tempo causados por anomalias, começaram a diminuir, até que a equipe começou a passar mais tempo que o desejado na zona neutra temporal, aguardando novas anomalias temporais.


- O que tem pra nós, Gideon – pediu Sara, sentada na escada na ponte de comando, bebendo uma xícara de café.


“- Até o momento nada, Capitã Lance, não há registros de qualquer anomalia na linha histórica” – respondeu a assistente de navegação.


- Eu vou enlouquecer dentro dessa nave, juro – falou Charlie, entrando com Mona na sala de comando – sério, não tem nada pra fazer aqui dentro, a gente não pode sei lá, parar em algum ano e curtir um pouco? Talvez ir num show dos Red Hot Chilli Papers, Ramones, AC DC, qualquer coisa!


- Eu concordo com a Charlie – comentou Mona – adoraria ir em uma Comic Con, parece que a Brie Larson vai ir na de San Diego para falar do 3° filme da Capitã Marvel... adoro aquela mulher...


- Não podemos ir a lugar nenhum, ou prejudicaremos a história – resmungou Sara – Onde estão os outros?


- Constantine esta em Londres, fazendo seja lá o que ele faz quando sai da Waverider – respondeu Mona.


- Nate esta enfiado na biblioteca sofrendo de amor – contou Charlie – como ele tem feito nos últimos 3 meses... não podemos deixar ele se interessar por ninguém, pois sempre acaba com ele chorando na biblioteca...


– Ray e Nora estão na França, de lua de mel... – respondeu Mona - isso é muito fofo...


- E o Mick? – perguntou Sara.


- No quarto dele bebendo e escrevendo, é o que ele mais faz desde que lançou o 3° livro... – respondeu  Charlie.


“- Capitã Lance – chamou Gideon - a senhora esta procurando qualquer tipo de anacronismo?”


- Qualquer um – respondeu Sara – pode ser bem pequenininho, eu não me importo, tem algo pra nós?


“- Acho que encontrei algo que pode lhe interessar, deve servir como uma distração...”


- Eu aceito, chame Nate e Mick, as Lendas vão entrar ação novamente! – vibrou Sara, levantando e indo ate o painel central.


- Nos chamou? – perguntou Nate, parecendo desanimado, entrando na ponte com Mick.


“- Estava realizando uma varredura bem detalhada pela história – explicou Gideon – e localizei algo curioso, não sei se chega a ser um anacronismo, mas pode distrair todos. Em 1648 em Praga, na República Checa, um curioso artigo foi roubado durante a Guerra dos 30 anos...”


- Roubos temporais não são muito comuns – comentou Sara.


“- Na verdade roubos temporais são mais comuns do que parece, Capitã - contou Gideon - no entanto na maioria dos casos nunca são desvendados e viram lendas urbanas, ou algum grupo assume a autoria do roubo devido ao poder que isso pode trazer...”


- O que roubaram? – perguntou Mick.


“- Um livro conhecido como A Bíblia do Diabo, um artigo com aproximadamente 90 cm de altura, 50 cm de largura e mais de 75kg...”


- O roubo da Bíblia do Diabo já esta previsto pela história, ela foi levada por mercenários do rei sueco Karl VIII – falou Nate.


“- Neste caso, sr Heywood, a anomalia esta no fato de que a Bíblia nunca mais foi vista, em nenhum lugar, e ela não chegou ao poder do Rei Karl VIII.”


- Quem rouba um livro gigante? – perguntou Mick.


- Não é só um livro, é um dos manuscritos antigos mais importantes que já existiu, e foi escrito inteiro por apenas um homem – contou Nate.


- O que mais descobriu Gideon? – perguntou Sara.


“- Localizei um sinal digital de uma nave do tempo chamada Galáctia, e uma assinatura que durou poucos segundos, com o nome Sh4dow. Desconfio que iremos lidar com um hacker, Capitã Lance...”


- Lendas, vamos evitar o roubo de uma Bíblia! – sorriu Sara – Gideon, nos leve para Praga na República Checa em 1648!


“- Calculando coordenadas!” – anunciou a nave.


O grupo chegou no meio de uma revolta onde não dava para saber quem lutava contra quem, pois o estado dos guerrilheiros era lastimável.


- Não viemos aqui para interferir na guerra – avisou Sara – viemos pegar a pessoa que roubou a Bíblia e garantir que ela vá para as mãos dos mercenários, fui clara?


- Pode deixar Capitã – falou Mick, segurando sua arma lança fogo e uma menor, olhando com atenção ao redor – eu protejo vocês...


- Mona e Nate estão na escuta? – perguntou Sara.


“- Estamos aqui – avisou Nate - Lembrem-se, a Bíblia é grande e pesada, procurem alguém que consiga carregar esse peso e esse volume, sem chamar a atenção...”


- Gideon, alguma marca digital para nos dar um caminho? – perguntou Sara.


“- Estou tentando acessar os registros da nave, mas ela é muito bem criptografada, é impossível saber como é a pessoa que procuramos...”


Uma pessoa encapuzada saiu correndo de dentro de uma das cabanas e começou a ser perseguida por 5 homens armados que atiravam.


- Acho que encontramos o nosso ladrão – falou Sara, seguindo com Charlie e Mick – Mick faz a volta e pega ele do outro lado, não vai ter para onde fugir, precisamos do ladrão vivo, derrube os atiradores!


Sara e Charlie correram atrás dos homens enquanto Mick fazia a volta e interceptava os guerreiros armados, derrubando os 5 com sua arma de chamas. Quando a pessoa encapuzada viu que não estavam mais correndo atrás dela, correu até um cavalo e montou, o manto cobrindo completamente seu corpo.


- Tive uma ideia bem estranha – falou Charlie, cochichando no ouvido de Sara.


- Perfeito, fique pronta – sorriu Sara, subindo em um dos cavalos e indo atrás da figura encapuzada.


Quando virou em um rochedo, uma explosão fez várias pedras caírem, fechando o caminho.


- Se entregue! – falou Sara, ofegante. O homem desceu do cavalo e começou a escalar as pedras, ignorando-a – Sério? Era pra ser mais fácil...


Ela desceu do cavalo e puxou o manto, fazendo o homem cair, mas ele levantou em um salto e então começou uma luta corporal com Sara, até que seu capuz caiu e a capitã se surpreendeu com o que viu.


- Você é uma mulher – falou Sara.


- É uma das minhas qualidades – respondeu ela, usando uma pedra de apoio e saltando por cima de Sara, lhe dando uma chave de braço – espero que não se incomode, mas terei que te por para dormir...


- Na verdade... – respondeu Sara, com dificuldade, usando seu corpo para jogar a mulher no chão e se soltar – Eu me importo bastante...


- Você luta bem para uma barbie – falou a fugitiva, pegando dois pedaços de madeira e avançando contra a capitã – loirinhas de olhos azuis costumam ser mais delicadas...


- E você é uma latina muito bonita para ser uma criminosa do tempo... – rebateu Sara, desviando de um soco e dando uma rasteira nela.


- Chama todas as mulheres que está tentando prender de bonitas? – sorriu a mulher.


- Não existem muitas ladras latinas trabalhando para suecos...


A mulher sorriu mais uma vez para Sara e saiu correndo, mas foi interceptada por Charlie que fincou uma agulha em seu pescoço e a apagou.


- Nossa ela é bem gata.


- E para piorar é cheirosa – falou Sara, observando a mulher, desacordada e bem machucada – Prender mulheres atraentes ao invés de seduzi-las não é exatamente divertido... Me ajuda a levar ela para a nave, vamos prendê-la...


- Não vamos entregar ela para a Agência do Tempo? – perguntou Charlie, ajudando a por a mulher desacordada no cavalo que Sara montou.


- Ainda não, quero saber mais dela antes, vamos...


As duas foram no cavalo até a Nave e Nate pegou a mulher no colo, levando-a para o laboratório onde havia uma cama na base onde Charlie ficou presa logo que se juntou as Lendas.


- Achei que colocaríamos ela nas celas lá em baixo... – comentou Mick.


- Não sabemos ainda se ela tem algum tipo de poder – respondeu Sara, ativando a proteção – aqui é mais seguro até sabermos quem ela é, além do mais, não encontramos o livro...


- Posso sair e tentar achar – se ofereceu Nate, observando a mulher – Mick pode ir comigo...


- Eu topo – avisou Mick.


- Tudo bem, só se cuidem, esta muito perigoso lá fora – alertou Sara – Charlie, fica de olho pra mim e me chame assim que ela acordar...


- Tranquilo, eu e Mona ficaremos aqui – concordou Charlie.


A mulher permaneceu desacordada por mais 3h, e quando acordou, Sara estava sozinha no laboratório, havia terminado de limpar os machucados no rosto da mulher e a observava.


- Esta com raiva de mim – falou a mulher sorrindo, ainda de olhos fechados, deitada.


- Onde esta o livro?


- Não sei de livro nenhum – retrucou ela, sentando na cama e sorrindo para Sara – Caramba você é... huau...


- Como se chama? – perguntou Sara, cruzando os braços e olhando nos olhos da mulher.


- Comandante Dragons – respondeu ela – Mas os mais chegados me chamam apenas de Sh4dow, com o 4 no lugar do A, é um lance de hacker...


- Sabe onde esta? – perguntou Sara.


- Na Waverider, a nave das Lendas do Amanhã, finalmente eu conheci as pessoas mais desastradas da história, que honra sem tamanho...


- Você não vai sair daqui até abrir o bico...


- Eu falo se você me contar a história desta linda correntinha – sorriu Sh4dow, tirando do bolso da calça, a delicada corrente que Sara nunca tirava do pescoço.


- Achei que tinha perdido na luta, me devolve isso – falou Sara, irritada.


- Foi um ex namorado que te deu? – provocou Sh4dow.


- Foi um presente da minha irmã, antes dela morrer, agora devolve ou vou ser obrigada a te apagar para pegar...


- Eu devolvo – falou ela – Entra aqui que eu coloco em você...


- Não sou idiota, se eu entrar aí, vai fugir...


- Palavra de ladra, de que não vou... se quiser, me joga uma algema que eu prendo meu pé na cama pra provar que não vou fugir...


Sara a olhou desconfiada e então jogou as algemas abertas para a mulher, que prendeu no pé da cama e em seu tornozelo esquerdo.


- Se me atacar, mato você – alertou Sara.


- Sem pegadinhas, capitã Lance – falou ela, deixando as mãos a mostra. Sara se aproximou desconfiada e parou de frente para ela – Não quer dar as costas para uma criminosa né? Sorte a minha, posso te admirar mais de perto...


Ela prendeu a correntinha no pescoço de Sara, erguendo as mãos e ficando imóvel até a capitã sair da base e reativar a parede invisível de proteção.


- Obrigada – falou Sara.


- Jamais roubaria um presente dado por um irmão ou uma irmã – falou a mulher, sentando na cama – irmãos são sagrados...


- O que uma hacker faz roubando a Bíblia do Diabo?


- O que as Lendas fazem atrás de uma hacker em 1648? – sorriu a mulher.


- Viemos buscar você...


- Vocês concertam anacronismos, não caçam ladrões...


- Você é um anacronismo que rouba... – rebateu Sara.


- O sr Mick Rory também – sorriu a mulher – e mesmo assim ele é uma das Lendas... ouvi muitas histórias de vocês nos últimos 10 anos... Confesso que sou uma grande fã.


- Nunca ouvimos falar de você – retrucou Sara.


- Se ouvissem, eu não teria feito um bom trabalho – sorriu a mulher.


- Me conta onde esta o livro...


- E perder a chance de receber outra visita sua? Jamais...


- Vai continuar presa até falar... – ameaçou Sara.


- Não tenho compromissos nos próximos dias – sorriu Sh4dow, erguendo a sobrancelha – Obrigada por cuidar dos meus machucados, Capitã Lance...


- Não somos criminosos como você – retrucou Sara, perdendo a paciência.


- É, não são  - sorriu a mulher – E só para constar, também prefiro seduzir mulheres atraentes, ao invés de ser presa por elas, mas é um prazer abrir uma exceção para você, Capitã...


- Estava desacordada, como...


- Segredo – respondeu Sh4dow, dando uma piscada para a capitã e deitando na cama, com a perna ainda algemada.


Sara seguiu para seu escritório e encheu um copo de uísque, sentando em uma poltrona e olhando irritada a prisioneira pela câmera. Nos dias que se seguiram, Sara ia todos os dias tentar tirar alguma informação da mulher, mas ela respondia tudo de forma vaga e sorria quando não lhe interessava responder. Charlie também tentou retirar qualquer informação, mas o resultado foi que Sh4dow convenceu ela, Ray e Nora a se juntarem a ela em um jogo de cartas. Quando chegou a vez de Mick, ele levou algumas cervejas para a mulher e ela pediu que ele contasse seus crimes mais divertidos.


- Você não é uma pessoa ruim... – falou Sara, sentando para conversar com ela, parecendo derrotada depois de duas semanas sem nenhum progresso – fez todas as Lendas se encantaram por você...


- Nem todas – falou a prisioneira – Você ainda me odeia...


- Pra ser honesta eu não odeio – respondeu Sara – é só que... você rouba coisas das pessoas, coisas importantes...


- Eu só roubo de quem não vai sentir falta daquilo... – se defendeu Sh4dow – jamais roubaria de pessoas humildes, ou objetos de valor emocional... Eu faço isso muito antes das Lendas existirem, a maioria dos meus roubos já estavam previstos na história, e eu vendo depois para quem o teria roubado, é assim que vocês não me localizam... Historicamente nada muda após meus roubos...


- Por que esta me contando isso agora?


- Porque seu brilho apagou e a culpa é minha, Capitã Lance... se for lhe deixar mais feliz, podemos lutar, isso costuma me manter calma e centrada...


- Tá falando sério? 


- Eu estou precisando de alguns exercícios – sorriu a mulher, tirando o casaco e largando em cima da cama – viu que luto bem, o que me diz?


- Só se me disser de que ano você é...


- A 10 anos deixei o século 47 para trás... – respondeu ela – Peguei a Galáctia e parti em busca de aventuras através do tempo...


- Sou uma mulher de palavra, se prepara para apanhar – falou a capitã, acionando um comando que recolheu a cama, transformando o lugar onde Sh4dow estava em um tablado grande.


Sara tirou o casaco e entrou no espaço onde a prisioneira estava, se preparando para a luta, mas foi Sh4dow que atacou primeiro. Elas lutaram sem parar por mais de duas horas, chamando a atenção da equipe, que se reuniu para assistir, cada um a seu modo.


- Só eu que estou sentindo uma tensão quase sexual nesta luta das duas? – perguntou Nora.


- Aposto trintinha na capitã – riu Mick, atirado numa cadeira e bebendo sua cerveja.


- Eu acho que vou apostar na Sh4dow – falou Constantine – Sara esta com dificuldade de desviar dos socos...


- O que acontece se a Capitã perder? – perguntou Ray – Eu também aposto na Sara, já vimos ela lutando, não tem como a Sh4dow vencer dela...


- Não vai acontecer nada se a Sara perder, ela só vai ficar muito brava... – respondeu Nate – e todos nós vamos pagar caro por isso... Aposto 50, sem chance da Sara perder...


- Acha que a Capitã e a Sh4dow teriam algo? – perguntou Charlie, para Nora.


- Observa bem as duas – respondeu ela – Eu não curto mulher e estou ficando seriamente abalada pela tensão entre elas...


- Eu pegaria a Sh4dow... – ponderou Charlie – Ela até que é beem interessante...


Em um golpe rápido, Sh4dow atirou Sara no chão e subiu nela, prendendo seus braços com os joelhos e parando um soco a milímetros do rosto da capitã, ofegante.


- Isso foi... excitante – falou Sh4dow, ofegando e sorrindo – e eu venci, capitã Sara Lance...


- Venceu – ofegou Sara, olhando nos olhos da mulher, contendo um sorriso – Você me superou...


Sh4dow levantou do chão e esticou a mão para ajudar a capitã a levantar. Só então as duas repararam que tinham plateia com direito a salgadinho e cerveja.


- Mick, espero que tenha feito alguma aposta – riu Sh4dow.


- Apostei na capitã – reclamou ele, alcançando uma cerveja para cada uma – esse negócio que vocês fizeram, foi bem interessante...


- Como você perdeu? – perguntou Ray, olhando em choque para Sara, que sentou nos degraus da escada com Sh4dow.


- Não tenho certeza... – respondeu Sara – Quer explicar isso, Sh4dow?


- Um brinde a Liga dos Assassinos – sorriu Sh4dow, dando uma batida de leve na garrafa de Sara.


- Espera... você foi da Liga? – perguntou Sara.


- Por essa eu não esperava – falou Nate, surpreso.


- Lasa al Zilu, encantada... – respondeu Sh4dow, dando uma piscada para Sara.


- Ladra da Sombra... – sorriu a Capitã – Mas te venci em Praga...


- Bom, primeiro: você luta muito bem, segundo: já pensou que talvez eu quisesse ser capturada?


- Aproveite seu descanso, Lasa al Zilu, eu e você, isso aqui, ainda não terminamos...


- Eu conto com isso, Ta-er al Sahfer – sorriu ela – Nora, hoje é você que me escolta até o banheiro?


- Acho melhor a Mona ir, a Nora esta meio indisposta... – comentou Charlie – Tudo bem pra você, Mona?


- Claro – sorriu Mona – Adoro as histórias da Sh4dow... quando quiser...


- Eu vou agora, não é porque venci, que não estou machucada...


- Valeu pela grana – agradeceu Constantine, quando a mulher saiu.


- Não apostou em mim? – perguntou Sara, fingindo estar brava.


- Você estava apanhando demais, eu não podia me arriscar, - respondeu ele - agora paguem suas dívidas que tenho que me divertir...


O grupo logo se dispersou, e quando Sh4dow voltou do banho, sua prisão lhe aguardava em completo silêncio. Por volta das 3h da manhã, Sara desistiu de tentar dormir e foi de pijamas e roupão até seu escritório, servindo um copo de uísque e sentando na poltrona, observando Sh4dow dormir pela câmera de segurança.


- Gideon – chamou Sara.


“- Sim, capitã...”


- O que consegue descobrir sobre a Sh4dow? Se ela é uma hacker, deve ter uma assinatura, algo que a identifique...


“- Não consigo identificar mais do que ela lhe falou, é como se ela não existisse, não há rastros de alguém com o rosto dela em nenhum ponto da história, a única coisa encontrada é o estado civil, em alguns lugares da rede há um perfil de trabalho dela onde ela deixa um aviso para quem quiser contratá-la...”


- O que diz este aviso?


“- Sh4dow, s0lt3ir4, 1n73r3554d45 3m d1v3r540, 3570u 4 d15p051ç40...” – mostrou Gideon.


- Consegue descobrir o que significa?


“- De início parece apenas uma piada, mas riscando as letras, forma o número: 4034 173355445 3 13540 3570 4 1505140... mas esses números não correspondem a nada em especial”


- Tem algo de estranho nesse número... – falou Sara, analisando-os – quando me falou que se chamava Sh4dow, ela fez questão de dizer que o 4 era no lugar do “A", risca todos os números 4 e vê se encontra algo...


“- O número 03 1733555 3 1350 3570 150510 corresponde a uma caixa postal onde há uma mensagem, bom trabalho Capitã...”


- Abra a mensagem – pediu Sara, se animando.


“- Capitã, lamento informar que a mensagem não é exatamente o que procurávamos...”


- Mostre Gideon – pediu Sara, perdendo o sorriso.


Gideon projetou a imagem do texto que dizia:


“Parabéns Capitã Lance, sabia que conseguiria...”


- Eu vou matar aquela batedora de carteira – bufou Sara, largando o copo vazio na mesa e indo para o laboratório, acordando Sh4dow – Qual o seu problema?!


- Eu não tenho nenhum problema – sorriu a mulher, sentando na cama e sorrindo.


- Você esta jogando com todos nós a três semanas, isso é muito... doentio!


- Quem disse que é um jogo? – perguntou a mulher.


- Por que me odeia tanto? Além do fato de te prendermos...


- Eu não odeio você, Capitã Sara, e eu não sou uma prisioneira, sou sua distração...


- Como assim?


- As Lendas estão entediadas, quase não há trabalho a fazer, por isso foram atrás de mim, para se distrair... você não me encontrou com nenhum livro gigante, não tem provas nenhuma para me manter aqui, eu nem deveria ter sido presa por vocês, mas você queria se sentir útil, queria a adrenalina de tirar informações de uma prisioneira...


- E o que você quer? – perguntou Sara, desligando a rede de contenção.


- No momento, te beijar...


- O quê? – perguntou Sara, surpresa com a resposta.


- Não finja que não entendeu ou que não quer a mesma coisa...  – falou ela, se aproximando devagar – me bateu, mas cuidou dos meus ferimentos, me mantém presa aqui, mas vem com frequência me ver no meio da noite, quando o resto da equipe está dormindo, isso tirando o tempo que passa me cuidando pelas câmeras...


- Esta enganada, você não significa nada pra mim... – falou Sara, parecendo um pouco nervosa – É só uma criminosa...


- Continua repetindo várias vezes, até convencer a si mesma disso... – respondeu Sh4dow, a poucos centímetros de Sara, colocando as mãos em sua cintura – Eu senti o que rolou durante a luta, eu noto as roupas que usa para vir me ver, me considero uma mulher inteligente...


- Dane-se – respondeu Sara, beijando Sh4dow, que a puxou colando seu corpo no dela e acabando com o espaço entre as duas.


Toda a tensão da luta, os olhares e horas de “interrogatório”, explodiram em uma noite intensa no quarto da Capitã.


- O que estamos fazendo? – perguntou Sara, em um momento de lucidez.


- O que duas mulheres adultas e bem resolvidas fazem quando estão atraídas uma pela outra – sorriu Sh4dow, olhando para Sara em seu colo – Caramba você é... maravilhosa...


- Eu não sei nem seu nome real...


- Se isso for te deixar melhor, eu me chamo Christina Dragons.


- É o suficiente pra mim – respondeu Sara, avançando novamente na hacker.


Quando amanheceu, a Capitã olhou para sua cama e não viu ninguém. Uma batida forte na porta a assustou e ela se vestiu rapidamente.


- Sara, esta acordada? – chamou a voz de Ray.


- O que houve? – perguntou ela, abrindo a porta.


- Temos um problema... – falou ele, fazendo-a ir até o laboratório - Sh4dow fugiu..


- Já procuraram por toda a nave? – perguntou Sara, nervosa.


- Só não olhamos as câmeras ainda – respondeu Nora.


- Não olhem! – se adiantou Sara, surpreendendo os dois – Er... quero dizer... a Gideon já me mostrou a imagem das câmeras, não tem nada. Por que vocês dois não dão um pulo na cozinha para passar café? Vamos precisar...


- Tem certeza? – perguntou Ray.


- Absoluta, eu vou investigar aqui – respondeu ela, fingindo convicção – podem ir...


- Beleza, te esperamos na cozinha – falou Nora, tocando o braço de Sara, mas parando e lhe observando – Er... Ray, vai na frente, já vou...


- Tudo bem – respondeu ele, saindo.


- O que houve? – perguntou a Capitã.


- A Sh4dow é muito cheirosa – comentou Nora, baixinho – É um cheiro único, um cheiro que remete a inteligência digital, pesquisei e descobri que no século 47 eles criaram uma fórmula para identificar a pessoa apenas pelo seu cheiro, como uma assinatura olfativa...


- Onde quer chegar? – perguntou Sara, desconfiada.


- Você esta com o cheiro da Sh4dow... – sorriu ela – Fala pra mim... vocês transaram né?


- Eu jamais faria isso com uma prisioneira nossa – desdenhou Sara.


- Eu teria feito se ela me olhasse como olhava para você – respondeu Nora – mas já que não fez, não vai ter problema se eu pedir pra Gideon as imagens do laboratório depois que Sh4dow ficou sozinha... Gideon, por favor, pode nos mostrar como a Sh4dow fugiu?


- Ta bom ta bom! – interrompeu Sara, nervosa – Não precisa mostrar nada Gideon, você acertou Nora, eu fui pra cama com a Sh4dow, eu vim confrontar ela e acabou rolando... satisfeita?


- Na verdade, bastante – sorriu ela – Você merecia se divertir, foi bom?


- Tanto que não consigo descrever em uma palavra...


- Fico feliz por você, bem vinda de volta a vida... Toma um banho antes de se juntar a equipe, ou eles podem reconhecer o perfume...


- Isso quer dizer que não vai contar a ninguém? – perguntou Sara, observando Nora.


- Com a condição de que não vai deixar esse brilho de hoje apagar...


- Acho que estou bem melhor – sorriu Sara – obrigada por esconder esse segredo...


- Sem problemas – sorriu Nora, saindo do laboratório.


- O pior é que o cheiro dela é bom demais, desgraçada – falou Sara para si mesma, olhando ao redor e sentando na cama de Sh4dow – Gideon, me mostre as imagens da hora que eu e Sh4dow saímos daqui...


“- Lamento mas não posso fazer isso, Capitã Sara.”


- Por quê?


“- Por que a Comandante Dragons alterou as imagens e apagou os registros de todas as câmeras que pegaram vocês duas. Ela também lhe deixou um presente de baixo do travesseiro dela...”


- O que é isso? – perguntou Sara, observando a pulseira que parecia um relógio eletrônico.


“- Recebi ordens para dizer que deverá ir até seu quarto e apertar o botão verde na lateral.”


- Obrigada Gideon, só mais uma coisa, ela te machucou ou algo do tipo?


“- A Comandante é extremamente gentil e ao usar meu sistema para manipular as câmeras, calibrou minha rede para diminuir os efeitos desagradáveis da viagem no tempo.”


Sara entrou no seu quarto, fechando a porta e sentou na cama, apertando o botão que Gideon indicou. Um holograma de Sh4dow surgiu sorrindo para ela.


- Bom dia Capitã Sara Lance – falou a mulher – Espero que tenha dormido bem...


- Você fugiu... – falou Sara – se aproveitou da noite, para escapar... Geralmente sou eu quem sai escondida dos lugares...


- Há uma primeira vez para tudo na vida – riu Sh4dow – O problema não foi você, é só que fiquei tempo demais fora, precisava voltar pra casa...


- Por que apagou os registros das câmeras?


- Porque não cabe a ninguém além de nós duas, saber o que rolou ontem a noite. Se for para as Lendas descobrirem, deve ser pela Capitã deles...


- Chris, eu...


- Você foi incrível... – interrompeu ela – Você É incrível... Para demonstrar isso, o quanto a noite foi única, eu devolvi o livro para o lugar dele da história... Do meu jeito, mas devolvi... a história esta intacta novamente...


- Me acostumei com você aqui... – sorriu Sara – foi divertido... 


- Digo o mesmo. Sei que foi só um lance de uma noite, mas eu queria deixar registrado que se você quiser novamente, eu quero. Poderá me chamar onde e quando quiser com esse relógio, que também serve para ver as horas.


- Adeus, Comandante Christina Dragons – sorriu Sara.


- Até breve, Capitã Sara Lance.


Sara desligou o relógio, colocando-o no pulso, e se deitou na cama, encarando o teto por alguns minutos. Depois levantou para foi tomar banho e se arrumar, pra se juntar a equipe. Na Galáctia, Chris entrava na cozinha cantarolando.


- Esta feliz – falou a companheira de viagem dela, uma jovem de cabelo vermelho com preto, raspado na lateral e piercings no rosto.


- Não sabia que isso era um problema, Anny – falou Chris, servindo uma xícara de café e adicionando uma dose de vodca – Como estão as coisas aqui?


- Não é um problema, é uma novidade, você esta brilhando... você nunca brilhou, nem quando dormiu com as garotas de 2018, que você deixou bem claro que eram muito sexys... Sabe, achei que não voltaria nunca mais...


- Não achou isso, é inteligente o suficiente para saber que eu voltaria, eu só precisava de tempo para conseguir o que eu queria...


- Foram 3 semanas Sh4dow, você me deixou 3 semanas trancada nesta nave, parada na zona temporal!


- Chega de drama...


- Fez tudo isso para dormir com a Capitã daquela nave? Meu QR Code, como você é repulsiva... isso é traição sabia?


- Esta me fazendo sentir saudades de ficar presa – falou Chris, indo para a base de comando da nave – vamos trabalhar...


- Cadê o relógio que eu codifiquei para você?


- Não sei – respondeu Chris, sentando em sua cadeira e analisando alguns dados no painel.


- Você deu pra ela, não foi?


- Ela precisava de um meio para me chamar se precisasse...


- Chris, foi EU que codifiquei aquele relógio, sem minha inteligência ele não faria o que faz!


- Isso porque é você que codifica tudo que entra nessa nave, para de me irritar garota!


- Você é uma babaca! – bufou Anny, dando um soco no braço de Chris e saindo da sala de comando.


Após alguns ajustes, Chris partiu com a nave atrás de um novo trabalho, enquanto Sara se juntava a sua equipe na ponte de comando.


- Você demorou – observou Charlie – Aconteceu algo?


- Precisava de um banho para acordar – respondeu Sara – Gideon, me mostra a linha do tempo envolvendo o livro...


“- A história foi reestabelecida, o os mercenários suecos assumiram o roubo e todos os eventos posteriores estão novamente intactos...”


- É isso, Lendas – falou Sara – Conseguimos novamente...


- E a Sh4dow? – perguntou Charlie.


- Não há mais crime – respondeu Sara – então ela não é mais problema nosso, não importa se ela fugiu...


- Vou sentir falta da Comandante Dragons, era divertido ter alguém para falar sobre ser um vilão – falou Mick.


- Não tem medo dela ter feito algo com a Gideon? – perguntou Nate.


- Vocês passaram as últimas 3 semanas tentando me convencer que ela era do bem, agora que acredito, vocês mudaram de ideia? – perguntou Sara.


“- Capitã, posso dar uma sugestão que acredito que todas as Lendas irão gostar?”


- Claro Gideon, por favor...


“- Acredito que as Lendas devam tirar férias, literalmente, ficar descansando em uma praia relaxando e aproveitando o sol...”


- Eu acho uma excelente ideia – sorriu Sara, olhando para a equipe – O que acham, Lendas? Vamos a praia?


- Eu sempre quis conhecer um lugar chamado Jericoacoara, no Brasil – falou Nora – Tem uma vila pequena e tranquila, acho que podemos tentar...


- Ou Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro, no Brasil também – falou Ray, olhando no painel e abrindo a imagem para todos verem – eu posso comprar essa casa aqui que tem um pedaço particular da praia, podemos curtir e relaxar, o que acham? Vamos fazer um refúgio das Lendas... Tem uns 15 quartos, da pra todo mundo ficar confortável e sobra... Essa casa esta em 2029, é um bom ano para irmos...


- Todos de acordo? – perguntou Sara, e a equipe vibrou – Gideon, o tempo esta para praia?


“- Segundo análises climáticas, este período do Brasil é considerado um dos mais quentes do ano, a casa vista pelo sr Palmer tem um ar condicionado por acomodação e está apto para uso imediato, também possui um hangar privado próximo onde a Waverider pode ficar estacionada sem riscos...”


- Gideon, trace a rota, vamos para o Brasil – sorriu Sara, e as Lendas assumiram seus lugares.


- Comprei – vibrou Ray, prendendo o cinto – isso vai ser muito divertido!


Como previsto, o Hangar vendido junto com a mansão era grande o suficiente para comportar a Waverider e mais uma aeronave de pequeno porte, e quando chegaram haviam 2 carros e uma moto com as chaves, aguardando eles.


- Isso vai ser muito bom – sorriu Nate, olhando o carro – Eu dirijo, quem vai comigo?


- Eu vou de moto, sozinha – avisou Sara, largando um dos capacetes no porta-malas de um dos carros.


- Eu, Mick e Mona vamos com você – avisou Charlie, sentando no banco do carona.


- Eu e Nora vamos no outro – sorriu Ray – nos vemos na casa.


O grupo seguiu viagem até o lugar, iniciando oficialmente as férias, enquanto nos dias que se seguiram, depois de se preparar bem e treinar, Chris retomava seu trabalho em uma noite particularmente escura.


“- Isso é muito arriscado – falou a voz de Anny, pelo comunicador – Qual é Sh4dow, nunca vamos conseguir revender isso...”


- Eu não quero revender – respondeu Chris aos sussurros, abrindo a janela com cuidado e entrando no apartamento – esse vai ficar no nosso acervo particular...


“- Viemos até 1995, em Nova York, as 2h da madrugada para nada?”


- Nada? – sussurrou Chris - Se liga Anny, é um Davidoff-Morini Stradivarius, feito em 1727 por Antonio Stradivari, essa belezinha vale mais de 3 milhões de dólares...


“- Não vamos vendê-lo, então não vale nada...”


- Você esta particularmente irritante hoje, esta com algum vírus na sua programação?


Ela pegou o violino com cuidado e o colocou em sua maleta, enfiando-a na mochila sem fazer barulho, atenta ao redor.


“- Eu não vou reproduzir outro para substituir, já aviso – falou Anny – sai logo daí...”


- Se acalma – falou Chris, caminhando pelo apartamento e olhando tudo ao redor – Estou no apartamento de Erica Morini, uma das maiores violinistas da história, me deixa apreciar...


“- Quem é ela mesmo?”


- Erica Morini foi uma das primeiras meninas a ser admitida no Conservatório de Viena, fez sua estreia no palco de Viena aos 12 anos. – contou Chris, caminhando com cuidado pelo apartamento - Era judia e conseguiu escapar de Viena antes de sofrer as consequências da ocupação nazista, foi quando veio morar em Nova York. Sob todos os aspectos era perfeita, mas o fato de ser mulher sempre foi um obstáculo para ser reconhecida... Essa mulher tem a alma do feminismo...


“- E você decidiu roubar um pessoa que você idolatra por que então?”


- Não será um roubo se ela souber... – falou Chris, caminhando devagar até o quarto da artista.


“- Sh4dow, espera, isso é uma ideia muito estúpida!”


Ela desligou o comunicador e abriu a porta com cuidado, espiando a senhora deitada na cama, tossindo.


- Aproveite que esta aí me espiando, e me traga um copo de água – falou a senhora de 91 anos.


- Sabia que tinha alguém em seu apartamento – falou Chris, servindo o copo e levando até a mulher, lhe entregando – Desculpa invadir...


- Veio roubar meu violino stradivarius apenas ou mais alguma coisa?


- Não seria roubo se a senhora me desse...


- Não vai conseguir vendê-lo, nunca... – falou Erica, com a voz fraca.


- Eu não quero para vender – sorriu Chris, puxando uma cadeira e sentando próxima a cama – Eu sou uma grande admiradora do seu trabalho, Senhora Morini...


- Esta roubando minha casa, me chame apenas de Erica... Você usa roupas bem estranhas, jovem... – falou a violinista, observando Chris.


- Acreditaria se eu falasse que vim do futuro? – sorriu ela.


- Você toca?


- Não tanto quanto a senhora, mas eu tento...


- Eu estou morrendo – falou a mulher – Depois de Judith Davidoff meu violino foi o que mais amei na vida...


- Era por Judith que você tocava?


- Era ela que me vinha a mente sempre que eu fechava os olhos – sorriu Erica – É bem difícil ser uma mulher que ama outra mulher e viver em um meio dominado por homens, em uma Viena dominada pelo nazismo, mas eu não me abati e conquistei meu espaço para que as que virão depois de mim, não precisem passar pelo que eu passei...


- Me deixe ouvir você tocar – pediu Chris – E eu prometo desistir do roubo...


- Me entregue o violino...


Sh4dow abriu a mala e então o estojo do violino com cuidado, oferecendo a Erica, que pegou com as mãos trêmulas, posicionou o violino e começou a tocar de olhos fechados. Chris ficou ali, em silêncio, submersa na melodia, encantada com a música, até que acionou o relógio e gravou o que veio a ser o último concerto de Erica Morini. Quando terminou a música, a violinista entregou o violino para Chris, sorrindo.


- Sou uma mulher de palavra – falou a Comandante – não vou mais roubar o que você mais ama, obrigada pela experiência...


- Você tem alguém por quem você daria a própria vida? – perguntou Erica.


- É, eu tenho – sorriu Chris, pensando em Anny – Eu entreguei minha alma para salvar alguém que eu amo mais do que a mim mesma...


- Então toque para mim, toque bem e o que quiser deste apartamento, é seu – sorriu Erica.


- Não precisa fazer isso...


- Toque que eu decidirei se preciso ou não...


Chris levantou da cadeira, pegando o violino e fechando os olhos, se concentrando. Ela respirou fundo e começou a tocar, sentindo a vibração de cada nota musical e o efeito que causava em seu corpo. Quando terminou, ela abriu os olhos e sorriu para Erica, que a admirava com os olhos marejados.


- O que achou? – perguntou Chris, sentando novamente e colocando o violino no estojo.


- Foi o rosto dela que lhe veio a mente?


 - Foi sim – confirmou ela – Não imagino minha vida sem ela ao meu lado, me irritando o tempo todo...


- O violino é seu... – sorriu Erica – Ele estará melhor em suas mãos, do que poderia estar nas mãos de quem vai ficar com o que é meu... Alguém com tanto amor dentro de si, merece meu grande amor...


- Obrigada por isso, mas é importante que ninguém saiba que estive aqui, ou eu posso me encrencar...


- Tem minha palavra – respondeu Erica, sorrindo – Posso te fazer um último pedido antes de ir?


- O que quiser...


- Tem uma carta dentro do estojo do violino – falou Erica – Judith morreu a 15 anos, sem saber o que eu sentia de verdade por ela... você pode mesmo viajar no tempo?


- É, eu posso sim...


- Entregue a carta ela, por favor... Ela precisa saber o quanto significava para mim...


- Pode deixar, eu faço isso...


- Você é uma boa garota – sorriu Erica – só deveria parar de roubar velhinhas moribundas...


- Prometo pensar na ideia... obrigada por me receber e tocar para mim, eu nunca vou esquecer...


- Vá, viajante do tempo, você tem um trabalho a fazer...


Chris levantou da cadeira, dando um beijo na cabeça de Erica, que fechou os olhos devagar, relaxando o corpo. Ela saiu do quarto fechando a porta e colocou as coisas em cima da mesa, abrindo novamente o estojo e procurando a carta, que estava cuidadosamente escondida em um discreto corte no forro interno. Ela guardou a carta no bolso e voltou a guardar as coisas, pegando um baú de cima de um dos armários e olhando dentro. Ali estavam outras cartas de Erica para Judith, cartas escritas mas nunca entregues. 


Chris pegou duas garrafas de uísque da estante e dois copos de cristal, com violinos desenhados discretamente, colocou com cuidado enrolados em pano e guardou na mochila, voltando a sair pela janela, tomando cuidado para não ser vista por ninguém. Quando voltou a nave, Anny avançou contra ela, lhe batendo onde conseguia, e Chris largou a mochila na mesa e a abraçou forte.


- Achei que tinha te perdido – falou Anny, com o rosto escondido no pescoço de Chris – Você é muito idiota!


- Eu sei – falou Chris, beijando a cabeça dela e a mantendo em seus braços – Eu sou uma grande babaca...


- Você me jurou que jamais iria ficar longe de mim, mas me traiu e quebrou sua promessa...


- Não vai mais acontecer, eu juro – falou Chris, segurando o rosto de Anny e lhe olhando nos olhos – Me perdoa? Você é a única pessoa no mundo que importa para mim, eu juro...


- O que vai ser de mim se te acontecer algo? – perguntou Anny – Chris, eu não posso viver sem você...


- E não vai viver, eu juro – respondeu Chris – Eu to aqui, e só desliguei o comunicador porque você me atrapalhou... eu sei fazer o meu trabalho e preciso que confie nos meus instintos...


- Nunca mais vai dormir fora?


- Palavra de Criptografia Sh4dow...


- Eu preciso de um tempo pra minha cabeça, vou ficar no meu quarto...


- Precisamos ir a um lugar antes, preciso de você...


- Que lugar? – perguntou Anny.


- Erica me pediu para entregar uma coisa para Judith Davidoff, precisamos voltar mais 15 anos, até a véspera da morte dela, consegue localizar para mim?


- É, eu consigo... Depois vou precisar me ausentar, tenho que fazer umas atualizações...


- Sem problemas, se eu precisar ir a outro lugar, pego a Saturno – sorriu Chris, pegando a mochila e levando até seu escritório particular – programe a viagem e me chame...


- Nunca mais desligue o comunicador, ou vou fazer ele dar curto dentro da sua orelha... – alertou Anny, indo para a sala de comando.


No escritório, ela largou as bebidas e os copos em sua estante, e então foi até seu acervo particular e colocou o violino juntamente com uma foto de Erica e Judith, juntas, tocando e sorrindo uma para a outra. O porta-retratos que passou anos ao lado do espaço de estudo de Erica Morini, agora passaria o resto da eternidade junto do violino que escondia a verdade dos sentimentos de Erica.


“- Estamos prontas...” – avisou Anny, e Chris assumiu seu lugar no controle da nave. 


Elas chegaram a noite, na véspera da morte de Judith em sua casa, em Londres, 1980. A família de Judith havia saído e ela estava sozinha em casa. Chris caminhou atenta pelos corredores, mas seu relógio tocou e ela se escondeu em um quarto para atender.


- Capitã Lance, estou meio ocupada agora... – sorriu ela, espiando para confirmar se não havia ninguém – mas é muito bom te ver...


- Esta invadindo uma casa? – perguntou Sara, rindo.


- Mais ou menos isso – sorriu Chris – Precisa de mim para algo?


- Vou tentar ser breve – falou Sara – Eu quero te ver. É possível?


- Me manda por mensagem no relógio, o dia, ano, hora e lugar, que eu estarei lá, é só o tempo de terminar isso aqui.


- Perfeito... er... tchau...


- Até daqui a pouco, Capitã Sara Lance – respondeu Chris, desligando e voltando a sair para o corredor – Eu to muito ferrada...


Ela chegou ao quarto que deveria ser de Judith, e abriu a porta devagar, encontrando a mulher deitada na cama, olhando uma foto. Quando viu Chris, ela se assustou e tentou se mover, mas estava fraca demais.


- Leve tudo o que quiser, mas por favor não faça mal a minha família... – falou ela, sem soltar a foto, agora escondida contra seu peito – ou machuque a mim, estou morrendo de qualquer forma...


- Eu não vim te machucar – falou Chris, encostando a porta e caminhando até a cama – Vim te trazer uma mensagem de Erica Morini...


- Você não parece uma mensageira... e suas roupas são estranhas...


- Elas são mesmo – sorriu Chris – Eu estive com Erica, no futuro, e ela disse que o maior arrependimento dela, foi não ter te contato o que ela sentia...


- Como assim?


- Tem o nome da Erica atrás dessa foto, gostava dela, sra Davidoff?


A mulher baixou a foto devagar, mostrando a imagem dela e Erica, jovens, juntas e sorrindo.


- Erica nunca notou que eu a amava... – contou Judith – Eu teria enfrentado o mundo, se ela dissesse que queria ficar comigo...


- Isso é pra você – falou Chris, tirando a carta do bolso e entregando para ela – Eu queria poder entregar isso na juventude de vocês, para que tivessem tempo de ficarem juntas, sabendo o que uma sentia pela outra, mas eu não posso... seria um rasgo grande demais na história...


Judith leu a carta, e conforme avançava, seus olhos se enchiam mais de lágrimas, até que elas começassem a rolar pelo seu rosto. Em um canto do quarto estava seu violoncelo, o mesmo da foto que Chris havia pego na casa de Erica, do concerto que tocaram juntas, o último da carreira de ambas.


- A data... – falou a artista, com a voz embargada – É do mesmo dia do Concerto... foi quando tocamos juntas...


- Eu peguei a foto daquele dia – admitiu Chris – esta em um lugar especial, junto ao violino dela...


- Ela me amava – sorriu Judith, seu rosto se iluminando apesar da doença – ela disse que se apaixonou por mim no momento que me conheceu...


- E você foi o último pensamento dela antes de morrer, daqui a 15 anos...


- Não deveria guardar segredo sobre esse tipo de informação? Se eu contar para alguém, você poderia se encrencar...


- Não é um risco – falou Chris, com um suspiro triste.


- Eu acho que sei por que você está aqui... – falou a artista, observando Chris – Você é um anjo latino, como os que tenho na estante, que são muito mais lindos que aqueles branquinhos, e veio me dar minha última alegria antes de eu deixar essa vida... Não tem medo de eu contar a ninguém, porque você é a última pessoa que verei...


- Não precisa ser eu – falou Chris - tem algo melhor que pode ver antes de partir...


- Quanto tempo eu tenho?


- Não muito...


- Me dê aquele bloco de papel e uma caneta, rápido...


Chris obedeceu e ela começou a escrever, concentrada, sua pele ficando mais pálida. Quando terminou, ela entregou para Chris a folha dobrada.


- O que precisa que eu faça? – perguntou Chris – guardando o papel no bolso.


- Quero que leve aquele violoncelo quando eu partir, e deixe junto com o violino de Erica, com esta carta dela e esta foto nossa... E o bilhete que te entreguei, o dia que você encontrar a pessoa que você sentir que é a escolhida, que vai envelhecer ao seu lado, neste dia você deve abrir a carta com esta pessoa, até lá, deixe-o com os instrumentos... me promete?


- Eu juro – falou Chris – Agora você tem que descansar... Ela disse que fechava os olhos quando tocava, porque...


- Porque imaginava meu rosto, exatamente como eu fiz todas as vezes depois que a conheci...


Chris acionou o relógio, reproduzindo o holograma em cores de Erica na cama, tocando seu violino, e foi olhando para sua amada secreta, que Judith fechou os olhos pela última vez, morrendo em paz, e com um sorriso no rosto.


Chris respirou fundo, secando as lágrimas, e desligou o holograma, pegando o estojo do violoncelo e carregando para fora, atenta para garantir que não seria vista. Quando voltou para nave, foi direto ao acervo, cumprir a promessa feita a Judith, colocando o violoncelo junto ao violino, bem como os demais itens.


Anny não estava, e como sem ela a Galáctia não voava, Chris pegou a Saturno, a nave menor, digitando as coordenadas mandadas por Sara e viajando no tempo.


- Brasil então – sorriu Chris, de óculos escuros e regata preta, parando atrás de Sara, que observava a vista no alto de um morro, sem ninguém por perto.


- Ideia da Gideon, fazer as Lendas tirarem férias... – sorriu Sara, se aproximando – Então, como foi o roubo?


- Não foi um roubo...


- Acabei de receber uma notificação da Gideon dizendo que o violoncelo de Judith Davidoff foi roubado na noite da morte dela... – sorriu Sara.


- Foi muito mais que isso – riu Chris – E então, Capitã, duas semanas... achei que não me procuraria em menos de um mês...


- É estranho estar de férias... e foi quase um mês te mantendo presa, se eu tivesse resistido a você, ainda estaria na Waverider...


- Eu não posso mais passar tanto tempo longe da minha nave – admitiu Chris – Mas... ainda posso aproveitar algumas horas em sua companhia, se quiser...


- As Lendas não podem saber...


- Não estou vendo as Lendas aqui – disse Chris, sorrindo com maldade – mas a Saturno esta ali, e tem uma cama, pequena, mas bem útil...


- Tem uma cama na sua nave de fuga? – riu Sara, caminhando devagar com Chris – É tipo um lugar para você poder transar com quem quiser, no ano que quiser, mas com muito conforto?


- Hoje não tenho certeza se quero sexo com você...


- Mas é só isso que vai ter de mim, nada além de pegação...


- Deixa eu reavaliar os pontos... – falou Chris, abrindo a porta da nave – Me acompanha para um drink, capitã?


- Melhorou – sorriu Sara, entrando na nave enquanto Chris desativava todo o recurso tecnológico dela internamente, e fazendo-a se aparentar com uma pedra gigante – É como a Jump Ship, só que mais completa...


- É para ser um mini flet portátil – respondeu a hacker, servindo dois copos de bebida – O que te fez me ligar?


- Eu não ia fazer isso – admitiu Sara, sentando no sofá que saiu da parede – passei por uma situação bem complicada com a última mulher com quem me envolvi, e não é fácil se recuperar de algo como aquilo...


- Quer me contar o que houve?


- Você viajou até aqui só para me ouvir falando da minha ex?


- Sou uma boa ouvinte – sorriu Chris, sentando na frente de Sara e observando-a – se abre comigo...


- Você é muito estranha...


- É a terceira pessoa que me fala isso só hoje – riu Chris – tem dores que só superamos se admitirmos que a sentimos...


- Acho que está certa... então... a 5 anos eu estava em um relacionamento sério, éramos casadas, da pra se dizer, e tudo era ótimo...


- O que aconteceu?


- Viajamos a Terra 17, para atender um pedido de socorro, e quando chegamos lá, a cidade tinha uma heroína que lutava pela justiça e pelo bem, sem nunca ter matado ninguém... Tive um problema com a equipe e fiquei de fora da missão, acho que foi o maior erro que já cometi...


- Alguma Lenda se feriu?


- Tão ruim quanto... – falou Sara, olhando para o próprio copo – Eles ficaram presos lá por 2 anos, sem mim... pra eles foram 2 anos, pra mim, 9 meses... a heroína da Terra 17 era uma versão minha, que nunca roubou o namorado da irmã, nunca naufragou, nunca foi salva da morte pela Liga dos Assassinos, nunca se apaixonou por Nyssa al Ghul, nunca foi morta e ressuscitada com o Poço de Lázaro...


- Então ela não era você... – ponderou Chris - Parecia fisicamente com você, mas essa mulher não era a Sara Lance...


- Ava e ela ficaram muito próximas no tempo que ficaram presas lá... – contou Sara, olhando para Chris – quando eu finalmente encontrei eles, a Sara da Terra 17 e a minha Ava, haviam se apaixonado...


- Eu sinto muito...


- Elas eram perfeitas juntas, mesmos sonhos, ela escutava a Ava e a seguia cegamente, como eu nunca consegui fazer... A Ava era a prioridade dela em todos os aspectos...


- Se você contestava as decisões da Ava, era porque tinha motivos para isso... seu instinto é muito bom, Capitã...


- Eu transei com você ao invés de te manter presa – riu Sara.


- E eu devolvi o livro assim que fugi – riu Chris.


- Te liguei enquanto estava invadindo uma casa...


- Te conto outra hora o que rolou lá, eu juro, mas você mesma disse, sou uma pessoa do bem... Você tem ótimos instintos, e seu lado sombrio, é muito sexy...


- Eu poderia te matar enquanto dorme...


- Não poderia, porque parte fundamental da pegação, é não passar a noite...


- Você esta certa, hoje também não estou no clima para ficar aqui com você...


- Ouvi dizer que no Brasil existem excelentes trilhas no meio da natureza, o que acha de fazermos uma? Pode ser divertido... você tem jeito de quem é boa fazendo trilhas...


- Só por que sou boa com facas?


- Sua postura, seu corpo, mas é, as facas também contam... Topa?


- Não vai dormir comigo então?


- Pegação é pegação – riu Chris. – Vem, vamos caminhar por aí, capitã Lance...


Elas se trocaram, ativaram o mapa e saíram em caminhada carregando apenas uma mochila pequena com água, e uma adaga cada uma.


- Agora que estamos conversando, vai me contar como entrou para a Liga? – perguntou Sara, quebrando o silêncio.


- Indo pra cama com as filhas de Ra's al Ghul – contou Chris, rindo.


- Espera, as duas?


- É, mas uma de cada vez, sou uma mulher decente...


- Você é o motivo da Talia e da Nyssa se odiarem?


- Acho que um dos motivos – brincou Chris – mas os al Ghul são uma família bem complexa e cheia de problemas.


- O que estava fazendo hoje quando te liguei?


- Mais cedo eu fui em Nova York em 1995, em um apartamento de luxo em frente ao Central Park...


- Foi visitar uma de suas amantes?


- Não tenho amantes – explicou Chris – para chamar alguém de amante eu teria que ir para cama mais de uma vez com a pessoa, e isso só aconteceu com uma mulher...


- Você pega e deixa as garotas sofrendo por você enquanto foge para outro ano?


- Da pra se dizer que sim – riu ela – Mas eu fui ao apartamento para roubar o violino de Erica Morini, a primeira mulher a se destacar nesse meio, eu fui buscar um dos violinos mais raros do mundo...


- Já ouvi falar dela, meu pai adorava as músicas da Morini... o que aconteceu lá?


- Eu me senti mal por roubar ela, e fui até o quarto pedir o violino...


- Depois de invadir a casa dela no meio da madrugada, invadiu o quarto para pedir algo que já tinha roubado?


- Tipo isso...


- Jurei que tinha um QI alto, isso me prova o contrário...


- Anny disse a mesma coisa – riu Chris – mas é complicado entende... Erica é um exemplo pra mim, eu queria o violino, mas não queria desonrar ela...


- Quem é Anny?


- Minha Gideon – contou Chris – mas diferente da de vocês, a minha é jovem e birrenta, além de andar pela nave me deixando irritada. Continuando, eu entrei no quarto de Erica e ela estava acordada, falei que eu era uma viajante do tempo...


- Espera, você fez o quê?


- Ela ia morrer em poucos dias, a idade tava levando toda a mente dela, ninguém acreditaria...


- Ta, faz sentido...


- Além do mais, odeio usar fantasias...


- O nome correto é trajes da época...


- Ainda assim são fantasias. Em resumo ela contou que amou uma mulher a vida toda em segredo e pediu que eu voltasse no tempo e entregasse uma carta de amor para essa mulher, que havia morrido em 1980. Também pediu que eu tocasse uma música no violino...


- Você toca violino? – perguntou Sara, parando e olhando nos olhos da mulher, ambas estavam suando muito devido a alta temperatura.


- É só um dos meus múltiplos talentos – ofegou Chris – Eu toquei o violino, mas antes gravei ela tocando com isso...


Chris apontou para o relógio, e Sara apertou o botão que deu inicio a reprodução da gravação. Elas assistiram em silêncio até o final da música, e quando o holograma apagou, Sara deu um beijo de leve em Chris.


- Isso foi lindo, Sh4dow... – sorriu Sara, segurando sua mão e fazendo-a continuar a caminhar.


- É, foi sim... Ela amou quando me ouviu tocar e me deu o violino, me deixando pegar o que mais eu quisesse na casa...


- E o que mais você pegou?


- Um baú de cartas de amor dela para Judith Davidoff, uma foto das duas, uma garrafa de Uísque e dois copos.


- Você é romântica... – riu Sara.


- Não tenho como saber, nunca namorei ninguém. Quando você me ligou eu estava na casa da Judith, para entregar a carta...


- Nunca namorou?


- Minha vida é bem complicada Sara, namorar nunca chegou a ser uma opção.


- Eu te entendo... e como você levar uma carta de amor para Judith, acabou no roubo do violoncelo?


- Não acabou – admitiu Chris – Cheguei na véspera da morte dela, para não prejudicar a história... Entreguei a carta, ela ficou radiante, me deu o violoncelo para que eu deixasse junto com o violino, as cartas e as fotos das duas, e um bilhete que eu devo abrir apenas quando eu encontrar meu verdadeiro amor. Ela morreu vendo esse vídeo que eu fiz, morreu olhando para a mulher que amou a vida toda e nunca pode admitir por medo...


- Deu uma morte feliz para ela... definitivamente você é romântica... pena que só nos pegamos...


- É, e quanto mais repete isso, menos atraída eu me sinto por você...


- Isso é sério? – perguntou Sara, perdendo o sorriso.


- Claro que não, Sara Lance, mas irrita bastante... estamos quase chegando...


- Onde?


- No paraíso... – respondeu Chris, empurrando um tronco de árvore grosso que abriu uma fenda para uma cachoeira escondida entre as rochas.


- Sabia que encontraríamos este lugar?


- Não tinha certeza se conseguiria de fato, mas sim, meio que sabia...


- O que tem em mente?


Chris sorriu e largou a mochila na beira da cachoeira, tirando a roupa e ficando só de roupa íntima, mergulhando no lago. Sara a observou nadar por alguns minutos, até que fez o mesmo, e as duas ficaram ali por algumas horas, apenas curtindo o silêncio da natureza. Quando começou a anoitecer, elas se arrumaram e voltaram para trilha.


- Eu tenho uma pergunta... – falou Sara.


- Só uma? – riu Chris – Pode perguntar tudo o que quiser, Sara Lance...


- Ta, primeiro: Por que fica me chamando de Sara Lance?


- Gosto como soa, Sara Lance – brincou Chris.


- Posso aceitar essa resposta – riu Sara – outra pergunta: se você fica com as garotas uma vez e some, por que me deu um meio de falar com você?


- Tem algo de diferente em você... faz com que eu me sinta mais humana...


- Roubar te deixa menos humana?


- O mundo precisa de ladrões Sara, a historia precisa que determinados itens sejam roubados, para se destacarem ou simplesmente para ajudarem em guerras...


- Então você é uma das heroínas...


- A quem chame assim...


- Mas se o que você faz é bom, por que não se sente humana?


- É uma longa história, que vou deixar para outro dia, mal nos conhecemos...


- Entendi, menos sentimentalismo.


- Exato. Fiz uma promessa de nunca mais passar a noite fora, para alguém muito importante pra mim... Esse é o motivo de estarmos voltando ao invés de isoladas naquele paraíso...


- Além da Nyssa e da Taila, quer me contar quem mais caiu da sua lábia de ladra?


- Você – riu Chris.


Quando elas retornaram a Saturno, a lua já estava alta no céu, longe da iluminação da cidade, o azul intenso era coberto de estrelas.


- Obrigada pelo passeio, eu estava precisando – agradeceu Sara.


- Acho que eu também... Sei que estão de férias, mas se precisarem de ajuda, me chama...


- Amigas então? – perguntou Sara, sorrindo para ela.


- Amigas com benefícios – concordou Chris – Precisa de uma carona?


- Estou de moto...


- Nada mais sexy que uma guerreira que também anda de moto – sorriu Chris, dando um beijo nela – Até breve, Sara Lance...


- Até breve, Sh4dow...


A hacker entrou na nave e ligou o sistema, reativando as tecnologias, iniciando voo.


- O que esta fazendo no Brasil? – perguntou Anny, aparecendo atrás dela e assustando-a.


- Caramba, odeio quando faz isso – resmungou Chris, digitando os comandos.


- Achei que tínhamos um acordo, você não sai sem me dizer onde vai, e eu não te mato eletrocutada...


- Você me ama demais para me matar – respondeu a hacker, acionando o piloto automático para levá-las direto a Galáctia, e se virando para olhar a garota, sentada no sofá.


- Por que o Brasil?


- Gosto do clima tropical...


- Mentira.


- Prometi não passar a noite fora, e não passei, estamos juntas e voltando para a nave.


- Por que roubou um violoncelo? Não estava nos planos...


- Eu não roubei – respondeu ela, cansada.


- Não tínhamos um violoncelo e agora temos um violoncelo, e não somos o tipo de time que compra coisas, então ou aquele negócio esquisito apareceu com magia na nave, ou você roubou. Sou uma gênia tecnológica, então advinha: não acredito em magia...


- É uma longa história, só quero descansar...


- Nós somos criminosas, e criminosas não descansam!


- Tenho um presente que vai acabar com essa sua chatice crônica, Anny...


- Vai tentar me comprar com presentes? Você não muda nunca...


- Tanto faz – respondeu Chris, começando a se irritar e digitando alguns comandos no painel.


- Vou começar a planejar o próximo roubo... – avisou Anny.


- Por que não tiramos férias? – perguntou Chris.


- O que esta acontecendo com você? Nunca sugeriu férias, essa não é a minha Chris...


- Só hoje eu vi duas mulheres que se amavam morrerem uma sem a outra ok? – respondeu ela com raiva – Eu to cansada!


- Então se liga na novidade – se enfureceu Anny – Eu e você estamos juntas nessa, eu só estou aqui por sua causa, então ou você resolve essa sua crise existencial ridícula, ou vai estragar tudo! Descanse, amanhã a noite teremos uma nova missão e é bom que esteja focada!


Elas chegaram na Galáctia e Chris seguiu para a sala de treinos, colocando os fones e descarregando sua raiva em horas de luta e musculação. Já passava das 3h quando ela tomou banho e se deitou. A nave era impecável na limpeza e na organização, e a hacker tirou o dia para trabalhar na manutenção dos equipamentos. Quando anoiteceu, ela se trocou e foi até a sala de comando.


- O que você fez comigo? – perguntou Anny, escorada na mesa com olhar irritado.


- Boa noite para você também, e me agradece depois – respondeu Chris – Onde vamos hoje?


- Já que está tão interessada no clima tropical, ficaremos no Brasil, vamos para 19 de janeiro de 2007 – respondeu Anny, abrindo o holograma – No Masp, em São Paulo. É um roubo limpo, você entra, pega “O Lavrador de Café”, de Candido Portinari feito em 1939, e “Retrato de Suzanne Bloch”, de Pablo Picasso, feito em 1904.


- Por que esses em especial?


- Porque eles estão avaliados em R$ 195 milhões de reais, e serão roubados amanhã e encontrados em 19 dias. Você rouba os dois, e vende para o homem que deve ser preso por este crime... Fácil, você não deve levar mais que 5 minutos para pegar e sair...


- Isso significa que eu vou estar lá dentro quando o museu fechar...


- Entrando na verdade. Você foi contratada pelo museu para melhorar a segurança deles. Se chama Luiza e trabalha para a Segurança do Governo Federal...


- Não tenho cara de Luiza...


- Não tem mesmo, mas essa jovem tem – respondeu ela, mostrando o rosto da menina – Na verdade ela de fato trabalha para o governo Federal, só que como uma Deputada de um dos partidos pequenos, não entendo muito o sistema eleitoral desse país...


- Vamos prejudicar uma pessoa do bem?


- Passar quase um mês com as Lendas quebrou você – reclamou Anny – Mas se te deixa melhor, ela esta envolvida em alguns esquemas de caixa 2, compra de votos e lavagem de dinheiro... o povo brasileiro definitivamente não sabe votar. Dúvidas?


- Já programou meu reprodutor holográfico com a voz e aparência dela?


- Claro que sim, fala como se eu tivesse começado a fazer isso ontem...


- Vamos ao trabalho.


Enquanto Chris se preparava para o trabalho, as Lendas seguiam curtindo as férias, aproveitando a noite para fazer um luau no trecho de praia privado que Ray havia comprado.


- Esta tudo bem com você? – perguntou Nora, sentando no deck ao lado de Sara, que observava sua equipe rindo e dançando ao redor da fogueira.


- Estamos felizes – comentou Sara – é tão bom ver todos juntos brincando e rindo...


- Nem todos, você esta aqui, longe e parecendo triste...


- Acho que uma parte de mim esta desesperada por outra missão arriscada – admitiu Sara – desaprendi a viver na calmaria...


- Logo alguém faz uma besteira monumental e a Gideon acaba nos chamando para arrumar... Você passou o dia fora ontem, estava com a Sh4dow?


- Sim, fomos fazer uma trilha...


- Sei que mantínhamos ela como prisioneira, mas sinto falta da companhia dela... E acho que ter ela na nave fazia parecer que estávamos fazendo algo importante, eu acho...


- Achei que só eu me sentia assim – sorriu Sara – Fico feliz que tenha topado ficar de vez com a equipe...


- Eu também – respondeu Nora, abraçando-a – o Ray é tão bom e tão fofo que parece que ele contagia a todos por perto... Tenta só curtir essas férias e essa casa, depois vemos o que vai acontecer.


- Acho que vou começar agora, vem Nora, vamos dançar...


Sara puxou Nora para junto do grupo e foram aproveitar a noite, enquanto 22 anos antes, Sh4dow invadia o Museu de Arte de São Paulo. Tanto aquele, como tantos outros roubos foram bem sucedidos, algumas coisas iam para o acervo, outras tantas eram vendidas e outras apenas entregues em troca de uma alta quantia em dinheiro. Já haviam passados 2 meses que Sh4dow havia fugido da Waverider e Sara não tinha voltado a procurá-la depois do encontro no Brasil, quando a hacker estava trabalhando em seu escritório em um vírus de computador novo, e recebeu um chamado.


- Gideon, que surpresa – falou ela, atendendo a ligação.


“- Eu não deveria me meter, mas as Lendas estão com problemas e precisam de você...”


- Foi a Sara que me chamou?


“- Eu estou lhe chamando, Comandante Dragons, temo pela vida das Lendas...”


- Me manda a localização e o ano, estou a caminho – respondeu Chris, fechando o computador e saindo do escritório.


- Onde vai? – perguntou Anny, quando ela entrou na sala de roupas e acessórios e pegou algumas peças.


- Fazer um roubo solo – respondeu Chris, pegando duas armas no armário de arsenal.


- Esta indo encontrar aquela gente né? Eles te esqueceram, deveria fazer o mesmo...


- Não te perguntei nada – respondeu Chris – volto antes de amanhecer.


Ela foi até a Saturno e programou o piloto automático, se trocando e vestindo roubas do velho oeste, prendendo as armas na cintura. Quando chegou ao local, um forte tremor atrapalhou o pouso da nave, mas com ele foi possível identificar onde poderiam estar as Lendas.


“- Se não se importar, serei sua copiloto hoje – avisou Gideon – espero que possamos nos dar bem...”


- Vai ser um prazer Gideon – respondeu Sh4dow, montando em um cavalo e cavalgando na direção da explosão – que tipo de anacronismo as lendas encontraram aqui?


“- Em resumo, alguém sequestrou a Rainha Elizabeth II e a largou aqui...”


- Espera, o quê?


“- A Rainha da Inglaterra Elizabeth II esta escondida no porão do Saloon, enquanto as Lendas tentam protegê-la de Billy Clanton... Capitã Lance precisa de você, ela e Wyatt Earp estão com problemas...”


- Estou chegando... – respondeu Sh4dow, cavalgando mais rápido.


Ela chegou ao lugar da explosão e identificou Sara atrás de uma pilha de barris de metal, ao lado de um homem, atirando contra outros 4 pistoleiros. Sem chamar a atenção e se aproveitando da confusão, ela se aproximou dos homens pelas costas e deu um tiro em cada um, derrubando-os e aproveitando para amarrá-los.


- Os tiros pararam – deu para ouvir a voz de Wyatt.


- Se tiver alguém aí, saia com as mãos para cima – mandou Sara, se aproximando de onde ela estava, mas a hacker corria para arrastar e amarrar os homens antes que eles acordassem – Estou pronta para atirar para matar, é um aviso...


- Seria muito bom se não fizesse isso – falou Chris, amarrando os pés do último homem no momento que Sara surgiu por trás da carroça virada.


- Sh4dow? – perguntou ela, surpresa - O que faz aqui?


- O velho oeste é literalmente uma mina de ouro para uma ladra – falou ela, levantando e ajeitando o chapéu – estava na mina quando ouvi a explosão, e decidi ajudar...


- É bom te ver – falou a Capitã, abraçando-a – Salvou nossa vida...


- Foi um prazer – sorriu Chris, quando a Capitã a soltou – Então, imagino que tenham um lugar para colocar esses homens...


- Eu vou chamar meus rapazes para isso – falou o homem que acompanhava Sara – Você é uma excelente atiradora, prazer, me chamo Wyatt Earp, vim assumir o posto de Xerife da cidade...


- Sh4dow, - respondeu ela, apertando a mão do homem - vim roubar a mina da cidade, mas em respeito ao senhor, vou para outro lugar...


- Se importa de ficar? – perguntou Sara, quando Wyatt se afastou para falar com seus companheiros.


- Não sabia que queria me ver – respondeu ela, caminhando devagar pela rua – a dois meses não tenho notícias suas...


- Acho que nem eu tinha certeza se queria isso...


- O que mudou?


- Você apareceu e salvou minha vida – sorriu Sara – Acho que é motivo o suficiente para querer ficar um pouco mais com alguém... Fica... só para essa missão... as Lendas sentem sua falta...


- O que eu ganho em troca?


- Como assim?


- Eu sou uma ladra, Sara Lance, se não vou roubar o ouro da cidade e você quer que eu fique, me dê algo em troca...


Sara a puxou pelo sobretudo e a beijou, segurando-a firme junto dela. Quando a soltou, Sh4dow lhe olhou nos olhos.


- É isso que eu posso te oferecer – falou Sara – hoje e todas as outras vezes que eu te chamar ou você aparecer de surpresa. Isso e algumas horas de diversão... o que me diz?


- Que temos um acordo – respondeu ela, sorrindo.


- A missão é bem estranha – falou Sara, soltando Chris e caminhando até o Saloon – precisamos levar a Rainha Elizabeth II até a Inglaterra em 2020...


- E vocês esconderam a mulher mais importante do mundo e da história em um Saloon – comentou Sh4dow, entrando no lugar com Sara.


- Não parece surpresa...


- Vocês são as Lendas – respondeu ela – Isso é literalmente a cara de vocês...


Quando entraram no porão, Ray e Mick levantaram e apontaram as armas para elas, mas baixaram assim que as reconheceram.


- Sh4dow! – falou Ray, com um imenso sorriso, puxando ela para um abraço.


- Eu quase esqueci que você curtia abraços – sorriu Sh4dow, sem jeito, dando tapinhas nas costas dele e apertando a mão de Mick assim que Ray a soltou.


- Bom te ver de novo, Sh4dow – falou Mick.


- Digo o mesmo... Olá Rainha...


- Olá Sh4dow – sorriu a mulher – Você ficou bem com essa roupa, o velho oeste combina com você...


- Mas não com você – falou ela sorrindo – logo vamos tirar você daqui, vou me juntar as Lendas para esse trabalho...


- Como conhece a Rainha? – perguntou Sara, observando as duas.


- Sh4dow hackeou o sistema de segurança do Palácio de Buckingham e conseguiu entrar no meu cofre – contou a rainha, com gentileza – levou minha coroa debaixo dos olhos dos meus homens...


- Você roubou a rainha e ficou solta? – perguntou Mick – Sou seu maior fã...


- Sh4dow é um encanto – falou a monarca – Ela devolveu a coroa e a pagamos para melhorar nosso sistema de segurança, mas há uma joia da família que nunca mais encontrei, só que deixei como um segredo meu e dela, pelas horas de conversa agradáveis que tivemos...


- Por que não a levam para a Waverider? – perguntou Sh4dow, olhando para o grupo.


- O sistema de segurança não funciona – falou Ray – foi danificado durante uma explosão...


- Eu posso resolver isso... – falou Sh4dow, pegando o celular e digitando alguns comandos – Elizabeth, logo te levaremos para um lugar mais aconchegante e limpo, tem minha palavra...


- Te encontro para o chá das 17h?


- Com uma dose de conhaque – sorriu ela, dando um beijo no rosto da rainha e subindo com Sara.


- Para uma fugitiva do tempo, você é cheia de surpresinhas, Sh4dow... – falou Sara, contendo um sorriso.


- Não viu nada ainda – respondeu ela, piscando para Sara e apertando o comunicador, subindo no cavalo e oferecendo o braço para que Sara subisse atrás – Gideon...


“- Sim, Comandante Dragons...”


- O que exatamente esta danificado na Waverider, consegue identificar?


“- Certamente Comandante, houve um curto elétrico na rede de segurança e parte dos fios pegou fogo. Eu consegui conter o incêndio mas para arrumar será necessário trabalho manual...”


- Como acessou a Gideon? – perguntou Sara, se segurando em Chris.


- Hackeei ela, precisam melhorar o sistema de segurança de vocês, é pior que o do Palácio da rainha, antes de eu arrumar, claro...


- Acho que os seus crimes te deixam mais atraente do que você já é – falou Sara, e Chris disfarçou um sorriso.


Elas chegaram a nave e Chris foi direto aos motores e fios da Waverider, enquanto Sara a observava. O trabalho durou horas, enquanto ela cortava alguns fios, conectava novas placas e trocava parte da rede interna, usando um aparelho que parecia um anel comum, mas que liberou uma carga de energia que acendeu todas as luzes da nave. Ela saiu de baixo do painel onde estava e encontrou a Capitã sorrindo.


- Conseguimos – falou Sh4dow, sentando, satisfeita consigo mesma.


- Acho que o sistema de segurança do meu quarto precisa ser arrumado também – falou Sara, com um sorriso maldoso – pode ver isso pra mim?


- Acho que posso – concordou Chris, compreendendo o olhar.


Quando elas voltaram para junto do grupo, quase duas horas depois, estava tudo preparado para embarcar a rainha na nave. Tudo se resolveu sem maiores problemas e Chris ainda conseguiu roubar um pedaço de bom tamanho de liga de estrela anã, que estava escondida em uma das minas. Com esse material ela poderia fazer novas modificações na Galáctia, e tentar melhorar o humor de Anny.


Com o passar das semanas, cada vez que as Lendas tinham um problema mais sério, Chris aparecia como que por milagre para salvá-los, e Anny estava cada vez mais insatisfeita com os sumiços frequentes de sua companheira de viagem. Em um dia particularmente agitado, onde Chris ajudou o grupo a literalmente devolver um ovo de dinossauro para o período correto da história, Anny a atacou assim que ela chegou no escritório, largando o chapéu estilo Indiana Jones na mesa.


- Achei que não curtisse fantasias... – provocou Anny.


- Não são fantasias, são trajes de época – falou Chris, servindo um copo de uísque.


- Realmente você não é mais a mesma, até dessas porcarias esta gostando...


- Elas ajudam a se camuflar no ano que estamos...


- Eu não quero mais que veja eles – falou Anny, cruzando os braços, séria – Só quer saber das Lendas agora, passa o dia todo com eles...


- E a noite toda com você, não estou dormindo fora, exatamente como prometi...


- Eu te proíbo de ir novamente até aquela nave...


- Deixa eu te contar uma novidade Anny – respondeu Chris, muito séria – Você não manda em mim... Se eu quiser ajudar as Lendas e elas quiserem minha ajuda, eu vou e não vai ser você que vai me impedir...


- Eu e você somos um time, e isso sempre bastou pra você – respondeu Anny, começando a alterar o tom de voz.


- Talvez eu goste de fazer parte do time deles também... – respondeu Chris, tentando controlar a raiva.


- EU E VOCÊ, SEMPRE FOI O SUFICIENTE PARA TE FAZER FELIZ, VOCÊ DORME COM AQUELAS GAROTAS MAS É PRA MIM QUE VOCÊ VOLTA, E ISSO SEMPRE BASTOU! – gritou Anny, segurando o choro.


- TALVEZ NÃO BASTE MAIS! – gritou Chris de volta, e então respirou fundo e diminuiu o tom de voz – Olha Anny, eu te amo mais do que eu amo a mim mesma, mas eu não aguento mais ok? Eu tenho 38 anos, e o que eu sou? Uma ladra que vive numa nave imensa com você e que tem toque de recolher... Entramos nisso juntas, mas eu preciso ter uma vida sem você, e isso não vai diminuir o amor que eu sinto, eu preciso que entenda...


- Isso é por causa dela né? – perguntou Anny, lágrimas escapando de seu rosto – É por causa da Lance né? Esta se apaixonando por ela... mas ela nunca vai querer nada sério com você, é só uma distração pra ela, ninguém vai te amar como eu te amo...


- Eu preciso de um tempo... – falou Chris, pegando a garrafa que roubou do apartamento da violinista e saindo do escritório.


- Onde você vai? – perguntou Anny, seguindo-a até seu quarto.


- Pra longe de você, pelo menos por uns dias... – respondeu Chris, enfiando umas roupas na mochila – Você precisa conviver com alguém além de mim, então fiz uns ajustes e conectei a Gideon na Galáctia, ela é divertida, vai ser bom pra você, e criei um colar que vai te permitir circular por Florença em 1503... Se cuida Anny, amo você...


- Ela não vai te aceitar na nave, não significa nada para a Lance... – provocou ela.


- Não tenho só a Waverider para ir – rebateu ela, caminhando até a Saturno – Te vejo em alguns dias, considere isso como merecidas férias...


Assim que Chris entrou na nave menor, ela inseriu um pendrive no painel e se soltou da Galáctia, olhando para a zona temporal e avaliando onde poderia ir. Era a primeira vez em 10 anos, que ela não tinha nenhum plano traçado e um objetivo em mente do que fazer, mas a ligação de Sara foi uma forma de resposta.


“- Esta ocupada?”


- Não pra você – sorriu Chris, apesar do olhar triste e cansado – As Lendas precisam de algo?


“- Na verdade EU preciso...”


- Eu... adoro estar com você Sara, mas não to muito bem hoje...


“- Sh4dow, somos amigas lembra? Esta na Saturno, e se o holograma não estiver com problemas, tem uma mala bem grande ali atrás de você... Quer me contar o que houve?”


- Vou passar uns dias fora da Galáctia, acho que preciso descobrir o que pretendo ser daqui pra frente...


“- Ray vai fazer o jantar hoje, e como bom aprendiz de príncipe da Disney, ele é ótimo cozinhando também...”


- Está me convidando para jantar? – sorriu Chris.


“- Minha cama é confortável... – continuou Sara – e grande o suficiente para nós duas... Não precisamos fazer nada, só vem se divertir um pouco com seus amigos...”


- Vou passar em um lugar, e vou para a Waverider... – concordou Chris – me manda a localização de vocês que logo mais estou aí.


Sara desligou a conexão e caminhou até a cozinha, onde todo o grupo estava reunido falando ao mesmo tempo e rindo. Ela tentou chamar duas vezes mas ninguém a ouviu, então ela deu um assovio muito alto, e todos congelaram e olharam pra ela.


- É o seguinte, acabei de ligar para a Sh4dow, convidei ela para jantar com a gente...


- Estão assumindo o namoro? – perguntou Ray, animado.


- Não, espera, o quê? – perguntou Sara, sem entender – Da onde tirou uma besteira dessas Ray?


- Não é besteira – falou Mick – Todo mundo sabe que você ta dormindo com a Sh4dow...


- Só podem estar malucos, eu e ela não temos nada a ver – retrucou Sara – somos apenas amigas...


- Você esta mais feliz desde que ela começou a aparecer com mais frequência nas missões – falou Nate – Cada vez que saem juntas para resolver algum problema, levam quase 2 horas para voltar, o que eu particularmente acho admirável...


- Gostamos dela – complementou Ray – Muito na verdade, ela é tipo uma Lenda Temporária, é praticamente da família... estão juntas a o quê, uns 5 meses? Só acho esquisito que ela nunca passou a noite aqui com você, mas isso é lance de vocês duas...


- Tá bom, vocês venceram, eu e ela estamos saindo, mas é só pegação, sem envolvimento afetivo, puramente físico. Ela vem hoje jantar e parece muito triste com algo, conto com a ajuda de todos para animar ela, é o mínimo que podemos fazer depois da quantidade de vezes que ela salvou nossa vida, estão de acordo?


- Nem precisava pedir – sorriu Charlie - Sh4dow vai ter a noite mais divertida da vida dela... bom, a segunda mais divertida, digo isso porque já vi vocês ficarem trancadas no escritório por 5 horas...


- Essa é a minha Capitã – riu Mick, erguendo a cerveja em um brinde.


- Vocês me matam de vergonha... – reclamou Sara, saindo da cozinha enquanto o grupo voltava a conversar todos ao mesmo tempo, indo até a sala dela, onde encontrou Chris sentada na sua poltrona, olhando distraída para o globo terrestre – Você já chegou...


- Gosto da sua sala – falou ela, olhando para a Capitã – desculpa invadir assim...


- É o seu lance, invadir lugares e aparecer de surpresa – sorriu Sara, sentando de lado no colo de Chris e colocando o braço por cima de seu ombro – quer me contar o que esta acontecendo?


- Já se questionou sobre o que esta fazendo da sua vida? – perguntou Chris, passando a mão distraída na perna de Sara – sobre o que pensa para seu futuro, ou o que conquistou até agora?


- Me perguntei muito isso quando Laurel e Thea me ressuscitaram usando o Poço de Lázaro, quando voltei a vida faminta por sangue... Eu tinha ido ao inferno e voltado, mas não tinha um lar que fizesse eu sentir que me encaixava...


- E o que aconteceu?


- Um inglês maluco reuniu 8 desajustados nesta nave, 8 pessoas cuja a morte não causaria dados ao futuro ou a história, e nos convidou a morrer para tentar salvar o mundo de Vandal Savage...


- Você é uma Capitã muito melhor do que ele foi, sabe disso né?


- Adoro quando fala de mim como se eu fosse uma super heroina dos quadrinhos...


- Você é, pelo menos pra mim... – respondeu Chris, beijando-a.


- Eu contei pra equipe que estamos, nos pegando...


- E como eles reagiram?


- Aparentemente todos já sabiam, não sei exatamente o motivo, mas ficaram felizes que você viria jantar... Disse que precisava ir a um lugar antes de vir, conseguiu resolver o que queria?


- Bom, eu meio que consegui – respondeu ela, pegando uma caixa com 12 cervejas e mostrando a ela.


- O pessoal vai amar...


- E isso aqui... – ela ergueu a garrafa de uísque – é pra nós duas...


- Não me diz que é aquele que você pegou na casa da...


- É ele mesmo – sorriu Chris – É o uísque da Erica Morini...


- Esconde essa garrafa, quero apreciar ela com você lá no meu quarto...


Chris largou a garrafa de volta na mochila e voltou a beijar Sara, até que Charlie as interrompeu.


- Estamos esperando para o jantar – avisou ela – Desculpe atrapalhar...


- Sem problemas, eu to faminta mesmo – respondeu Sara, levantando e seguindo na frente. 


- Acho um charme o modo como ela me ignora do nada após um momento romântico – riu Chris – Então Charlie, o que temos para o jantar?


O grupo jantou e conversou bobagem até tarde, até que aos poucos foram indo para seus quartos, até que só sobrasse Chris e Sara na cozinha.


- Como é na sua nave? – perguntou Sara, colocando os pés no colo de Chris, que tirou os calçados dela e começou a massagear seus pés – caramba isso é bom...


- Minha nave é bem silenciosa, meio fúnebre até, exceto pelas vezes que Anny tem os surtos psicóticos e começa a gritar comigo...


- Você tem uma relação bem estranha com sua inteligência artificial... Por que não reprograma ela?


- É mais complicado do que parece, e eu e você, não pode ser complicado, é só pegação...


- Esta usando o que falei contra mim...


- Estou sim – riu Chris.


- Tudo bem, eu menti quando falei que não sabia como as Lendas sabiam sobre nós...


- Criminosos mentem, é quem somos – concordou Chris.


- Se desistir de roubar, pode virar massagista, caramba isso ta muito bom...


Elas conversaram até tarde ali, antes de irem para o quarto. Sh4dow ficou na Waverider por 3 dias, e então partiu com Saturno para uma missão solo, voltando para passar algumas noites com Sara. Quando finalmente voltou para Galáctia, Anny estava diferente, como se o tempo longe de Chris a tivesse ajudado a reavaliar algumas coisas.


- Eu fui bem babaca né? – perguntou ela, quando Chris entrou na cozinha para passar café.


- Tenho uma parcela de culpa bem grande nisso – respondeu Chris – Eu sei que eu e Sara não temos um futuro, mas temos um presente muito bom, e no momento é tudo o que eu preciso, um presente sem cobranças...


- Tive muito tempo para conversar com a Gideon – falou Anny, se escorando na mesa – Ela me contou como as Lendas são, acho que entendo por que gosta tanto de ficar lá... Deve ser como ter uma família...


- Eu tenho uma família, tenho você...


- Deveria convidar a Sara para vir passar uns dias aqui...


- Acho que ela ainda não esta pronta para entender a nossa relação...


- Er... pensei em tirar o dia para ficarmos na nave... juntas... o que acha?


- Podemos ver um filme e jogar video-game – sugeriu Chris – Topa?


- Só nós duas?


- Sim... vou começar a passar umas noites fora, mas também voltaremos a ter nossos dias de jogos, como era quando começamos essa vida nova...


- Obrigada por isso – sorriu Anny.


- Eu tenho algo que acho que vai gostar... – falou Sh4dow, pegando o celular e digitando uma programação – Pega um copo de café...


- Sabe que não sinto gosto nem cheiros...


- Pega e aproxima a xícara do nariz, confia em mim...


Ela obedeceu e serviu uma xícara pequena, aproximando do nariz, respirando fundo.


- Espera, isso... – fechando os olhos e respirando novamente, emocionada - esse é o cheiro do café? Caramba... cheiro! Eu estou sentindo cheiro! E... e eu to chorando... Chris eu to chorando... e to sentindo cheiro...


- É, você esta – sorriu Chris, tomando o próprio café e observando o encantamento e emoção de Anny.


- Mas... como?


- Eu não estava apenas com as Lendas, trabalhei muito no último mês, cobrei favores e estudei tanto quanto é possível estudar... Desenvolvi uma placa especial para que fosse capaz de sentir cheiros e identifica-los... e adicionei as lágrimas... Sentir sabores é muito difícil, mas queria que soubesse que mesmo não estando aqui, eu estava pensando em você...


A garota soltou a xícara e abraçou Chris, fechando os olhos, apoiando a cabeça em seu peito.


- Você é minha super-heroína... E seu cheiro é muito bom...


- O seu também, minha pequena – sorriu Chris, dando um beijo na cabeça dela.


O dia foi usado para maratonar filmes e campeonatos de jogos, e as duas aproveitaram para contar suas aventuras no mês que passaram longe uma da outra. Conforme o combinado, Chris as vezes passava alguns dias fora, mas Anny não tinha mais crises de raiva, e parecia ocupada com uma nova amizade. No tempo que passava na Waverider, Chris aproveitava para realizar atualizações e conversar muito com Gideon.


- O que está fazendo? - perguntou Sara, entrando na cozinha e cruzando os braços, observando a mulher – São 2h da manhã Sh4dow...


- Não quis te acordar - respondeu a mulher, sem parar de lavar a louça.


- Não precisa fazer isso...


- Tecnicamente eu preciso, assaltei a geladeira de vocês...


- Sh4dow, eu não quero que você me entenda mal...


- Não estou te pedindo em namoro nem nada do tipo, Sara - respondeu Chris - sei que não é o momento, só estou agradecendo a noite...


- Não combinamos como casal, e sabe disso...


- Eu sou uma ladra - respondeu a mulher, puxando Sara pela cintura - você uma assassina... não consigo imaginar casal que combine mais...


- Você não é uma ladra... - riu Sara, passando os braços ao redor do pescoço de Chris - é uma viajante do tempo muito sexy...


- Tecnicamente sou as duas coisas - riu a mulher - viajo no tempo e roubo, e sou sexy, mas isso você já sabe... o que acha de voltarmos para o seu quarto? Tem algo lá que me interessa muito...


- Esta pensando em me roubar?


- Algo do tipo - falou a mulher, puxando Sara pela mão e a levando para o quarto.


Quando Sara acordou na manhã seguinte, estava novamente sozinha na cama. Ela tomou um banho e se vestiu, indo para a sala de comando da Waverider.


- Bom dia Gideon - cumprimentou Sara, sorrindo enquanto servia uma xícara de café.


“- Bom dia Capitã Lance - respondeu a inteligência artificial - vejo que teve uma excelente noite de descanso, devo dizer que esta especialmente radiante esta manhã...”


- Obrigada por reparar, realmente dormi muito bem... onde esta o restante da equipe?


“- O Sr Palmer e a srta Nora estão no laboratório, trabalhando, o sr Rory está escrevendo em seu quarto, Nate esta na biblioteca, Charlie e Mona estão jogando cartas, Constantine esta na casa de um belo rapaz e a Srta Dragons esta em baixo do painel de controle...”


- Estão todos ocup... espera, o que falou por último?


- Que eu estou em baixo do painel – sorriu Chris, levantando e assustando Sara – Bom dia Capitã Lance...


- Achei que tinha ido embora... – falou ela, ainda em choque.


- Prometi pra Gideon que a ajudaria com uns ajustes antes de ir... – respondeu a mulher, dando um beijo rápido em Sara e voltando para debaixo do painel – Prometo ir embora assim que terminar... posso ser uma ladra, mas ainda tenho palavra...


- Não estou expulsando você – falou Sara, se agachando para observar a mulher enquanto ela mexia nos fios – o que esta fazendo aí?


- Umas atualizações... Gideon esta pronta?


“- Nasci pronta para algo assim, Comandante Dragons”– respondeu a assistente de navegação.


- Temos um acordo, correto? – perguntou Chris, conectando um pequeno teclado ao painel interno da nave.


“- Tem minha palavra, Comandante, e nem mesmo uma ordem da Capitã Lance pode mudar isso...”


- Do que estão falando? – perguntou Sara.


- Prometo que não vai sentir nada Gideon... No três – falou Chris – Um... dois... três!


A mulher digitou o comando e a máquina apagou por completo, fazendo os integrantes da equipe se juntarem a ponte de comando, reclamando da falta de energia.


- O que você fez com a Waverider? – perguntou Sara, preocupada.


- Esta tudo bem? – perguntou Ray.


- Estamos sobre ataque? – perguntou Mona.


- Relaxem pessoal – respondeu Chris, saindo de baixo do painel e levantando – podem voltar a suas atividades, a Gideon deve acordar em 5... 4... 3... 2... 1... agora!


As luzes reacenderam e a energia foi reestabelecida em toda a nave. Gideon surgiu diante do grupo, mas o habitual holograma azulado sem emoções havia sido substituído pelo rosto de uma bela mulher de cabelos castanhos e olhos azuis-esverdeados.


- Huau – falou Mick, pasmo com a aparência dela – Isso ficou mais interessante...


- O que você fez com a Gideon? – perguntou Ray, preocupado.


- Não ta vendo escoteiro – retrucou Mick – a peguete da Capitã deixou a Gideon gostosa...


- Na verdade – falou Gideon, surgindo de corpo inteiro ao lado de Chris, que parecia satisfeita com o próprio trabalho, e assustando ainda mais a equipe – a Comandante Dragons atendeu a um pedido meu, permitindo que eu possa fazer parte da equipe de uma nova forma...


- Bem-vindos ao século 47 – sorriu Chris – Com os novos ajustes a Gideon pode estar em toda a rede ou em pé ao lado de vocês, como estão vendo... isso pode ser bem útil, e ela pode alterar a roupa conforme a situação, ou o ano que estiverem...


- Antes da Sh4dow te reiniciar você disse que tinham um acordo, qual seria? – perguntou Sara, enquanto o resto da equipe voltava aos seus afazeres.


- Prometi que se você ou alguém da equipe estiver em perigo, vou mandar um S.O.S imediatamente para a Comandante Dragons – respondeu Gideon – mesmo que suas ordens sejam divergentes... e prometi que não daria em cima de ninguém na nave, principalmente da senhora, capitã...


- O quê? – riu Sara.


- Não me olha assim – falou Chris, guardando suas coisas – eu prometi não te cobrar nada, nunca falei que não sentiria ciúmes...


- Agora que me liguei, se pode fazer isso com a Gideon, qual é a real aparência da sua nave?


- Ciúmes? – perguntou Chris, sorrindo e de escorando no painel.


- Só quero saber que formato escolheu para sua companheira de viagem... Não diria que é ciúmes...


- Gideon, busca a Anny pra mim, por favor... – sorriu Chris – e só pra constar, não sou eu que escolho a aparência, se fosse, não deixaria a Gideon ser tão... você sabe...


Gideon retornou com uma garota aparentando ter no máximo 18 anos, com piercing na orelha e no nariz, cabelo vermelho-escuro raspado na lateral, roupas pretas, coturno e casaco de couro.


- Ok, eu não esperava por isso – riu Sara, observando a garota - Você é a Anny, a inteligência artificial da Sh4dow?


- Eu prefiro o termo em inglês, então por favor se refira a mim como Artificial Intelligence, ou A.I... E você deve ser a Sara, a mulher por quem Chris esquece que tem uma nave e me deixa dias sozinha... – respondeu Anny, caminhando devagar até Sara e oferecendo a mão para apertar a dela.


- Sua voz é totalmente humana, sem interferências digitais... Você tem corpo de verdade? – perguntou Sara apertando a mão de Anny – nossa, isso é muito estranho...


- Ela é linda – comentou Anny, olhando para Chris – e cheira muito bem, entendi porque demora a voltar...


- Esse lance de falar do cheiro das pessoas, é bem constrangedor – avisou Chris – Então para, por favor, já falamos sobre isso...


- Gideon, você também pode tocar? – perguntou Sara, ainda em choque.


- Na verdade posso, mas é um processo novo pra mim, então ainda precisarei de treino, capitã.


- Temos que ir – avisou Chris, consultando o relógio e digitando alguns comandos nele – Anny prepare a nave, temos um roubo para fazer...


- Foi legal te conhecer fisicamente, depois de tanto tempo... – comentou Anny, para Gideon – seria legal se fosse nos visitar mais vezes, posso te ensinar a usar suas novas habilidades...


- Atendeu a suas expectativas? – perguntou Gideon.


- Atenderia independente do corpo que tivesse – sorriu Anny.


- Fico feliz, Comandante Dragons me deu livre acesso ao seu sistema, pode ter certeza que farei algumas visitas – sorriu Gideon.


- Te vejo na nave – falou Anny, segurando o rosto de Chris e lhe dando um beijo na bochecha – eu te amo Sh4dow!


- É, eu sei – riu Chris.


- Foi um prazer, Capitã Lance – falou a A.I, apertando novamente a mão de Sara.


- O prazer foi meu – falou ela, estreitando os olhos e olhando de Chris para Anny – volte quando quiser...


- A nave estará pronta em 15 minutos – avisou Anny – Gideon, poderia me ajudar com alguns ajustes?


- Seria um prazer – concordou a mulher, enganchando o braço no de Anny e sumindo com ela no holograma.


- Isso foi estranho de uma forma muito complexa – comentou Sara – Ela é bem bonita...


- Tem quem goste – respondeu Chris.


- Então sua companheira de viagem tem a aparência de uma garota bem gata de 18 anos que pode ter corpo físico e só agora eu descubro isso?


- É uma história bem longa – comentou Chris, se aproximando de Sara e a puxando pela mão – Prometo te contar na próxima vez que quiser me ver...


- Vocês passam muito tempo juntas, só as duas... já rolou algo entre vocês?


- Sinto nojo só de pensar nesta possibilidade – respondeu Chris – Olha, temos 15 minutos, por que não aproveitamos esse tempo só pra nós?


- Eu ainda nem sei como é a sua nave...


- Então quando quiser me ver novamente, você vai pra lá... sua equipe pode sobreviver uns dias sem a Capitã deles...


Chris ia beijar Sara, quando Anny a chamou pelo comunicador.


“- Chris, estamos com problemas, precisamos ir agora mesmo!”


- Isso só pode ser piada... – resmungou a mulher – é urgente tipo o quê, Anny?


“- Urgente tipo nível 7.”


- Droga, isso é muito urgente – reclamou Chris.


“- Capitã Lance – chamou Gideon – Temos um anacronismo nível 4 em Londres, 1872, há registros de um ovo de dinossauro que foi relatado as autoridades locais.”


- Tenho que ir ver isso antes que tenhamos um caos no tempo – respondeu Sara, olhando nos olhos de Chris – Eu te ligo...


- Eu vou esperar – respondeu Chris, puxando Sara para um beijo mais intenso.


“- Agora é nível 8” – avisou Anny, atrapalhando o clima.


- Juro que as vezes tenho vontade de resetar ela – reclamou Chris, olhando nos olhos de Sara e sorrindo – Obrigada novamente pela noite...


- Eu que agradeço pelas atualizações na Gideon... Te procuro assim que conseguir...


Chris virou as costas e correu para o anexo que prendia sua nave a Waverider, enquanto a equipe de Lendas assumia seus lugares na ponte de comando, com Sara no controle.


- Para onde vamos, Anny? – perguntou Chris, assumindo a navegação da nave do Tempo.


“- Museu do Louvre, 20 de Agosto de 1911... O que acha de ter a Mona Lisa no nosso acervo?”


- Adoro aquele quadro – sorriu Chris – Er... quanto a Sara...


“- Está tudo bem, vocês ficam bonitas juntas...”


- Tudo bem se eu contasse pra ela sobre eu e você?


“- Gosta mesmo dessa mulher né?”


- Quando estou com a Sara, me sinto completa, como se nada no mundo, pudesse me vencer... ela me faz querer parar de roubar...


“- Acha que ela vai entender a nossa relação?”


- Não tenho certeza, mas quero arriscar... Preciso fazer isso de uma forma ou de outra...


Na Waverider, Sara servia um copo de uísque em sua sala, pensativa.


- Sara, posso falar com você? – perguntou Charlie, parando na porta e observando-a.


- Claro, entra... já conseguiram encontrar o ovo?


- Ray e Nate estão trabalhando nisso, disseram que era um lance de brothers... Er, desculpa me meter, mas notei que você ficou estranha depois que a Gideon ganhou aquele corpão...


- Não foi por causa da Gideon, ela ficou ótima – respondeu Sara, dando um suspiro triste e se escorando em sua mesa – Eu... é complicado entende?


- Ava te deixar por uma versão sua de outro universo, te abalou muito, eu entendo...


- Eu só... – tentou Sara, mas as palavras não saíam – sei que isso já fazem 5 anos, mas eu me abri pra ela... depois de tudo o que passamos, eu lutei por ela, e na primeira oportunidade, ela me trocou por uma versão menos complicada minha... Uma Sara que não era uma criminosa...


- Sabe que Sh4dow gosta de você né? Tipo... assim, essa Sara, a com o passado sinistro...


- Será, Charlie?


- Só estou dizendo o que eu vejo...


- Eu pensava isso também – comentou Sara – até conhecer a companheira de viagem da Chris...


- Eu tava espiando – admitiu a metamorfa – É uma Inteligência Artificial bem gata, acha que ela e Chris tem um envolvimento?


- Não posso me magoar novamente – respondeu ela – Levei muito tempo para me recuperar da Ava, não sei se consigo passar por isso novamente... Sh4dow é divertida, me faz rir o tempo todo, além de ser ótima de cama, é tudo tão bom, que fico esperando o momento que vou descobrir que tudo isso é uma farsa, que na verdade ela é casada e tem uma família enorme, que sei lá, eu sou a outra, ou pior, que ela é só uma de uma linha de clones hackers desenvolvida para cometer delitos...


- Esta misturando o que sofreu com a Ava, com o que sabe da Sh4dow... Deveria perguntar a ela sobre a vida dela...


- Eu tento, mas ela não fala... a única coisa que sei é que ela é do futuro... do ano 4061, século 47...


- Isso não é daqui a uns 2.583 anos?


- É sim...


- Sei que não tenho nada a ver com a sua vida, mas no seu lugar, eu tentaria saber mais... se uma mulher pode ficar com literalmente qualquer pessoa do mundo, mas escolhe ficar aqui por uma semana lavando suas roupas e limpando nossa bagunça, ela com toda certeza é louca por você...


- Ela lavou minhas roupas? Como sabe disso?


- Eu ajudei – respondeu Charlie – ou melhor, fiquei sentada bebendo enquanto ela fazia isso... para uma ladra ela é muito limpa e organizada. Na verdade ela arrumou seu guarda roupas e preparou até uma torta pra você...


- Ta vendo por que eu fico confusa? Ela não me conta as coisas, faz em silêncio e eu vou notar semanas depois...


- Quem você achou que tinha arrumado seu guarda-roupas?


- O Ray, não seria a primeira vez... Agora que a Nora se juntou a equipe, ele anda maneirando nas manias, mas achei que tinha sido ele, e não vi nenhuma torta...


- O Mick deve ter comido, ele come tudo que ta na geladeira...


- Gideon – chamou Sara – consegue me conectar com a Galáctia?


“- No momento não é possível, Capitã Lance...”


- Achei que Chris havia conectado você ao sistema dela...


“- Ela conectou, consigo acessar sem problemas o sistema da Galáctia, mas a Comandante Dragons não esta na nave no momento...”


- E onde ela esta?


“- Lamento mas não tenho autorização para dar esta informação. A Comandante inseriu na minha rede um bloqueio que só me autoriza a dar a sua localização em caso de ataque a Waverider ou a Galáctia.”


- Ela deve ter um bom motivo para fazer isso – defendeu Charlie – Olha só isso, Gideon, alguma mulher esteve na nave da Comandante nos últimos 9 meses?


“- Não, Charlie, a Galáctia não recebe qualquer tipo de visitante desde que saiu em missão pela primeira vez a 10 anos. Ao contrário da Waverider que recebe muitos visitantes de vários anos, a nave comandada por Dragons nunca teve outro ocupante além de Anny e Christina.”


- Tem algo de estranho nesse isolamento das duas – comentou Sara.


- Não desiste dela tão fácil – falou Charlie – as vezes tudo que a pessoa precisa, é ser ouvida... Vocês confiaram em mim e aqui estamos nós...


- Você ficou dias presa no laboratório... – lembrou Sara.


- Eu quase matei vocês, e fiz o Ray fazer uma tatuagem, então eu meio que mereci isso – riu a mulher – E também mantivemos a Sh4dow presa, e mesmo depois que a soltamos, ela sempre aparecia em momentos aleatórios e na hora certa para nos salvar...


“- Capitã, precisamos de você na ponte de comando – avisou Gideon – e caso tenha interesse, posso deixar um recado pedindo para a Comandante Dragons retornar assim que possível o contato...”


- Não precisa Gideon, obrigada, temos trabalho a fazer... – respondeu Sara, indo para a ponte de comando – onde esta o Mick?


“- O sr. Rory está na França em 1911, ele usou a Jump Ship” – respondeu Gideon.


- O que ele foi fazer lá?


“- Ele esta fazendo um trabalho para a Comandante Dragons.”


- Desde quando o Mick gosta de trabalhar para ajudar os outros? – perguntou Nora.


- Desde que o outro é uma ladra – respondeu Sara – Gideon, alguma alteração na linha do tempo causada pelo Mick?


“- Devo acrescentar que a Comandante Dragons é extremamente cuidadosa no seu trabalho, e as suas participações nos eventos, em nada alteram os eventos da linha do tempo, aparentemente ela sabe fazer o Sr Rory obedecer com precisão a todos os seus comandos...”


- Ela te programou pra puxar o saco dela? – perguntou Charlie.


“- Na verdade a atualização da Comandante inseriu novos dados e probabilidades em meu sistema, criando um tipo bem específico de livre-arbítrio para que com base em um banco de dados, eu mesma possa tirar conclusões acerca do caráter das pessoas, claro que para evitar quaisquer riscos de uma revolta cibernética, foram inseridos códigos bem estruturados que me impedem de agir contra as Lendas, evitando situações como a que o Capitão Hunter me colocou quando me obrigou a aprisionar vocês...”


- Não sei vocês – comentou Nora – mas eu tenho um pouco de medo da Dragons...


Na França, Chris e Rory caminhavam em direção ao Museu, ambos vestidos com o uniforme da polícia francesa. Eles entraram no Museu o Louvre e caminharam sem pressa até uma das salas menores e quase sem segurança, onde estava a “Mona Lisa”. Já passavam das 23h e o único vigia era um senhor que bateu continência aos dois quando passaram.


- Por que me escolheu? – perguntou Mick, cobrindo Chris enquanto ela analisava se havia algum dispositivo de segurança e retirava o quadro da parede com cuidado – Podia escolher qualquer uma das Lendas... Podia escolher a Capitã...


- Não se leva um escoteiro ou alguém com necessidade de fazer o bem, para um dos assaltos mais famosos da história... – respondeu a mulher, escaneando o quadro inteiro e conferindo no aparelho – É o verdadeiro... vamos fazer a troca...


Ela puxou do cinto um pequeno alicate e cuidadosamente retirou o quadro, enrolando-o e abrindo um tampo na ponta de seu cassetete, que revelou um tubo, onde ela escondeu o quadro e voltou a fechá-lo.


- Você me respeita... – comentou Mick.


- Claro que respeito – respondeu Chris, pegando o cassetete dele e retirando uma cópia do quadro – Anny, tem certeza que ninguém vai descobrir que esse é o falso?


“- Não até o ano de 2052 pelo menos – respondeu ela – coloquei um enigma que mesmo depois que descobrirem, manterá os historiadores ocupados por pelo menos uns 50 anos...”


- Ótimo, eu sabia que pegar aquelas tintas com o Da Vinci valeria a pena – sorriu Chris, colocando com cuidado a falsificação exatamente no mesmo lugar que a original – o segredo de um roubo perfeito, Sr Rory, é planejar com cuidado...


- O que faz com o que rouba? – perguntou Mick, voltando a prender o cassetete na cintura.


- Guardo comigo, é como um souvenir... Depois tenho algo para o senhor, um pagamento pelo trabalho...


- Comandante, posso lhe fazer uma pergunta muito indiscreta?


- Acho que sim – respondeu ela – me ajuda a prender novamente na parede...


- A senhora gosta da Capitã Lance? – perguntou ele, ajudando-a a fixar novamente o quadro.


Chris parou e o olhou por uns segundos, antes de se afastar e observar se o quadro estava bem colocado.


- Terminamos aqui, vamos, temos tempo para beber algo antes de irmos, quero estar aqui para ver a chegada de Vicenzo Peruggia...


- Quem é esse homem? – perguntou Mick, acompanhando a mulher em direção a saída do museu.


Eles passaram pelo segurança da entrada e Chris falou:


- Bonne nuit Pierre, nous avons fait le dernier tour de la nuit, tout va bien, bon travail. (Boa noite Pierre, realizamos a última ronda da noite, esta tudo certo, bom trabalho.)


- Ce fut un honneur de recevoir votre visite, commandant Lorena, bonne nuit. (Foi uma honra receber sua visita, Comandante Lorena, tenha uma boa noite) – respondeu o homem.


- Vicenzo Peruggia foi ninguém menos que o homem que ficou famoso por roubar a “Mona Lisa" – respondeu Chris, caminhando com Mick até um pub em frente ao museu – Sem esse roubo, a obra mais famosa do mundo, não teria se destacado. Ao roubar o quadro ele fez com que todos reparassem na obra do Da Vinci, a imagem dela circulou o mundo todo, permitindo que ela se tornasse uma das obras mais importantes do  Renascimento Italiano...


- Então esse quadro só ficou famoso por que foi roubado? – perguntou ele, sentando na mesa ao lado da janela de onde era possível ver a saída do museu.


O garçom se aproximou com dois copos de uísque e uma garrafa e serviu, largando um copo para cada.


- Laissez la bouteille s'il vous plaît (Deixe a garrafa por favor) – pediu ela.


- Certainement Commandant, autre chose que je peux vous aider? (Certamente Comandante, algo mais que eu possa lhe ajudar?) – respondeu o garçom.


- Combien je vous dois? (Quanto lhe devo?) – perguntou ela, afastando o sobretudo para pegar a carteira e deixando o distintivo e a arma a mostra.


- C'est à nous, Commandant, en remerciement de vos services pour la France (É por nossa conta, Comandante, em agradecimento aos vossos serviços pela França) – respondeu o homem, aparentando estar um pouco nervoso, enquanto seu chefe sorria para eles no balcão.


- Merci (agradeço) – respondeu ela bebendo, quando o homem se afastou – Sim, a obra só ficou famosa porque foi roubada, beba, fez um excelente trabalho Sr Rory...


- A senhora não respondeu a pergunta que fiz lá dentro do museu... – comentou ele, bebendo – Lance é minha Capitã, minha família... eu cuido da minha família...


- Conheço bem sua história, Sr Mick Rory – respondeu Chris, atenta a rua – conheço bem a história de todas as Lendas... E tenho o seu livro, é meio bizarro mas sua escrita é realmente de qualidade... Sei o que tentaria fazer comigo se eu fizesse mal a qualquer um de seus amigos, e não tenho pretensão de fazer isso...


- Isso ainda não responde a minha pergunta...


- Sim, eu gosto da Sara – respondeu ela – Uma parte de mim quer voltar no tempo e quebrar a cara da Ava Sharpe por ter magoado tanto a Sara, e outra fica feliz que isso tenha acontecido, caso contrário eu nunca teria me envolvido com a mulher mais incrível que eu já conheci...


- Gosto da senhora, Comandante Dragons...


- Por que eu sou uma ladra?


- Porque você faz a Capitã sorrir quando está lá... Olha, acho que é o nosso ladrão... – acrescentou ele, apontando para a rua, onde um homem de sobretudo comprido saía olhando desconfiado para os lados – ele não parece muito perigoso...


- E não é, nem um pouco na verdade – respondeu Chris, fechando a garrafa e terminando o conteúdo de seu copo.


Ela foi até o balcão pegando outra garrafa cheia e fechada e largou um bilhete de entrada ao museu para o dono do pub, que apenas assentiu com a cabeça.


- Roubou duas garrafas de uísque francês? – perguntou Mick, enquanto eles caminhavam de volta ao local onde haviam deixado as naves.


- Na verdade essa é pra você – falou Chris, entregando a que já estava aberta para ele – e dentro da Jump Ship tem um presente para você, quem sabe te faço gostar de arte algum dia...


- Se precisar de companhia ou ajuda novamente, estou a disposição – falou ele, entrando na nave que se ergueu em direção ao céu, ate sumir de vista.


Chris voltou para Galáctia e caminhou até seu acervo particular, onde Anny arrumava o lugar do novo quadro.


- Trouxe outra garrafa para nunca dar de presente a Lance? – perguntou a garota, pegando o cassetete com a obra original e abrindo com cuidado – caramba é muito linda...


- Cala a boca – retrucou Chris, largando a garrafa no armário e se atirando em uma poltrona – Já traçou algum plano de voo?


- Não – respondeu Anny, arrumando a tela na nova moldura – Ainda não acredito que convenceu Da Vinci a pintar em uma tela, ao invés da madeira onde era pra ser...


- Da muito mais trabalho roubar um pedaço de madeira – respondeu ela – Vamos a Florença, 1505, partiremos em 10 minutos...


- Chris, espera... – pediu a garota, segurando sua mão – o que esta acontecendo com você? Nunca te vi assim depois de um roubo...


- Sei lá... parece que não é mais a mesma coisa... Roubamos os quadros e o que? Não vendemos, não fazemos nada, apenas andamos de um ano a outro com dezenas de quadros roubados...


- Você esta se sentindo vazia... – compreendeu Anny – Sente que deveria fazer mais que apenas roubar...


- Exato...


- Mas esta esquecendo que sem esses roubos, a história poderia quebrar... o que fazemos é garantir que a linha do tempo fique intacta, se ganhamos algumas lembrancinhas com isso, eu diria que é um bônus...


- Você deve estar certa, sempre está – respondeu Chris, dando um beijo na testa da garota e caminhando até a sala de comando, digitando o ano e iniciando a viagem.


Quando chegaram a 1505, Anny apareceu com um lindo vestido vinho, da época renascentista italiana, parando diante de Chris e dando uma volta.


- Como estou? – perguntou ela, fazendo uma reverência discreta.


- Muito linda, mas só para lembrar, não se usava cabelo raspado, rosa pink e o rosto cheio de piercings no período renascentista...


- E agora? – perguntou ela, transformando seu cabelo em vermelho escuro, cobrindo toda a cabeça e sumindo com os piercings.


- Esta perfeita... Achei que odiava fantasias...


- Gideon disse que fico gata com trajes de época... to experimentando coisas novas... Anda logo, vai se arrumar, não aguento mais ficar dentro desta nave... e eu amo o período renascentista... música, poesia, arte...


- Eu já volto – avisou ela, seguindo para o próprio quarto, com o olhar cabisbaixo.


Anny olhou nas câmeras enquanto Chris sumia pela porta do banheiro e digitou alguns comandos no computador.


- Me chamou, Anny? – perguntou Gideon, surgindo diante dela.


- Você é um colírio para os olhos – sorriu a garota – Chamei sim, vou precisar de sua ajuda para uma coisa...


Quando Chris terminou de se arrumar e saiu da nave, encontrou Anny sorrindo a sua espera.


- Posso saber o motivo de tanta felicidade? – perguntou Chris.


- Sabe o quanto amo Florença... é tanta mulher bonita que chego a ficar tonta... além do mais, você me deu uma amiga muito gata, e ainda não te agradeci por isso – respondeu ela.


- Era o mínimo que eu podia fazer por você – respondeu Chris – Não foi nada demais, e eu não escolho a aparência...


- Eu sei... caramba, que mulher linda... você deveria parar de olhar para o chão e apreciar a vista, vai te fazer bem...


- Não to com cabeça pra isso, Anny, da um tempo...


- Sh4dow? – perguntou uma voz conhecida.


- Sara? – perguntou ela, erguendo os olhos e caminhando até a capitã, que usava um vestido com detalhes em azul, destacando mais seus olhos e as sardas em seu rosto – você está... fantástica... o que faz aqui?


- Eu que deveria te perguntar isso – respondeu ela, olhando Anny – esta acompanhada... legal...


- É a Anny – se justificou Chris – cabeça raspada e acessórios de metal no rosto não combinam com 1505...


- Olá capitã Lance – sorriu Anny – está incrível neste vestido...


- Obrigada, eu acho, você também esta... legal... Eu vim procurar um anacronismo...


- Impossível – respondeu Chris – nós somos as únicas aqui, e não causamos anacronismos, apenas pequenos tremores no tempo, pequenos demais para ativar seu sismógrafo do tempo...


- Gideon nos mandou pra cá – falou Sara, sem conseguir desviar os olhos de Anny, visivelmente incomodada.


- Gideon por favor se apresente – pediu Chris, e a mulher saiu de dentro de uma casinha simples, usando trajes locais e caminhou até elas – Anny e Gideon, podem me explicar o que esta acontecendo?


- Eu pedi pra Gideon nos dedurar para a Capitã Sara – falou Anny.


- Posso saber o motivo? – perguntou Sara.


- Porque achamos que vocês duas devem conversar – respondeu Gideon – e porque Anny prometeu me mostrar um lugar especial, e para isso precisamos ficar pousados em um ano seguro...


- Nada é mais seguro que Florença em 1505 – completou Anny – Fiz a Waverider e a Galáctia se camuflarem de Castelo, então nos vemos em alguns dias.


- Anny, lembra do que tem que fazer, por favor... – pediu Chris.


- Você ficará sem mim alguns dias, vai sobreviver, e sobre o que conversamos, sim eu acho que deveria contar a Sara toda a verdade da nossa relação. Vem Gideon, vamos nos divertir...


As duas entraram na casa de onde Gideon havia saído, e sumiram.


- Lendas – avisou Sara, pelo comunicador – tiraremos férias de alguns dias, estão liberados para desbravar, mas lembrem-se de evitarem novos anacronismos...


Ela desligou o comunicador e olhou para Chris com pesar, o rosto tomado de decepção.


- Eu posso explicar tudo – falou Chris.


- Você disse que sentia nojo só de imaginar um envolvimento com a Anny, e agora ela fala sobre dizer a verdade quanto a relação entre vocês duas... Eu odeio mentiras Sh4dow, falamos várias vezes sobre isso...


- Me chama de Chris, por favor... Vou te pedir uma coisa Sara, que confie em mim, e eu prometo te explicar tudo o que quiser...


- Vou te dar essa chance, pode começar...


- Vem comigo – pediu Chris, oferecendo a mão para Sara – deixa eu te mostrar por quê gosto tanto desse lugar e esse ano em especial... por favor...


- Só se depois prometer que vai me contar sobre sua vida...


- Eu juro – respondeu Chris – mas antes é importante que veja o que tem aqui...


Sara olhou mais uma vez para a mão de Chris e a segurou, acompanhando-a até uma pequena e simples casa no final de uma viela. Elas pararam em frente a porta e Chris bateu, sem soltar a mão de Sara, que ainda a observava com desconfiança. Um senhor abriu a porta e quando as viu deu um imenso sorriso.


- Chegou bem a tempo minha jovem, achei que não viria mais! – falou o homem – entre, entre... onde esta a jovem Anny?


- Ocupada – respondeu Chris, no momento que Sara soltou sua mão e cruzou os braços.


- É uma pena, quem sabe numa próxima, veja, aqui está um dos quadros que me pediu...


Sara olhou ao redor e então finalmente compreendeu onde estava. Ao lado de uma pintura a óleo de Chris e Anny com os trajes de Florença, estava a Mona Lisa, a mais famosa obra de arte já conhecida.


- Espera, o senhor é o Da Vinci? – perguntou ela.


- Leonardo di Ser Piero Da Vinci – falou ele, beijando a mão de Sara – seu servo, encantado...


- E-Eu sou... – falou ela, agora olhando fixamente o quadro de Chris e Anny.


- Sara de Starling – sorriu Leonardo – É uma honra finalmente conhecer a dama do sorriso mais belo já visto pelos olhos de um homem... ou de uma mulher, neste caso...


- Como sabe meu nome?


- Mostre para ela, Léo – pediu Chris.


- Eu já volto, não saia daí – pediu ele, sumindo por uma porta.


- Você parece obcecada pela Anny – comentou Sara, olhando o quadro – só não entendo por que não foi honesta comigo... disse que não tinha ninguém...


- Leonardo virou um amigo importante – contou Chris – vim até aqui roubar as tintas dele, para um projeto futuro, ele me pegou no ato e ao invés de chamar as autoridades, ele me serviu uma caneca de chá... o conheci pouco depois da primeira vez que te encontrei...


- Eu sei que concordamos em não cobrar nada uma da outra, mas está dormindo com alguém todos os dias e depois vai para minha nave como se nada tivesse acontecido, isso é doentio Chris! – falou Sara, indignada.


- As coisas não são o que parecem – respondeu Chris.


- Então me conta de uma vez o que esta acontecendo, me dá um bom motivo para não ir embora daqui e sumir da sua vida... – pediu ela, com os olhos cheios de lágrimas.


- Bem que você falou que ela era muito brava – falou Leonardo, retornando a sala com 3 rolos e entregando a Chris, enquanto um homem entrava com uma bandeja com 4 xícaras e um bule – tomei a liberdade de pedir a Francesco para preparar o famoso chá dele... abra logo, estamos ansiosos para ver sua reação...


- Ele não fala de outra coisa desde que se viram a última vez – falou Francesco.


- É pra você – falou Chris separando um dos rolos marcado com discretas flores em um dos cantos, e entregando os outros dois quadros para Sara – abra...


- Pra mim? – perguntou a mulher, olhando surpresa para Chris, os olhos avermelhados.


- É a minha forma de dizer tudo o que significa pra mim – respondeu Chris.


Sara a olhou nos olhos por alguns segundos e então abriu o primeiro rolo, se emocionando e cobrindo a boca com a mão livre. As lágrimas começaram a correr de seus olhos e ela olhou para Chris. 


- Pediu para Leonardo Da Vinci pintar um quadro da minha família, de quando eu e minha irmã éramos crianças? – perguntou ela aos soluços – como fez isso?


- Olha o outro – pediu Chris, se controlando para não chorar também – por favor...


Sara abriu o segundo rolo e então se escorou na mesa, parecendo sem forças. Francesco e Leonardo a observavam emocionados também.


- Como conseguiu essa imagem? – perguntou Sara, com um nó na garganta.


- Eu falei que sou uma ladra – respondeu Chris – voltei no dia que vocês estavam no parque, comemorando o aniversário de Laurel, depois que você já estava livre da Liga dos Assassinos, e tirei uma foto de vocês juntas... a outra eu invadi a casa do seu pai e roubei...


- Chris trouxe o papel mágico e pediu que eu o transformasse em um belo quadro para presentear a mulher mais linda que já havia cruzado o caminho dela... – contou Leonardo – eu sou um apreciador do amor, srta Sara, então fiz com muita alegria...


- O que tem no 3° rolo? – perguntou ela, respirando fundo para se acalmar.


- Não quero que fuja e eu nunca mais te encontre – falou Chris – eu to perdidamente apaixonada por você Sara Lance, e sei que você não esta pronta para nada sério, mas pensei em fazer isso esperando o dia que você me aceitaria, e então eu te daria essa tela de presente...


- Abre – pediu Sara, e Chris abriu a tela, olhando de canto para ela – isso é do dia que...


- É – confirmou Chris – é do dia que nos conhecemos, ou melhor, do dia que você me conheceu...


- Beba o chá minha jovem – pediu Francesco – por favor...


Ela olhou a tela mais uma vez e sentou, aceitando a xícara e olhando para os homens.


- Quem é você, sr Francesco? – perguntou Sara, respirando fundo enquanto Chris voltava a enrolar o quadro e Leonardo guardava a pintura de Anny e Chris.


- É complicado – respondeu ele.


- Francesco é meu amante – contou Leonardo, e Sara se afagou com o chá.


- Talvez não seja tão complicado assim – acrescentou Francesco.


- Eu e Francesco vivemos juntos a 20 anos – contou Leonardo – Quando Chris invadiu nossa casa e nos contou sobre a bela jovem que havia conhecido, meio que a adotamos, adoramos receber as visitas dela e da jovem Anny, uma menina com muita energia devo acrescentar, mas nunca come, isso me deixa preocupado com a saúde dela...


- Tem uma convivência com eles? – perguntou Sara, olhando para Chris.


- É como ter uma casa para onde voltar... – respondeu Chris – E eles sabem que vim do futuro...


- E como isso não mudou a linha do tempo?


- Leonardo é o maior gênio que já viveu – falou Chris – se alguém pode lidar com esse tipo de informação, é ele...


- Qual a sua ligação com a Anny?


- Essa conversa vocês precisam ter na Galáctia – interrompeu Leonardo – aqui esta a bolsa com os quadros, voltem quando quiserem, agora tenho que voltar a trabalhar, os teoremas não vão se resolver sozinhos...


- Vem comigo – pediu Chris, saindo na frente e aguardando na saída da viela.


- Srta Sara – falou Leonardo, quando parou na porta com ela – escute com calma o que Chris tem a lhe contar, e uma coisa posso garantir a você...


- O que?


- Essa garota a ama, mesmo que ela mesma não esteja pronta para admitir isso, e sinto que você também não está, mas isso não significa que deva fugir dela ou rejeita-la... viva cada momento e não pense no resto... uma vida sem amor é uma vida sem vida... Pense nisso...


- Boa noite Sr Da Vinci... – se despediu Sara.


- Boa noite minha bela – falou o homem, fechando a porta.


O sol começava a se por, banhando a cidade de um intenso e viciante alaranjado. As mulheres caminharam em silêncio até o ponto afastado onde estavam as naves, Galáctia era um pouco menor que a Waverider mas era identificável por uma bandeira peculiar pendurada na entrada do castelo. Chris acionou a abertura e apesar de parecer um castelo por fora, por dentro a nave estava normal.


- Bem vinda a Galáctia – falou Chris, enquanto Sara olhava tudo ao redor – vem comigo...


As duas caminharam até uma porta com um código desenhado, e Chris apertou na lateral, dando acesso a uma sala de jogos completa, com coisas vindas de vários séculos diferentes. Nas prateleiras haviam várias de fotos de Chris e Anny, com várias idades diferentes, abraçadas e rindo.


- Eu gosto de você – falou Sara, pegando uma foto onde Anny estava deitada com a cabeça no colo de Chris, enquanto ela a olhava sorrindo – gosto muito mais do que queria... e você e Anny são perfeitas juntas... vivem numa nave linda, como um casal feliz... Eu to me sentindo tão humilhada...


- Anny é minha irmã – contou Chris, e Sara se virou para encará-la, enquanto Chris tirava o vestido renascentista e ficava com sua roupa normal, escondida de baixo do traje – Anny é minha irmã caçula... é essa a nossa relação...


- Esta mentindo pra mim... – falou Sara, largando a foto e encarando a mulher – por que esta mentindo pra mim?


- Não estou – falou Chris, largando a roupa e caminhando até um dos armários chaveados. Ela puxou o cordão do pescoço e o abriu, pegando um álbum e caminhando até um dos sofás – aqui, olha isso...


Sara caminhou devagar até o sofá e sentou de frente para Chris, pegando o álbum e abrindo. A primeira foto era de uma Chris pequena, segurando um bebê em seus braços, sorrindo.


- Anny foi o meu milagre – contou Chris, e uma lágrima escorreu de seus olhos – eu tinha 05 anos quando nossos pais sofreram um acidente grave de carro, mamãe estava grávida dela, Anny nasceu 7 horas depois da morte da mamãe, com a ajuda de uma equipe médica muito boa, que conseguiu salvar o que sobrou da minha família... Fomos criadas por nossa madrinha, uma Guardiã do Tempo, e uma criminosa...


- Criminosa como? – perguntou Sara, parando de folhear o álbum e olhando nos olhos de Chris.


- Uma ladra... como nós – riu Chris – foi com ela que aprendemos a roubar sem marcar o tempo... a história precisa de ladrões, muitas descobertas só aconteceram porque coisas foram roubadas...


- Onde ela está?


- Morreu quando eu tinha 13 anos... – contou Chris, encarando as próprias mãos – perdeu tudo o que tinha, inclusive a vida, em um acordo mal feito. A única coisa que sobrou foi esta nave... Passei a criar a Anny sozinha, apesar de meio que já fazer isso antes dela morrer... eu fazia de tudo para Anny não sentir quando algo dava errado...


- Por que a Anny é uma inteligência artificial?


- Eu me virei bem nos anos seguintes – continuou Chris, e mais lágrimas escaparam de seus olhos – Quando fiz 18 anos assumi legalmente a guarda da minha irmã, ela estava estudando, eu mantinha a casa com pequenos roubos e com trabalhos de programação em um projeto em desenvolvimento... Era uma vida boa, até que Anny conheceu uma garota diferente... alguém que não era exatamente do bem...


- O que aconteceu? – perguntou Sara, sentando mais próxima de Chris e segurando suas mãos, o choro dela foi ficando mais intenso.


- Eu tava muito focada no projeto, e Anny tava com 16 anos, era uma criança ainda... – falou Chris, sem conseguir olhar para Sara – Passei uma semana fora, trabalhando, e quando voltei pra casa encontrei minha irmã agonizando no quarto dela... a garota havia machucado ela... drogado e deixado ela para morrer... Eu matei minha irmã Sara... se eu não tivesse ficado fora tanto tempo, Anny estaria viva... haviam marcas de sangue pelo quarto, tentei levar ela para o hospital, mas era tarde demais... No século 47 existe uma tecnologia que permite guardar todas as memórias que uma pessoa teve em vida, e colocá-la em um lugar onde essa pessoa pode viver pra sempre...


- Foi onde colocou a Anny?


- Foi a última coisa que ela me pediu antes de morrer... pra nunca mais abandonar ela novamente... coloquei todas as memórias dela nessa rede, e deletei apenas a dor física do momento da morte... No tempo que levou para processar as informações, eu cacei a maldita que fez aquilo com ela, descobri que ela tinha um namorado traficante e que foi ele que encomendou a morte da minha irmã, por uma dívida antiga que a minha madrinha tinha...


- O que você fez?


- Fiz com os dois o que eles fizeram com a minha única família... eu torturei os dois por uma semana e matei eles com a mesma droga que usaram na minha irmã... Desde então eu não saio mais dessa nave, nem ninguém entra nela... Anny manteve a aparência que tinha quando morreu, só adicionei recursos para que ela pudesse envelhecer um pouco mais...


- Por que tinha tanto medo de me contar isso?


- Porque você perdeu a Laurel, mas não pode ter ela de volta como eu pude ter a Anny... Eu me senti culpada por ter algo que você não pode ter...


- Eu tive pais maravilhosos, fui pra faculdade, tive uma adolescência rebelde e normal, também tive algo que você não teve... – contou Sara, passando a mão no rosto de Chris e secando as lágrimas dela – perder a Laurel foi uma dor indescritível, mas isso aconteceu e eu aceitei... eu não ficaria brava com você por causa disso...


- Você falou que não combinamos porquê você é uma assassina... – falou Chris – Mas eu sou uma torturadora... eu sou a criminosa de verdade aqui, porque eu não me arrependi nem por um segundo, de ter feito o que eu fiz, mas você se arrependeu...


- As circunstâncias foram bem diferentes... – respondeu Sara – Chris, eu achei que você estava com outra pessoa, que eu era um jogo pra você, e eu não posso passar novamente por tudo que eu passei...


- Não tem mais segredos entre nós – falou Chris, respirando fundo e passando a mão no rosto – na verdade tem mais um...


- Não tendo nenhuma outra versão minha escondida no seu quarto, acho que posso lidar com o que vier agora – sorriu Sara, e Chris segurou seu rosto com as duas mãos e lhe olhou nos olhos.


- Teria que ser a pessoa mais estúpida do mundo para não te amar exatamente como você é... A 9 meses, quando te conheci, você destruiu todos os muros que eu havia construído e que impediam que qualquer mulher chegasse sentimentalmente até mim...


- Quanto tempo fazia que você estava isolada do mundo?


- Desde a morte da Anny... É difícil explicar que você não pode dormir fora porquê prometeu para o holograma da sua irmã morta que não a deixaria sozinha nunca mais... Tive noites de sexo sem compromisso, até porque tenho necessidades físicas, mas troquei de telefone depois de cada encontro, além de nunca ter passado uma noite com ninguém...


- Mas nos últimos dois meses você dormiu muitas noites comigo...


- É eu dormi – sorriu Chris, pegando Sara pela mão e levando-a até o seu escritório – mas a 5 meses eu conectei a Gideon ao sistema da Galáctia, para passar umas atualizações e restaurar alguns pontos de fuga de energia. Ao fazer isso eu apresentei, mesmo que sem querer, a minha irmã a sua assistente de navegação... eu praticamente empurrei minha irmãzinha para um encontro as cegas com um código escrito por uma pessoa como nós... Entra por favor...


- Esse é seu escritório? – perguntou Sara, caminhando surpresa pelo lugar – Bem que Charlie falou que você era excessivamente organizada para uma ladra...


- Todas essas garrafas, na estante, eu roubei pra você... – contou Chris, se escorando na mesa e observando Sara - mas fiquei com medo de te dar e você fugir, então guardei esperando a hora certa...


- Posso abrir alguma?


- Pode abrir todas se quiser, são suas...


- Me conta o que aconteceu depois que você jogou sua irmã para a Gideon – pediu Sara, servindo dois copos até a metade e entregando um para Chris.


- Aconteceu que elas começaram a criar um vínculo bem estranho... – contou ela – Anny passou os últimos 12 anos sem ver outra pessoa além de mim, em 1505 ela descobriu que podia caminhar na rua e provar coisas, mas ainda não sentia gostos, e o sistema físico dela não é exatamente humano... ele é composto micro-nano robôs... 


- Acho que to entendendo... – falou Sara, parando na frente de Chris e colocando a mão em seu pescoço – Ela tem a mente de uma adolescente em plena puberdade, presa a um holograma...


- Fomos para o futuro onde há outros parecidos com ela, mas todos deletaram da programação a parte hormonal...


- Mas você não quis fazer isso com ela...


- Seria como castrar minha irmãzinha... Foi então que a 2 meses atrás, numa noite enquanto você dormia parecendo a personificação do que há de mais perfeito no mundo, que eu fui procurada pela Anny e pela Gideon... elas me pediram para dar a Gideon as mesmas habilidades que desenvolvi na Anny...


- Opa, esta querendo dizer que Gideon, a nossa Gideon e sua irmã...


- É – respondeu Chris, com um tremor no corpo – Prometi ajudar as duas a ficarem juntas, e agora que consegui, elas vão ter muito tempo para recuperar o que perderam e fazerem seja lá o que hologramas com micro-nano robôs fazem...


- Isso quer dizer que não tem ninguém nos espiando? – sorriu Sara, terminando o conteúdo do copo e largando-o na mesa.


- Vou deletar toda a rede e transformar a Gideon e a Anny em hologramas primários – falou Chris, olhando ao redor e esperando algum retorno – É, nós definitivamente estamos completamente sozinhas...


Chris pegou Sara no colo e a levou para o próprio quarto, de onde não saíram o resto da noite. Quando amanheceu, Chris se virou para abraçar Sara mas a cama estava vazia.


- Não brinca comigo que eu sonhei tudo aquilo – falou ela, olhando para o teto – Não, espera... eu to com o perfume da Sara, não pode ter sido sonho... Anny, você esta ai? Gideon? Alguém?


- Você reclama que não tem um minuto de intimidade – falou Sara, entrando no quarto vestida com uma blusa grande demais do D.O.E e carregando uma bandeja com duas xícaras de café e dois sanduíches – mas acorda chamando a Anny e a Gideon?


- O que está fazendo?


- Estamos dormindo juntas a 9 meses e é a primeira vez que tenho acesso a sua nave, o que acha que eu fui fazer?


- Se enfiou no meu escritório para beber todo o uísque que eu roubei para você? – riu Chris, quando Sara sentou a sua frente e largou a bandeja na cama.


- Essa é uma das coisas que eu mais acho sexy em você... – sorriu ela, pegando uma das xícaras e um pão.


- Meu talento natural para cometer furtos?


- Seu talento para fazer piadas com tudo... Andei por quase tudo, só não achei o lugar para abrir aquela porta ali – falou Sara, se referindo a porta dentro do quarto a um canto – o que tem ali dentro?


- Não acreditaria se eu contasse – brincou Chris, piscando para ela – abrir porta 666...


Com o comando, a luz verde na porta piscou e foi possível ouvir a trava abrindo. Sara levantou e caminhou devagar até a porta, espiando dentro do lugar. 


- Espera, estamos a 9 meses dormindo no meu quarto, na Waverider, enquanto você tinha um quarto com um banheiro enorme e com banheira? – perguntou a capitã.


- A Galáctia tem 2 banheiros de uso comum, além desse meu e um onde ficam as celas... – contou Chris.


- A Anny não usa o banheiro, por que ela é um holograma, certo?


- Certo...


- E a 9 meses você fica na minha nave onde dividimos um banheiro com 8 pessoas, 9 com você, enquanto você tem 4 banheiros só seus?


- Ficar só de pegação foi uma escolha sua – provocou Chris, bebendo seu café – isso aqui ta delicioso...


- Que bom, porque é a única coisa que eu sei fazer na cozinha... onde conseguiu essa blusa do D.O.E?


- Com a Diretora de lá – respondeu Chris – estive em National City para criptografar a rede da L Corp e meio que hackeei o sistema deles enquanto eles tentavam invadir a rede da Lena pra descobrir se ela ainda tinha Kryptonita...


- Conheceu a Alex Danvers então?


- Ela foi me prender pessoalmente, quando a Srta Luthor impediu e rolou umas discussões bem loucas...


- Quanto tempo faz isso?


- Foi depois do casamento do Barry Allen, onde vocês tiveram uma noite de sexo sem compromisso e no final do rolê vocês lutaram lado a lado contra os Nazistas da Terra X...


- Como você...


- Eu fui ao casamento – respondeu Chris, terminando seu pão – que confusão aquilo...


- Como não te vi lá?


- Você tava ocupada tirando mentalmente a roupa da diretora Danvers – respondeu Chris, rindo.


- Mas enquanto lutávamos, onde você estava?


- Sabotando as máquinas dos nazistas, e roubando eles, claro... tenho um museu dos horrores só com as coisas que roubei aquele dia, algumas eu vendi por um valor bem alto, outras guardei de recordação...


- Isso quer dizer que já nos cruzamos algumas vezes antes?


- Algumas? – riu Chris – Dezenas eu diria, inclusive no casamento da Diretora Danvers, ao qual eu também fui convidada, e essa cicatriz aqui, no meu ombro esquerdo, foi você, na época da Liga dos Assassinos, quando preciso fazer crimes mais pesados, uso um aparelho para mudar meu rosto para não ser reconhecida, roubei do H.R. Wells da Terra 19...


- Então você também circula entre Universos Paralelos?


- Sim, roubei um dispositivo do Cisco Ramon...


- Você já tentou, sei lá, pedir algo ao invés de simplesmente roubar?


- Não tá me perguntando isso de verdade né?


- Ok, esquece, foi uma pergunta idiota. Como conheceu a Lena Luthor?


- Lena não é apenas a CEO da L Corp, ela é uma bioquímica, uma cientista e uma mente brilhante da tecnologia, ela me achou, ou melhor, achou um rastro digital meu e me enviou uma mensagem pedindo ajuda em troca do dispositivo que eu quisesse da L Corp, ou um favor a pagar...


- Dormiu com a Lena Luthor? – sorriu Sara.


- Eu não durmo, vou pra cama, é diferente – respondeu Chris – dormir requer um nível de intimidade muito complexo...


- Eu não sabia que a Lena...


- Esta desatualizada então, porque a Lena da Terra 38, atualmente é a namorada da Kara Danvers, conhecida popularmente como Supergirl, a garota que bota um óculos e ninguém nota que é a mesma pessoa... ridículo, mas enfim...


- Lena e Kara? A Kara irmã da Alex? – perguntou Sara, surpresa.


- Elas estavam juntas no casamento da Alex, sério que não notou?


- Espera, como não notei isso antes caramba! Dragons!


- Bingo! – vibrou Chris.


- É o sobrenome da esposa da Alex, de onde disse que eram seus pais mesmo?


- Eu não disse – respondeu Chris – meu nome de batismo é Christina Alejandra da Rosa Diaz... Mãe brasileira e pai mexicano...


- Por que “Comandante Dragons" então?


- Porque Diaz não impõe medo e respeito – respondeu ela com simplicidade – durante o casamento do Barry eu me aproximei da Marechal Dragons, ela gostava da Alex e você levou ela pra cama, tanto eu quanto a Marechal fomos ignoradas pelas mulheres por quem nos sentíamos atraídas, então meio que ficamos amigas. Depois de muita conversa, algum treino e uma marcação a ferro e fogo nas costas, ela me autorizou a usar o sobrenome dela, meio que virei parte do grupo...


- Caramba isso é muita informação pra mim – falou Sara, sentando na poltrona e olhando para Chris – Ok, er... no casamento da Alex eu estava com a... er...


- É, você estava com a Ava, aquele foi o casamento mais bizarro que já fui, parecia muito um crossover mal escrito, ou uma Fanfic mal elaborada, sei lá... depois dali, só voltei a te ver naquela missão que acabou comigo presa na Waverider por 3 semanas...


- Como Anny reagiu ao seu sumiço?


- Eu não sumi, ela sabia que eu estava presa com vocês, ta vendo esse colar?


Ela apontou para o pingente azul em seu pescoço.


- Ele é algum amuleto místico?


- Na verdade ele é um amuleto digital. Usei ele para mandar uma mensagem para Anny, avisei que estava presa e que ela não deveria se preocupar...


- E o que ela fez?


- Bateu todos os meus recordes em todos os jogos da sala, ainda não consegui me recuperar disso... 


- E se fôssemos perigosos? Te apagamos e te prendemos...


- O único risco, era eu ficar caidinha pela capitã dos Lendas do Amanhã... – sorriu Chris, largando a xícara e se aproximando com um olhar de maldade – e foi exatamente o que aconteceu...


- Você não tem medo de nada, garota?


- Sou uma imigrante, ladra, latina que viaja no tempo – sorriu Chris – se eu deixasse o medo mandar, não viveria...


- Deixa eu ver a cicatriz... – pediu Sara, quando Chris ia beijá-la, e a mulher sorriu, puxando um baú e sentando em cima, de costas para ela, tirando a blusa – Como nunca reparei nisso?


- Nos últimos meses nossa relação foi puramente carnal – respondeu Chris, fechando os olhos e sentindo os dedos de Sara percorrerem suas costas, contornando a cicatriz – Você provavelmente não reparou em muita coisa relacionada a mim...


- Foi a esposa da Alex que fez isso nas suas costas?


- Com a minha aprovação – concordou Chris – a dor é mais fraca do que a cicatriz deixa parecer...


- Você tem muitas tatuagens no corpo...


- Dados marcantes codificados... – respondeu Chris, virando de frente para Sara - por que esse interesse repentino em mim, Capitã Sara Lance? Você mesma sempre disse: “sem vínculos”...


- Você veio a 1505 e encomendou dois quadros da minha família feitos por Leonardo Da Vinci...


- Não era pra você saber disso ainda...


- Disse para o maior gênio da história que eu era a mulher com o sorriso mais lindo que já havia visto...


- Sou uma ladra, não uma mentirosa... tá, ok, sou boa mentindo quando preciso, mas você entendeu...


- Você lembrou de mim em cada roubo que fez, e trouxe uma garrafa de uísque de cada lugar que esteve...


- Algumas mulheres ficariam ofendidas...


- Já deve ter reparado que não sou exatamente como as outras mulheres...


- Na verdade eu reparei sim – sorriu Chris.


– L.4.N.C.3? - perguntou Sara, tocando de leve as cicatrizes do ombro e parando na minúscula inscrição que acompanhava a cicatriz circular.


- Pra que eu nunca mais esquecesse do dia que você enfiou um bastão de metal no meu ombro, Anny faz minhas tatuagens... 


- Meu passado não te incomoda?


- Não, tirando o envolvimento com os caras, que eu acho meio broxante e nojento, no resto, eu acho sua história fascinante...


- Como sabe tanto sobre mim?


- Acho que foi a Felicity Smoak que me disse uma vez: “Se esta na internet, eu descubro...”


- Vai me dizer que transou com a Felicity também? – riu Sara.


- Eu tenho um tipo – sorriu Chris – Mulheres que lutam muito, e mulheres nerds... acho sexy...


- Espera, a Felicity sempre foi apaixonada pelo Oliver...


- Conheci ela na época da faculdade, antes do Oliver, e posso garantir que ela era bem... diferente. E no nosso outro momento de diversão, digamos que o Arqueiro Verde sabe ser bem babaca, então me deu a oportunidade ideal...


- E o que roubou dela? Você sempre rouba algo das pessoas...


- Nada... – respondeu Chris, com sinceridade – Mas roubei uma das flechas do arqueiro, além de umas amostras das ervas loucas que ele levou da ilha, assim posso replicar elas...


- Me conta por que eu bati em você?


- Roubei uma katana da Nyssa al Ghul, e pra isso tive que deixar ela desacordada, o que foi particularmente fácil já que fui o primeiro amor de Nyssa... você achou que eu tinha matado ela e tentou me matar... Nada como atacar a namorada de uma assassina, para deixar ela bem louca...


- Espera, eu to lembrando... você conseguiu levar a katana, fiquei furiosa que tinha conseguido me vencer, e confusa porque não me matou, e eu iria te matar se não tivesse me vencido... te cacei por anos!


- Eu sou muito boa em me esconder – sorriu Chris – Achei nossa luta bem produtiva na verdade, você é uma oponente e tanto...


- Vai me contar por que escolheu uma vida de crimes?


- Outra hora, tenho algo mais interessante para fazer agora... – respondeu Chris, puxando Sara para seu colo e lhe beijando.


Ter a nave só para as duas era algo divertido, mas se tratando das Lendas, a calmaria nunca dura muito, e o casal foi interrompido por batidas na porta e gritos.


- É como ter filhos, eu imagino... – falou Sara, olhando Chris nos olhos – só pra constar, estamos juntas, ok?


- Juntas tipo um casal? – sorriu Chris.


- Juntas tipo namoradas – concordou Sara, tocando o rosto dela – o que significa que a partir de agora, se eu descobrir que transou com mais alguém além de mim, eu mato você...


- Não fui pra cama com mais ninguém desde que me prendeu na Waverider – falou Chris – Eu fiquei presa porque queria você... fiquei pra tentar te seduzir... hackeei a Gideon depois de 2h lá dentro, e ver você indo me visitar com umas blusas decotadas fazia valer a pena estar presa...


- Que bom que reparou nas blusas, era de propósito...


- Eu sempre reparo em tudo que diga respeito a você, Sara Lance...


As batidas ficaram mais intensas e as duas se viram obrigadas a levantarem e se vestirem. Quando chegaram a entrada da nave, Chris espiou pelo painel o grupo de Lendas. Ela digitou um código e a porta abriu.


- O que houve? – perguntou Sara.


- Talvez, só talvez – falou Charlie – O Ray esteja com problemas...


- Vamos salvar o escoteiro, entrem... – falou Chris.


- Gideon sumiu – falou Mick – Não temos como pegar roupas da época...


- Onde estão o Nate, a Mona e o Constantine? – perguntou Sara, enquanto o grupo seguia Chris pela nave.


- Pegaram a Jump Ship e saíram em uma missão solo – respondeu Charlie - não conseguimos impedir...


- Consegue encontra-los depois? – perguntou Sara, para Chris.


- Com todo o prazer – sorriu Chris, abrindo a porta da sala de adereços – Mick e Charlie se arrumem, já programei para roupas de 1505, eu e Sara vamos nos arrumar no meu quarto, não toquem em nada, vou saber tocarem.


- Adoro quando fica mandona – sorriu Sara, entrando no quarto e pegando o vestido.


- Detesto vestidos, atrapalham meus movimentos... – reclamou Chris, colocando o vestido por cima da roupa que estava usando.


- Tem alguma ideia de onde o Ray e a Nora podem estar?


- Coloquei um rastreador em cada uma das lendas – respondeu Chris, pegando o tablet e ativando a busca.


- Até em mim? – perguntou a capitã, indignada.


- Você foi a primeira, como acha que eu conseguia esbarrar em vocês logo quando precisavam de ajuda?


- No momento estou na dúvida se estou mais apaixonada por você, ou com muita raiva...


- Me conte quando decidir – sorriu Chris – Mas desconfio que não tenha o direito de ficar brava comigo, já que colocou um rastreador em mim também...


- Como você... Esquece, entendi, se tem sinal digital, você pode rastrear...


- Sou melhor em hackear do que em roubar, e eu sou muito boa em roubar, então...


- Achou ele?


- Ray esta bem – sorriu Chris, mostrando a localização para Sara – ele está com o Da Vinci... mas temos outro problema...


- Se não tivesse, não seriam as Lendas...


- Nora não esta com ele, vamos ter que nos dividir. Confia mais em qual das duas Lendas para comandar uma busca?


- Nenhum dos dois eu costumo deixar sem supervisão – admitiu Sara.


- Posso ficar com o Mick e você com a Charlie – sugeriu Chris – ou encontramos Ray, descobrimos quem pode ter levado a Nora e vamos todos juntos...


- Quantas vezes já veio para este período?


- Mais do que posso contar...


- Então conhece bem o lugar...


- Cada canto da cidade.


- Resgate Nora, te encontramos na casa do Da Vinci.


- Sim senhora, Capitã Lance – sorriu Chris.


- Consegue se comunicar comigo se precisar de ajuda, Comandante Diaz, é só chamar...


- To vendo que vou me arrepender de ter te contato isso... – resmungou a mulher, saindo do quarto com Sara e encontrando Mick e Charlie – Prontos para dar uma volta?


- Mick você vai com a Comandante Diaz, Charlie comigo, sistema de duplas, como sempre fazemos... – avisou Sara.


- Quem é Comandante Diaz? – perguntou Charlie, confusa.


- Vai mesmo fazer isso? – perguntou Chris, olhando incomodada para Sara.


- Nos deem um minuto, por favor... – pediu Sara, e os dois se olharam e se afastaram cochichando.


- Eu te contei tudo em segredo... – lembrou Chris.


- Olha Chris, eu detesto o nome “Dragons", eu gosto de você, mas sempre odiei te chamar desta forma...


- Por que é o nome da esposa da Danvers?


- Porque não combina com você... Você nunca foi a “Dragons" pra mim, você é e sempre vai ser a Sh4dow, a mulher misteriosa que trabalha sozinha e cometes crimes por todos os séculos que consegue... Dragons é toda certinha, arrogante e metida a perfeita...


- Você namorou alguém literalmente perfeita... – falou Chris, olhando para o chão.


- E ela me trocou por alguém perfeita como ela – rebateu Sara, erguendo o rosto de Chris e fazendo-a olhar nos olhos – Você não tem que ser perfeita, tem que ser a ladra arrogante e cabeça dura que me diverte tanto... Vamos deixar o nome Dragons para as certinhas, podemos nos divertir mais sem esse peso... Danvers combina com uma Dragons, eu não...


- Diaz então... – suspirou Chris – Vai ser difícil me re-adaptar... Não pode ser só Sh4dow não?


- Conversaremos sobre isso – sorriu Sara, dando um beijo em Chris.


- Odeio seu excelente poder de persuasão – suspirou Chris, caminhando até Mick e Charlie – Mick, eu e você vamos atrás de Nora, Canário e Charlie vão buscar o Ray, dúvidas?


- Como devo te chamar? – perguntou Mick.


- Comandante Diaz, outra hora explico para vocês, vamos ao trabalho...


Chris abriu um livro amarelado e conferiu mais uma vez a localização de Nora, procurando a melhor rota até o lugar. Em meio a paisagem, bem escondida, havia uma entrada coberta por um pedaço de grama.


- O que esta vendo? – perguntou Mick.


- Eu sei quem sequestrou a Nora – respondeu Chris, descolando o trecho de grama e mostrando a abertura – E você não vai gostar...


- É só mandar que eu atiro...


- Não vai precisar... – respondeu ela, entrando na frente e seguindo por um dos túneis. Quando chegou ao final, abria para um espaço com outros 4 túneis.


- Acho que estamos perdidos, Comandante...


- Sei exatamente onde estamos indo, relaxa... – respondeu ela, entrando por um dos túneis e acendendo a lanterna.


Quando eles chegaram ao final do túnel, encontraram Nora sentada em uma pedra, olhando ao redor, mas parecendo tranquila.


- Sabia que viria, Lasa al Zilu – falou a mulher de olhos levemente puxados e cabelos negros, aparecendo das sombras.


- Nyssa al Ghul – falou Chris, desligando a lanterna e cruzando os braços – Nora, você esta bem?


- To sim, ela não me machucou, na verdade eu apaguei e acordei aqui, ela disse que só queria falar com você...


- Mick consegue encontrar o caminho de volta? – perguntou Chris.


- Não senhora, Comandante...


- Tudo bem. Vamos Nora, não tenho nada pra falar com a Nyssa...


- Eu não tenho culpa de nada o que aconteceu – falou a guerreira – A morte da Anny não foi culpa minha e você sabe disso, se alguém tinha que ficar brava, era eu que confiei em você duas vezes e acabei sendo roubada...


- O que você quer?


- Estou te procurando a meses, preciso da sua ajuda e você não responde minhas mensagens...


- Se eu não respondi, é porquê talvez eu não queira te ajudar, parou para pensar nisso? E sequestrar uma amiga minha não ajuda para o seu lado...


- Eu jamais machucaria a Nora, eu mudei, só que esse foi o único jeito que achei de falar com você... Eu não quero estragar sua vida Lasa, eu juro, e eu não viria se houvesse outro meio...


- Beleza, eu aceito conversar, desde que concorde com as minhas regras...


- Todas, tem minha palavra.


- Quero todas suas armas – falou Chris, se aproximando – Todas sem exceção...


A mulher entregou a katana, o coldre de flechas e o arco, que Chris apertou em uma inscrição e ele se recolheu virando um objeto de aproximadamente 5 cm e surpreendendo a todos.


- Eu não sabia que ele fazia isso – falou Nyssa.


- Claro que não sabia, nunca prestou atenção em nada que eu falava, seu ego e sua arrogância não deixavam você ver ninguém além de si mesma...


- É impressão minha ou a Comandante tá tendo uma DR com a sua sequestradora? – perguntou Mick para Nora, observando as duas.


- Também notei... será que a Capitã vai reagir bem?


- Não é da nossa conta – respondeu Mick.


Chris revistou Nyssa e recolheu mais algumas facas, guardando-as junto ao corpo. E fazendo um sinal para seguirem pelo túnel. O grupo seguiu em silêncio e quando saíram do esconderijo, o sinal do comunicador retornou ao normal.


“- Sh4dow, você esta bem? – perguntou Sara – uma voz estranha avisou que você ficou sem sinal, e agora avisou que o contato tava reestabelecido...”


- É a Saturno, a minha nave solo, programei ela para funcionar como assistente de navegação na ausência da Anny – explicou Chris, seguindo pelo caminho, com Nyssa um passo a sua frente e Mick e Nora poucos passos a frente dela – Não faz o que a Anny faz, mas quebra um galho... Sara, estamos com um problema que você não vai curtir...


“- Não conseguiram resgatar a Nora?”


- A Nora da bem, estamos indo para a Galáctia, preciso que me encontre lá, pode ser?


“- Estamos a caminho – avisou Sara - Sh4dow, o acordo que fizemos na nave esta de pé né?”


- Estou levando alguém que pertence ao nosso passado – respondeu Chris – Sim está de pé...


- Vai me matar se eu tentar algo? – perguntou Nyssa, olhando para frente.


- Ambas sabemos que não tenho problemas com isso – respondeu Chris – Se tentar qualquer coisa contra qualquer um da minha equipe, não vai viver o suficiente para pensar no que fez...


- Achei que Anny era sua equipe... você mesmo diz que ter parceiros te torna vulnerável...


- Você disse que mudou, talvez tenha acontecido o mesmo comigo...


- Sabe que a Capitã das Lendas foi quem fez isso com seu braço né... Foi ela quem tirou parte dos seus movimentos – comentou Nyssa, com um sorriso maldoso.


- Notícia velha – retrucou Chris.


- Acho que esta próxima das Lendas, só para se vingar do que Ta-er al Sahfer fez com você...


Chris deu um chute nas pernas de Nyssa, fazendo-a cair de joelhos e chamando a atenção de Mick e Nora mais a frente, que pararam e se viraram olhando para a hacker tomada de fúria enquanto Nyssa ria.


- Se abrir a boca mais uma vez, te mato antes de chegarmos na Galáctia – alertou Chris, algemando Nyssa com as mãos para as costas e puxando-a com violência pelo braço para que se levantasse.


O grupo seguiu em silêncio até a nave, onde Sara aguardava na sala de Comando, com Ray e Charlie. Quando Nora e Mick entraram, Ray abraçou a namorada com força, parecendo aliviado.


- Graças a Deus, eu achei que tinha te perdido para sempre! – falou ele, sem soltar Nora.


- Onde está a Sh4dow? – perguntou Sara, mas a resposta foi ela entrando na sala de comando – sua cara está péssima...


Chris, que já estava com sua calça jeans e jaqueta preta de costume, largou na mesa as adagas, o coldre de flechas, a katana e o pequeno dispositivo, olhando para Sara.


- Pode vir comigo, por favor? – pediu ela, enfiando as mãos nos bolsos, e Sara a seguiu até seu escritório.


- O que houve? – perguntou a capitã, fechando a porta enquanto Chris servia dois copos de uísque e entregava um para ela.


- Tem algo que não te contei, sobre meu passado... algo que pode gerar uma briga se não for esclarecido...


- Ta começando a me preocupar... Sou uma assassina, acho difícil ter feito algo que eu não possa lidar...


- É delicado... bem delicado na verdade... Mas preciso que confie em mim, e no que eu disser...


- Quem ta nas celas la em baixo? – perguntou Sara, tomando o conteúdo do copo em um gole apenas e largando o copo na mesa - Quem do nosso passado está la?


- Vou te mostrar, é melhor... – respondeu Chris, terminando de beber e saindo na frente.


Quando chegaram as celas, Sara olhou para a mulher algemada, sentada na cela e voltou a olhar para Chris.


- Que tipo de piada sem graça é essa? – perguntou Sara.


- Ta-er al Sahfer – falou Nyssa, levantando e se aproximando – esta linda...


- Estamos aqui Nyssa – falou Chris – o que queria?


- Lasa, eu procurei você, não a Sara...


- Minha nave – respondeu ela – Minhas regras. Você sequestrou uma pessoa da equipe de Lance, ela tem o direito de encarar quem atacou a família dela.


- Lasa te contou que é uma torturadora que se orgulha do que fez? – provocou Nyssa – sua nova amiga faz o oposto do que você defende atualmente...


- Na verdade ela contou – respondeu Sara, tirando o sorriso debochado dos lábios da assassina – o que quer?


- Meu assunto com a Lasa é meio que particular... – respondeu ela, voltando a sentar.


- Não tenho nada a esconder da Capitã Lance – respondeu Chris.


- Será? – provocou Nyssa outra vez – Acho que tem coisas sobre você que afastaria as novas amiguinhas...


- Vou te deixar pensar por algumas horas, - avisou Chris, programando o painel e diminuindo a temperatura da cela gradualmente - talvez lembrar de Nanda Parbat te lembre que como prisioneira, ao receber uma ordem, deve obedecer.


Chris terminou de digitar os comandos e saiu do compartimento, deixando Sara e Nyssa sozinhas.


- Não tem nada que diga sobre ela, que possa mudar alguma coisa – respondeu Sara.


- Conheço esse olhar... Era o olhar que dava a mim... se apaixonou pela Lasa, Sh4dow, Chris ou seja lá que nome ela tenha dado a você... eu entendo que esteja sentindo isso, ela é linda, inteligente, divertida...


- Não sei do que está falando...


- Pergunte pra ela sobre o braço dela... sobre como foi pra ela perder o movimento do braço depois que você enfiou um bastão nele... Viu a tatuagem com seu nome né? Ela fez para nunca esquecer quem deveria destruir...


- Eu não acredito em você...


- Tanto faz, mas pergunta também por que a Anny morreu...


- Você...


- É, eu sei da Anny, e tem coisas sobre a morte da irmãzinha que ela não te contou... A Lasa não gosta de você, ela se aproximou para te destruir...


- Acho que a Comandante foi muito generosa com a temperatura da cela – respondeu Sara, mexendo na programação e derrubando mais a temperatura, saindo do compartimento.


Sara foi atrás de Chris, mas com a ausência das assistentes, ela teve que fazer isso da forma tradicional, procurando-a em cada cômodo da nave. Quando a encontrou, a mulher estava só de regata e calça jeans, na academia, dando socos em um saco de areia.


- Como foi a conversa? – perguntou Chris, sem parar e alternando os socos.


- Seu soco esquerdo é fraco... – respondeu Sara.


- O que ela te falou?


- Você me pediu que eu confiasse em você... juro que estou me esforçando muito pra isso, com cada fibra do meu corpo...


- Eu fiquei com raiva de você... – falou Chris, parando de bater e secando o rosto em uma toalha – eu só pensava em acabar com você...


- Esse é outro de seus grandes segredos?


- Já se sentiu atraída por alguém que sabia que não era pra você?


- Já – admitiu Sara – dormi com o namorado da minha irmã e me arrependi disso cada minuto da minha vida...


- O problema é que eu não me arrependi... Lutar com você foi... foi intenso... Quando você me atingiu, rompeu um nervo importante que tirou completamente os movimentos do meu braço esquerdo...


- Sentiu raiva de mim, eu entendo...


- Eu era uma ladra hacker sem uma das mãos... eu era canhota quando tudo aconteceu, tive que reaprender a escrever, a me arrumar, a atirar, tudo com a mão direita...


- Eu não tinha reparado antes, mas você movimenta pouco o braço esquerdo, mas parece ter recobrado os movimentos...


- Levei anos pra isso... muitos anos na verdade... e durante esse tempo eu sentia ódio de você, eu queria te matar...


- Você só dormiu duas vezes com a mesma mulher uma vez antes de mim, depois do que aconteceu com a Anny... - comentou Sara, se sentando em um dos aparelhos da academia enquanto Chris sentava no outro mais próximo – Lembro de ter dito que essa mulher foi a Felicity... 


- A segunda vez que a procurei, foi pra pedir ajuda... ela é uma gênia, e eu precisava da inteligência dela pra recuperar o movimento do meu braço, ou pelo menos para construir um novo para que eu pudesse arrancar o meu...


- Estava disposta a amputar o braço e substituir por um robótico?


- Eu tava disposta a tudo para ter minha mobilidade devolvida...


- Felicity sabia quem tinha te machucado?


- É, ela sabia...


- E o que ela disse?


- Impôs uma condição... disse que me ajudaria, se eu prometesse que tentaria te conhecer antes de te matar...


- Queria se aproximar de mim no casamento do Barry, pra tentar me matar... – compreendeu Sara.


- É... mas Alex Danvers atrapalhou meus planos.


- E depois, no casamento da Alex...


- Você estava com a Ava e não parecia inteligente fazer nada com um grupo tão estranho de convidados que poderiam me pegar... você tem amigos muito leais...


- Quando você se deixou ser capturada, quando não fugiu da Waverider... fez isso pra cumprir o que prometeu pra Felicity?


- Na verdade foi sim... ela me ajudou a desenvolver um conector que substituiu a maior parte dos meus nervos danificados, e me permitiu voltar a mexer o braço... eu devia esse voto de confiança a ela...


- Poderia ter me matado quando cai no sono, depois do sexo...


- Na verdade eu não poderia...


- Por quê?


- Porque Felicity tava certa... você não era quem eu imaginava... uma parte minha queria te matar, ou pelo menos te tirar os movimentos, como fez comigo, e outra queria sair com você novamente, queria mais tempo ao seu lado...


- Eu... não tenho certeza se sei como me sinto com relação a tudo isso...


- Eu me apaixonei por você, Capitã Sara Lance... eu me viciei em você de uma forma que eu não consegui mais respirar direito... eu não quero que existam mentiras entre nós duas, então sim, quando eu te encontrei, queria te matar, mas agora eu mataria qualquer um que fizesse mal a você ou as Lendas... ter vocês na minha vida foi quase como ter uma família, ou o que eu imagino que deva ser uma família...


- Preciso que me conte outra coisa...


- O que quiser, é só perguntar...


- Nyssa falou algo sobre o motivo da morte da Anny... achei que tinha me contato a verdade sobre o que aconteceu...


- Eu contei somente a parte da qual não me envergonho – admitiu Chris – eu estava mesmo desenvolvendo um projeto quando tudo aconteceu, mas o motivo de eu me sentir tão culpada é que deixei de voltar pra casa a noite porque estava com a Nyssa... Eu não queria voltar pra casa e ter que aguentar a birra da Anny, então eu passei uma semana no Kitnet onde eu me encontrava com a Nyssa, trabalhava e ficava com ela... quando voltei pra casa e encontrei minha irmã quase morta, pedi ajuda da Liga pra caçar as pessoas, e Nyssa me ajudou a torturá-los...


- Acha que Anny morreu porque você dormiu com a sua namorada ao invés de ficar em casa... – compreendeu Sara.


- Ela era minha responsabilidade, e eu meio que abandonei minha irmã por uma mulher... duas vezes...


- Quando foi a segunda?


- A primeira vez que dormi uma noite inteira com você na Waverider... sai da Galáctia porque eu estava cansada, porque queria ficar com você, te contar sobre tudo, e Anny achou que eu estava trocando ela por você, como fiz com a Nyssa...


- Vou precisar de um tempo para pensar nisso tudo, espero que entenda... – falou Sara, levantando e indo até a porta – É muita informação pra absorver em tão pouco tempo...


- Claro, eu entendo... Eu... adicionei um comando que permite a Waverider viajar sem a Gideon, fiz isso pra evitar que ficassem vulneráveis se algo acontecesse com a assistente de vocês...


- Eu te procuro, quando e se eu estiver pronta – avisou Sara, saindo da sala.


Chris respirou fundo e voltou a treinar, ignorando a dor física causada pelos socos, até que sua mão esquerda não fechou mais e ela se obrigou a parar. Ela tomou um banho, se trocou e foi até as celas ver Nyssa, que tremia em um canto, encolhida, a boca roxa do frio.


- Precisa mais do que isso para me matar – avisou Nyssa.


A hacker desativou o dispositivo que liberava o frio, abriu a porta da cela de vidro e caminhou até Nyssa, erguendo-a com a mão direita e lhe dando um soco no rosto, fazendo-a cair novamente, tirando o sorriso debochado dos lábios da assassina.


- Levanta – mandou Chris, e a mulher obedeceu – Eu vou te ajudar pela última vez. Só mais essa, e estamos quites, se você aparecer novamente eu te mato. Fala o que esta acontecendo.


- Tem um assassino novo, ele quer me matar e assumir Nanda Parbat...


- Isso não deveria ser um problema, não pra você pelo menos. Tem um exército de assassinos trabalhando para você...


- Esse é o problema, ele acha que o mundo não precisa de tantas pessoas, e ta substituindo meus guerreiros de alguma forma, ele esta trocando os assassinos por uns robôs, ou seja lá qual for o nome que se dá...


- Isso ta começando a ficar divertido, continua...


- Esses robôs são idênticos a um ser humano normal, parecem ter carne, pele, vida, inclusive sangram se você os fere, mas não morrem...


- Como faz para saber se quem esta com você é humano ou um robô?


- Eu não sei, é ai que preciso de você... Não esta mexendo a mão esquerda, danificou o nervo lutando com a sua ex amiguinha Sara?


Chris deu um chute na mulher que ainda estava no chão e ela se encolheu, cuspindo um pouco de sangue.


- Nunca mais repete o nome dela. Parece que você se diverte apanhando.


- Eu paro – falou Nyssa – eu juro...


- Tira o dia para pensar, amanhã voltamos a conversar, ninguém vai te matar aqui, ninguém além de mim, claro – falou Chris, tirando a algema de Nyssa – O botão azul faz aparecer a pia, o verde a privada e o laranja uma ducha. Sou uma criminosa, não um animal.


- E a comida?


- Deveria ter tomado café da manhã antes de sequestrar minha amiga – respondeu Chris, voltando a trancar a cela e saindo do compartimento.


Quando chegou na sala de comando, seu celular começou a tocar e ela atendeu conectando ao holograma da máquina.


- O que você fez? – perguntou Felicity, aparecendo diante dela.


- Olá pra você também, Felicity.


- Seu nervo parou de funcionar devido a um dano causado por uso extremo da força  - falou a loira – ou seja, você bateu em alguém até o nervo danificar. Tentei ligar pra Sara e ela não atende, Sh4dow você matou a Sara! Falamos sobre isso, você me fez uma promessa, a Sara é minha amiga! Caramba eu te ajudei, você é minha melhor amiga, eu confiei em você e...


- CADA A BOCA FELICITY! – gritou a hacker, dando um soco no painel e assustando a mulher – Desculpa, é só que... quando você fica nervosa você não para de falar...


- Desculpa é só que...


- Eu não machuquei a Sara – interrompeu Sh4dow – Não fisicamente pelo menos... Você tava certa, ela é incrível, linda, inteligente, forte... Eu seria incapaz de machucar a Sara, eu juro Felicity, juro pela Anny...


- Eu tentei ligar pra ela e fiquei nervosa, me perdoa...


- Ela esqueceu o celular aqui – respondeu Chris, mostrando o celular no painel – Eu danifiquei meu nervo batendo no saco de areia, eu fiz coisas erradas e sou a única culpada, mas não muda o fato de que cometi um erro grave ao cogitar matar a Sara...


- Não quero te chamar de mentirosa nem nada – falou Felicity – mas tem sangue na sua mão direita...


- Bati em uma prisioneira.


- Quer dizer que uma criminosa conheceu a Galáctia por dentro e sua melhor amiga não?


- Eu... Felicity eu preciso conversar... Oliver ficaria bravo se você viesse ficar uns dias aqui comigo? Como amigas, eu juro, no máximo como colegas de trabalho...


- Vai me fazer abrir seu braço novamente né? Sabe que odeio sangue, e agulhas e essas coisas...


- Se tiver alguém de confiança para ajudar, traga junto... Se você conseguiu me ligar, é porque me hackeou, então vou mandar uma nave te buscar a hora que quiser...


- Na verdade eu não te hackeei, eu coloquei um rastreador no nervo, e um sensor de erro no seu cérebro... Você não é exatamente de confiança... E quanto a Oliver, ele é meu marido, não meu dono, eu decido onde e pra quando vou...


- Justo. Aguardo seu ok para mandar a Saturno.


Ela desligou e foi para o próprio escritório, servindo um copo de uísque e sentando na mesa, abrindo o notebook. Com a mão esquerda inutilizada pela falta de movimentos, o que ela descobriria em pouco mais de 3 horas, acabou levando a noite toda, e isso acabou a irritando mais. Ser uma criminosa implicava em muitas coisas, e uma delas foi crescer sem um adulto que a guiasse em determinadas situações, então a raiva era um problema grave, e quando estava irritada, o que separava razão e emoção, se perdia. Quando Felicity chegou a nave com uma amiga na tarde do dia seguinte, encontrou a ladra na academia, deitada no chão inconsciente, as mãos sangrando.


- A meu Deus, Sh4dow, acorda! – falou ela, se ajoelhando ao lado da mulher e dando tapinhas no rosto dela – o que você fez sua maluca!


- Me ajuda a por ela sentada – pediu a mulher com ela – o que será que aconteceu?


- Sh4dow tem problemas com a raiva – respondeu Felicity, olhando as mãos dela – meio que perde a noção e bate em coisas, ou pessoas, e depois apaga...


- Você tem um gosto bem peculiar pra escolher seus amigos – riu a mulher, escutando os batimentos de Sh4dow, e pagando uma seringa e um frasco da maleta.


- É mais complicado do que parece, o que esta fazendo?


- O coração dela ta muito fraco – falou a mulher, injetando o liquido no pescoço de Sh4dow, que recobrou a consciência assustada e pegou Felicity pelo pescoço, estrangulando-a com a mão direita.


- Solta ela! – falou a mulher com Felicity, tentando afastar Sh4dow da amiga.


- Olha pra mim – pediu Felicity, quase sem voz – sou eu Ghost Fox, e você é Sh4dow...


A mulher abriu a mão, olhando assustada ao redor e olhando para o pescoço de Felicity.


- Me perdoa Fox – pediu ela, passando a mão no rosto – Eu... me perdoa...


- Ta tudo bem – respondeu Felicity, abraçando Chris – achei que tinha te perdido... consegue levantar?


- Sim – confirmou ela, levantando com a ajuda das duas – obrigada por isso... E quem é você?


- Dra. Caitlin Snow – se apresentou ela, enquanto ajudava Felicity para levar a mulher até a ala médica – sou uma amiga da Felicity, ela disse que precisava de ajuda e eu vim...


- Tem doutorado para ser chamada assim? – perguntou Sh4dow.


- Na verdade eu tenho sim – respondeu a médica com um sorriso.


- Gostei da sua amiga – comentou Sh4dow, para Felicity.


- Claro que gostou... – retrucou ela, colocando a mulher sentada com cuidado.


- Como chegaram a minha nave?


- Esta insultando minha inteligência – respondeu a loira, sentando próxima a ela – quando você não atendeu minhas ligações eu hackeei a Saturno, descobri onde estava e fiz ela nos buscar... Já estive em uma nave que viaja no tempo antes, com as Lendas, sei um pouco do que acontece.


- Obrigada por ter vindo...


- O que aconteceu com você? A muito tempo não te vejo nesse estado...


- Eu... – ela olhou para Caitlin e voltou a olhar para Felicity.


- Ela é de confiança, pode falar.


- Beleza... eu me apaixonei pela Lance... fiz o que prometi a você sobre não matar ela antes de conhecê-la, e acabou da pior forma que poderia acabar...


- Droga... e ela descobriu que você só se aproximou dela para matá-la... – compreendeu Felicity.


- Minha nova prisioneira me obrigou a colocar todas as cartas na mesa – admitiu Sh4dow – ela pediu um tempo para pensar...


- Ta, espera... a Sara sabe que você gosta dela? – perguntou a loira.


- Estamos saindo a uns 9 meses, então sim, ela meio que já percebeu...


- Caramba, isso sim é uma surpresa... Como a Anny lidou com isso?


- Ela fez o que toda adolescente faz quando algo sai como ela não espera...


- Ela surtou, entendi... 


- Agora as coisas estavam melhorando, ela arrumou uma nova amizade colorida e me deixou contar tudo a Sara...


- Mas você deixou de fora que queria matá-la e que Nyssa te ajudou a torturar quem matou a Anny... – compreendeu Felicity.


- Exato. Em resumo, acho que nunca mais Sara vai olhar na minha cara, minha irmã provavelmente esta transando com a Gideon, a A.I da Waverider, e Nyssa esta presa no porão da nave depois de sequestrar uma das Lendas para chamar minha atenção e destruir minha tentativa de ter um relacionamento com alguém além de uma máquina com lembranças...


- Sua vida é bem intensa – comentou Caitlin – E como você e Felicity se conheceram? Fizeram faculdade juntas?


- Nunca concluí o ensino fundamental, ou como chamam aqui, o primeiro grau – respondeu Chris.


- Mas você é uma hacker... – ponderou Caitlin.


- Uma das melhores que existem – acrescentou Sh4dow – Mas abandonei a escola quando minha irmã nasceu...


- Conheci a Sh4dow quando ela apareceu em uma das minhas aulas na faculdade – contou Felicity – começou a frequentar algumas cadeiras e acabamos nos aproximando...


- Frequentou a faculdade sem terminar a escola? – perguntou Caitlin.


- Por um ano – confirmou Sh4dow – o segredo é nunca criar padrões... nunca sentei duas vezes no mesmo lugar ou usei duas vezes a mesma roupa, e as vezes até fui homem...


- Mas fazendo isso, não conseguiria o diploma...


- Eu sou uma ladra, Srta Snow...


- Não queria o diploma... – compreendeu a cientista – queria roubar algo...


- Eu precisava de um código que precisava de uma base patenteada para existir, então roubei o código e a patente, alterei e criei um novo. Gosto de aprender, e assistir aulas escondida pode ser uma boa forma de fazer isso...


- Então vocês duas ficaram amigas nessas aulas?


- Não exatamente – respondeu Sh4dow, sem ter certeza se poderia ou não dizer algo, mas Felicity foi quem decidiu.


- Eu e a Sh4dow ficamos... nos envolvemos em algo bem difícil de rotular – respondeu ela – Ajudei ela na criação de um código inquebrável... Ela foi embora e só voltou a me procurar quando eu já havia conhecido o Oliver e o Time Arqueiro. Me pediu ajuda com o braço, e meio que acabamos... indo pra cama novamente.


- Eu... – falou a mulher, em choque – Não sabia que você... não que seja um problema, é só que... huau...


- Ela tem algo que meio que me deixa nervosa – respondeu Felicity, dando um tapa em Sh4dow, que começou a rir.


- É meu charme latino e sangue caliente... – riu a hacker – mas agora somos amigas, né Felicity?


- Me protegeu tantas vezes que não teria como ser diferente... Vamos ver esse braço?


- Claro – sorriu Chris, tirando o casaco com a ajuda de Felicity e ficando de regata – e temos que conversar sobre esse lance de você ter colocado um rastreador em mim...


- Você disse que ia matar minha amiga, eu precisava ficar de olho em você... – se justificou a loira, puxando os equipamentos para iniciar o raio-x do braço enquanto Caitlin preparava os instrumentos – disse que a Anny ta com a Gideon, como isso aconteceu?


- É uma história meio longa... – respondeu Chris, observando a médica colocar um anestésico em seu braço.


- Deixa eu ver se entendi tudo – falou Caitlin – sua irmã caçula é uma A.I com corpo de verdade?


- Quase isso – concordou Chris – quando minha irmã morreu eu passei todas as memórias dela para um programa de computador, com o passar dos anos desenvolvi um código que me permitiu transformar milhões de nano-robôs em uma pessoa sólida de verdade, então quando Anny quer ter um corpo, esses milhões de nano-robôs revestidos com pele sintética que parece humana, se unem como um quebra-cabeças e formam ela com a aparência que ela quiser, baseada na aparência física que ela tinha... ela não pode envelhecer, mas pode trocar de roupas, mudar a cor do cabelo, o penteado, esse tipo de coisa...


- E você vive nesta nave gigante com a lembrança da sua irmã que já morreu, viajando no tempo e cometendo crimes... – ponderou a médica, começando a fazer um corte no ombro esquerdo da hacker, enquanto Felicity evitava olhar para o sangue e segurava a mão direita da amiga.


- Em resumo, é isso sim... quando fui capturada pelas Lendas e passei um tempo como prisioneira na nave, comecei a reavaliar a decisão de não ter uma equipe além da Anny, mas adolescentes são rebeldes e isso incomodou minha irmã... Acho que você encontrou a conexão danificada...


- É, encontrei, não se mexe por favor – falou a médica, puxando com cuidado o fio em meio ao sangue.


- Comandante Diaz – falou a voz de Gideon – Estamos com problemas...


- Achei que estava com a Anny – respondeu Chris.


- Assumiu o Diaz novamente? – perguntou Felicity, surpresa.


- Eu imploro para que não se mexa – repetiu Caitlin.


- Preciso que vá urgente até o compartimento de celas, não consegui impedi-la...


- Merda – falou Chris, ignorando os protestos de Caitlin e correndo para o local, o fio pendurado em seu braço parcialmente aberto.


As mulheres correram atrás dela seguindo as pegadas de sangue no chão. Quando chegaram ao local, Anny batia em Nyssa, tomada de raiva, e a mulher revidava.


- Gideon chama ajuda agora! – pediu Felicity.


- Estou fazendo isso neste segundo, Sra. Fox – respondeu a A.I.


Enquanto Chris tentava segurar Anny e impedir que Nyssa batesse nela apenas com um braço, Sara entrava na nave, olhando ao redor.


- Sh4dow? – chamou ela, estranhando o vazio e o silêncio – Eu vim buscar meu celular e saber como está... não te dei muita chance para se explicar... Gideon, onde esta a Comandante? – perguntou ela, e então lembrou onde estava – Claro que a Gideon não esta aqui...


- Na verdade estou sim Capitã Lance, e preciso urgente da sua ajuda, a Comandante esta com problemas...


- Espera, isso no chão é sangue?


- Certamente, sangue da Comandante Diaz... Ela está no compartimento de celas...


- Nyssa... – compreendeu Sara, correndo até o local e encontrando Chris segurando a irmã pela cintura, que tentava se desvencilhar a todo custo.


- Me escuta Anny – pedia Chris – não faz isso... não vale a pena...


- Ela é a culpada... – bufou Anny, conseguindo se soltar e dando um soco em Nyssa, mas quando a assassina ia revidar, Sara se meteu na frente e a nocauteou com um soco.


- Respira – pediu a Capitã, se virando e olhando nos olhos de Anny – Preciso que se acalme...


- Ela destruiu nossas vidas, duas vezes – bufou a garota, enquanto Gideon se aproximava em sua forma humana e a segurava com gentileza.


- Esta tudo bem agora... – falou Sara – Estamos todas aqui, ela não vai destruir mais nada...


- Eu fui a culpada – falou Sh4dow, se apoiando nos joelhos devido a dor no braço aberto e sangrando – foi escolha minha não voltar pra casa, não estou defendendo ela, só dizendo que se quer sentir ódio de alguém, tem que sentir de mim também...


- Eu olhei o histórico das câmeras – falou Anny – Vi ela colocando você contra Sara e ela indo embora, essa maldita só trás infelicidade pra nossa vida, tem que morrer...


- São as minhas escolhas que fizeram isso, não a Nyssa... – falou Chris, e então desmaiou e as mulheres a socorreram e a levaram para a ala médica.


- Quem é você? – perguntou Felicity, ajudando a colocar Chris na maca e olhando para a mulher que ainda segurava Anny.


- Sou eu, Gideon, sra. Fox – respondeu a A.I – A Comandante me deu um corpo...


- Não consigo ficar surpresa da Sh4dow ter dado um corpo sexy para você... – comentou Felicity, enquanto Caitlin iniciava uma transfusão de sangue na Comandante desacordada.


- Como chegaram aqui? – perguntou Sara, para Felicity.


- Ontem identifiquei uma falha no braço esquerdo da Sh4dow – respondeu ela – liguei pra ela porque achei que ela tinha batido em você até te matar... te liguei e você não atendeu...


- Esqueci o celular aqui...


- A Chris jamais te machucaria – falou Anny, olhando para a Capitã – no início eu poderia fazer isso, mas ela não...


- Vou precisar de ajuda e silêncio aqui – falou Caitlin.


- Eu posso ficar – respondeu Gideon – sou habilidosa com cuidados médicos, vocês vão se limpar e se acalmar lá fora por favor... Anny, preciso que me prometa...


- Não vou voltar lá, eu juro – respondeu a garota, saindo com Sara e Felicity e caminhando com elas até o quarto de Chris.


- Ainda me assusto com a capacidade de organização da Sh4dow – comentou Felicity, tirando o casaco sujo de sangue, enquanto Anny abria a porta do banheiro para que ela pudesse se limpar.


- Já esteve na Galáctia? – perguntou Sara, olhando o quarto e as roupas que havia esquecido, bem dobradas na prateleira.


- Nunca, mas conheci o alojamento da Sh4dow na faculdade – contou Felicity, sentando no sofá – Resumindo, quando liguei achando que ela tinha te matado, ela me contou que se apaixonou por você...


- Ela disse isso com essas palavras? – perguntou Sara, lavando as mãos e sentando na cama, enquanto Anny sentava na poltrona.


- Não sei o que fez com a minha irmã – contou Anny – mas nunca a vi ficar mais que uma vez com uma garota... Exceto com a Felicity, mas sei que ela foi um caso isolado...


- Mantiveram contato então? – perguntou Sara, olhando para a amiga.


- Na verdade não... desde que Sh4dow me procurou para ajudar a fazer o braço, nunca mais nos falamos... eu sabia achá-la, mas se fizesse isso sabia que ela daria um jeito de sumir novamente, então guardei essa carta na manga. Quando ela me contou tudo e pediu ajuda para arrumar o braço, concordei em vir, só que liguei várias vezes e ela não atendeu...


- Minha irmã tem problemas com raiva... – contou Anny – nós duas temos na verdade...


- Eu hackeei a Saturno e a fiz nos buscar... trouxe Caitlin porque você sabe que odeio sangue... estávamos começando a arrumar o braço da Sh4dow quando Gideon avisou que precisava de ajuda...


- Eu assisti aos vídeos – contou Anny, encarando as próprias mãos e colocando as pernas para cima do assento – Vi o que a Nyssa disse pra você, ouvi a conversa de vocês duas...


- Invadiu nossa privacidade... – interrompeu Sara – Não era algo público...


- Sou enxerida, não posso evitar... – tentou Anny – ver minha irmã chorando e parecendo derrotada, me lembrou de quando morri... ela ficou vazia novamente, e sei que brigo muito com ela, que morro de ciúmes dela, mas somos a família uma da outra desde sempre... Chris abandonou a escola por minha causa, começou a trabalhar ainda criança, roubava e me ensinou a ler e a escrever... nunca tive ninguém além dela, sabia que ela escapava e fica com algumas garotas, mas ela sempre voltava pra casa e ficava comigo, até que não voltou por alguns dias...


- Foi quando você morreu... – compreendeu Sara – ela estava com a Nyssa...


- Eu sei que ela se culpa por tudo, mas ela me protegeu a vida toda, apanhou por minha causa várias vezes, e eu fiquei com raiva dela por ter sumido e fiz o oposto do que ela me mandou fazer... eu sabia que podia morrer, e no instante que usei aquelas coisas, enquanto sentia e via o que faziam comigo, sem conseguir me mover, eu só conseguia pedir perdão em pensamento por não ter dado valor a minha irmã... Eu fui a única culpada pelo que aconteceu...


- Chris pediu ajuda de Nyssa para torturar quem te machucou, enquanto eu melhorava o código que daria vida a você – contou Felicity – Quando decidi mudar de vida e abandonar o lance de hacker-ativista, sua irmã assumiu a responsabilidade de todos os crimes que eu cometi, ela literalmente zerou minha ficha criminal e me permitiu começar do zero, me ajudou com a grana, a achar um apartamento e conseguir um emprego... Tenho uma eterna dívida de gratidão com ela... Acho que a Chris só manteve Nyssa na nave, para pagar a dívida que ela tem...


- E novamente a vida da minha irmã foi estragada por minha causa – comentou Anny.


- Como assim? – perguntou Sara.


- Se eu não tivesse feito o oposto do que fui ensinada, não teria morrido, a Chris não pediria ajuda da Nyssa para torturar aquelas pessoas, não teria essa dívida com uma assassina, que não teria contado para você quais eram os planos da minha irmã, o que não obrigaria ela a te contar toda a verdade, e você não teria ido embora...


- Sua irmã é adulta, sabe o que faz e as consequências disso... – respondeu Sara – E ela sabe que odeio mentiras...


- Eu a obriguei a mentir para você... – respondeu Anny – Foi muito ruim ver minha irmã querer sair, parar de roubar, querer ter uma equipe e ficar horas olhando o celular e rindo... ameacei ela para que não te contasse nada... me perdoa...


- Fazemos tudo por quem amamos né? – perguntou Sara – se fosse a Laurel no seu lugar, e se eu não tivesse ninguém pra me apoiar, provavelmente eu faria o que a Chris fez...


- Você é legal, Sara Lance – sorriu Anny – se aceitar dar uma chance pra minha irmã, tem minha palavra de que não vou interferir mais... com uma condição...


- Qual? – sorriu Sara.


- Que fiquem alguns dias aqui... as Lendas podem vir também... eles parecem legais e esta na cara que minha irmã adora todos...


- Eles curtem ela também – sorriu a Capitã – prometo pensar sobre o caso... Quer nos contar sobre você e a Gideon? Eu vi a troca de olhares...


- Ela é incrível... desde que morri, a 12 anos, eu não sabia o que era ter intimidade com alguém, e mesmo antes foi diferente... a Gideon é divertida, carinhosa... eu acho que com ela entendi porque minha irmã acabou se apegando a você Sara... é como se tudo fosse mais leve quando temos alguém que nos aceita como somos...


- A capacidade da Chris de te aperfeiçoar me assusta... – comentou Felicity – você é praticamente humana...


- Ela me programou para sentir cheiros também – contou a garota, satisfeita – é mágico...


- Por isso disse que eu tinha um cheiro bom – riu Sara.


- Chris fica brava comigo, mas é um dom incrível que quero usar o tempo todo... você também tem um cheiro bom, Felicity, minha irmã gosta de mulheres com cheiros de inteligência e força...


- Estou constrangida de uma forma que não consigo descrever – comentou Felicity – ela já conseguiu resolver o bug do código de paladar?


- Ela vai me dar paladar? – falou a garota, o rosto iluminando de felicidade.


- Eu e minha boca grande demais – respondeu Felicity.


As três ficaram horas conversando, até que Gideon apareceu e as chamou para ir ver Chris.


- Ela nos deu alguns sustos – contou a A.I, segurando a mão de Anny – mas é muito resistente...


- Onde conseguiram sangue compatível com ela? – perguntou Sara, se aproximando devagar e olhando o braço costurado de Chris.


- É o sangue dela – respondeu Anny, se aproximando pelo outro lado e tocando os cabelos da irmã – retira sangue sempre que pode, para caso aconteça algo...


- Rasparam a lateral da cabeça dela... – comentou Felicity – Conseguiram corrigir o dispositivo conectado ao cérebro?


- Na verdade conseguimos sim – sorriu Caitlin – ela ganhou um penteado novo, espero que não fique brava...


- Ela vai ficar furiosa – riu Anny – ficou parecida comigo, e ela sempre criticou meu corte de cabelo...


- Acho que devemos deixar ela descansar agora – sugeriu a médica – Eu meio que preciso de um banho e um copo de café...


- Vou acompanhar vocês – concordou Felicity – o cheiro do sangue ta me enjoando...


- Vou mostrar a nave para vocês – falou Anny.


- Eu... gostaria de ficar um pouco mais, se tiver tudo bem... – falou Sara.


- O tempo que precisar – concordou Anny, saindo com as outras mulheres e fechando a porta, enquanto Sara puxava uma cadeira e sentava próxima a cama de Chris.


- Você é uma verdadeira desajustada – sorriu a capitã, segurando com cuidado a mão direita de Chris, com alguns ferimentos – combina com as Lendas... acho que foi o que mais gostei em você...


- Me perdoa... – falou Chris com dificuldade, abrindo os olhos devagar – me perdoa por esconder a verdade de você...


- Acho que eu faria a mesma coisa... você deveria estar dormindo...


- Não precisa ficar aqui se não quiser... não quero que fique por que acha que tem que ficar...


- No momento a única coisa que eu quero, é que você se recupere...


- Me deixa começar novamente... – pediu a hacker, com uma careta de dor – eu juro que vou fazer do jeito certo dessa vez...


- Vou aumentar seu sedativo... – avisou Sara, ajustando a medicação – descansa, conversaremos quando estiver melhor...


A hacker apagou e Sara voltou a observá-la, e então pegou um pano úmido e começou a limpar seus ferimentos com cuidado. Quando terminou, ela pegou o kit de primeiros socorros e desceu para o compartimento de celas, onde Nyssa estava sentada na cama, o rosto muito machucado e alguns cortes sangrando.


- Veio me bater também? – perguntou Nyssa, quando Sara abriu a porta e voltou e fechá-la assim que entrou.


- Eu vim cuidar dos seus machucados – respondeu a capitã, sentando na cama e abrindo o kit – e te dar um aviso...


- Lasa esta apaixonada por você – falou Nyssa – eu não a culpo, você tem esse efeito nas pessoas...


- Não tenho certeza do motivo pelo qual ela decidiu te ajudar – falou Sara, limpando os ferimentos da mulher – mas confio nela, não na Lasa que me jurou de morte, mas na Sh4dow que vem me ajudando e trabalhando com minha equipe a meses, então se você colocar ela em algum perigo, eu mesma vou matar você, independentemente do que eu e você tenhamos vivido... eu te amei muito no passado, mas isso faz muito tempo, e eu não vou poupar você, se colocar a vida de outra pessoa em risco...


- Ela contou que levou minha irmã pra cama? Ou que a loirinha que veio com ela aqui também já dormiu com ela?


- É, contou – respondeu Sara – então um conselho, ou você para de se envolver onde não é da sua conta, ou não vai ser a Anny nem a Sh4dow que vão te matar, sou eu. É meu último aviso Nyssa al Ghul...


- Compreendido, Ta-er al Sahfer.


Ela terminou os cuidados, deu alguns pontos na testa de Nyssa e saiu da cela, indo para o escritório de Chris, olhando o computador na mesa e abrindo-o.


- Ela ama esse lugar – comentou Anny, parando na porta com Felicity – achei que te encontraríamos aqui...


- Gosto desse escritório também – respondeu Sara – Felicity, você é a pessoa dos códigos, o que esses significam?


A hacker sentou na poltrona de Chris e olhou com cuidado os números, mudando de página e olhando as outras coisas abertas no notebook. Ela levou alguns minutos mexendo e analisando os dados, e quando Caitlin e Gideon se juntaram a elas, Sara serviu um copo de bebida para cada uma, oferecendo um para Anny também.


- Minha irmã não me deixa beber – falou Anny, olhando o copo na mão de Sara – só tenho 16 anos...


- Tem 16 anos a 12 anos – retrucou Sara – Não pode sentir o gosto, mas pode sentir o cheiro, se conseguir se concentrar, vai gostar do efeito... fica como um segredo só nosso...


- Eureca! – vibrou Felicity – descobri o que a mente doentia da Sh4dow estava trabalhando... é algo como um vírus de computador com componentes orgânicos, só é um risco para quem é robô...


- Basicamente minha irmã desenvolveu um vírus de computador para robôs humanóides... – ponderou Anny – ela me protege a vida toda, não faz sentido...


- A Comandante jamais machucaria a própria família... – ponderou Gideon -  Anny, tem alguém no século de vocês que a Comandante gostaria de ver morto?


- Er... Acho que vou ter que contar outro segredo nosso para vocês... – falou a A.I, tomando todo conteúdo do copo em um só gole e respirando fundo – huau o cheiro disso é incrível... Bom, eu e minha irmã meio que estamos... mortas, no nosso século...


- Explica isso direito... – pediu Sara.


- Logo depois da minha morte, a Chris assumiu os crimes da Felicity, e isso colocou a cabeça dela a prêmio... Mesmo com Felicity me ajudando a voltar a vida, Chris vale atualmente uns 15 milhões de dólares... morta... viva pode chegar a 50 milhões... Ela fingiu a explosão da Sunnyrider, que ficou pousada por anos usando camuflagem de casa, replicou a aparência da casa, colocou um corpo lá dentro, e deixou queimar por completo... Viajou no tempo e nunca mais voltamos para nosso século...


- Essa nave foi roubada onde? – perguntou Caitlin – Sem ofensa...


- Somos ladras, não ofendeu... – respondeu Anny - essa é a Sunnyrider, rebatizamos de Galáctia, e não a roubamos, é nossa herança da mulher que deveria nos criar mas era tão ruim nisso quanto somos em ter uma vida honesta...


- Chris não pode mais voltar pra casa por minha culpa... – falou Felicity – destruí a vida de vocês...


- Na verdade sem você eu não teria uma vida – respondeu Anny – Ela hackeou o nosso ano, ninguém pode ter acesso a ele, assim não há riscos de caçadores voltarem alguns dias antes da explosão e pegarem ela... Nosso universo e nosso ano são os únicos lugares no mundo, que absolutamente ninguém pode acessar, apenas através de jornais e notícias... olhem...


Ela fez a televisão ligar e mostrar o jornal do dia da morte de Chris com a foto da casa destruída e a manchete: “Adolescente procurada pela justiça com centenas de delitos na ficha, com irmã assassinada, morre em explosão de gás tóxico de forma suspeita. Um corpo foi localizado no local mas ainda não há garantias de que seja da jovem.”


Outra imagem então se sobrepôs a anterior, com a data mais para frente e com os seguintes dizeres:


“10 anos depois da explosão, a polícia ainda não tem certeza de que o corpo encontrado era de fato de Alejandra Diaz, a hacker era conhecida como Sombra, e acusada de centenas de delitos. O prêmio de 15 milhões de dólares pela cabeça de Alejandra, permanece válido, e empresas particulares oferecem prêmios superiores a 50 milhões para quem lhes entregar a jovem ainda com vida.”


- Querem usar ela como arma – compreendeu Sara – Por isso ela vale mais viva...


- Com a inteligência da minha irmã nas mãos erradas, não existiria mais futuro... Tecnicamente nós duas temos atestados de óbito, mas poucas pessoas acreditam de fato que ela morreu... Nossa comunidade fez túmulos para nós duas, junto com os dos nossos pais, mas nunca fomos lá... Chris acha que não sei dessas coisas, mas monitoro com frequência para ver se tudo segue na mesma...


O grupo seguiu conversando até anoitecer, e então Sara foi para o quarto de Chris, enquanto Caitlin e Felicity seguiam para o quarto de hóspedes. Já passavam das 11h da manhã quando Sara acordou assustada e foi para a ala médica, para ver Chris, que estava sentada na cama, conversando com Charlie, sorrindo.


- Viu o que fizeram com a minha cabeça? – riu Chris, os olhos inchados – aposto que foi ideia da Anny, deixar meu cabelo parecido com o dela... Eu pareço uma adolescente rebelde...


- Eu achei sexy – sorriu Sara, se aproximando devagar – Charlie fez um corte maneiro...


- Achei que ela precisava – sorriu a mulher – Nora nos contou que Sh4dow salvou a vida dela, então meio que invadimos a Galáctia... Ray esta fazendo o café da manhã, Rory e Nora estão interrogando Nyssa e eu fiquei responsável por vir cuidar da nossa amiga que está toda remendada...


- Falei que não precisava ficar – falou Chris, olhando para Sara.


- Sou uma Lenda, e nós meio que ignoramos ordens... Charlie, posso ficar um minuto a sós com a Sh4dow?


- Claro, volto mais tarde com o café da manhã e seu notebook – sorriu a mulher, piscando para Chris e saindo da ala médica fechando a porta.


- Deu um susto e tanto nas meninas eim... – comentou a Capitã, sentando próxima a cama de Chris – Na verdade deu um susto e tanto em mim... não vim até a Galáctia pra te ajudar...


- Imaginei que não...


- Eu vim porque senti sua falta... Vim buscar meu celular e te ver... Uma parte de mim ta muito magoada pelas mentiras, a outra culpa a mim mesma por tudo, já que eu nunca quis saber mais sobre você...


- Quando você me tirou da prisão na sua nave, eu percebi que não conseguiria te machucar... – contou Chris – As pessoas mudam, e eu mudei... Será que podemos começar novamente?


- Bom... prazer, Sara Lance, Capitã da Waverider, ex membro da Liga dos Assassinos, solteira mas muito interessada em uma pessoa aí...


- Encantada – falou Chris, sorrindo, apertando a mão de Sara com o braço direito – Sou uma ladra do tempo que prometeu vingança a mulher que me tirou os movimentos do braço, mas que foi seduzida por esta mulher... vivo nessa nave com minha irmã que também é a A.I da Galáctia, e ela meio que esta ficando com a A.I de outra nave... Ah, e atualmente estou usando um corte de cabelo que me deixa bem insegura com relação a minha aparência...


A porta abriu, interrompendo as duas e Felicity olhou sem jeito para elas.


- Não fiquem bravas comigo – pediu ela, colocando o notebook na mesinha e abrindo, mostrando para Chris – você ficou muito atraente com o cabelo assim... Merda, eu falei isso em voz alta né, me desculpem...


- Ta tudo bem – riu Sara.


- Achou o vírus que eu estava desenvolvendo mas que contém um erro – comentou Chris.


- Preciso saber o que quer fazer com isso, pra decidir se te ajudo ou deleto... – falou Felicity, sentando perto de Chris – e agora que eu falei isso, você vai mentir e fazer uma cópia de segurança, eu sou uma estúpida mesmo, como alguém com um QI tão alto consegue ser tão...


- Se acalma – pediu Chris, segurando a mão de Felicity e fazendo corar - eu conto o motivo do vírus e você me ajuda a corrigir ele...


- Eu amo o Oliver – falou Felicity, puxando a mão e se afastando de Chris – amo muito, de uma forma que nunca amei ninguém...


- Você ta agindo de forma estranha... – alertou Sara – o que houve Felicity?


- Eu só elogiei o cabelo da Sh4dow, eu achar ela sexy não significa que quero ter algo com ela, novamente, o que tivemos ficou no passado e esta  morto, somos apenas amigas... eu amo o Oliver...


- Já entendemos isso – respondeu Chris – Eu não estava dando em cima de você...


- Eu estou grávida! – contou a mulher, e então cobriu a boca com as mãos – Ai caramba o que eu fiz...


- Pessoal – falou Anny, entrando na enfermaria – Acho que o Ray Palmer usou um dos meus compostos químicos para arrancar a verdade das pessoas, e outro para aumentar o libido, no café da manhã...


- Eu mandei deixar seu kit de química longe da cozinha – falou Chris, levantando com dificuldade e colocando uma tipoia no braço esquerdo.


- O que vai fazer? – perguntou Sara – esta fraca ainda e abriram sua cabeça...


- Vou buscar o antídoto no meu cofre – respondeu ela, pegando uma muleta e caminhando para fora do lugar – leva a Felicity até meu escritório, eu encontro vocês lá...


- Vou com você... – falou Anny, com olhar de culpa – Não fica brava comigo, é a primeira vez que recebemos visitas em casa...


- Oi Comandante Diaz – falou Charlie, esbarrando nas duas no corredor – Eu... só queria dizer que se a Capitã não te quiser mais... eu quero...


- Isso na sua mão é café? – perguntou Chris.


- É sim – sorriu a metamorfa – podemos dividir se quiser... o café, a cama...


- Eita, - falou Chris, recuando alguns passos - Anny, reúna a equipe no meu escritório, e chama a Gideon, vou precisar da ajuda de todos...


- Isso fica comigo, - falou a A.I, pegando o café da mão de Charlie, e levando-a para o lado oposto – vem comigo, a Comandante vai nos encontrar daqui a pouco...


Quando Chris chegou ao próprio quarto, encontrou Gideon a sua espera.


- Ótimo – sorriu Chris – me ajuda a empurrar a catedral para o fundo da imagem...


- Você deveria estar deitada, ajustamos um chip no seu cérebro... – comentou Gideon, obedecendo a comandante e relevando um painel digital.


- Não vai ser uma cirurgia que vai me tirar da jogada – respondeu Chris, pegando a caixa metálica e entregando a Gideon, voltando a fechar o cofre – vamos, antes que fique pior a situação...


- Pior em que nível?


- O soro que Anny fez pode fazer desejos adormecidos despertarem de forma bem ardentes, e consequentemente as pessoas perderem o controle...


- Posso saber o que fez ela fazer esse tipo de coisa?


- Nos ajudou a cometer alguns crimes... – respondeu Chris, caminhando com uma careta de dor – pessoas ocupadas fazendo... você sabe, elas meio que não notam que estão sendo roubadas... e criminosos que bebem o outro soro, não podem esconder onde deixaram as fortunas...


Elas entraram no escritório e parecia que o caos havia se instaurado por completo, com Anny preocupada observando todos.


- Eu amo ser uma Lenda, vocês são tudo pra mim... – falou Mick, olhando para a equipe, sentado em um canto sozinho – Eu sou alguém melhor por ter vocês na minha vida...


- Eu quero ter um filho com você – falou Ray, erguendo Nora nos braços.


- Eu te achei bem atraente, Doutora... – falou Charlie, olhando com interesse para Caitlin, cujo cabelo ficou esbranquiçado e o olhar mudou de doce para feroz.


- A vida é muito curta para ser privada de provar coisas novas – falou a mulher, agarrando Charlie, enquanto Sara observava tudo chocada, com Felicity próxima a ela.


- Eu tenho sonhos eróticos com a Sh4dow e com o Oliver – contou Felicity, tomada de rubor – E por mais que eu ame o Oliver até você e o Ray já estiveram nesses sonhos... ai caramba alguém cala minha boca mantendo ela ocupada! Droga eu fiz novamente...


- O que esta acontecendo? – perguntou Sara, se aproximando de Chris, Anny e Gideon, que abria a caixa e entregava uma seringa para cada uma.


- Eles estão sob efeito de uma droga bem perigosa – respondeu Chris – apliquem no pescoço de todos, Sara pode começar pela Felicity, a Charlie e a Caitlin parecem estar bem entretidas...


- Aquela não é a Caitlin, é a Nevasca, longa história – falou Sara, correndo para aplicar a droga no pescoço de Felicity, que segurou sua mão e lhe olhou nos olhos.


- Eu iria pra cama com vocês duas sem problema nenhum... – falou Felicity – eu já tomei um tiro por você e atirei numa pessoa por ela, tirar a roupa não seria um problema...


- Essa definitivamente não é você... – falou Sara, aplicando o antídoto e fazendo a mulher sentar.


Logo todos já estavam medicados e o efeito começou a passar aos poucos, enquanto Chris servia um copo de uísque para si mesma e para Sara.


- Não deveria beber, acabou de fazer uma cirurgia arriscada – ponderou Sara, aceitando o copo.


- Eu também não deveria ter que ver essa cena deprimente no meu templo da sabedoria, mas nem sempre tudo rola como deveria... – respondeu Chris - Qual o lance da Dra. Caitlin?


- Ela tem uma outra personalidade, a Nevasca – contou Sara – intensa, poderes de gelo, cabelos brancos, e aparentemente bissexual...


- Quando acho que as coisas não podem ficar mais estranhas...


- Se achou as duas se pegando entrando, tinha que ouvir o que a Felicity me disse... nunca mais vou conseguir olhar pra ela da mesma forma...


- Você não tomou o café?


- Tive um pesadelo com você – admitiu Sara – fui direto do seu quarto para a enfermaria... precisava saber se estava bem... Charlie entrou aqui dizendo que eu era uma babaca por não te querer e que ela ficaria com você...


- Me perdoem por isso – falou Anny – prometo que as coisas de laboratório vão ser mantidas bem longe da cozinha...


- Vocês fazem as pessoas transaram para que não percebam que estão sendo roubadas – sorriu Gideon – isso é brilhante e assustador ao mesmo tempo...


- É mais eficaz que fazer elas brigarem – respondeu Anny, e Chris a olhou desconfiada, cheirando-a – o que esta fazendo?


- Esta cheirando a uísque... – falou Chris, observando a irmã - por que esta cheirando a uísque? Sabe que não tem idade para beber...


- Eu esbarrei nela ontem e derrubei uísque nela – falou Sara, bebendo – Você que falou que todas essas garrafas eram minhas e que eu podia beber... ela me pegou de surpresa fuçando nas suas coisas e eu acabei fazendo besteira... desculpe...


- Me perdoem – falou Felicity, se aproximando delas – eu... to morrendo de vergonha... acho que preciso voltar pra casa urgente...


- Tudo que todos eles disseram era real? – perguntou Sara, e Felicity cobriu o rosto com as mãos.


- Foi verdade mas não deveria ser dito... – falou Felicity – Eu amo vocês duas... Como amigas! Amo como amigas! Tudo que eu quero é ver vocês felizes, de preferência juntas...


- Você ta mesmo... – perguntou Chris, olhando para a barriga de Felicity.


- Sim, mas não contei para ninguém ainda... bom, agora contei para vocês duas... depois falei que queria ir pra cama com vocês... meu deus eu to com tanta vergonha... me perdoem...


- Anny, leva a Felicity para fazer uns exames de sangue, - ordenou Chris - Gideon ajude ela, façam todos os exames possíveis para ter certeza que esse soro não é um risco para o... vocês sabem...


- Eu vou te ajudar com o vírus – avisou Felicity, olhando nos olhos de Chris.


- Depois conversamos sobre isso – respondeu ela, olhando para o grupo – e vocês, aproveitem esse momento de constrangimento coletivo e conversem sobre seus sentimentos e desejos, mas se forem fazer sexo, por favor façam em seus respectivos alojamentos...


- Eu não queria dizer aquelas coisas... – falou Charlie, para Sara e Chris – Eu sinto muito, de verdade...


- Você e a doutora Nevasca deveriam trocar uma ideia, parecem ter química... – sorriu Chris – ambas podem sair ganhando, e você pode ser literalmente quem ela quiser...


- Nunca mais confio em nada que o Ray cozinhar... – resmungou Mick – comida que vem em lata é mais segura... desculpe Comandante...


Quando todos saíram da sala, deixando Chris e Sara sozinhas, a Comandante sentou-se no sofá, encarando o próprio copo.


- Esta avaliando se aceita o desejo da Felicity? – perguntou Sara, observando a mulher.


- Fazer um menáge com a mulher que eu gosto e nossa amiga hacker casada com um arqueiro machista e instável e grávida dele, não ta nem nos meus top 100 desejos antes de morrer...


- Quer me contar o que esta se passando nessa sua cabecinha intensa e confusa?


- Você deu bebida para minha irmã, Sara?


- É, eu dei... se quer brigar com alguém, briga comigo. Ela teve um dia bem estranho, tem a mesma aparência a 12 anos, mesmo ela não sabendo gostos e não ficando bêbada, fui uma má influência pra ela e dei uma dose de uísque pra uma garota adolescente...


- O que esta fazendo na minha nave ainda? Achei que precisava pensar, digerir o que descobriu...


- O que a Nyssa faz aqui?


- Vou ajudar ela a derrotar a pessoa que esta transformando os assassinos da Liga em robôs, pra criar um exército de soldados imortais capazes de destruir o mundo e que podem ser controlados com um celular...


- As Lendas podem ajudar?


- Por quê fariam isso?


- Porque é o que fazemos – respondeu Sara, sentando ao lado de Chris – ajudamos as pessoas simplesmente porque é certo...


- O que quer de mim?


- Quero voltar a ter o que tínhamos antes dessa bomba explodir no nosso colo... Eu sinto sua falta... mas não posso fazer nada enquanto a Nyssa continuar no seu porão...


- Vamos descobrir quem é esse novo Assassino que ta ameaçando o lugar de Nyssa, e por um fim nessa palhaçada... – falou Chris – pode ficar com o meu quarto, eu fico aqui no escritório...


- Eu queria ficar perto de você...


- Você sabe me confundir de uma forma única – riu Chris, levantando com uma careta de dor – mas eu quero te beijar e te tocar, ficar perto de você sem poder fazer isso, dói mais do que romper um nervo no braço... licença, Capitã Lance... e ah! Nunca mais dê bebida a minha irmã. Minha nave, minhas regras...


Ela saiu do escritório, deixando Sara sozinha, que ficou deitada no sofá por mais alguns minutos e então levantou, indo se trocar e depois seguindo para a academia. As Lendas haviam retornado a Waverider e Nevasca acompanhou Charlie, enquanto Gideon realizava exames detalhados em Felicity.


- Você luta muito bem – falou Anny, observando Sara.


- Pertenci a Liga dos Assassinos duas vezes – contou Sara, parando ofegante – são muito bons nisso... Eu falei com a sua irmã, disse que a culpa era minha de você ter bebido...


- Eu queria que ela não fosse tão superprotetora... Já pedi uma atualização de sistema para envelhecer mais uns anos, pra fazer o que adultos fazem, mas ela só repete que sou responsabilidade dela e que: Minha nave...


- Minhas regras... – completou Sara, rindo – Quer aprender a lutar?


- Acha que consigo?


- Se saiu bem com a Nyssa, acho que tem potencial... Seus nano-robôs aguentam contato físico?


- Eu quero descobrir – sorriu Anny – Vocês duas se entenderam?


- As coisas são mais complicadas do que parece – respondeu Sara, mostrando para Anny como fechar a mão para bater – gosto da sua irmã, de um jeito único...


- Esta com ciúmes né? – perguntou Anny, obedecendo aos comandos de Sara.


- Honestamente, parece que sua irmã virou um imã de mulher e todas sentem atração por ela, e nesta nave eu tenho certeza de pelo menos 3 que iriam pra cama com ela assim que ela estalasse os dedos...


- Charlie, Felicity e Nyssa – riu Anny – Minha irmã tem um belo currículo, não da pra negar, mas ela quer você... Já vi dezenas de mulheres passarem pela vida dela sem qualquer envolvimento emocional...


- Eu já me feri muito Anny, a Chris era a mulher dos sonhos, linda, inteligente, leal, sexy, espetacular na cama...


- Eca, eu não precisava saber disso...


- Desculpa, mas sua irmã era um sonho de mulher que agora parece um jantar bem servido cheio de mulheres famintas observando...


- Comparação engraçada... Olha Sara, somos ladras... fazemos isso desde que me lembro, e não ajudamos as pessoas, roubamos dela... Chris ajudou Felicity porque ela foi uma boa amiga e não gostamos de deixar dívidas abertas, mas ter vínculos nos torna vulneráveis, e evitamos isso...


- Por isso nunca receberam ninguém na Galáctia... – compreendeu Sara.


- Ninguém até você... Deveria significar algo...


As duas seguiram treinando enquanto Felicity ia até o quarto de Chris, que analisava os códigos em um equipamento que dobrado não era maior que uma agenda de 15 cm de altura, mas aberto era como uma folha A0 (A zero, com 84.1 cm de altura por 118.9 cm de largura).


- Isso é bem legal... tecnologia do futuro? – perguntou Felicity, observando o dispositivo aberto na cama enquanto Chris estava sentada em um dos pufes.


- Ano 3122... – respondeu Chris – bem útil na verdade...


- Eu queria me desculpar, acho que deixei as coisas entre você e Sara, bem mais complicadas do que já estavam...


- Não é culpa sua, estava sob efeito de uma droga bem forte – respondeu Chris, com um sorriso triste – como esta o bebê?


- Forte como um touro... ou uma vaca, não quero parecer machista... ai droga essa frase saiu errada num nível bem maior do que eu planejava...


- Essa nova identidade parece ter bugado seu cérebro – riu Chris – você não falava essas esquisitices quando nos conhecemos... Senta na cama, precisa ficar confortável...


- As camas do futuro são maravilhosas – sorriu ela, sentando e se escorando nas almofadas, largando o notebook na cama – a minha faz até massagem e coloca música relaxantes para dormir...


- Sou uma criminosa – sorriu Chris, levantando e sentando na ponta da cama, puxando os pés de Felicity e tirando os calçados dela – Mas gosto de conforto...


- O que esta fazendo?


- Você esta carregando um bebê, precisa ficar confortável – justificou a hacker, colocando uma almofada de baixo dos pés da mulher e acionando um dispositivo.


- Ah meu Deus, o que é isso? É como se tivessem milhões de formiguinhas massageando minhas pernas... por dentro e de uma forma... caramba essa frase ficou pior que a anterior, eu preciso mesmo parar de fazer isso...


- Relaxa – riu Chris, voltando para seu pufe – eu prometi te contar... preciso de um vírus para derrubar os robôs assassinos que algum psicopata usou para invadir Nanda Parbat e botar robôs imortais para governar o mundo...


- É um ótimo motivo para criar esse tipo de vírus – respondeu Felicity, pegando no notebook e abrindo-o.


- Aperta esse botão vermelho na lateral dele... – avisou Chris, e Felicity obedeceu, fazendo surgir pernas no dispositivo, que permitiram colocar o computador de forma confortável a sua frente – Ele tem um bloqueador que vai impedir os raios e químicas do dispositivo de atingir você...


- Você quer ter filhos, Sh4dow?


- Com você? – brincou a mulher.


- Quando finalmente consigo dizer uma frase sem duplo sentido, você faz piada com isso... – riu Felicity – Você fez um trabalho incrível com a Anny...


- Tanto que agora vivo com um robô com as memórias dela... – ponderou Chris – Eu não posso sujeitar uma criança a essa vida bizarra que levo... e não tenho certeza que há um ano seguro onde eu possa criar alguém...


- Sabe... você é a melhor parte do meu passado, a única da qual não me arrependo... o que é bem triste já que você é do futuro...


- Eu cansei Felicity... – admitiu Chris – cansei de ser só eu e Anny... sinto que preciso de mais para ser feliz...


- Precisa de um amor... – falou a mulher, observando Chris – precisa da Sara...


- Também, ou não, não tenho certeza... a certeza que tenho é de que preciso de amigos...


- Você costumava dizer que amizades te deixavam vulnerável...


- Acho que as Lendas me ensinaram que amigos te tornam mais forte...


- Ray trouxe você para o lado gentil da vida – sorriu Felicity.


- O escoteiro tem um dom pra isso – concordou Chris – É um bom homem, fico feliz que a Nora esteja cuidando bem dele...


- A antiga hospedeira do demônio com o homem que transborda unicórnios felizes... – comentou a loira – acho que eles formam um bom equilíbrio... Chris eu queria te pedir uma coisa...


- O que quiser...


- Quero que seja madrinha dessa criança... Quero que cuide dela se algo acontecer a mim e ao Oliver...


- A última vez que alguém pediu a uma ladra para ser responsável por uma criança, as coisas não saíram exatamente como deveriam... uma acabou virando uma A.I e a outra uma lésbica com um penteado estranho que rouba através do tempo...


- Pelo menos ela ou ele, terá uma vida de aventuras... você é família pra mim, e quero ter você por perto... O que me diz?


- Fox e Sh4dow juntas novamente – respondeu Chris.


Depois de algumas horas de trabalho, o código do vírus já estava mais funcional, mas ainda não era o suficiente, no entanto quem faltava neste quebra-cabeças, estava ocupada com uma certa metamorfa.


- Eu literalmente não sou mais capaz de pensar – falou Felicity, largando o notebook ao lado.


- Qual o plano então?


- Desde que te vi com esse cabelo, quero muito fazer uma coisa com você... – comentou Felicity, com um sorriso maldoso - Seu banheiro tem tecnologia o suficiente para disponibilizar qualquer coisa que possamos precisar?


- Daria para morar dentro dele se quisesse... – confirmou Chris – por quê?


- Vem comigo, prometo que não vai se arrepender – falou a mulher, levando Chris para o banheiro e fechando a porta.


Enquanto isso, Sara estava no escritório, com Anny apoiada em Gideon, analisando os dados em um tablet.


- Isso ainda é bem estranho... – falou a Capitã, observando as duas – nunca imaginei que se interessaria por uma garota...


- Acho que da pra dizer que o que importa para mim, é o código, o que a pessoa é em uma base – sorriu Gideon – estou feliz com o corpo e com as possibilidades que a Comandante Diaz me deu...


- Por que começou a chamá-la assim?


- Ela pediu, disse que queria recomeçar sendo ela mesma, e não a Dragons certinha que não combina com você...


- Nunca gostei da Dragons – comentou Anny, sem tirar os olhos do tablet – a perfeição ariana em forma de mulher... odeio gente certinha demais...


- Você sente raiva demais para um programa de computador – comentou Sara.


- São esses malditos registros hormonais adolescentes que minha irmã deixou... – reclamou ela – preciso de alguém que consiga quebrar esse código...


- Falando em nerds, onde está a Chris e a Felicity? – perguntou a capitã.


- No quarto da minha irmã... estão a horas trancadas lá...


- Consegue acessar as câmeras para ver o que estão fazendo? – perguntou Sara, fingindo desinteresse.


- Não tem câmeras nem nada que eu possa acessar no quarto dela e nos banheiros... ela sabe que sou fuxiqueira e que não respeitaria o templo de descanso dela...


- Eu vou lá, preciso ver a Chris, saber como esta o braço... – respondeu Sara.


- Você mente muito mal – respondeu Anny, quando a capitã saiu do cômodo – Precisamos corrigir isso...


- Agora que estamos a sós – falou Gideon, tirando devagar o tablet das mãos de Anny – e somos literalmente as únicas que podem espionar todos da nave... o que acha de me dar um pouco de atenção? Fomos interrompidas pela loucura que é as equipes da qual fazemos parte...


- É uma ideia excelente – sorriu Anny, beijando Gideon.


Enquanto o casal se divertia, Sara chegava no quarto de Chris, mas ninguém atendeu a porta, então ela entrou, encontrando o quarto vazio e risadas vindas do banheiro com a porta fechada.


- Tem certeza disso? – perguntou a voz de Chris, vinda lá de dentro.


- Tem minha palavra de que não vai se arrepender... – respondeu Felicity - e sei que no fundo você quer isso também... sente tanta falta quanto eu...


- Mas a Sara pode não gostar... – ponderou Chris.


- Ela te deu um fora, você não tem nada a perder... Se em algum momento não tiver se sentindo bem com o que rolar, eu paro, tem minha palavra...


- A Anny...


- A Anny vai ser quem mais vai gostar da novidade... vai... não precisa fazer nada, é só ficar paradinha e eu cuido de tudo...


- Estou em suas mãos – respondeu Chris – confio em você Felicity, nunca me decepcionou e sei que não vai fazer isso...


Sara se afastou devagar da porta e saiu do quarto com cara de nojo, tomada de raiva. Ela seguiu para a Waverider e digitou os comandos passando a nave para navegação manual.


- O que esta acontecendo? – perguntou Ray, entrando na ponte de comando.


- Vamos viajar? – perguntou Charlie, entrando na ponte com Caitlin.


- Não temos mais nada a fazer aqui – respondeu Sara, a veia no pescoço saltada de raiva – Caitlin e Nevasca, vão conosco ou voltam pra Galáctia?


- Preciso voltar – respondeu Caitlin – Felicity e Sh4dow contam comigo...


- Acho que na real elas só estão preocupadas com elas mesmas... – respondeu Sara – pode ir, espero você atravessar para desconectar as naves...


- Sara o que ta rolando? – perguntou Charlie – Você e a Sh4dow pareciam bem quando saímos da nave...


- Se quer ir com ela, vai de uma vez. Prometi que as Lendas ajudariam na missão, anda! – respondeu a capitã, com ignorância – Estão esperando o que? Se querem tanto ficar na Galáctia sumam da minha frente!


- Sara, por que não conversamos um pouco... – tentou Ray.


- Em dois minutos eu rompo a conexão entre as naves – alertou ela, mexendo no painel.


- Fica com ela, eu vou com a Charlie e a Caitlin para a Galáctia – falou Nora, dando um beijo em Ray e seguindo com as mulheres.


Quando fechou os dois minutos, a Waverider se soltou da Galáctia e ergueu voo, sumindo no céu, enquanto Charlie, Caitlin e Nora encontravam Anny e Gideon.


- O que foi isso? – perguntou Anny.


- A Sara soltou a Waverider e viajou... – respondeu Caitlin.


- Precisam de você – falou a garota, olhando para Gideon – Vou erguer voo com a Galáctia, não temos mais motivo para ficar em 1505...


- Exceto pelo senhor batendo na porta da nave – falou Charlie, olhando para a tela que mostrava a câmera da entrada da nave – Como ele nos achou?


- Não estamos invisíveis? – perguntou Nora.


- Ficar invisível é a coisa mais estúpida que existe – respondeu Anny, seguindo com as mulheres até a porta – sem ofensas Gideon.


- Não ofendeu, atualmente concordo com você...


- Se você fica invisível coisas batem em você e percebem que algo esta ali... Se você vira uma pedra, uma área contaminada ou um penhasco, ninguém chega perto... A Sh4dow teve a ideia depois de ler Harry Potter, adoramos a saga...


Ela abriu a porta e o homem lhe olhou sorrindo, carregando nos braços dois rolos dentro de uma bolsa de couro.


- Oi Léo, que bom te ver...


- Fiquei com medo que já tivessem partido – sorriu o homem – eu adoro o seu cabelo, e esses metais combinam com você... por que não veio nos ver?


- Eu estava... ocupada. Meninas, esse é nosso amigo Leonardo...


- Leonardo Da Vinci, ao dispor de vossas senhorias – respondeu ele, fazendo uma reverência – Não quero atrasar vocês, sei que há muitos roubos a serem feitos na história do universo...


- Vocês saem por aí contando pra todo mundo? – perguntou Charlie – achei que eram inteligentes...


- Léo é um amigo especial... – se defendeu Anny – O que precisa Léo?


- Na verdade eu vim trazer um agrado ao sr Palmer, e para a Sh4dow... observando ela e a srta Lance juntas pessoalmente, e com as histórias que sei das duas, eu fiz o que considero uma das minhas obras de amor mais lindas... é meu agrado de aniversário para a Sh4dow, espero que ela goste...


- Espera, hoje é o aniversário da Sh4dow? – perguntou Nora – Ela deve ta arrasada, ser dispensada no aniversário é triste...


- É daqui a 7 dias – respondeu Anny – mas ela odeia o próprio aniversário...


- Por quê? – perguntou Charlie.


- Longa história, ela conta em outro momento... – respondeu a A.I.


- O que vi nos olhos de ambas, não se apagará fácil – comentou Leonardo – Deixo essas telas aos vossos cuidados minha bela menina, e se cuidem, por favor... Diga a Sh4dow que lhe deixei felicitações...


- Foi bom te ver Léo – agradeceu Anny, abraçando-o novamente – darei seu recado a minha irmã...


- Eu posso dar um abraço no senhor também? – perguntou Nora, olhando-o – eu sou uma grande admiradora do seu trabalho...


- Eu adoro as pessoas do futuro – sorriu ele, abraçando-a – façam uma boa viagem, vejo-lhes em alguns anos... ou algumas horas... passar bem.


Ele virou as costas e se afastou parecendo satisfeito consigo mesmo, enquanto as mulheres fechavam a porta e Gideon puxava Anny pelo casaco, beijando-a.


- Nos falamos... – sorriu Gideon, se afastando – Lendas, vejo vocês mais tarde. Avisarei ao Sr Palmer que o Sr Da Vinci lhe trouxe um presente.


- Eu adoro minha nova vida – sorriu Anny – é bom ter novos tripulantes, me acompanhem até a sala de comando.


Ninguém viu Felicity e Sh4dow pelos dias que se seguiram, mas a hacker se comunicava através dos aparelhos eletrônicos da nave.


- O que será que ta rolando entre as duas? – perguntou Caitlin, sentada na cozinha com Nora e Charlie – ficaram enfiadas naquele quarto sem câmeras nos últimos 6 dias...


- Não sei, mas acho que explica a explosão da Sara – comentou Charlie, bebendo seu café – eu também ficaria furiosa se a mulher que eu gosto, se trancasse em um quarto com a ex... Falando nisso, Gideon, como esta o humor da Sara?


- Neste exato momento ela esta atirando facas em um boneco com o rosto da Comandante Diaz – respondeu Gideon.


- A Sh4dow não tem ideia de onde se meteu... – comentou Anny, se escorando na pia.


- Não tenho – falou ela, entrando na cozinha com Felicity e assustando a todas – Olá Gideon...


- Olá Comandante.


- Eu não sei onde me meti de fato – sorriu ela – mas nós vamos nos meter em problemas...


- Que roupa é essa? – perguntou Nora, observando o visual de guerreira da Comandante – Mudou radicalmente...


- Esse é o traje da Liga dos Assassinos – respondeu Felicity – e que fica perturbadoramente sexy na Sh4dow...


- Anny, trace o percurso, vamos para  Nanda Parbat, em 2035 – ordenou a mulher – Gideon, veja com a Capitã Lance se ela vai se juntar a Galáctia, ela não esta atendendo as minhas ligações, garotas, se preparem para a luta mais difícil da vida de vocês...


- Vamos entrar em Nanda Parbat? – perguntou Caitlin, seguindo o grupo até o painel de comando, onde Chris assumiu a nave, ligando os motores – e como vai lutar se ainda esta com o braço esquerdo paralisado?


- Eu morei em Nanda Parbat – respondeu a comandante, enquanto as mulheres sentavam e prendiam o cinto – e não preciso do braço esquerdo para lutar. Além do mais, eu não vou deixar vocês entrarem, todas ficarão na nave, onde é mais seguro...


- Seremos o suporte – sorriu Felicity – Vou comandar daqui, enquanto a Sh4dow entra...


- Obrigada por me soltar – falou Nyssa, entrando na sala e assustando Charlie, Nora e Caitlin – e pelo banho e roupas decentes...


- O que ela esta fazendo solta? – perguntou Nora.


- Nós três conversamos muito – respondeu Chris – Nyssa faz parte do grupo terrestre, vocês cuidam de tudo aqui...


- “Nós três”? – perguntou Caitlin, confusa – e em que momento vocês conversaram, se não saem do quarto a uma semana?


- Eu sou a responsável por essa nave desde os meus 10 anos, não duvidem da minha capacidade de circular por ela sem a fofoqueira da minha irmã saber – respondeu Chris – E sim, nós três, eu, Felicity e Nyssa...


- A Sara estava atirando facas em um boneco com a sua cara – falou Charlie – achei que deveria saber...


- Eu sinto muito por isso – falou Nyssa – sei que sou a culpada...


- Eu sou a responsável pelos meus atos – respondeu Chris – O plano é simples garotas, Charlie você vai assumir minha identidade, Felicity vai ativar o controle do vírus, Nora...


- Quer que eu entre com vocês? – perguntou ela.


- Se concordar... é a única de nós que tem magia, e meio que tem um quarto com fotos suas em Nanda Parbat...


- Eu destruí o quarto – respondeu Nyssa – Lasa achou a garota de olhar sexy interessante demais, não queria correr esse risco com a Sara...


- Me achou sexy? – perguntou Nora, corando.


- Er... essa viagem vai ser mais longa do que eu previa... – desconversou Chris.


- Caramba você tem dois tipos... – riu Felicity – Morenas com olhar feroz, e loiras de olhos azuis!


- Não foi isso que chamou minha atenção em você – falou Chris, olhando sem jeito para o grupo – Eu... eu não tenho um tipo...


- Eu sou parecida com a Nora – falou Nyssa – Com minha irmã Talia, meio óbvio, e temos mais ou menos o mesmo tipo físico daquela mulher inteligente e rica, qual é mesmo o nome dela?


- Lena Luthor – respondeu Anny, pelo auto falante da nave – tem mais algumas mas acho que a Sh4dow vai me reprogramar se eu falar... Você não ficou com a Alex Danvers depois que ela se separou da Maggie Sawyer?


- Caramba, a Alex? – perguntou Felicity – Essa eu não sabia... A Sara também ficou com ela... A Dragons sabe disso?


- Claro que não, ela me mataria, e não foi nada demais, só que o estilo de vida dela é bem diferente do meu...


- Como assim? – perguntou Charlie – o que essa mulher faz?


- Agente federal – respondeu Caitlin – Ela e Dragons prendem pessoas como a Sh4dow, com todo o respeito...


- Não ofendeu... – respondeu a comandante - Eu não sabia que ter uma equipe era tão cansativo...


- Não viu nada ainda – riu Nora – viver com as Lendas é nunca estar sozinha, nem entediada...


- Acho que nunca mais eu reclamo da Anny... Er... todas de acordo com o plano?


- Ainda não sabemos ele – respondeu Caitlin.


- Lasa e Nora vão entrar comigo – respondeu Nyssa – Vou fazer um ritual e Nora vai ser apresentada como Sahira, A Feiticeira, todos vão beber a água que ela vai contaminar, quando Lasa der o sinal, Felicity vai ativar o vírus e quem cair é robô...


- Elas voltam pra nave com um desses robôs, - continuou Felicity - eu estudo e hackeio o sistema dele, e rastreamos quem o desenvolveu.


- Eu vou até essa pessoa e mato – concluiu Nyssa.


- Em um cenário de caos onde eu morra – continuou Lasa – Nevasca terá que entrar e resgatar Nora... Pode fazer isso?


- Vou poder usar um traje maneiro?


- Eu também quero... – sorriu Felicity – pensei em tentar matar o Oliver do coração, se eu conseguir, venho viver na nave com você, Lasa...


- Como a Sara aguenta 6 de vocês? – perguntou ela, estacionando a nave – Podem ir se trocar garotas, Gideon, esta me ouvindo?


- Lembra que tenho acesso a Waverider né? – perguntou Anny.


- Na verdade não tem mais, por respeito a privacidade da Capitã – respondeu Chris – limitei seu acesso a contatar a Gideon, como um telefonema...


- Estou aqui, Comandante Diaz – avisou Gideon – imagino que queira saber se tenho uma resposta com relação a ajuda das Lendas...


- Acertou, o que a Capitã Lance falou?


- Com todo o respeito, não posso repetir, você me expulsaria da Galáctia, mas de forma pouco usual, a Capitã deixou bem claro que esta irritada com você.


- Claro que ela esta... – falou ela, encarando o painel – Obrigada Gideon.


- Disponha, e deixe-me dizer que você esta muito bonita de visual novo.


- Eu concordo – falou Anny, surgindo ao lado da irmã – eu sempre falei que deveria repaginar, agora se parece mais com a irmã que me criou...


- Obrigada – respondeu ela – O que você tem?


- Tenho medo de você não conseguir sair daquele lugar... – admitiu Anny, cruzando os braços – Eu preciso que volte, não tenho mais ninguém...


- Você tem a Gideon, vai ficar bem se algo acontecer, além do mais você sempre quis redecorar a nave, se eu morrer vai poder fazer isso...


- Se morrer, te transformo em minha A.I, esta avisada...


- Te amo – respondeu Chris, dando um beijo na testa dela e saindo – proteja Felicity e as meninas, conto com você...


- Chris... – chamou ela, segurando a mão da irmã e olhando-a nos olhos – Você ama a Sara?


- Acho que isso não importa mais, que nada disso – respondeu ela, indicando a si mesma – nada importa mais...


Ela saiu da nave conforme o plano e as três mulheres devidamente encapuzadas entraram em Nanda Parbat. Por 8 horas ninguém teve notícias de nenhuma delas, e o clima na nave era tenso, Felicity caminhava de um lado para o outro, roendo as unhas, sob o olhar atento de Charlie, Claitlin e Anny.


- Isso não era parte do plano, deveríamos entrar lá e resgatar elas – falou a hacker, nervosa.


- Não posso deixar – falou Anny, encarando os próprios pés.


- Você esta abandonando sua irmã naquele lugar? Anny eu esperava mais de você...


- A Sh4dow esta viva – respondeu a garota, e então acrescentou – só com os batimentos extremamente fracos...


- EU NÃO AGUENTO MAIS, VOU INVADIR AQUELE LUGAR E RESGATAR MINHAS AMIGAS! – gritou Felicity, começando a chorar – EU NÃO VOU DEIXAR A SH4DOW MORRER!


- VOCÊ E QUE EXÉRCITO?! – gritou Anny, perdendo a calma – EU PROMETI A MINHA IRMÃ QUE NINGUÉM TE MACHUCARIA, E VOCÊ SABE MELHOR DO QUE NINGUÉM O SIGNIFICADO DE UMA PROMESSA PRA MIM! EU TO MORTA POR DENTRO FELICITY, LITERALMENTE!


- O que esta acontecendo aqui? – perguntou Sara, entrando no lugar com Gideon e as outras lendas e surpreendendo todas – onde esta a Nora e a Sh4dow?


- Salva elas, eu imploro – respondeu Felicity, abraçando a Capitã e desabando no choro – eu faço o que me pedir, mas salva a Sh4dow, salva ela Sara...


- Sahira para Fox – chamou a voz de Nora no comunicador, e Felicity se atirou no painel – Fox na escuta?


- Graças a Deus – respondeu Felicity – vocês deveriam dar noticias a 7 horas atrás...


- Era uma armadilha – respondeu Nora – Estavam esperando o retorno de Nyssa, ela e Lasa foram levadas pela Talia, é ela que quer assumir a Liga...


- Onde você esta? – perguntou Sara.


- Capitã, é um alívio ouvir sua voz, eu estou segura, Talia disse que o problema dela é com a irmã, me ofereceu um lugar de poder na Liga, mas que se eu quisesse sair, só me deixaria ir com uma troca...


- O que ela quer? – perguntou Felicity.


- Não entendi bem, ela falou algo sobre Nyssa ter roubado o lugar dela como nova Ra’s al Ghul e algo que era dela...


- Talia pode ser bem perigosa – falou Sara – O que sabe sobre onde colocaram a Sh4dow?


- É difícil dizer, os corredores dão eco, mas acho que estão torturando ela, precisam vir nos tirar daqui, ou vão matar a Sh4dow...


- Aguentem firme, vamos dar um jeito de tirar vocês dai – respondeu Charlie.


Anny se afastou respirando fundo e olhando para a cadeira da irmã. Sara se aproximou dela e colocou a mão em seu ombro, fazendo-a se virar.


- Eu vou resgatar ela – falou a Capitã – prometo que vamos tirar ela de lá...


- Ela sabia que era uma viagem só de ida... – respondeu Anny – e não posso deixar que vá atrás dela, busquem a Nora e sigam o caminho de vocês...


- Somos um time e ninguém fica para trás... – falou Sara.


- Vocês são um time, nós somos a Sh4dow e uma A.I... antes de ir eu recebi ordens de proteger vocês, e eu não tenho certeza do que você viu quando foi ao quarto dela aquele dia, mas sei que deve ter uma explicação plausível, porque eu nunca vi minha irmã tão feliz quanto ela ficava ao seu lado.


- Eu escutei ela e a Felicity... se divertindo e dizendo que eu já havia deixado ela, que ela não tinha nada a perder...


- A Felicity é a rainha do duplo sentido, Capitã. Se minha irmã diz que a única mulher que ela quer é você, eu confio nela...


O relógio de pulso de Felicity começou a piscar e ela colocou a imagem no holograma, enquanto o grupo se aproximava.


- O que esta acontecendo? – perguntou Sara, olhando a imagem de Sh4dow, projetada com o traje da Liga, usando capuz.


- Oi Felicity – sorriu o vídeo da comandante – Se você esta vendo essa gravação, é porque algo deu errado no nosso plano perfeito, e talvez a culpa seja minha de alguma forma. Esse vídeo foi programado para iniciar sozinho, quando meu coração começasse a parar, foi você que desenvolveu essa tecnologia e eu meio que roubei do seu laboratório a alguns anos... Queria te ver mas tive vergonha de admitir que sentia saudades, então entrei na sua casa, roubei uma garrafa de vinho e o dispositivo, e fui embora...


- Foi você... – chorou Felicity, sendo abraçada por Ray – Culpei o Oliver por aquilo, era meu vinho favorito...


- Eu meio que incriminei o Oliver porque... bom, porque é divertido ver ele nervoso – continuou Chris, sorrindo - É engraçado eu ter alguém além da Anny para deixar uma mensagem, mas eu sempre te amei...


- Eu não consigo estar nem surpresa... – respondeu Sara, cruzando os braços.


- No dia que te conheci, sabia que tinha ganhado uma amiga pra vida toda, mas quando Anny morreu e você trabalhou comigo no código, eu vi que era mais que amizade... eu tinha sido presenteada com uma nova irmã... bem atrapalhada e com um dom para dizer coisas com duplo sentido, mas a pessoa certa para conviver com uma desajustada como eu... Eu te amo Felicity Megan Smoak...


- Eu também te amo Christina Alejandra Rosa Diaz... – soluçou Felicity.


- Anny, desculpa se todo ano eu me comporto como se você tivesse sido um peso na minha vida, você nunca foi... Você é a melhor e mais irritante pessoa que existe no mundo, e eu não trocaria você por nada nem ninguém... comigo partindo você fica livre para reunir uma equipe, redecorar a nave, ou se juntar a um grupo de desajustados que sei que vai te receber muito bem, porque é o que eles fazem de melhor, viram a família de quem sempre viveu sozinho... Feliz Aniversário Alejandra Noah Nedel Yolanda Rosa Diaz...


- Hoje é seu aniversário? – perguntou Sara, tocando o ombro de Anny.


- De nascimento e de morte – falou ela, com lágrimas escorrendo de seus olhos – Um dia antes do dela...


- Seu nome...


- Alejandra por causa da Chris, Noah Nedel do papai e Yolanda Rosa Diaz da mamãe... Achei que Anny era uma forma de ter eles comigo sem usar os nomes deles... Foi Chris que escolheu... o nome e o apelido...


- Sua irmã faz aniversário amanhã? – perguntou Sara – Ela nunca falou sobre a data...


- Acho que ganhar uma irmã na véspera do aniversário, com os pais mortos, e 16 anos depois perder ela no mesmo dia, tirou a graça da data...


- Anny, assim que puder, faça uma atualização no seu software, deixei um presente pra você... – seguiu o holograma - Lendas, se estiverem aí, obrigada por me mostrar o quanto é bom ter uma equipe... e cansativo também... e Sara... não sei se vai ver este vídeo, mas se ver, me perdoa por ter mentido. Você tem tudo que sempre imaginei na pessoa perfeita, eu cometi um erro grande ao esconder a verdade... em minha defesa, eu não esperava me apaixonar pelo meu alvo... bom, preciso ir, mas novamente obrigada por tudo, e só pra avisar, eu e Nyssa estamos condenadas a morrer aqui, mas a última vez que estive na agência do tempo, eu roubei um relógio deles, reprogramei e transformei em um colar, que coloquei na Nora, sei que Felicity vai conseguir rastrear o sinal, isso vai levar vocês até ela, vão poder resgatá-la e sair sem serem vistos. Foi um prazer conhecer vocês, adeus, e Gideon, cuida da minha irmãzinha, por favor...


O vídeo encerrou e o grupo se olhou em silêncio, todos choravam, inclusive Rory. Gideon abraçava Anny enquanto Sara passava a mão em suas costas.


- Isso não acabou – falou a Capitã, respirando fundo e secando as lágrimas – Felicity encontra a Nora, Nevasca, Ray, eu e Rory vamos entrar, Ray volta com a Nora, enquanto Nevasca, Rory e eu, vamos atrás da Sh4dow, Charlie deixa a nave pronta para sairmos daqui o mais rápido possível, e Gideon, fica com a Anny. Dessa vez eu não vou desistir sem brigar... Lendas, se preparem, vamos invadir a Liga dos Assassinos essa noite...


Todos se arrumaram e Felicity ativou o colar de Nora remotamente. A bruxa estava em um quarto bonito e grande, andando de um lado para o outro.


- Como chegaram até aqui? – perguntou ela surpresa, beijando Ray – é bom te ver...


- Viemos salvar vocês – respondeu Sara, colocando o capuz – preciso que me entregue o seu colar, vocês voltam enquanto nós vamos resgatar a Lasa...


- Não vou sair daqui sem vocês – avisou Nora – Lasa me resgatou da Nyssa, eu devo isso a ela...


- Então vamos – concordou Sara, escutando atrás da porta – Tem 3 homens do lado de fora...


- Coloquem o capuz e escondam o rosto, acho que tive uma ideia... – falou Nora, ajeitando a roupa e respirando fundo.


Ela saiu do quarto e quando os homens tentaram aborda-la, ela moveu o pulso e quebrou o pescoço dos três.


- Precisava fazer isso? – perguntou Ray.


- Eles são assassinos – lembrou Nora – além do mais, não são humanos, são robôs...


- Como sabe? – perguntou Sara.


- Lasa me deu uma lente de contato que identifica quem é humano, e quem não é...


- Claro que ela inventou algo do tipo... – falou Sara, olhando com atenção ao redor.


- Ela e o Cisco seriam melhores amigos se ela se mudasse pra Central City... – comentou Nevasca.


- Exceto pelo fato de que ela já roubou ele também – riu Sara.


O grupo seguiu atrás dos gritos pelos corredores escuros, até que chegou ao lugar e Nora bateu na porta enquanto o restante recuava um passo e cobria bem o rosto deixando apenas os olhos a mostra. Quando a porta abriu, Talia olhou para a mulher sorrindo.


- Vejo que reavaliou minha proposta... – sorriu a assassina.


- Eu gosto do poder, mas não vou aceitar trabalhar para você, tenho uma contraproposta a fazer... Podermos conversar bebendo algo?


- Gosto do seu estilo Sahira, deixe seus homens de olho nas minhas prisioneiras e me acompanhe...


- Vocês três fiquem lá dentro, e se alguém sair, não será apenas o pescoço de vocês que irei quebrar – ordenou Nora, e os três indicados obedeceram, ficando apenas Ray, disfarçado, parado mais atrás dela.


Enquanto Nora levava Talia para longe dali, o trio olhava as mulheres, penduradas pelos pulsos, o rosto muito ferido, usando apenas as calças e uma blusa regata ensanguentada.


- Não toquem nela – pediu Nyssa, sem conseguir ver os rostos de nenhum dos três – Eu já falei que ela não tem nada a ver com isso... é a mim que vocês querem...


- Lasa... – falou Sara, tirando o capuz e se aproximando devagar, observando o rosto muito ferido da mulher, os pontos da cabeça rasgados – Ai meu Deus, Lasa... Nevasca me ajuda a soltar ela, Mick solta a Nyssa...


- Como nos acharam? – perguntou a assassina, enquanto Mick quebrava as algemas.


- Eu morri – murmurou Chris, quando a soltaram e Sara a puxou para seu colo – eu morri e agora estou vendo a mulher que perdi... Minha teoria de que anjos não existem, falhou...


- Vamos tirar vocês daqui – respondeu Sara, segurando o rosto de Lasa e a olhando nos olhos – preciso que aguente firme, por favor...


- Eu posso pegar ela no colo, Capitã – falou Mick.


- Faça isso, eu e Nevasca vamos ajudar a Nyssa.


- Por que esta fazendo isso por mim? – perguntou a assassina, quando a capitã e Nevasca passaram seus braços por cima dos ombros e a seguraram pela cintura – Não deveria estar me ajudando...


- Não to fazendo isso por você – respondeu Sara, saindo na frente do quarto e seguindo para um dos corredores – Estou fazendo pela Lasa...


- Qual o lance entre vocês duas?


- Não é da sua conta.


- Ela esta apaixonada por você, caso se interesse em saber... só vi aquela devoção no olhar da Lasa, uma vez antes...


- Quando ela olhava para você?


- Quando ela fala ou olha pra Anny...


- Estamos chegando no ponto de extração, Fox – avisou Sara, pelo comunicador.


- Anny e Charlie estão esperando para trazer vocês para a nave, vou dar o sinal para Nora voltar, ela esta com o dispositivo né?


- Conforme o plano – avisou Sara, mas pararam ao encontrar 4 homens encapuzados e de espadas na mão – Acho que teremos problemas, Mick proteja a Lasa, eu e Nevasca cuidaremos deles...


Elas soltaram Nyssa que se colocou de escudo na frente de Lasa, enquanto Sara, Mick e Nevasca lutavam contra os homens.


- Pega o celular do Mick – murmurou Lasa, no ouvido de Nyssa.


- Esta louca?


- Só obedece... – falou ela, tossindo sangue e limpando na blusa.


- Aqui – falou a assassina, pegando o celular do bolso de trás de Mick e entregando para a hacker – o que pretende fazer?


- Salvar a mulher que eu amo e pagar minha dívida com você... – respondeu Lasa, tossindo mais e digitando rápido no celular, usando apenas a mão direita – caramba tem muita pornografia nessa coisa, o Mick tem sérios problemas... eu to quase conseguindo, preciso que ganhe mais tempo pra mim, consegue lutar com elas?


- Por você – falou a mulher, levantando com uma careta de dor e juntando uma das espadas no chão, entrando na luta.


- O que esta fazendo? – perguntou Sara, quebrando o braço de um dos homens e usando-o de apoio para chutar outro.


- Tentando ser alguém melhor – respondeu Nyssa, enfiando a espada na barriga do homem, que simplesmente a arrancou e avançou contra elas – Lasa, se conseguir ir um pouco mais rápido, seria legal...


Algo criou um curto circuito dentro de três dos homens, e o quarto avançou contra Lasa, desacordada com o celular na mão.


- Não dessa vez – falou Sara, puxando a faca e atirando no pescoço do homem, que caiu morto no chão – vamos sair daqui agora mesmo...


O grupo saiu por uma porta escondida e Anny e Charlie os aguardavam. Assim que chegaram a nave, Felicity deu o sinal para Ray e Nora e ambos entraram por um portal, enquanto Charlie e Anny assumiam o comando da nave e erguiam voo.


- Gideon, preciso que me ajude – falou Sara, quando Mick largou Chris na cama e Caitlin que já havia voltado ao normal, colocava Nyssa em outra e prendia a pulseira de medicação nela, digitando os processos na tela.


- Se afastem enquanto escaneio a Comandante Diaz – avisou a A.I – Além do braço com os nervos danificados, a Comandante esta com o braço esquerdo quebrado em dois lugares, a perna em 4 lugares, uma costela fraturada, além de várias hemorragias internas... Teoricamente ela já deveria estar morta...


- Me diz que consegue salvar ela – falou Sara, os olhos começando a lacrimejar, se aproximando da mulher e tocando seu rosto devagar.


- Acho que sim, mas vou precisar da ajuda da Dra. Caitlin Snow e de Felicity Smoak...


- Estou aqui – avisou Felicity entrando na ala médica e se aproximando – Do que precisa Gideon?


- Sara, vem comigo... – pediu Nora, se aproximando da capitã e segurando seu braço – vem... vamos deixar elas trabalharem...


Elas caminharam até o escritório de Chris e Sara se atirou no sofá, cobrindo o rosto com as mãos.


- É tudo culpa minha – falou ela – eu deveria ter respondido o chamado dela, mas eu tava com tanta raiva dela e da Felicity, que desejei que elas morressem... agora a Sh4dow esta quase morta por minha causa...


- O que você ouviu quando foi no quarto, deve ter sido muito sério...


- Parecia que elas estavam transando no banheiro... – admitiu Sara, encarando Nora – eu... eu surtei... ia falar para Chris que eu queria ficar com ela, que eu amava ela, mas cheguei lá e ouvi elas falando...


- O que exatamente você ouviu?


- Ouvi a Felicity dizendo: “Tem minha palavra de que não vai se arrepender... e sei que no fundo você quer isso também... sente tanta falta quanto eu...”


- Essa frase foi bem estranha mesmo, mas ela poderia estar falando de qualquer coisa...


- Eu sei, mas aí a Chris respondeu: “Mas a Sara pode não gostar...” e a Felicity acrescentou: “Ela te deu um fora, você não tem nada a perder... Se em algum momento não tiver se sentindo bem com o que rolar, eu paro, tem minha palavra...”


- Isso deixa aberto para poucas interpretações... Eu entendo sua raiva...


- Eu poderia achar que isso era coisa da minha cabeça, mas as duas se conhecem desde a adolescência, já foram pra cama duas vezes e são parecidas, elas até combinam como um casal, eu só somei 2 + 2...


- Eu posso estar errada... – ponderou Nora – mas Chris parece te amar...


- Isso é loucura... a Felicity é melhor que eu em tudo... é formada, linda, uma hacker como ela, engraçada, doce... eu não tenho como competir com a relação das duas...


- Não tem competição, Sara... – falou Felicity, parando na porta e assustando as duas – desculpa mas ouvi a conversa de vocês...


- Como ta a Chris? – perguntou a capitã, levantando e servindo dois copos de uísque, entregando um para Nora.


- Sob os cuidados da Caitlin, da Gideon e da Anny... – respondeu a nerd – E quanto ao que você ouviu, estávamos falando de você...


- Como assim?


- Fui até o quarto da Chris para ajudar ela a corrigir o vírus – contou Felicity, entrando e se escorando no braço do sofá – trabalhamos por horas e então quando cansamos, eu sugeri que ela fizesse uma mudança no visual...


- Você falou que era algo que ela sentia falta também...


- Quando conheci a Sh4dow, ela usava a cabeça raspada nas laterais, com um moicano verde escuro, tinha piercings no nariz, na boca, na sobrancelha e na orelha... foi dela que a Anny puxou o gosto pelo estilo rebelde... Quando a Anny morreu ela mudou o visual, queria parecer mais séria e adulta... Manteve a rebeldia mas fisicamente parecia uma mulher adulta e sofrida. Quando ela falou que você podia não gostar, era sobre o cabelo dela, que eu achei que ficaria legal com um corte decente e pintado de azul escuro... Ela queria recomeçar, e mudar o visual foi um pontapé inicial, além de adotar o Diaz novamente...


- Eu odeio sua mania de dar duplo sentido a tudo – falou Sara, olhando o próprio copo.


- As vezes não me orgulho disso também... eu convidei a Chris para ser madrinha do meu bebê... eu amo o Oliver mais do que tudo nesse mundo, ele é o amor da minha vida, mas a Chris é minha irmã... confio nela cegamente...


- Eu... ela é especial pra mim – admitiu Sara.


- E você pra ela... acredite, passei uma semana com ela falando de você e o quanto era importante pra ela... Pedi para nos avisarem assim que você puder vê-la...


- Obrigada Felicity, e desculpe por abandonar vocês...


- Não abandonou, salvou a vida dela...


Gideon e Anny trabalharam na recuperação de Chris a noite inteira, e já passava das 2 horas da manhã quando Anny apareceu na porta do escritório, onde Sara encarava a pintura dela e Chris, feita por Da Vinci e entregue a elas durante o chá.


- Ela esta acordada, e quer te ver... – falou Anny, parando na porta e observando a capitã.


- Eu já vou – respondeu Sara, enrolando a tela.


- Obrigada por salvar minha irmã... – falou a garota – Eu fico te devendo uma...


- Só quero que sejamos amigas... – disse a capitã – Er... Anny, o que acharia se eu pedisse sua irmã em namoro?


- Acho que poderíamos nos dar bem como cunhadas... – sorriu ela – Eu pedi a Gideon em namoro, então meio que vamos nos ver bastante de qualquer forma... Vamos?


- Vamos – sorriu Sara, acompanhando Anny até a ala hospitalar, onde Nyssa conversava com Chris, sentada na cama, com o braço esquerdo enfaixado.


- Estamos quites – falou a assassina – agora que sei que é a Talia que esta tentando me destruir, acho que tenho uma ideia do que fazer para recuperar a Liga... Ela não vai conseguir o que quer...


- Você não tem ideia de onde esta a pedra – sorriu Chris, fazendo uma careta de dor.


- Eu não tenho, mas minha irmã não sabe disso... com o aparelho que me deu, vou conseguir descobrir e derrubar todos os robôs, vai ser mais fácil tomar o lugar, e você tem minha palavra de que não vou mais te procurar...


- Eu e você sabemos que isso não é verdade... – falou Chris – Se cuida, Nyssa... e se sequestrar um dos meus novamente, eu te mato...


- Parece um bom acordo – sorriu a morena, dando um beijo na testa de Chris e sorrindo – Seja feliz, Lasa al Zilu...


Ela se virou e olhou para as mulheres que a observavam sérias, fez um breve aceno com a cabeça e saiu encostando a porta.


- Não sei se posso me acostumar com isso... – comentou Sara, se aproximando da cama devagar.


- Eu definitivamente não posso – acrescentou Anny – vou eletrocutar essa mulher se ela pisar na minha nave novamente...


- Você me salvou, Alejandra... – falou Chris, segurando a mão da irmã – eu não estaria aqui sem você... sem nenhuma das duas na verdade...


- Isso foi bem grosseiro, comandante... – falou Gideon, se escorando na porta com uma garrafa e 4 copos.


- Desculpe – sorriu Chris – Vocês me salvaram... a equipe toda fez isso... trouxe o que eu pedi, Gideon?


- Não entendi o sentido, mas sim – falou ela, largando a garrafa na mesinha próxima a cama, junto com os 4 copos.


- Bom, a Capitã Lance deu a minha irmã caçula um copo de uísque sem minha autorização...


- Chris, eu já... – começou Sara


- Deixe eu continuar, por favor... – interrompeu Chris.


- Ok, continue... – sorriu Sara.


- Depois que eu confrontei a capitã, ela me lembrou que minha irmã não é mais a adolescente que eu lancei na nave... depois que vi os vídeos das duas treinando, eu me dei por conta de que eu não preciso mais proteger minha irmã, ela aprendeu a fazer isso sozinha...


- Andou me espionando? – perguntou Anny, em tom de indignação.


- Claro que sim, você e a Sara, é o que eu faço de melhor, com quem você acha que aprendeu a ser tão curiosa?


- Justo...


- Eu decidi que essa ano algumas coisas precisariam mudar... – seguiu Chris - a começar por você, Anny...


- O que quer dizer com isso?


- Fez a última atualização de software que mandei na mensagem? Sei que a receberam...


- Não tava com cabeça pra isso...


- Então faça agora, vocês duas na verdade... alterei o seu sistema também, Gideon...


- Precisa me consultar antes de ficar fazendo alterações na minha assistente de navegação – falou Sara, observando Chris.


- Vai por mim, estou fazendo um favor a vocês – sorriu ela – Prontas?


- Não estou sentindo nada de diferente... – ponderou Anny.


- Capitã Lance, pode por gentileza servir os copos para nós? – pediu Chris, e a mulher obedeceu, entregando um copo para cada uma – Um brinde ao seu aniversário, Alejandra Noah Nedel Yolanda Rosa Diaz...


- Um brinde ao seu aniversário, Christina Alejandra Rosa Diaz... – respondeu Anny, brindando e tomando um gole do líquido – Espera... o que... por que minha boca esta formigando?


- Olha no espelho... – pediu Gideon, e Anny parou diante do espelho, se observando em choque.


– Caramba, eu to... – falou Anny, se olhando assustada.


- Esta envelhecendo... – sorriu Sara – parece uns 5 anos mais velha...


- Eu achei muito linda – sorriu Gideon – mas isso que também estou sentindo na minha boca, isso...


- Por Autólico, o rei dos ladrões... - falou Anny, em choque, olhando para  a irmã – Isso que estamos sentindo é... isso é sabor... e uma sensação de felicidade que não tem um motivo...


- O motivo é o álcool -  sorriu Chris – O nome do que você e Gideon estão sentido, é: embriaguez... Felicity me ajudou a terminar os ajustes que eu estava fazendo para que pudesse sentir o gosto das coisas. Para evitar que você abusasse dessa capacidade, acrescentei baixa tolerância ao álcool, e um limite para armazenamento de resíduos ingeridos...


- Isso quer dizer... – falou Anny, emocionada.


- Que a partir de hoje você é uma adulta que pode comer, beber e ficar bêbada – sorriu Chris – a única coisa que vai te diferenciar dos humanos, é que você não pode morrer, nem envelhecer mais que isso, a menos que queira, estou trabalhando em um programa de envelhecimento, mas não é prioridade...


- Eu te amo muito – falou Anny, chorando e abraçando a irmã com cuidado – Você é demais...


- É eu sou uma gênia, mas agradeça a Felicity, sem ela eu não teria finalizado o código, nem concordado com esse lance de você envelhecer, e sem a Sara, eu jamais teria te habilitado a beber...


- Você consertou ela – falou Anny, pulando nos braços de Sara – eu sou completa por sua causa... obrigada...


- Eu não fiz nada – sorriu Sara – Agora, acho que deveriam fazer o que qualquer casal normal faria... deveriam ter um encontro onde as duas comem algo, bebem e acabam se pegando... Mas com juízo eim, as duas...


- Sei de um lugar onde podemos ir – falou Gideon, estendendo a mão para Anny, que aceitou feliz – Não sei como lhe agradecer, Comandante Diaz...


- Só... não deixa minha irmã fazer nenhuma loucura, por favor...


- Tem minha palavra – sorriu ela, levando Anny para fora da sala e deixando os copos na mesinha.


- Estamos só eu e você aqui agora – falou Sara, largando o copo e caminhando pelo quarto.


- É, estamos... – concordou Chris, olhando a própria mão direita, enfaixada – e eu to com tanto medo do que você pode me dizer, que sairia daqui correndo, se minha perna não estivesse quebrada...


- Eu escutei sua conversa com a Felicity, e fiquei muito irritada com você, por isso me afastei...


- Não deveria confiar no que ouve vindo da Felicity, já deveria saber disso...


- Eu... Eu tive muito tempo pra pensar Chris... e eu tomei uma decisão muito importante...


- Eu entendo...


- Eu decidi brigar por você... – respondeu Sara, e a hacker lhe olhou confusa – Eu já abri mão de alguém que eu amava duas vezes, não vou deixar isso acontecer uma terceira vez...


- Espera, o que isso...


- Eu achei seu novo penteado e os piercings, bem sexy... – sorriu a Capitã, sentando na ponta da cama e tocando o cabelo da comandante – eu não vou desistir de você, porque talvez eu não consiga mais viver longe... sou viciada no que temos... eu... eu te amo Christina Alejandra Rosa Diaz, e se alguma mulher quiser te roubar de mim, eu vou ir até o inferno atrás dela, literalmente… já estive lá e não tenho problemas em voltar para... Quer namorar comigo, Comandante Alejandra Diaz?


- Isso é uma piada? – perguntou ela, em choque.


A resposta da Capitã, foi um beijo, e Chris a puxou mais para perto com cuidado, a máquina que controlava seus batimentos, disparando e chamando atenção de Felicity, Caitlin, Charlie e Nora, que entraram assustadas na enfermaria, fazendo Sara e Chris se afastarem.


- Caramba desculpa – falou Felicity, ofegante.


- Ficamos com medo de ter passado mal... – se defendeu Caitlin.


- Acho que eu to... – sorriu Chris, olhando nos olhos de Sara – Sara Lance acabou de me pedir em namoro...


- E o que você respondeu? – perguntou Nora.


- Ela ainda não respondeu – disse Sara, sem se afastar de Chris – e eu to com medo de levar um fora, mas aviso que não vou aceitar isso sem lutar...


- Eu aceito... – interrompeu Chris – eu, Christina Alejandra, aceito namorar com você, Sara Lance... e eu tenho que confessar uma coisa a todas vocês...


- O que? – perguntou Charlie.


- Eu mereci apanhar em Nanda Parbat... - falou ela, passando os dedos de leve na mão de Sara.


- Ta maluca né? – falou Felicity – você estava sendo torturada por uma coisa que a Nyssa pegou...


- Na verdade a Nyssa não pegou... – contou Chris – Eu roubei a pedra que a Talia está procurando, e escondi nas coisas da Nyssa...


- Por que fez isso? – perguntou Sara.


- Pra poder roubar da Nyssa depois... – compreendeu Felicity – Cometeu um roubo ocultado por outro...


- Espera, fez um roubo duplo? – perguntou Sara.


- Era tentador demais... – se defendeu Chris.


- Você tem sérios problemas... – falou Sara, preocupada – ia morrer por causa de uma bobagem... Deveria ter contado a ela, entregue o que ela quer...


- Eu preciso ficar a sós com a Sara, por favor... – pediu Chris.


- Vou desativar o som disso – avisou Caitlin – para ninguém mais interromper vocês duas... er... vamos meninas...


O grupo saiu fechando a porta e Sara olhou nos olhos da namorada, esperando uma explicação.


- Eu não podia devolver o que roubei... – contou Chris – por que é a base de todas as melhorias que fiz na Gideon e na Anny...


- Mas sua vida não vale uma atualização de software ou sua irmã poder ficar bebada...


- Sara, eu roubei uma coisa conhecida como pedra Gaia, ou a pedra filosofal... – contou Chris – um minério com poderes de literalmente fazer alguém ser imortal...


- Isso é sério? Parece uma história de fantasia...


- Eu roubei a pedra do Poço de Lázaro... Escondi ela no cabo da Katana da Nyssa... e depois voltei e roubei a Katana dela...


- Por isso quase morreu pra roubar aquela katana... – compreendeu Sara.


- Eu não tinha certeza do que ela fazia exatamente, mas sabia que qualquer coisa retirada do fundo do Poço de Lázaro, teria poderes perigosos, e que valia a pena arriscar...


- Por que não usou a pedra pra curar seu braço?


- Há histórias de pessoas que enlouqueceram ao usar a pedra em si mesmos... eu já sou bem fora da casinha sem fazer algo do tipo, mas não teria perigo usar em um robô... As Lendas me ensinaram que as vezes vale morrer para salvar o mundo de algo bem pior... acho que vocês chamam isso de...


- Ser uma Lenda... – sorriu Sara, deitando com cuidado na cama de Chris e puxando-a para seus braços – você é uma desajustada, que se sente sozinha, mas quase morreu pra poupar o mundo de uma homicida imortal... você definitivamente é uma Lenda, Comandante Diaz...


- E o que isso tudo significa?


- Que essa aventura está apenas começando... – sorriu Sara, beijando a mulher e segurando-a em seus braços com carinho, enquanto a nave seguia viagem sem um destino definido.


 


Fim... ou não...


23 – mar – 2020 / 10h19



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Autor(a): tammy_endres

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