Fanfic: 320km/h | Tema: Fórmula 1, Pierre Gasly, Charles Leclerc

   Acordar às 4h30min já era um hábito adquirido há alguns anos. Devido a minha profissão, algumas coisas acabam fazendo parte da sua rotina pessoal. 

   Eu era formada em educação física e especializada em treinamento desportivo. Me exercitava todas as manhãs, sem exceções. E ia trabalhar fazendo praticamente a mesma coisa. Treinar outros era algo que me deixava em êxtase e feliz. Eu amava meu trabalho! Eu amava esportes e a Fórmula 1 tornou-se meu amor há alguns anos. Confesso que ao entrar na faculdade, nunca pensei que hoje estaria onde estou. 

   Atualmente eu trabalhava na equipe da Scuderia Toro Rosso. Eu treinava os garotos da equipe de construtores e principalmente os pilotos. Como uma rotina inadiável, todos precisavam estar em boa forma física para aguentar a rotina exaustiva de equipes de fórmula 1. Sinceramente? Eu adorava aquilo! Por estar sempre me mudando e em viagens com as equipes, eu nunca conseguia manter uma amizade por muito tempo. Perdi minha mãe há alguns anos e meu pai nem sequer me mandava um WhatsApp para saber se estava viva. Com tudo isso, acabei me afastando de minha família aos poucos e segui minha vida sozinha. 

   Eu não me importava com isso. Eu era realmente feliz. Não havia nada me segurando em lugar nenhum, apenas meu flat em Londres, minha cidade natal. Eu viajava pelo mundo com os garotos e conhecia lugares que nunca imaginei um dia conhecer. É claro, eu tinha o Antônio, meu Golden Retriever de 5 anos. Ele sim era meu companheiro inseparável. Perdi as contas de quantas vezes eu brigava com os hotéis que ficávamos para aceitar meu amigo canino e alguém responsável para fazer companhia a ele. Mas na maioria das vezes ele me acompanhava. Ele era comportado e obediente, muito bem adestrado por mim mesma. E quer saber? A equipe o adorava! Acho que psicologicamente ajudava a todos nós. Neste ramo, a tensão era sempre presente. Pressão para ser o melhor, pressão para pontuar, pressão para ultrapassar os outros. Mas quando Antônio estava comigo nos treinos, todos esqueciam de toda essa pressão e brincavam com meu amigo dourado. E muitas das vezes eu o incluía nos exercícios do pessoal. Charles adorava Antônio! Sempre que ficávamos hospedados no mesmo hotel, ele se voluntariava para passear com o cão. Leclerc adorava uma bagunça e Antônio também. Acabei me aproximando de Charles quando trabalhamos juntos por poucos meses na Alfa Romeo. Logo me ofereceram uma oportunidade na Toro Rosso e eu aceitei. E cá estou eu. Me preparando para mais um dia na equipe de fórmula 1. Estávamos em Mônaco e hoje era dia de treino livre. 

Mônaco - 26 de maio de 2019 

   Albon já estava se aquecendo quando eu cheguei no box. Alexander era responsável e sempre estava concentrado. Um rapaz bom de treinar e de se conviver.  

   - Bom dia, pessoal. 

   Cumprimentei a equipe enquanto passava por todos eles até chegar aos armários onde guardávamos nossos pertences. Joguei minha mochila lá dentro e prendi o cabelo colocando o boné para segurá-lo.  

   - Pronto para o pódio, Albon? 

   Dei um tapinha nas costas de Alexander e pude vê-lo sorrir timidamente com minha pergunta. Treinamos por alguns minutos e depois o deitei na maca para destravá-lo antes que pudesse vestir seu macacão e entrar no carro. O dia estava lindo e claro. A energia era de animação. Todos estavam em êxtase, Mônaco trazia isso. Uma cidade que esbanjava riqueza e gente bonita. Em volta da pista as lanchas já estavam estacionadas no mar para os ricaços do mundo inteiro pudesse usufruir de toda a emoção que a Fórmula 1 proporcionava.  

   As câmeras da Netflix estavam por todas as partes, só no nosso box tinham umas cinco. Uma na equipe de mecânica, outra nos chefes de equipe, duas no piloto e por aí vai. Consequentemente eu acabaria aparecendo em alguma delas.  

   Nikki Lauda, um dos maiores pilotos automobilista da história havia falecido há 5 dias e o clima de luto pairava em todas as equipes. Apesar de Nikki estar ligado há Mercedes há anos, todos do ramo se favoreceram com sua experiência. Foram distribuídos bonés vermelhos, marca registra de Nikki, para que fosse feito uma homenagem a lenda do esporte. 

   Com o resultado do treino do dia anterior, nossos pilotos largariam nas posições 7º e 9º. A largada foi feita de maneira limpa, sem acidentes, o que na Fórmula 1 já era grande coisa. Assistíamos pelos monitores do paddcok as ultrapassagens perigosas de cada piloto. Hamilton manteve a ponta à frente de Bottas, que quase perdeu a segunda posição para Verstappen. Ricciardo largou bem e subiu de sexto para quinto, atrás de Vettel. Leclerc teve de cortar caminho na Sainte Devote para não bater e passou em 14º no fim da primeira volta. Eu sabia que meu amigo Charles estava em casa e queria muito ganhar nesta corrida, mas Nico Hulkenberg o acertou e Leclerc ficou com seu pneu furado abandonando a corrida na volta 16. O Safety Car entrou na pista para garantir a limpeza e segurança de todos causada pelo acidente envolvendo a Ferrari.  

   A nossa querida Toro Rosso realmente impressionou em Mônaco. Kvyat terminou em sétimo e Alexander Albon em oitavo. A equipe comemorava se abraçando e batendo palmas para nossos pilotos que estavam voltando para o box. Merceces comemorava mais uma vitória com Lewis Hamilton em primeiro e Valtteri Bottas em terceiro, com uma punição de Max Verstappen da Red Bull Racing de 5 segundos, Sebastian Vettel da Ferrari ficou com a segunda posição. 

   Mais tarde, ao chegar no hotel, fui logo buscar meu companheiro canino para voltarmos ao quarto. Ele estava animado ao me ver e eu igualmente ao vê-lo. Dei uma gorjeta para a recreadora que passou o dia com ele e corri para o elevador. Alimentei meu cão e fui tomar um banho para tirar aquele suor do dia de trabalho.  

   Peguei meu celular e mandei um WhatsApp para Charles dizendo que sentia muito pela corrida de hoje e que Antônio estava disponível para consolá-lo. Quando Charles negou meu convite, resolvi vestir minha roupa de exercícios, que fazia praticamente 90% do meu vestiário, e fui passear com Antônio pela Praia do Larvotto. O pôr do sol estava quase finalizando quando eu e Antônio colocamos os pés na água salgada do mar mediterrâneo. Ficamos ali por alguns longos minutos aproveitando a vista e o ar fresco vindo da praia.  

   Os bares e restaurantes na orla estavam todos lotados e alguns com músicas muito altas. Isso era normal em Mônaco em dia de corrida, afinal, pessoas viajavam de todos os lados do planeta para assistir ao Grand Prix de todos os anos.   

   Antes de voltar para o hotel, parei no restaurante mais vazio que havia encontrado e pedi uma salada para meu jantar antes de me jogar na cama e me preparar para as próximas corridas a frente.