Fanfics Brasil - Treinando 320km/h

Fanfic: 320km/h | Tema: Fórmula 1, Pierre Gasly, Charles Leclerc


Capítulo: Treinando

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9 de junho de 2019 – Montreal, Canadá


   Era mais um dia de sol em Montreal. Quando chegamos no início da semana ao Canadá, o tempo nublado de chuva me fez lembrar da minha cidade cinza, Londres. Mas logo na sexta-feira, no primeiro dia dos treinos, o sol já deu as caras. Quando o domingo finalmente chegou, o sol estava derretendo todos que estavam ali se preparando para as corridas.


   O papo do dia era que Pierre Gasly da Red Bull Racing estava indo mal nos treinos e não estava conseguindo uma boa posição. O murmurinho me parecia tóxico e ver outros ficando felizes com o suposto fracasso do colega de trabalho, me deixava nervosa.


   Fui ao box da Ferrari para desejar um bom treino para Charles. Ao passar pelo box da RBR, ouvi, sem querer, o Dr. Helmut Marko conversando com Christian Horner, chefe da equipe, que Gasly estava muito ruim. Christian explicava que Pierre estava perdendo quatro décimos nas duas últimas curvas. Mas o que me chateou de verdade, foi quando eles disseram que qualquer um dos dois correriam melhor que Pierre. Eu estava no ramo há algum tempo e sabia que a competitividade ficava cada vez pior com o passar dos anos. Mas ver alguém da própria equipe denegrindo a imagem de um piloto me deixava furiosa! As pessoas simplesmente criticavam e os colocavam para baixo. A pressão para acelerar e encurralar o piloto a frente durante as corridas era irritante. Sabia também que Pierre e Charles eram amigos de infância e com certeza isso também o deixaria triste. Eles continuaram sua conversa dizendo que Pierre se comparava muito com Max e ficava horas analisando os dados, mas que na hora de correr mesmo, ele não o fazia.


   Respirei fundo e segui para meu posto de trabalho, afinal, eu não trabalhava na RBR. Antes que os meninos saíssem para a pista, encorajei cada um deles dizendo que eles conseguiriam e para aproveitarem a corrida, sem se preocupar com os engenheiros falando pelo áudio. Dei esse conselho porque sabia que eles estivessem psicologicamente confiantes, o talento deles ficariam mais evidentes.


   No final das contas, a Mercedes levou o título com Lewis Hamilton e Pierre Gasly ficou em 8º.


30 de junho de 2019 - Spielber, Áustria


   A corrida do dia seria na pista da Red Bull, então a torcida estava toda de laranja sacudindo suas bandeiras e gritando a equipe da casa.


   Passei pelos corredores rodeados de fãs pedindo autógrafos onde os pilotos estavam dando atenção a eles. O nome Max era o mais aclamado. Com meus óculos escuros, fiquei escorada em umas das barragens tomando meu energético e esperando os pilotos da minha equipe para seguirmos para o paddock.


- Correr em casa não é nada mal, hein? Ainda mais com um dia lindo como esse.


- Eu estou muito nervoso. Acho que você deveria começar a trazer o Antônio para as corridas, Bea.


   Daniil disse tentando descontrair e relaxar um pouco para a corrida.


- Vamos lá que eu vou destravar a sua coluna. Senão você vai travar dentro daquele carro e só vai sair quando ele for desmontado.


   Os meninos riram e seguimos para nosso box.


   Ainda faltavam algum tempo para o início da corrida e a maioria dos pilotos estavam no período de entrevistas. Aproveitei o momento para ir ao depósito de nossas equipes, Toro Rosso e RBR, para repor nosso estoque de Red Bull. Coincidentemente, Pierre Gasly estava no mesmo local dando entrevistas. Presenciei mais uma vez a pressão em cima do jovem piloto e lamentei ele estar passando por isso. Vi que seu chefe de imprensa estava ao lado atento a tudo que ele falava aos repórteres. Algumas perguntas ele gaguejava para responder e outras ele se estendia demais. Eu estava de costas disfarçando minha presença, mas minha vontade era invadir aquelas entrevistas idiotas e mandar todo mundo se foder. Mas eu não podia. Sendo assim, peguei três engradados de Red Bull e sumi dali antes que alguém pudesse notar minha presença.


   No final do dia o clima estava pior do que quando começou. Pierre ficou em 7º e Max em 1º. Eu só ficava pensando em como ele deveria estar se sentindo naquele momento.


   Charles também não estava nada feliz. Ele havia perdido a primeira colocação por pouco e ao vê-lo sem sorrir no pódio, cortou meu coração. Eu estava de longe o observando só descer do pódio para lhe dar um abraço, quando vi Pierre conversando com um dos meninos da sua equipe com lágrimas nos olhos. Ele estava devastado. E eu queria apenas abraçá-lo e dizer que estava tudo bem, fazê-lo entender que tudo o que aquelas pessoas estavam falando era injusto.


07 de Agosto de 2019 - Faença, Itália


   No caminho para o trabalho, eu havia recebido uma mensagem dizendo que a equipe faria uma reunião de emergência. E logo neste dia, eu estava atrasada. Sim, Antônio fez o favor de urinar onde não devia e eu precisei arrumar um jeito de limpar antes que alguém pudesse notar. Para completar, ele atolou suas patas na poça de xixi e me fez xingar no corredor do condomínio às 6h30min da manhã. Quando estávamos em Faença, terra da Toro Rosso, eu alugava um Airbnb próximo ao trabalho pois ficaríamos algumas semanas até o próximo GP.


   Quando finalmente entrei pelas portas da Toro Rosso, já percebi o murmurinho entre os colaboradores. "Gasly" era o assunto em pauta e algo me dizia que seria o mesmo assunto da reunião emergencial.


   Vi Mike debruçado no balcão ao fundo olhando para o relógio como se estivesse aguardando algo ou alguém. Discretamente caminhei até ele cruzando entre os garotos que estavam ali no saguão.


   Ser da minha profissão era quase que 100% de certeza que você seria a única mulher em muitos aspectos. Nessas reuniões gerais, eu podia encontrar uma ali e outra lá de vez enquanto. Mas no meu setor em específico, eu era a única mulher na maioria das vezes.


- E aí, Mike? Qual é a da vez? - cochichei sob o ombro de Mike ajeitando meu boné para disfarçar a fofoca.


- Parece que já vão anunciar Gasly de volta à equipe.


    Como num desenho animado, uma lâmpada se acendeu sob minha cabeça fazendo sentido. Geralmente quando chamavam toda a equipe assim era para apresentar novos pilotos. No caso, um que muitos já conheciam. Pierre Gasly ficou na Toro Rosso em 2017 até meados de 2019 quando foi promovido à Red Bull Racing. Mas sua performance não agradou a equipe e por este motivo estava sendo rebaixado a nossa querida Toro Rosso. Alguns gostaram de ter o garoto de volta, outros nem tanto. Eu pouco o conhecia, na verdade, nunca trocamos nenhuma palavra. Então, não tinha opinião formada para isso.


- Bom dia, pessoal... Obrigada pela presença de vocês e desculpe-nos por ter avisado assim tão em cima da hora. Mas estamos no meio de uma temporada e não podemos perder tempo. - Franz Tost, chefe de equipe, começou seu discurso – Como os rumores já estão correndo por aí, Alex Albon não faz mais parte da nossa equipe, foi realocado para RBR e temos o prazer de anunciar de volta nosso piloto francês Pierre Gasly!


   Franz fez a apresentação e todos bateram palmas como boas-vindas. Mas o piloto apareceu sem sorrir no topo da escada acenando timidamente para os funcionários que estavam ali presentes. Era visível seu descontentamento de estar ali, o que me fez até ficar com pouco de irritação. Aposto que havia muitos garotos que dariam tudo para estar no lugar dele naquele momento, e ele estava ali com o semblante fechado tentando não mandar todo mundo tomar no cú.


- Simpático ele, não? – Cutuquei Mike com meu cotovelo e ele riu.


- Então se prepara, porque você que vai ter que aguentar esse humor dele hoje.


- Como assim? – olhei incrédula para Mike esperando uma boa resposta.


- Aqui – ele me mostrou um e-mail recém recebido – Aqui diz que a agenda do novo piloto é treino com você praticamente o dia todo.


   Revirei os olhos e pedi a Deus um pouco mais de paciência para o dia de hoje. Afinal, eu teria que aguentar o piloto rejeitado durante todo meu expediente.


   Ao fim da reunião, segui com minha rotina e estava aguardando meu piloto da área de treinos. Coloquei alguns pesos no lugar e estiquei alguns colchonetes no chão para determinados exercícios. Me assustei quando a porta bateu atrás de mim e vi Pierre entrando na academia.


- Você é Beatrice Brown?


- Eu mesma. - Caminhei até Pierre e estiquei minha mão – Muito prazer.


   Pierre sorriu forçado e jogou sua mochila no banco próximo a porta.


- Meu treino é com você hoje.


- Sim... Hoje e provavelmente outros dias também.


- Por onde a gente começa?


   Pierre disse curto e grosso e com cara de poucos amigos. Ele parecia irritado e nem um pouco confortável com sua situação atual. Me senti mal por sua falta de educação e fiquei sem graça.


- A gente sempre começa com os alongamentos.


- Eu já fiz alongamento hoje. – Pierre para e fixa seus olhos nos meus demonstrando sua impaciência. Mas mal sabia ele que eu sabia ser bem impaciente também.


- Pois você vai fazer de novo. Para o colchonete, por favor.


   Apontei para o colchonete no canto da sala e mandei ele se deitar de barriga para cima. Dobrei seus joelhos e pus meu peso sobre eles fazendo seus músculos se contraírem. Pierre ainda me olhava fixamente com seu semblante sério e bravo. Eu estava me segurando para não aproveitar a posição e cuspir na cara daquele mimado idiota.


- Levanta! – Eu disse irritada.


   Pierre se pôs de pé e eu o virei de costas para mim. Peguei seus dois pulsos com minhas mãos e puxei seus braços para trás fazendo-o contorcer de dor.


- Ai, Beatrice!


- O que é? – Forcei ainda mais.


- Você vai quebrar meus braços!


    Pierre os puxou e se virou para mim como se fosse me agredir de volta. Mas ele recobrou os sentidos e ficou a centímetros do meu rosto.


- Escuta aqui, Pierre! – Falei apontando meu dedo para seu peitoral - Eu sei que você não está no melhor momento da sua vida ou da sua carreira, mas eu estou aqui para trabalhar. E no caso, meu trabalho é com você. Sendo assim, você tem duas opções: ou continua sendo esse idiota que você é, ou seja legal com a garota aqui, antes que eu quebre um de seus braços e você não vá dirigir tão cedo, nem pela RBR nem pela Toro Rosso!
Me surpreendi com minhas palavras assim quanto Pierre. Ele estava parado com seus olhos arregalados me fuzilando e sua respiração estava ofegante. Aos poucos, senti sua calma voltar ao normal assim como a minha.


- Vamos levantar alguns pesos.


   Sem discordar ou concordar, Pierre caminhou até o aparelho e apoiou suas costas nele. Coloquei 100 kg no peso e o ajudei a segurar. Fiquei em pé atrás dele analisando sua postura e corrigindo quando necessário. Depois fizemos alguns exercícios com os elásticos e por fim o coloquei na esteira para correr antes de sairmos para o almoço.


   Enquanto ele suava na esteira, eu colocava mais algumas coisas no lugar. Às vezes eu olhava em sua direção e o via me encarando. Ele desviava a atenção e disfarçava o clima tenso que estava entre nós. Ao colocar o último peso no lugar, caminhei até a esteira e parei a sua frente. Eu o encarei sem dizer nada até que ele se sentiu desconfortável o suficiente para rir. Eu ri de volta e desliguei a esteira. Ele foi diminuindo o ritmo até que ela parasse por completo e o silêncio pairou no ar novamente.


- Me desculpe, Pierre. Eu não devia ter falado assim com você.


- Eu que preciso pedir desculpas. Eu estava sendo um idiota... E você tem razão... Eu estou chateado, mas isso não é motivo para eu descontar em cima de você.


   Ele ainda estava em cima da esteira e por isso ele estava ainda mais alto. Eu o olhava falar e sorri como um aceite do seu pedido de desculpa.


- Tudo bem... Vamos fingir que isso nunca aconteceu. Amigos? – Estiquei a mão direita como um acordo e ele apertou de volta.


- Amigos.


   Pierre pegou sua garrafa de água enquanto me via amarrar meus tênis de novo.


Est-ce que tu parles français? (Você sabe falar francês?)


Oui, mais je préfère l'anglais, s'il vous plaît. (Sim, mas eu prefiro inglês, por favor.)


- Deixa eu adivinhar... Britânica? – Pierre olhou para cima com um dos dedos apoiados no queixo como se pensasse em algo.


- Sim. Mas eu sou do mundo... Não gosto de ficar rotulando essas coisas, não. Cada semana estamos num lugar diferente, eu quase nunca estou em casa.


- É verdade... Eu também nunca estou em casa.


- Não acho nacionalidade tão importante assim como as outras pessoas acham. Pensa bem: Você é francês e eu sou britânica. Nossos países não têm um histórico de amizade assim tão legal. Imagina se isso fosse algum requisito para sermos amigos?


   Pierre riu do meu raciocínio e concordou.


- Vou tomar uma ducha. Nos vemos de tarde?


   Pierre pegou sua mochila e saiu em disparada para o vestiário. Fiquei o olhando ir embora e sorri por ter dado "tudo certo". Respirei fundo e saí em direção ao refeitório.


08 de Agosto de 2019 - Faença, Itália


   Às 4h47min eu e Antônio estávamos saindo para nossa caminhada matinal de rotina. Como de costume, caminhamos e corremos alguns quilômetros até pararmos num parque próximo ao nosso condomínio. Lá eu e Antônio víamos o dia nascer. Sentei na mesa de concreto e apreciei o belo nascer do sol que acontecia por volta das 5h30min. Aquele amanhecer me inspirou a realizar um trabalho diferente naquela segunda-feira, sorri com a ideia em minha mente e segui rapidamente para casa para tomar meu banho e me preparar para o dia de trabalho à frente.


   Vesti meu uniforme azul da Toro Rosso e parti com Antônio na guia. Abasteci a mochila com ração e outros itens de Antônio, peguei minha bicicleta no bicicletário e ajeitei Antônio ao meu lado. Morávamos há poucos minutos do QG da Toro Rosso, mesmo assim segui num ritmo baixo para que Antônio pudesse me acompanhar. Parei duas vezes para lhe oferecer água e dar alguns minutos para recuperar o fôlego. Quando finalmente chegamos, Antônio já queria pular no lago da recepção para se refrescar. Meu cão já era conhecido da equipe pois o trazia às vezes como meu "ajudante do dia". Aquilo fazia muito bem psicologicamente para todos, inclusive para ele. Antônio era quase que o mascote da empresa.


   Segui normalmente para meu posto de trabalho e deixei Antônio descansar um pouco. Às 8h em ponto, Pierre chegou ao centro de treinamento. Quando Antônio ouviu o barulho na porta, já se levantou correndo e foi em direção a quem estava entrando por ela.


- Antônio! – o chamei como ordem para que ele parasse onde estivesse e assim ele o fez sentando em seguida. Pierre se assustou, mas no instante seguinte ele estava sorrindo para o cão dourado sentado próximo a ele.


- Meu Deus! Quem é esse garotão lindo?


   Pierre jogou sua mochila na primeira cadeira que viu a sua frente e caminhou até meu cachorro. Se ajoelhou e já acariciava suas orelhas, Antônio fechou os olhos com o carinho e aproveitou o momento relaxante.


- Este é Antônio, seu companheiro de treino hoje.


   Pierre sorria constantemente e me olhou parada atrás do cão.


- Olá, Antônio! Como vai você? Eu sou o Pierre... Você é muito lindo.


   Sorri com minha estratégia dando certo. Pierre estava feliz e relaxado, o que significava que não iria encher meu saco. E com certeza ele se agradaria do treino preparado para hoje.


- Já se aqueceu hoje?


- Sim, mas vou aquecer de novo senão minha treinadora vai me agredir. – Ele disse se levantando e piscou o olho para mim.


- Assim que eu gosto. Obediente e submisso. – Correspondi sua piscada e puxei Antônio pela coleira – Vamos, Antônio. Vá buscar os elásticos. Elásticos!


   Antônio obedeceu ao meu comando e foi até o balaio onde estavam os elásticos embolados uns nos outros. Pegou um bocado e os trouxe em sua boca.


- Gente, ele entende! – Pierre disse chocado observando o cão obediente.


- Ele é o atleta mais obediente que eu tenho, né Antônio. – Acariciei sua cabeça como recompensa – Tira o boné, por favor, Pierre.


   Pierre obedeceu e o jogou no chão. Coloquei o elástico sob sua cabeça e o mandei sentar de pernas cruzadas no colchonete. Chamei Antônio e dei a haste para ele segurar e puxar o elástico envolvido na cabeça de Pierre.


- Arrume sua postura, Pierre. Mantenha o pescoço firme, Antônio irá puxar o elástico por 20 segundos.


   E assim eles fizeram. Dei o comando a Antônio e ele puxava o elástico. Pierre perdia a força ao rir do chão à sua frente sendo seu "treinador".


- Concentração, Pierre! Puxa, Antônio!


   Cutuquei o cão pelo seu lado direito e ele obedeceu mais uma vez. Antônio rosnava e puxava com mais força. Caminhei até as costas de Pierre e segurava seu pescoço dando-lhe estabilidade. Repetimos o exercício alguma vezes e nos levantamos.


- Pega a bola de 20 kg, Pierre, por favor.


   Assim ele o fez e seguimos para a parede ao fundo da academia. O posicionei de lado e o orientei a jogar a bola na parede pegando-a de volta e repetindo o movimento caminhando para trás. Antônio ficava de frente para ele caminhando e latindo incentivando Pierre em seus movimentos. Chamava a atenção dele para sua respiração que precisava ficar controlada e assertiva. Aos poucos Pierre conseguiu se concentrar e acompanhava corretamente os exercícios.


- Ok Pierre, está indo bem. Mas vamos agitar esse treino...


   Pierre estava jogado no chão com a respiração ofegante e completamente suado. Liguei a caixa de som e conectei meu Apple Music. As batidas de Maria de Justin Bieber começaram a tocar e Pierre franziu a testa.


- Que música é essa?


- É a música que você vai fazer os exercícios em suas batidas. Já que você já está deitado, 30 abdominais, Gasly! Vamos! Na batida da música!


   Eu bati palmas para que ele continuasse seu exercício sem parar. Maria era de fato uma música desconhecida, mas eu a adorava, principalmente seu ritmo rápido, excelente para se exercitar.


   Pierre tentava acompanhar o ritmo e fazer suas abdominais. Antônio se deitou com as quatro patas no chão ao seu lado e a cada movimento levantando seu tronco do exercício, ele latia para Pierre. Eu havia ensinado esses truques para Antônio o que me poupava bastante trabalho de ficar gritando com meus atletas, e ele adorava!


- De pé, Pierre!


   Sempre com o ritmo da música, eu mandei Pierre alongar os braços para frente e para trás. Eu fazia sinal e ele já entendia qual o próximo exercício que eu queria que ele fizesse. Era essa animação que eu adorava nos treinos! Ver o atleta suando e fazendo caretas era como se fosse meu troféu particular, pois isso era resultado de um treino legítimo de Beatrice Brown. Durante o treino, acabei me empolgando demais e soltei a voz cantando o refrão da música.


Maria, why you wanna do me like that? Maria, why you wanna play me like that?


   Pierre parou imediatamente sua seção e me olhou horrorizado.


- Garota, que voz é essa?


   Sorri envergonhada. Sim, cantar era um dos meus dons ocultos. Eu tinha uma ótima voz e gostava de cantar, mas não fazia isso com frequência na frente de outras pessoas. Mas hoje Pierre foi o premiado da vez.


- Desculpa... acabei me empolgando.


- O que você está fazendo aqui? Com uma voz dessa eu estaria fazendo turnê pelo mundo!


- Bem... Eu faço turnê pelo mundo, junto com vocês.


   Sorri sem graça e Pierre continuava seu exercício e conversava comigo. Ele sorria e era simpático me elogiando, um Pierre bem diferente do que eu conheci ontem. Talvez minha psicologia canina estivesse dando mais certo do que eu esperava.


- Eu estava me referindo um turnê MUSICAL... É sério, Beatrice. Sua voz é insana! Não me importo de você continuar cantando...


   Ok. Eu definitivamente não estava esperando esse comentário de Pierre. Ele permaneceu pleno em seu exercício fixando seus olhos na parede a frente e eu estava sem graça por não saber o que responder sobre este comentário. Sem saber o que fazer, chequei meu celular para me lembrar dos próximos exercícios que eu havia planejado. Mudei de playlist e coloquei mais alguns cantores teenagers para tocar, isso incluía Shawn Mendes, Camilla Cabello e Ed Sheeran.


   Desacelerei o treino pois estávamos no aproximando do horário de almoço. De tarde meu treino seria com Daniil e eu ainda precisava alimentar Antônio.


12 de Agosto de 2019 - Faença, Itália


   Mais uma segunda-feira começando e eu já não estava de bom humor. Ao sair de casa para o trabalho, minha bicicleta estava com o pneu furado, o que me atrasaria alguns minutos. Para uma britânica, isso não é nada bom.


- Vem, Antônio! Rápido... Precisamos dar uma corrida, ok? Só que desta vez a pé. Vamos!


   Antônio entendeu meu recado e balançou seu grande rabo em forma de concordância e lá fomos nós. Caminhamos um pouco, corremos mais um pouco até chegar na Toro Rosso quase 20 minutos atrasados. O dia mal havia começado e eu e Antônio já estávamos cansados. Quando entramos na academia, Pierre já estava lá se aquecendo.


- Pierre, me perdoa... Eu me atrasei, tive um imprevisto.


   Pierre que estava deitado levantando alguns pesos se assustou quando entrei desesperada pela porta jogando minha mochila em qualquer canto. Ele se levantou e foi cumprimentar seu novo amigo de quatro patas. Enquanto isso, corri para o bebedouro e enchi o pote de Antônio.


- Beatrice, está tudo bem. Acontece. Está tudo bem?


- Sim, eu sempre venho de bicicleta, mas alguma coisa aconteceu que um dos pneus estava furado ou vazio, sei lá. Pra não demorar mais, resolvi vir a pé mesmo. De novo, me desculpe, Pierre.


- Bea... Está tudo bem. - Pierre se aproximou e segurou meus ombros com suas mãos me fazendo entender que estava tudo bem. Depois me pegou de surpresa com um abraço. – Meu Deus, Beatrice, seu coração parece que vai sair pelo peito.


- É isso que acontece quando a gente vem correndo para o trabalho. Literalmente!


- Até o pobre do Antônio está acabado, coitado. Olha para isso!


   Ao apontar para Antônio, vi que meu cão estava realmente acabado estirado no chão com meio metro de língua para fora. Rimos da cena e nos preparamos para mais uma um dia de treinamento. Pierre tinha algumas entrevistas e reuniões, por isso nosso treino hoje seria mais curto. Mais tarde eu treinaria alguns garotos da equipe do pit stop e finalmente iria para casa. Pelo menos era o que eu esperava.


   Fui notificada que teríamos uma reunião com a equipe no final do dia e acabamos saindo mais tarde do que se esperava. Quando fui buscar Antônio na academia, ele estava dormindo e o relógio já marcava 19h17min. Ele acordou quando me aproximei.


- Vamos pra casa, amigão? Temos mais uma caminhada de volta..., mas dessa vez, sempre pressa, tá bom?


   Baguncei os pelos de sua cabeça num carinho animador. Antônio balançava o rabo e se levantou se espreguiçando.


- Eu levo vocês!


   Me assustei ao ver Pierre entrando na academia. Antônio se animou ao vê-lo e caminhou até o piloto pedindo um cafuné que foi correspondido por ele.


- Você ainda está aqui?


- Sim, e vocês também. - Pierre levantou as sobrancelhas e riu baixo.


- Tivemos uma reunião depois do expediente... – respondi caminhando até eles.


- Nós também tivemos. Alguns ajustes para a próxima corrida e tal.


- Não precisa se incomodar, Pierre. A gente vai andando... Não é tão longe.


- Eu insisto.


   Pierre sorriu balançando as chaves do seu carro, mas eu estava desconfortável com a situação e não sabia como dispensá-lo sem ser mal educada.


- Pierre, é melhor não... Acho que andar com num Honda NSX pelo bairro vai chamar muita atenção... Imagina meus vizinhos olhando pela janela e vendo eu e Antônio chegando com um carro desse? - rimos da situação e Antônio resolveu se deitar novamente esperando o fim do nosso diálogo.


- Tudo bem... Eu os acompanho a pé.


- Pierre... Eu agradeço, mas é sério. Não precisa.


- Beatrice, eu não vou deixar vocês irem embora sozinhos, ok?


   Dito isso, resolvi concordar e não tocar mais no assunto. E confesso que ter mais alguns momentos com Pierre não me faria mal.


   O céu já estava completamente escuro quando saímos da Toro Rosso e fomos caminhando em direção a minha casa. A noite estava fria e eu estava sem minha jaqueta. Antônio estava na guia e caminhava a passos lentos assim como os meus e de Pierre. Caminhávamos pelas calçadas úmidas da noite fria e conversávamos sobre coisas aleatórias. Ele me contou um pouco sobre sua criação na França e eu como adotei Antônio numa feira de animais. O papo fluía da maneira mais natural possível, o que me fez perceber como eu e Pierre éramos parecidos em muitos aspectos.


- Você mora sozinha há muito tempo? - Pierre perguntou me olhando e seguia a caminhada com suas duas mãos no bolso de sua bermuda.


- Sim... desde que terminei o Ensino Médio, na verdade. Eu morava com meu pai em Bristol, mas me mudei para o alojamento da faculdade em Londres. Claro, passei uns perrengues, mas nada que pudesse me fazer desistir. Acho que isso é bom... me fez valorizar mais as coisas.


- Seu pai vem te visitar aqui na Itália?


   O assunto "família" era muito delicado para mim, mas Pierre não sabia disso. Ponderei sobre minha resposta e fiquei na dúvida se mentia, como eu sempre fazia relacionado a este assunto, ou se seria sincera com o piloto ao meu lado. Vi que comecei a demorar para dar a resposta quando Pierre me olhou esperando minha resposta. Permaneci com meus olhos na calçada e respirei fundo. Uma hora ou outra esse assunto acabaria voltando à tona e eu não teria como fugir. Mentir não era uma boa opção neste caso.


- Não... Na verdade não falo com ele há alguns anos... - Pierre me olhou mais uma vez e ficou em silêncio deixando a brecha para que eu continuasse o assunto. - Minha relação com minha família é... complicada. Minha mãe nos deixou quando eu estava entrando na adolescência e meu pai nunca superou. Nosso relacionamento foi muito afetado com tudo isso... entende?


- Não, Beatrice. Minha família sempre foi muito unida, eu tenho muitos irmãos e a gente sempre se apoia... Eu não faço ideia do que você tenha passado...


   Imaginar a família Gasly me fez sorrir e imaginar que tipo de criação Pierre teve. Nisso nós éramos completamente opostos. Eu era filha única e na verdade órfã. Eu não tinha pais, avós ou irmãos. Pensar naquilo me deu um aperto do coração e confesso que segurei as lágrimas ao ver meu cão dourado a minha frente, pois ele era a única família que eu tinha. Percebi que meus devaneios estavam demorando demais quando senti Pierre tocar meus ombros num abraço tímido da tentativa de me consolar ao perceber o silêncio triste que pairou em nossa conversa. Pisquei os olhos rapidamente para dissipar as lágrimas e sorri para ele em agradecimento. Não disse mais nada, pois sabia que não era necessário. Poucos minutos depois, já estávamos virando a esquina da minha casa.


- Eu moro bem ali... Onde tem uma samambaia na varanda.


   Apontei para o simples e pequeno prédio de 4 andares onde eu morava. Ele era branco e os portões eram em madeira e tinha um pequeno jardim florido no térreo. Pierre sorriu ao ver minha planta verde pendurada na sacada.


- Entendi. Então você gosta de plantas e animais. Você é vegana?


- Não, ainda não cheguei a esse ponto.


   Rimos juntos e paramos na entrada do condomínio. Antônio sentou esperando eu liberá-lo da guia. Parei na frente de Pierre e sorri em agradecimento. Seus olhos estavam cinzentos e seus lábios avermelhados extremamente convidativos. Levantei meus pés e o abracei pelo pescoço. Seu perfume natural entrou em minhas narinas me fazendo fechar os olhos em prazer. Pierre me apertou mais um pouco perpetuando nosso abraço sincero.


- Obrigada, Gasly. Pela companhia... Por me ouvir...


- Não por isso. Eu estou aqui... Você não está sozinha.


   Mesmo contra minha vontade, me desvencilhei dos braços de Pierre e puxei Antônio pela coleira dando sinal para que ele levantasse. Pierre se abaixou para se despedir dele. Abri o portão e acenei por uma última vez antes de fechá-lo novamente.



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Autor(a): S. Writer

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 2



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  • RafaElla Postado em 10/10/2020 - 13:58:33

    Olá! Você pretende continuar com a história? gostaria muito de acompanha-la é bem diferente.

    • S. Writer Postado em 23/12/2020 - 11:15:57

      Olá! Primeiramente obrigada por estar lendo. E sim, irei continuar. Tive muitas tarefas inadiáveis nesses dois últimos meses, mas agora estarei de férias e irei atualizar com certeza. Por favor, não desiste de mim <3


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