Fanfic: A revolta de Alice | Tema: A Solução de Clarice Lispector

Chamava-se Alice e era bela demais. Almira era sua amiga mais próxima. Ao menos era o que dizia a si mesma, para afastar o sentimento de nojo que tinha dela.

Almira era supérflua e falava demais, deixando o trabalho de lado.

Almira era muito gorda. Alice suportava a aparência infeliz de Almira pois se sentia bela perto dela. Ambas não possuíam amor próprio. Alice não se acha boa o suficiente para o seu namorado, o Zequinha, e Almira era gorda demais.

Porque Almira perseguia Alice não se sabia. Uma era a antítese da outra. Uma era uma gata, a outra era uma vaca. Uma era delicada, a outra era um brucutu. Uma era promiscua, a outra se encontrava em uma castidade perpétua. Uma tinha um repertório de ideias bastante sofisticadas, a outra assistia reality shows.

A natureza de Alice era fria. Não costumava se importar muito com gente que não tinha afinidade, porém não era má. Não desejava o mal dos outros, apenas não ligava muito para eles. Na sua cabeça havia duas ou três pessoas que importariam em alguma coisa.

Terça-feira à noite Zequinha contou a Alice que iria sair do país, que fora promovido no trabalho e que partiria na próxima semana. Alice chorou a noite toda. As 4:00 da manhã, Alice finalmente dormira. Ao acordar já estava atrasada, mas não se importava, não se importava mais com nada. 

Ao chegar ao trabalho, ainda aos prantos e esperando um pouco de trabalho para clarear as ideias, qual não é sua surpresa ao ver a gorda, toda atarantada, cheia de questionamentos e gorduras saturadas. Alice não acharia sossego ali, portanto tratou de repelir a gorda, mas a Almira a Gorda era persistente. Alice percebeu que até em seus piores dias a sua vida ainda era melhor do que a de Almira. Sentindo um pouquinho de gratidão, Alice aceitou o convite de almoço da gorda, digo de Almira.

Cansada, Alice não tinha muito apetite, mas Almira tinha pelas duas. A inapetência de Alice começava a se tornar asco ao ver Almira mastigando de boca aberta e cuspindo tudo ao tentar falar. Segurando com as duas mãos uma coxa de galinha banhada em caldo de feijão, Almira levava a situação como se estivesse conduzindo um inquérito criminal.

-Basta! Bradou Alice. Sua gorda escrota! Come direito caralho!

Almira, sendo pega de surpresa, se engasgou com o osso de sua coxa. Bateu na mesa tão forte que os talheres caíram no chão. Tossia horrorizada e seu rosto intumescido a deixava toda vermelha. Com toda a sua força ela puxou um pigarro que lançou o osso para fora de sua garganta, caindo na cara de Alice.

Deu. Alice estava farta. Aquilo era demais. Um osso babado na cara já era demais. Ela aturara muito as gordices nojentas de Almira, mas Zequinha foi embora. Sem Zequinha, Almira passava a ser a pessoa mais próxima na vida de Alice depois de sua família. Isto ela não poderia aceitar!

Sem titubear Alice pulou no pescoço gordo de Almira. Alice então apanhou uma faca e a cravou direto no coração da gorda. Esta soltou um grito que mais parecia um mugido de vaca, soltando o seu último sou animalesco.