Fanfic: A Solução em outra perspectiva | Tema: dia a dia, perspectiva alternativa, violência

Almira sempre fazia compania a ela, nunca era vista separada de Alice, que sempre a tolerou de forma calma e tranquila. Todo o dia era sempre a mesma história, a mesma rotina que já tinha se acostumado, trabalhar ao lado dela, almoçar com ela, voltar ao trabalho, e terminar a tarde esperando condução na mesma fila.

A mesmice de sempre, nunca algo novo em sua vida rotineira, sempre o mesmo papo, as mesmas conversas, o mesmo mastigar de chocolate que ela ignorava não importando o quanto dava em seus nervos. Alice por mais que aturasse Almira, sonhava pelo silêncio, pela quietude que nunca tinha em boa parte de sua rotina, sempre seguida de sua ‘’amiga’’.

Cada dia que passava ela se sentia mais e mais cansada, desejando pelo silêncio, sua única paz sendo ao chegar em casa e passar tempo com Zequinha, momentos curtos do dia porém algo que ela não trocaria por nada. Eram os únicos momentos em que ela podia discutir tudo sobre seu dia, nunca parando de falar, e Zequinha simplesmente sorrindo e ouvindo com cuidado tudo que ela falava, eram inseparáveis.

Almira era obesa, claramente devido ao quanto consumia chocolate, sempre tendo um pouco em sua bolsa para emergências, algo que Alice considerava irritante, vendo que esta batalhava com seu próprio peso, sempre detestando a figura que o espelho a mostrava.

Um certo dia, ao chegar em casa, Zequinha estava a esperando, com um olhar sério e cansado, completamente diferente do sorriso amigável e paciente com qual estava acostumada. Foi ali que sua paz acabou.

Zequinha queria terminar tudo e se mudar, insatisfeito com seu relacionamento, não querendo mais saber dela, Alice insistiu em saber o porque, e ele não teve misericórdia, a contando de como ela nunca lhe dava espaço algum, constantemente querendo atenção, sempre falando sem lhe dar tempo de responder ou sequer ter seu próprio turno, como estava cansado e preferia se mudar para simplesmente seguir em frente de forma tranquila, sem precisar a ver de novo.

Mal conseguiu dormir naquela noite, a primeira noite que passou sozinha em muitos anos, a primeira noite em que sua casa esteve em total silêncio.

No dia seguinte, mal pode se arrastar para o trabalho, completamente exausta, muito menos lidar com Almira, que ficava constantemente insistindo em saber o que lhe aconteceu, se intrometendo em sua vida como sempre foi, ironicamente, pela primeira vez Almira queria que Alice falasse, ao invés de se contentar com falar constantemente e não esperar resposta. A arrastou para um restaurante e não lhe deu sossego até saber o que havia ocorrido.

Cansada e sem nenhuma paciência, Alice descarregou todos os anos de irritação de uma vez só.

''Sua gorda! Você não pode me deixar em paz?!''

''Você é uma chata e uma intrometida. Quer saber o que houve, não é? Pois vou lhe contar, sua chata: é que Zequinha foi embora para Porto Alegre e não vai mais voltar! Agora está contente, sua gorda?''

Alice esperava surpresa no rosto de Almira, traição, horror, choque, ela esperava sentir satisfação de ver a mulher que lhe incomodou por tantos anos se sentir totalmente ofendida pelo que ela realmente pensava. No final, foi o seu rosto que expressou todos os sentimentos citados ao receber uma garfada em seu pescoço.

Não recebeu nenhuma visita no hospital, o silêncio de sua sala a dando espaço o suficiente para processar o que lhe ocorreu. Quando recebeu alta, sua casa estava vazia, Zequinha já tendo se mudado, o silêncio também presente ali. Ao voltar ao trabalho, a sua nova colega era profissional e focada, não se deixando ficar confortável perto de Alice e muito menos procurando papo, apenas se focando no seu trabalho.

Alice finalmente obteve o que queria, o silêncio.

E era ensurdecedor.