Fanfics Brasil - AMIZADE Amizade

Fanfic: Amizade | Tema: Clarice Lispector


Capítulo: AMIZADE

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Amizade


 


A jovem Almira, pessoa gentil, bondosa e que era conhecida por se esforçar e valorizar as pessoas a sua volta tinha uma melhor amiga, Alice. Ambas eram inseparáveis, faziam tudo juntas e tinham uma relação que era notada por todos, recebendo olhares de vez em quando e comentários a respeito da sua proximidade tão forte, ou pelo menos, a proximidade que acreditavam que ambas tivessem.


 


Sua amiga era alguém que se destacava por sua beleza, sua postura, uma garota que facilmente poderia trabalhar com sua aparência, ao contrário da mesma que era completamente normal e não se destacava, principalmente em quesitos físicos. Mas o engraçado é que as duas, antes de se conhecer, eram sozinhas, não tendo pessoas próximas e que poderiam fazer companhia as próprias.


 


Almira sempre se esforçava nessa amizade, se preocupando e querendo saber a respeito de Alice, era seu perfil de pessoa agir dessa forma. Faria isso com qualquer um minimamente importante em sua vida e se tratando de uma parceira, que trabalhavam juntas, comiam juntas, iam para casa juntas, não poderia ser diferente, pelo contrário, todo esse compartilhamento de momentos denotava dessa importância.


 


Porém, apesar de Almira partilhar sua vida com a outra e se dedicar, faltava alguma peça dentro daquela relação. Ninguém se sentia realmente acolhido, apenas havia medo e dependência uma da outra. Alice nunca escutava de verdade o que Almira tinha a dizer, apenas ignorava e mantinha a outra como um manequim, mas não rejeitava sua presença. E mesmo tendo consciência do que acontecia, a negação e autossabotagem de Almira não a permitiam sair daquilo também.


 


No dia a dia das duas, que se passava em grande parte no escritório onde trabalhavam como datilografas, um padrão diferente de comportamento ocorre por parte de Alice. A linda garota começa a chegar atrasada muito seguidamente, sem qualquer justificativa ou explicação. Almira se atentou desde o primeiro ocorrido a anormalidade e perguntava preocupada o que acontecia com a amiga, que dizia não ser nada.


 


– Alice... – suspira e olha a amiga em sua frente – Você tem certeza que está tudo bem? Você anda estranha e não me conta nada.


 


– Não é nada Almira, estou como sempre estive! Pare de me encher como sempre e é bom que não me pergunte mais sobre isso, não tenho nada para contar. -– Revira os olhos – Vamos logo almoçar.


 


Almira segura seus sentimentos que aos poucos iam se acumulando, o jeito que era tratada enchia de alfinetadas seu corpo com as palavras nada gentis que a outra atirava sem remorso algum. Acreditava que deveria aguentar para que a outra continuasse do seu lado, mesmo que acabasse por se machucar. O que não se esperava é que um de seus colegas de trabalho presenciasse o episódio, escondido e por acidente, mas sendo capaz de enxergar a verdadeira natureza do relacionamento que tinham. Ele se chamava José, mas apelidado por todos de Zéquinha.


 


Com o ocorrido, ele começa a observar a relação das duas, ver a doçura de Almira e fica triste por pensar que a mesma se sujeitava em uma interação daquele estilo. Nunca teve problemas como aquele, era alguém que se dava bem com todos, e mesmo os que falava pouco, a consideração era mutua. José era alguém verdadeiramente bondoso como a colega que observava, mas sua personalidade era forte e nada passiva, não aceitando injustiças como um herói, mas um herói que sabia como agir e em que momento que deveria fazer isso. E, exatamente por esse motivo que se aproxima de Almira, de maneira suave, falando bobagens convincentes que inventava.


 


Os dois começam a criar a partir dali algo realmente genuíno, que, aos olhos de Alice, não duraria, nem esperava que durasse, já que a outra estava sempre apenas a seu lado. Incomodava-a ficar de fora da conversa dos dois, entente se mantinha no meio, pouco a pouco. Sem deixar ambos terem privacidade sozinhos.


 


Boatos começaram a surgir sobre Zéquinha por toda a organização, afirmações pesadas e que falavam muito sobre a moral dele. As pessoas espalhavam sem ter nenhuma comprovação do que aconteceu, e acabam sendo induzidas pelo sentimento de inveja do outro. José era bem visto, alguém que se destacava por suas habilidades, se dava bem com as pessoas, tinha pessoas próximas confiantes e decentes, mas cobras sempre existiam o olhando pelos cantos. E foram essas cobras, as fofocas e logo depois uma prova de que ele havia feito algo antiético que levaram a demissão do mesmo.


 


Foi tudo muito rápido, estranho, mas ocorreu. Almira estava entristecida e não sabia em quem acreditar, já que aquilo era infundavel. Queria apenas chorar. Seus olhos estavam inchados, estava com um rosto que evidenciava a falta de sono. E pensava determinada em se contatar com José, descobrir e escutar melhor da própria boca dele. Mas o mais surpreendente dentro desse furacão foi a atitude de sua amiga Alice, que finalmente mostrou de algum carinho e empatia.


 


– Se acalme, Almira – suspira, acariciando suas costas com as mãos delicadamente. – Nós nunca sabemos a verdadeira natureza das pessoas.


 


– Mas, Alice – Olha em seus olhos. – O Zéquinha nunca faria algo horrível com ninguém. Ele estava sempre com a gente. Ele não é esse tipo de pessoa.


 


– Alice, eu sempre senti algo nele diferente… Quando tudo começou, ele disse para não ligarmos, se escondendo em sorrisos bobos. Mas ele provou que era um mentiroso, não se deixe enganar.


 


Em um momento de fragilidade Almira se permitiu consolar pela amiga, porém existiam pulgas atrás de sua orelha, muitas pulgas. Precisava falar diretamente com José. Precisava escutar explicações da boca dele.


 


– Eu vou visitar Zéquinha, não importa o que me diga!


 


– Você não vai Almira! – Segura seu braço forte – Eu não vou deixar você fazer isso.


 


– E quem é você para dizer o que eu posso ou não fazer? – Se irrita com as atitudes da amiga – Eu nunca falei desse jeito com você, mas você está se metendo demais nas minhas decisões. Sou uma adulta, não uma marionete sua.


 


Almira pela primeira vez estava respondendo Alice, até mais do que a mesma merecia ouvir. Mas estava se soltando depois de tanta coisa acumulada, deixando de abaixar a cabeça para tudo que a outra dizia e negando ser o que sempre foi a seu lado: uma marionete. Um boneco vazio que só está ali por conveniência. A briga e discussão continuava e ficava cada vez mais agressiva.


 


– Olha só Almira, to de saco cheio de você também. Faça o que quiser, não me importo mais. Mas digo que irá se arrepender e muito de ter feito isso. Vai pagar!


 


A garota sente o tom de ameaça sutil nas palavras da amiga. As duas param de se falar naquele momento, se ignorando, não direcionando o olhar. Havia muita raiva, muitos sentimentos negativos entre as duas. Mesmo que seus caminhos se cruzassem constantemente fingiam não se conhecer.


 


Almira finalmente estava indo visitar José depois do trabalho, conseguiu marcar um encontro com ele depois de dias ligando e estando sem retorno. Ele havia se isolado, estava mentalmente exausto, sendo visto como um monstro pelas pessoas. E apesar de estar naquele estado se justificou e pediu desculpas por ter sumido e falou que estava feliz que a mesma tinha esperanças e acreditava mesmo que um pouco nele, queria que a amiga viesse para conseguirem dialogar melhor.


 


– É bom te ver – Diz José, olhando Almira enquanto passa a chave na porta de grades entorno de sua casa.


 


Ela não poderia deixar de expressar um grande sorriso ao ver seu rosto. Estavam em câmera lenta em suas mentes, uma manta de aconchego estava em torno deles. A jovem se dava por conta agora da importância e paz que ele lhe trazia. Algo que Alice nunca conseguiu e que provavelmente jamais fosse.


 


Já dentro da casa, comendo biscoitos na cozinha e escutando Zéquinha, dando algumas risadas e se lembrando de acontecimentos agradáveis aos dois, ele desabafa sobre estar feliz dela ter vindo sozinha e não com sua escudeira Alice. Que nunca disse isso por ela sempre estar em volta, mas nunca confiou na garota e achava que ela apenas diminuía o seu grande brilho. O clima fica denso e ele se vê com outra expressão.


 


– Eu sei que você veio para conversarmos – suspira – Mas também sei que só fugi do assunto até agora, acho que no fundo estou com medo que não acredite em mim. O que aconteceu foi que...


 


Conta que haviam armado para ele, manipulado amigos próximos -que seriam os únicos capazes de o defender diante da situação - e que ainda não sabia o verdadeiro culpado, acreditando ser algum colega com influências e que estava se doendo pelo mesmo ter crescido e se desenvolvido no local de trabalho tão rápido.


 


No meio das explicações de José, a campainha toca, fazendo ele mesmo se perguntar quem seria em um momento como aquele. Ele pede para Almira esperar, que apenas iria lá fora abrir, mas os minutos passam e nada de aparecer. A jovem se preocupa e levanta de onde estava, mas no momento que faz isso uma figura surge na porta da cozinha e que chega mais perto era possível denotar a frustração, doentia da mesma. Era Alice, ensanguentada.


 


– Eu avisei que você iria se arrepender – Com olhos fixos em Almira. – Eu fiz de tudo pra você ficar longe desse verme, me sacrifiquei, manipulei pessoas. Simulei uma situação, me custou muito.


 


Alice estava confessando, mesmo que de maneira confusa ser a grande responsável pelos atuais acontecimentos com José. Ela pega um dos garfos que estavam em cima da mesa, ao lado das bobagens que comiam antes e grava com um garfo, em um só golpe certeiro o pescoço de Almira. A jovem fica sufocando em seu próprio sangue, sentindo pena daquele ser que acaba de tomar essa atitude doentia. Viu o quanto Alice era ser verdadeiramente solitária e que jamais conheceria de um afeto verdadeiro, não por falta de oportunidade, mas porque as pessoas para ela não eram pessoas e sim meros brinquedos que só ela poderia ter posse.


 


 


ESCRITO POR: GIOVANNA, TAMARA E VICTÓRIA


 


 


 


 


 


 


 


 


 



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Autor(a): giovannakokonose

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